Trevor Noah: Estava em um táxi
quando meu gerente me ligou
e ele disse: "Ei, você gostaria
de apresentar o The Daily Show?"
Adam Grant: Esse é o Trevor Noah.
TN: Foi incrível.
E acho que ainda não entendia
a magnitude desse programa.
Lembro-me de ter saído do táxi
e meus joelhos estavam bambos,
e provavelmente teria desmaiado
se estivesse em pé.
Ainda bem que estava sentado
ao ouvir a notícia.
E foi assim que aconteceu.
AG: Quando Trevor recebeu a ligação,
a sua carreira mudou.
Ele passou muito tempo trabalhando
como comediante solo
em discotecas e teatros,
sobretudo na África do Sul.
Mas agora trabalha com uma equipe
criativa em Nova Iorque.
Quatro dias por semana, apresentam
um programa assistido por milhões,
e eu quero saber como eles conseguem,
porque, geralmente, a criatividade
não sobrevive em grupos grandes.
(Música)
Sou Adam Grant e esse é WorkLife,
meu podcast em parceria com TED.
Sou um psicólogo organizacional.
Estudo como fazer o trabalho
não ser uma droga.
Nesse programa, estou adentrando
alguns lugares bem incomuns,
que dominaram algo sobre trabalho
que eu gostaria de divulgar.
Hoje, criatividade sob o microscópio,
e como você pode ser mais criativo
em qualquer coisa que faça.
Agradeço a Warby Parker
por patrocinar o episódio.
(Música)
Quando há um desafio criativo,
o ponto de partida é juntar um grupo
de pessoas para um "brainstorming".
Os locais de trabalho têm
recorrido a isso há anos.
Só há um pequeno problema:
isso não funciona.
Temos décadas de evidência provando
que os brainstormings são falhos.
Grupos geram menos e piores ideias
do que as mesmas pessoas sozinhas.
(Música)
O que há nos brainstormings
que reduzem a criatividade?
Primeiro, as pessoas não falam
porque têm medo de parecem burras.
Além disso, algumas pessoas dominam
a conversa e silenciam as outras.
E todos acabam apoiando a ideia
preferida do chefe.
Mas o The Daily Show superou
esses problemas.
Eles decifraram o segredo
da criatividade em grupo,
e eu vou descobrir como fizeram isso.
(Música)
São 9h da manhã, terça-feira.
(Vozes sobrepostas)
Ao entrar, percebo que o programa
é uma imensa máquina.
Em qualquer dia, há mais de 100 membros
da equipe trabalhando.
Mas quero focar em uma parte da máquina,
a sala dos roteiristas.
É onde o time criativo de roteiristas,
produtores e artistas se reúnem.
Estar numa sala de roteiristas é um sonho
para um psicólogo organizacional,
ou pelo menos é para mim.
E o The Daily Show está me dando acesso
para ver como começam o dia do zero
e terminam com 22 minutos
de boa comédia.
(Vozes sobrepostas)
A sala está cheia, com umas 30 pessoas.
Algumas estão sentadas nos sofás,
muitos estão sentados no chão
e algumas estavam até com seus cães.
Estão começando a trocar ideias
antes do Trevor chegar.
(Vozes sobrepostas)
Estamos em novembro,
e a grande notícia do dia
é sobre o candidato ao Senado
do Alabama, Roy Moore.
Faltam algumas semanas até
as eleições especiais
para substituir Jeff Sessions.
Todos sabemos como foram as eleições,
mas, na época, isso era
um assunto notável.
Eles começam colocando vídeos da notícia
de ontem, e então começam a elaborar.
(Vídeo) Estão dizendo que Roy Moore
foi banido do shopping.
(Risos)
Allison MacDonald, produtor supervisor:
O fato do shopping
ter padrões mais altos
do que o senado...
(Vídeo) Narrador: Ontem, Moore
negou as acusações.
