Este vídeo é patrocinado por INCOGNI. "A vida não passa de uma sombra ambulante. "um pobre ator, "que se pavoneia e se diverte no palco "e depois nunca mais é ouvido." "É uma história, contada por um idiota, cheio de sons e de fúria. "Não significa nada." Apesar de ser, indiscutivelmente, o escritor mais famoso de todos os tempos, William Shakespeare continua a ser uma figura muito mal compreendida. Atualmente, Shakespeare é considerado com frequência como propriedade duma elite cultural e a sua obra é abordada muitas vezes por obrigação em vez de o ser por desejo. Contudo, as peças de Shakespeare foram escritas sobretudo para entreter audiências de todos os tipos, estão cheias de humor, de palhaçadas e de inteligentes jogos de palavras e mostram uma profunda simpatia por pessoas vulgares e pela dor, pela beleza, pela alegria e pelo sofrimento da vida humana. São extremamente populares pelo mundo inteiro e têm sido traduzidas em mais de 100 idiomas. Shakespeare tem tido mais impacto na língua e na cultura inglesa do que qualquer outro escritor. E tudo começou com um livro, composto por dois dos seus amigos e colegas e publicado em 1623, sete anos após a morte de Shakespeare. Sem este livro, podíamos ter perdido grande parte da sua obra visto que 18 das 36 peças incluídas neste primeiro fólio nunca tinham sido publicadas, incluindo Júlio César, a Tempestade e Macbeth. Se não fosse este livro, Shakespeare podia ter sido considerado apenas mais um escritor isabelino. Muitas das suas peças são sobre reis ou sobre a nobreza, mas Shakespeare escreveu sempre sobre o ser humano por baixo da coroa. Do mesmo modo, não queria ser visto como um "génio" excecional, pelo contrário, também queria que nós tentássemos compreendê-lo enquanto homem, uma pessoa com sentimentos, com defeitos e contradições. Tal como o seu personagem, Ricardo II deseja, quando diz. "ponde de lado o respeito, a tradição, o dever formal e cerimonioso, "porque sempre tivestes dificuldade em me compreender." "Como vós, eu vivo também de pão, "padeço de privações, "sou sensível às dores, necessito de amigos, "Se deste modo sou escravo, "como ousais vir dizer-me que eu sou rei? 1. Início da Vida "O mundo inteiro é um palco, "todos os homens e as mulheres " são artistas que nele entram e saem. "Muitos papéis cada um tem no seu tempo." William Shakespeare nasceu em 1564 em Stratford-upon-Avon, na altura uma cidade muito pequena. William andou numa escola primária onde conheceu os clássicos, como Ovídio e Plutarco, cujas obras lhe serviriam mais tarde de inspiração para as suas peças. Ao contrário de outros dramaturgos da sua época, Shakespeare não frequentou a Universidade. Em 1582, William casou-se com a filha de um agricultor, chamada Anne Hathaway, Tinha apenas 18 anos no dia do casamento e Anne tinha 26. Estava grávida do seu primeiro filho. O casal teve três filhos ao todo, uma rapariga chamada Susanna e depois dois gémeos, Judith e Hamnet. A família manter-se-ia em Stratford, enquanto ele se mudava para Londres para concretizar os seus sonhos. Por volta de 1592, Shakespeare já era um ator bem conhecido no palco londrino. 2. Criando um Nome Shakespeare foi um dos fundadores da companhia de teatro os Lord Chamberlain's Men que, em 1594, passariam a chamar-se os King's Men, e começou a escrever peças para representarem. A princípio, escrevia peças históricas e comédias. A audiência londrina acorria às peças históricas que existiam, às dezenas, na história de Inglaterra do século XII ao século XVI. Tal como as comédias de Shakespeare têm temas sombrios e situações trágicas, também as suas tragédias têm alguns momentos cómicos, e as peças históricas de Shakespeare não são só sobre a história com H grande. "É um punhal o que vejo à minha frente?" São sobretudo dramas humanos. Na verdade, são a fonte de alguns dos personagens mais notáveis de Shakespeare, incluindo o extravagante, verboso e vaidoso Ricardo II. "Com as minhas lágrimas, eu próprio tiro o meu bálsamo. "Com as minhas mãos, entrego a minha coroa. "Com a minha língua, renego o meu estatuto sagrado." O ardente e impetuoso jovem cavaleiro Hotspur: "Sim, por ele esvaziarei todas as veias, "e deixarei cair na poeira o meu querido sangue, gota a gota. "Mas