[Andrea Zittel em]
[Arte no Século XXI]
[Brooklin, Nova Iorque, EUA]
(música animada
com sons da cidade)
(música suspense
desacelerando com a filmagem)
(Andrea Zittel):
Pintura e escultura são formas de representação
Acho que não faço nada diferente disso.
De certa forma, são todas
tentativas de falar sobre
minha própria
interpretação do mundo,
e de, alguma forma,
me conectar com
a vivência de outras
pessoas também.
Cresci na região suburbana
do Sul da Califórnia.
Acho que meus pais tinham
uma fantasia de construir
uma casa de campo
no meio do nada. Então,
meu pai construiu
nossa casa na montanha.
Quando eu estava
no ensino médio,
o bairro já estava todo
construído, era um subúrbio.
Quando me mudei
para Nova Iorque,
percebi o presente que foi
viver em um lugar tão normal.
Mudei para Nova Iorque
em 1990, o primeiro lugar
que morei foi
uma loja minúscula.
Naquela época, eu fazia
um trabalho bem diferente.
Na verdade, eu trabalhava
com criação de animais.
As unidades de criação
não influenciavam só
o desenvolvimento dos animais,
eu tinha que construir
um espaço compacto
com tudo que o animal
precisasse para viver.
Depois desse trabalho
e de viver em um
lugar tão pequeno,
começou a fazer
sentido construir
espaços compactos
para mim também.
As unidades habitacionais
eram funcionais e supriam
minhas principais
necessidades.
Eu não tinha chuveiro
ou banheira, mas, tinha
um grande lavatório
plástico multifuncional
para lavar louças e
tomar banho.
Tinha uma cozinha embutida,
escritório e área de dormir.
Era como uma estrutura portátil
e permanente que eu colocava
dentro de outras casas.
Eu aperfeiçoei aquela peça
e acreditei que meus problemas
tinham acabado, sabe?
Foi um período maravilhoso,
sentia como se meu
trabalho estivesse tomando
um rumo mais concreto.
A ironia, é que, depois
de finalmente terminar
a obra da Unidade
Habitacional e deixar perfeita,
e, eu não tinha mais nada
que adicionar,
me senti muito desanimada,
apática e deprimida.
Ao avaliar minha própria reação
percebi que ninguém
quer a perfeição de verdade.
Somos obcecados com perfeição,
obcecados com inovações, mas,
o que realmente queremos é
a esperança de um novo
ou um amanhã melhor.
(Andrea): Acho que meu trabalho sempre
teve influência dos lugares onde vivi.
(abrindo persianas)
Na verdade, se olhar para
minhas coleções de trabalho
você consegue ver
as circunstâncias que vivi.
[A artista Austin Thomas oferece
tours na casa assinada por Zittel]
(Austin Thomas): A cozinha seria
um bom exemplo, do tour na "Casa de A-Z"
Andrea você não cozinha, né?
(risos)
Ficou muito evidente pela
geladeira minúscula
(Andrea) -E minha
galinha vivia na cozinha.
Mas, você tem uma
enorme mesa na sala
que facilitava oferecer
jantares para os amigos.
Ficamos minimalistas
com a Andrea, sabe?
Tem um sistema
utilitário de tigelas
pequenas, médias e grandes.
(Andrea)-Então só usam tigelas para os jantares?
(Austin)-Maior parte das vezes, sim.
(Andrea)-Ficava imaginando
se tinham me enganado. (risos)
Seria muito bom
falar sobre o piso.
Sempre senti como emoldurar
o Modernismo em
ambiente doméstico.
Era algo que eu queria fazer
nesta casa, pensar nas gerações
anteriores do Modernismo.
Geralmente olho para fora,
realmente uma das parte mais
bonitas da casa. Um jardim
particular no Brooklin.
(pássaros cantando com
som da cidade ao fundo)
O banheiro da Casa A-Z
da Andrea é o ponto forte.
Mostra o que seria um
ideal de conforto, utilidade e
organização. No piso a Andrea
colocou cada ladrilho à mão.
Meticulosamente.
(Andrea)
-Eles vêm em quadrados
perfeitos, mas, fiz sozinha.
Se olhar o armário de remédios,
ao invés de cair tudo na pia,
estão organizados em
"Correção",
"Ferramentas e Utensílios"
"Adição" e "Subtração".
E no "Adição" tem coisas óbvias
como, cosméticos, desodorante.
-E no "Subtração"?
(Andrea): -Coisas para limpeza.
(Austin):
Tudo organizado e etiquetado.
-Acho que o banheiro
foi sobre isso, né?
(Andrea): Há nove anos faço o
"Projeto Uniforme",
nele eu escolho uma
roupa para a temporada.
No começo por seis meses,
agora por quatro meses.
Esse é muito bom.
Esse é da última Primavera.
É de seda artificial.
Se desgastam e ficam
esfarrapadas no final,
depois de usar
por quatro meses.
Comecei esse projeto porque
eu trabalhava em um escritório
e eu tinha que usar algo
respeitável no trabalho.
Mas, eu não tinha muito dinheiro.
Um vestido colorido para a primavera.
Na maior parte das vezes,
compramos uma roupa incrível
que realmente
gostamos de usar.
Mas, tem um tipo
de paradigma social
contra usar a mesma
coisa dois dias seguidos.
Então, no meu caso,
eu realmente sentia
a variedade como mais opressora e
restritiva do que continuidade.