(Vídeo) Roy Moore: Nunca fiz
o que ela me acusou de ter feito.
Nem conheço a mulher.
Não sei nada sobre ela.
Nem sei onde fica ou ficava o restaurante.
Max Brown, produtor supervisor:
Ele diria: "Eu nego.
É tudo mentira.
Não faço ideia do que se trata."
Mas os que o acusam falam:
"Ele estava aqui todas as noites.
Temos uma foto dele na parede
que ele autografou."
Josh Johnson, roteirista: Uma hora,
ele dirá:
"Nem sou do Alabama.
Nunca estive aqui antes".
(Risos)
Steve Bodow, produtor executivo:
"Não sou Roy Moore".
Adam Grant: A sala está começando
a parecer um grande jantar em família.
Todos estão participando da conversa.
Zhubin Parang, roteirista-chefe:
Será que sua mesa favorita
tem seu nome escrito nela?
"Lugar do Roy Moore".
"Nunca comi panquecas e waffles lá,"
e o restaurante diria:
"Chamamos esse prato Especial Roy Moore."
Jimmy Don, produtor sênior: "Tem uma foto
sua na parade, no desafio da panqueca."
AG: O que notei primeiro
foi que a sala estava cheia
de impulsos criativos.
Acredite se quiser, mas há um nome
para isso na psicologia da criatividade,
chama-se explosão.
(Música)
As explosões se parecem com
os melhores momentos do jazz.
Alguém toca uma nota, outro
entra com um acorde,
e logo você tem uma harmonia musical
que ninguém planejou.
A maioria dos grupos
não chegam a esse ponto,
mas você reconhece as explosões
quando presencia uma.
No The Daily Show, a sala parecia
estar fervilhando de ideias.
Você pode perceber nas piadas
sobre Roy Moore.
ZP: Acho... Ah, olha ele aí. E aí, cara?
AG: Trevor Noah acabou de entrar na sala.
ZP: Estamos vendo os vídeos
e rindo de Roy Moore
indo ao shopping, passeando, até...
TN: Sendo banido do shopping?
Isso é um detalhe importante
que foi ignorado.
ZP: Por um promotor.
TN: Até o segurança do shopping diria:
"olha, seu promotor, eu sei."
MB: É bem difícil ser banido do shopping.
Até um adolescente
mal-educado não é banido.
Dan McCoy, roteirista: Roy Moore
está dando desculpas
por ter sido banido.
"Não, estava roubando batom".
(Risos)
AG: Nesse momento, fiquei atento.
As explosões criativas estão de volta,
mesmo com o Trevor na sala.
Todos estão sugerindo
ideias cruas ao chefe.
O quão à vontade você fica
simplesmente jogando ideias
na frente da pessoa mais poderosa
do seu ambiente de trabalho?
Ter um chefe que está sempre te avaliando
seria um pesadelo.
Você teria medo de errar
ou de fazer papel de bobo.
Mas Trevor cria um ambiente tranquilo.
Não há frenesi, nem pânico.
Ele guia o grupo.
Apesar do relógio estar correndo,
ele não parece estressado.
TN: Vamos passar o olho na lista.
AG: A reunião acaba às 10h30min.
Eles têm um esboço para o programa.
Agora é dividir para conquistar.
Os roteiristas só têm cerca de duas horas
para entregarem os primeiros rascunhos.
ZP: Preciso de uns roteiristas
para encerrar o assunto da Ásia,
e dois roteiristas que queiram fazer
o negócio do "Don Jr. é um idiota."
AG: Eles saem em duplas para escrever.
Quero me aprofundar mais para saber
como eles criam as condições ideais
para as explosões criativas.
Então procurei o roteirista-chefe,
Zhubin Parang,
e o roteirista sênior Daniel Radosh.
AG: Psicólogos falam sobre padrões
chamados de explosões,
que é o quão rápido estamos
revezando em uma conversa,
interrompendo uns aos outros.