erguerei o oprimido Mortimer tão alto quanto este rei ingrato..." "ou o conivente maquiavélico Ricardo III, um personagem sedento de poder cuja corcunda simbolizava a sua moral defeituosa. "Agora é o Inverno do nosso descontentamento "transformado num glorioso Verão por este filho de York." As histórias são tanto sobre pessoas, as suas vidas, relações e sentimentos como são sobre a história duma nação. Shakespeare era sobretudo um contador de histórias e, tal como o entretenimento popular da atualidade, as peças por vezes desviam-se dos factos históricos para se obter um efeito dramático. Ricardo III não foi o vilão que Shakespeare retratou, mas convinha à propaganda Tudor — tal como a versão de Shakespeare de "A Guerra das Rosas" — e, em Ricardo II ele põe o rei com a mesma idade da sua mulher Isabel de Valois, enquanto Ricardo II tinha 29 anos quando casou com Isabela, de 7 anos. Depois das primeiras histórias e comédias, Shakespeare começou a mudar para as tragédias. O período segue-se à morte de Hamnet, de 11 anos, filho de Shakespeare (e gémeo de Judith) que morreu em 1596. Shakespeare devia ter isso presente quando escreveu a última comédia "Noite de Reis", uma peça sobre Viola e Sebastian, irmãos gémeos que foram separados durante uma violenta tempestade mas acabam por se encontrar. Só podemos imaginar como Shakespeare devia sentir desesperado que os seus gémeos também voltassem a encontrar-se. Cinco anos depois, em 1601, o seu querido pai John Shakespeare também morreu e, por volta dessa época, temos uma das suas maiores tragédias, Hamlet, sobre um filho que chora o pai. "Eu sou o espírito do teu pai, "condenado a assombrar a noite durante algum tempo." Começa com a declaração de Hamlet de que está a sofrer uma dor que não consegue exprimir. Toda a peça vê Hamlet a tentar verbalizar o que se passa dentro da sua cabeça ou, como ele diz, "ele precisa de esvaziar o coração com palavras." Enquanto personagem, Hamlet é considerado um ponto de viragem para um novo nível de realismo psicológico e emocional no teatro, e os seus temas, como a indecisão e a inação, a influência corruptora do poder, e as complexidades da psique humana, continuam a ter eco nas audiências modernas. Esta obra foi uma revelação e, depois de Hamlet, Shakespeare entrou num importante período médio da sua carreira, em que escreveu algumas das suas tragédias mais monumentais e mais poderosas, incluindo o Rei Lear e Otelo. Otelo tem sido descrito como "a mais dolorosamente emocionante e mais terrível de todas estas tragédias". Tem um enredo explosivo e melodramático, assim como uma poesia particularmente grandiosa e musical. A história fala de um forasteiro racial transformado em herói militar que é enganado pelo malvado Iago e acaba por ser devorado vivo por aquilo que é referido como "o monstro de olhos verdes do ciúme", e mata a sua mulher Desdémona. O trágico Otelo suicida-se a fim de assumir a responsabilidade por matar Desdémona e, no seu solilóquio de moribundo reconhece que foi a sua procura do amor que o levou à perdição. "Então, tens de falar de alguém "que amou, não sabiamente, mas demasiado bem, "de alguém não facilmente ciumento, mas, vítima de intriga, "perplexo ao máximo..." 3. Teatro Isabelino No início do período isabelino, os teatros não eram populares. Os atores eram pouco mais considerados que os pedintes e os escritores ganhavam menos do que os atores. No final do mesmo período, o teatro estava a prosperar, assim como Shakespeare. Tornara-se num negócio de entretenimento de massas: um negócio lucrativo, de rápida evolução, e Shakespeare era um dos seus maiores êxitos, ganhando mais dinheiro com a sua obra do que praticamente todos os seus contemporâneos. O teatro era popular em todas as classes. Os "lugares dos lordes" eram os melhores assentos. Apesar de verem os atores pelas costas conseguiam ouvir todas as palavras da peça acima do barulho da audiência. As galerias tinham assentos de madeira mas eram cobertas, no caso de chover. Os pobres conhecidos como os “groundlings”, pagavam um cêntimo para ficarem muito perto da ação no palco. No pino do verão, os "groundings" também eram designados por "malcheirosos", por razões óbvias. Comiam, bebiam, aplaudiam e vaiavam