Isso é basicamente
um painel padrão.
Por muitos anos,
eu podia usar qualquer coisa,
desde que, fosse feita a
partir de um retângulo.
Amarra nas costas e
o top amarra no pescoço.
Os Construtivistas Russos
fizeram roupas muito geométricas.
Sabiam que ao tecer um tecido
ele tem um formato retângulo.
Então, quando você
recorta o retângulo em
outros formatos e costura
em outras formas diferentes,
você está acabando
com a integridade do tecido.
Pensei em levar esse
pensamento ao extremo,
só por diversão e,
fazer roupas só com retângulos.
Com pequenas mudanças,
você tem uma grande
variedade de formas e referências.
Depois de um tempo,
eu cansei de usar
retângulos o tempo todo.
Mas, mantendo o parâmetro,
o que pude pensar como
primeira opção de criar algo,
onde não faria uma coisa e
modificaria em outra,
era fazendo tudo
a partir de um fio.
Então, comecei a
crochetar meus vestidos.
E daí tudo se torna um
tipo de um fio contínuo.
O mais diferente é o que
vou usar no próximo Verão,
ou neste Verão.
(gaveta fechando)
Esse é realmente
- este é o vestido
que eu fiz para usar
na ilha na Dinamarca.
Comecei a fazer esse
vestido um ano atrás,
quando eu comecei a
viajar para a Dinamarca,
e percebi quanto era frio
e chuvoso o tempo todo lá.
É um vestido do tipo
a minha fantasia dos Alpes.
Meus pais gostavam de viajar,
mas, a gente não tinha
muito dinheiro porque
eram professores de escola.
Então, eles planejavam
aqueles verões malucos,
como viajar pela
Europa acampando.
Eles tinham uma Kombi.
Passei muito tempo naquele
espaço minúsculo
com minha família.
Quando eu tinha 12 anos,
eles compraram um barco.
E fizemos viagens velejando.
Sempre odiei velejar,
mas, eu era realmente obcecada
pela funcionalidade do barco.
(abrindo torneira)
(fechando torneira)
Esse é o segundo
modelo da peça que estou
trabalhando nos últimos anos:
"Propriedade de Bolso".
É uma ilha flutuante de
concreto de 16 x 7 metros.
A ideia é que seria
sua propriedade,
sua moradia e veículo
em uma coisa só.
Possível de reproduzir em massa.
(barulho de raspagem)
Verão passado eu
construí a ilha inteira.
E foi inaugurada em
uma exposição de arquitetura.
Este Verão, na verdade,
daqui a três ou quatro dias,
Eu vou para a Dinamarca
e viver na Ilha por um mês.
E por uma semana,
alguns amigos meus vão vir e
faremos um documentário
dessa experiência
de viver na Ilha.
(motor sobre ruídos de
água em movimento)
[Cenas de "Gollywobler"
um filme de Andrea Zittel e Joachim Hamou]
-Olá.
-Sou Axel.
Sou da --
Esse é Jorgen, o fotógrafo.
Na verdade, eu tentei te ligar.
Estou muito animada
com este projeto,
porque no começo,
minha arte era muito
baseada na experiência.
Quero dizer,
alguns projetos meus
não tinham um produto tangível,
um produto final.
-Então não tem como
esperar e fazermos outro dia?
-É uma longa viagem.
(risos)
Sinto que, ter essas
experiências incríveis,
que são totalmente imprevisíveis
como montar um cenário onde
eu vivo uma certa situação.
Por um lado,
estou com medo de fazer,
por outro lado, encantada
com a ideia de fazer.
Mas, na verdade,
não sei se será
uma experiência incrível
ou terrível para mim.
(Andrea):-Vê as novas
plantas crescendo?
(Axel): -Não.
Essas pequeninhas aqui?
-Sim, eu plantei uns dias atrás.
Estão finalmente crescendo.
(Axel): -Parece com as que
estou tentando tirar
do meu jardim,
fica crescendo assim
o tempo todo.
(Andrea): -Ervas daninhas?
-Sim.
(Andrea):-Aqui na ilha, somos
gratos até pelas ervas daninhas.
-Você não sente falta de
conviver com pessoas?
-Por isso estou aqui,
para me afastar.
(Axel): -A maior parte do seu
trabalho é ficar sozinha, né?
(Andrea): -Sim, grande parte
do meu trabalho é sobre
criar situações pessoais,
íntimas e controláveis.
Minhas ideias tem
um pouco de humor, mas,
também tem um lado sombrio.
Como se eu tivesse
uma fantasia de ser
completamente autônoma e
indepedente, em paz.
E não tivesse nenhum tipo
dos problemas cotidianos
Mas, também tem
a sensação de isolamento.
(música calma)
As pessoas dizem que o meu
trabalho é sobre lazer e design.
Mas, na verdade,
acho que é muito
mais sobre questões
menos tangíveis do que estas.
As questões que
estou realmente interessada
são os valores e
percepções humanas
e, como, pensamos
entender de certa forma,
os valores fundamentais
e acreditamos saber o que são
e que precisamos destas coisas.
Mas, estão constantemente,
se invertendo uma na outra.
Como se as coisas que você
acha que estão te libertando
na verdade estão te confinando,
restringindo ou reprimindo.
E as coisas que você
acha que está controlando
na verdade te dão
um senso incrível de
segurança e liberdade no final.
(pássaros cantando)
Transcrição em Português
por Carole.