Houve momentos em que alguém
fez uma piada muito boa,
e daí várias pessoas a desenvolveram.
Daniel Radosh: O principal é criar
as piadas a partir do material,
e é daí que vêm as explosões.
AG: Adorei como você adotou
o termo explosões,
como se fosse algo comum
de se falar.
DR: Focamos em improvisar.
O que você disser, é o novo termo.
AG: Sejamos claros, nem todos estavam
de acordo imediatamente.
Aqui estão dois dos novos roteiristas,
Kat Radley e Colleen Werthmann.
Colleen Werthmann: Explosões?
Kat Radley: Você que criou o termo?
AG: Não, peguei emprestado.
Aprendi sobre as explosões
através de uma colega.
Anita Williams Woolley:
Sou a Anita Williams Woolley.
Sou professora associada
na Universidade Carnegie Mellon.
Explosões ocorrem quando todos estão
falando e respondendo uns aos outros
em um curto espaço de tempo,
ao invés de prolongarem isso
por um longo período.
AG: Anita vê essas explosões
em todos os tipos de grupos,
não só no trabalho.
AWW: Tenho quatro irmãos mais velhos
e três filhos meninos.
Brinco sobre como isso explica minha vida,
pois em várias conversas na mesa do jantar
você me escutará falando:
"Espera, deixa-me terminar."
Há muitas dessas explosões nas conversas
e há muitas interrupções,
o que não parece incomodá-los,
mas às vezes me deixa maluca.
AG: Nem sempre é rude interromper.
Em momentos críticos, queremos
contribuições rápidas.
Anita estudou grupos que trabalham
com softwares em países diversos.
Descobriu que grupos mais inovadores
e produtivos tinham as explosões.
AWW: As equipes mais eficazes
sabiam quando seus colegas de trabalho
estariam trabalhando
e ficavam on-line no mesmo horário,
trocando mensagens e enviando
códigos uns aos outros.
Já os outros times podem ter
se comunicado tanto quanto
e realizado muitas atividades,
mas cada um era mais dedicado
ao seu próprio horário,
e essas equipes não eram tão eficazes.
AG: Explosões indicam
que você não está preso
em uma sessão de brainstorming
que não funciona.
É quando um grupo atinge o pico
da sua criatividade,
pois todos estão participando livremente
e contribuindo com ideias.
AWW: Não acho que as explosões de ideias
aconteçam somente em espaços criativos.
Porém, acredito que esses espaços
se beneficiam dessas explosões.
As pessoas que estão
conversando estão empolgadas,
porque quando você fala, alguém
responde na mesma hora.
Você sabe que está sendo ouvido
e também escuta os outros.
Logo, é muito mais fácil trocar ideias
e talvez até criar ideias.
AG: Claro, as explosões são diferentes
quando o material não consiste em códigos,
mas sim em comédia.
Na sala dos roteiristas, as explosões
não acontecem ao acaso.
Trevor Noah falou sobre isso.
TN: Quando estou na sala de roteiristas,
há duas coisas acontecendo na minha mente.
Primeiro, penso no que vamos fazer
no programa naquele dia
e, em segundo, penso na sala
como um palco de comédia
e nas risadas que estão impregnadas
naquele momento.
Sei que é muito supersticioso,
e ninguém pode provar se é verdade ou não,
mas acredito que risadas são absorvidas,
da mesma forma que o fumo passivo,
no âmago do ser humano.
AG: Vendo vocês na sala essa manhã,
fiquei intrigado com algumas coisas.
Primeiro, esperava uma mudança
quando você entrasse,
e quase nada mudou,
o que é um sinal de que você fez a sala
ser psicologicamente segura.
AG: As pessoas não têm medo de você.
TN: Ah, na sala? Isso é engraçado.
AG: Eles não surtam quando você entra,
e continuam sugerindo as piadas cruas.
Isso se chama segurança psicológica.