durante as representações, e exigiam que a peça tinha de os entreter — e Shakespeare entretinha-os. usando temas que tinham um amplo atrativo — amor, morte, ambição, poder e destino — misturando inteligentes jogos de palavras e piadas intelectuais com insinuações grosseiras, humor baixo e palhaçadas, "Este é o túmulo da velha Ninny!" Contrariamente ao que muita gente pensa, Shakespeare tinha um lado muito comercial. Era um empresário e proprietário de um teatro e escrevia para entreter audiências e para ganhar dinheiro. Como sugeria no epílogo da sua última peça, "A Tempestade", queria dar às audiências um tempo agradável queria agradar às pessoas. "Ao vosso suave sopro, as minhas velas hão de enfunar "senão o meu projeto falha, o de vos agradar." 4. Suspendei a vossa Descrença Neste mercado de ritmo acelerado, a tendência não era de escrever peças novas, originais, mas, pelo contrário, a norma era os dramaturgos adaptarem histórias que já eram conhecidas. Antes de Shakespeare escrever a sua peça já existia uma peça idêntica a Hamlet e uma outra que se chamava "King Leir", ambas as quais foram escritas por Thomas Kidd. O "Conto do Inverno" foi buscar a intriga a um livro popular na altura, Pandosto, enquanto "Romeu e Julieta" já era muito conhecido em Inglaterra do poema de Arthur Brook, que conta exatamente a mesma história. Mas é aquilo que Shakespeare faz com as suas fontes que o torna Shakespeare. Por exemplo, na versão mais antiga da história de Romeu e Julieta, quando Julieta beija Romeu depois de ele ter morrido, descreve a boca dele como estando "fria como pedra", enquanto que, na peça de Shakespeare, Julieta beija a boca de Romeu e diz: "Os teus lábios aindaestão quentes." Esta alteração engenhosa, embora pequena, sublinha o facto de Romeu ter morrido segundos antes de Julieta acordar, o que torna o beijo mais trágico e também mais íntimo e mais sensual, enquanto Julieta sente nos seus lábios o calor do corpo de Romeu a diminuir. Muitas das peças de Shakespeare têm fontes da História clássica, como Júlio César, António e Cleópatra, e Coriolano — "Venho enterrar César, não venho elogiá-lo." — enquanto outra importante fonte para Shakespeare foi um volume de História de Inglaterra, chamado "Crónicas de Holinshed". Embora hoje possamos não querer saber antecipadamente o desfecho da intriga, a maioria das audiências de Shakespeare sabia como a história acabava. No caso de Romeu e Julieta, dizem-nos logo no prólogo exatamente o que vai acontecer "Dois amantes malfadados suicidam-se." Shakespeare pede à audiência que mergulhem completamente no "mundo imaginado" como no "Conto do Inverno" antes de uma estátua de Hermione, a mulher morta de Leontes ganhar vida, Shakespeare diz à audiência: "É necessário que desperteis a vossa fé." Por outras palavras, suspendam a vossa incredulidade. 5. Tragicomédia O primeiro fólio organizou as tragédias de Shakespeare em três categorias: Comédias, Histórias e Tragédias. Mas, dentro destas categorias há sempre uma fertilização cruzada de seriedade e trivialidade, de escuridão e de luz. É a amplitude de sentimentos expressos nas peças de Shakespeare que é tão espantosa e nas suas obras podemos sempre ver a sua vontade de tratar os aspetos contraditórios da vida, Nalgumas das mais importantes obras de Shakespeare, como "O Rei Lear", ele cria cenas de inacreditável ternura e amor assim como as profundezas mais sombrias de desespero e de raiva. Ou em "Noite de Reis", quando uma partida muito engraçada que põe o público a rir às gargalhadas passa rapidamente a uma manipulação psicológica intensa terminando numa promessa sombria de Malvolio: "Eu hei de me vingar..." "... de todos vocês." Em "Titus Andronicus", Shakespeare tece habilmente o sangue e o humor negro, como quando a personagem principal Titus serve a Tamora, os filhos dela, mortos, cozinhados numa tarte! É tão sanguinolento e violento que quase se torna perversamente cómico pelo uso de um melodrama insano. "Porquê? Aí estão eles os dois, cozinhados nesta tarte, "que a mãe deles se alimentou delicadamente, "comendo a carne que ela mesma criou. "É verdade, é verdade! "A ponta afiada da minha faca é testemunha." Na verdade, os limites do género cómico e trágico foram testados no teatro isabelino e Shakespeare esteve na linha da frente desta revolução teatral, como pioneiro, particularmente nas suas últimas peças, do género tragicomédia. A forma tragicómica de Shakespeare de olhar para o mundo, está mais bem demonstrada em "O Conto do Inverno", uma peça em que Antigonus, um homem de bom coração, é atacado e morto por um urso, um evento fundamentalmente trágico que se torna simultaneamente cómico quando um homem vestido de urso persegue Antigonus pelo palco. É também uma oportunidade para Shakespeare nos dar uma rara orientação de cena: "Saída perseguida por um urso". Esta morte tragicómica é seguida imediatamente pela descoberta de uma criança recém-nascida. É um momento shakespeariano clássico, em que o desespero e a esperança se cruzam, e a tragédia muda repentinamente para a esperança da comédia. Num barulhento teatro ao ar livre com tantas distrações, Shakespeare era um mestre em manter a audiência envolvida, e as peças dele mostram-nos a verdade, vezes sem conta, de que a vida tanto pode ser ridícula como triste, trágica e cómica ao mesmo tempo. 6. Magia Na véspera do Ano Novo em 1607, morreu Edmund, o irmão de Shakespeare, seguido pelo sobrinho de Shakespeare apenas uns meses depois. Ambas as mortes ocorreram durante um significativo surto de peste em Londres quando Shakespeare regressara a Stratford-upon-Avon para escrever. Susana, a filha de Shakespeare, casou-se no mesmo ano e em breve ficou grávida do primeiro neto dele. Este ano tumultuoso com as tristes mortes e as perspetivas felizes precipitou uma mudança surpreendente na carreira de Shakespeare. Foi por esta altura que ele se virou para a magia. "Se isto é magia, que seja uma arte "tão lícita como comer." As suas quatro obras finais: Cimbelino, O Conto do Inverno, Péricles e A Tempestade, todas elas se inspiraram na magia. São obras sentimentais com personagens que procuram uma forma de regressar a casa, e reunirem-se com os seus entes queridos, tal como Shakespeare, quando regressou a Stratford-upon-Avon. 7. Uma Morte Anunciada? Shakespeare morreu em 1616, aos 52 anos. Apesar da aparente rapidez da morte do dramaturgo, as suas últimas peças — escritas anos antes — parecem ser a obra de um escritor estranhamente consciente da sua própria morte. Na sua última peça, "A Tempestade", o protagonista Próspero, aqui desempenhado por uma mulher, tem consciência de que se aproxima o fim da sua vida, e planeia voltar a casa para morrer. "E assim me retiro para a minha Milão, "onde penso com frequência "na minha sepultura." E em "O Conto do Inverno", um Camilo, cansado do mundo, também faz planos para ir para casa morrer. "Há 15 anos que não vejo o meu país. "Embora na maior parte tenha estado fora, "é lá que desejo repousar os meus ossos." E é "lá" que repousam os ossos de Shakespeare na sua cidade natal de Stratford-upon-Avon, outrora uma pequena e ignorada cidade. Hoje, graças a ele, um dos locais mais visitados do planeta. Agora, uma palavra do meu patrocinador. Se já assinaram um cartão de fidelidade e, de repente, recebem emails aleatórios, ou pesquisam no Google "great books explained" e recebem imensos emails suspeitos sobre livrarias online ou livros novos que não vos interessam, isso acontece porque essas companhias andam a vender as vossas informações a corretores de dados e anunciantes. As nossas informações pessoais estão a ser vendidas ou publicadas online sempre que preenchemos um questionário ou abrimos uma nova conta, sem que nós tenhamos conhecimento disso. O que acontece é que, por lei, esses corretores de dados têm de apagar as nossas informações, quando pedirmos. Mas quem é que tem tempo para enviar centenas de emails a corretores de dados? A INCOGNI que patrocina este vídeo, faz isso por nós. Contactam os corretores de dados em nosso nome e exigem que as nossas informações sejam eliminadas da lista deles. E quando o nosso nome é eliminado, eles avisam-nos. Só temos de criar uma conta e deixar a INCOGNI trabalhar. Eu já o fiz e agora já não recebo lixo e, melhor ainda, não recebo telefonemas desconhecidos. As primeiras 100 pessoas a usar BOOKS na ligação abaixo beneficiam de 60% de desconto da INCOGNI. Obrigado por assistirem. Tradução de Margarida Mariz (2025)