É quando você pode se arriscar
sem sentir medo.
Sem esse senso de segurança,
as explosões criativas não acontecem.
As pessoas se censuram.
TN: Bem, sempre acreditei
que, em qualquer relacionamento
em que haja alguém no comando,
seja em uma família, com um dos pais,
seja um professor, ou seja um chefe
em um ambiente de trabalho,
o que traz à tona o melhor das pessoas
é o respeito mútuo.
Confio que os roteiristas estão tentando
criar o melhor programa,
e eles confiam que quero
criar o show mais engraçado.
Levou muito tempo, mas agora,
quando entro em uma reunião,
estou entrando em uma conversa contínua.
AG: Desenvolver segurança
psicológica leva tempo.
É algo que se cria aos poucos, dia a dia,
e que você presencia em pequenos momentos.
Um deles me chamou a atenção
na sala de roteiristas.
TN: Aquela piada que você sugeriu
foi muito boa, até mesmo na sala.
ZP: Aquela foi ótima, ela deu certo.
AG: Você ouviu isso?
Trevor disse que seu roteirista-chefe
Zhubin sugeriu uma piada boa.
ZP: Sou um cara engraçado,
escrevo boas piadas.
AG: A ideia das explosões criativas
é que, quando o grupo cria momentum,
você quer que isso continue.
Então me pergunto por
que Trevor interrompeu.
AG: Isso é um esforço consciente seu,
de elogiar alguém na frente do grupo?
Ou isso ocorre espontaneamente?
TN: Acho que é subconsciente,
mas eu sempre acreditei que se deve
elogiar as pessoas quando elas merecem.
Especialmente quando se trabalha num local
onde todo elogio está
destinado a ser para mim.
Se algo incrível aparece no programa,
Trevor recebe o crédito.
Se algo horrível aparece no programa,
Trevor também é o culpado.
Acho que as pessoas melhoram
como seres humanos
ao saberem que são reconhecidas
pelo que estão fazendo.
AG: Quando se está num grupo
que está criando,
é fácil perder a noção de quem disse o quê
ou se sua ideia sequer é importante.
Aqui está o Daniel.
DR: É como uma mistura,
todo esse material entra
e você termina com um tipo
de suco de comédia
que é delicioso, mas você não pode dizer:
"Ei, é o meu morango que está aí."
Nós entendemos que a maioria das piadas
não chegam a aparecer no programa,
especialmente não como foram
criadas inicialmente.
TN: Pode não ser a piada que você criou
que apareça na televisão,
mas pode ser uma piada que faça
você sentir algo
que vai resultar na piada
que irá para a televisão.
E teve uma na qual pensei ontem,
sobre as acusações de Roy Moore,
em que Sean Hannity aparece
para defendê-lo.
E eu disse: "Sean Hannity tem o bilhete
para o lado errado da história."
Isso me fez rir, sabe?
Então, eu pensei: "É, vou falar isso".
Se seu dia for marcado por alegria,
essa alegria irá se manifestar no produto
final, que será o programa.
AG: Voltaremos com o Trevor
e o The Daily Show
logo após o intervalo.
Isto será uma propaganda diferente.
No espírito de explorar ideias
criativas no trabalho,
levaremos vocês para a Warby Parker,
nossa patrocinadora.
(Música)
AG: Neil Blumenthal e Dave Gilboa,
da Warby Parker, têm muito em comum.
Neil Blumenthal: Vocês podem não
nos distinguir pelas nossas vozes,
mas sou o Neil.
Dave Gilboa: E eu sou o Dave.
AG: Isso não ajudou em nada.
Mas agradeço por tentarem.
(Risos)
AG: Sim, eles soam parecidos,
frequentaram a mesma escola,
têm os mesmos amigos
e também possuem o mesmo trabalho.
Neil e Dave são diretores executivos
da Warby Parker,
a empresa bilionária que fez comprar
óculos ser legal de novo.
Sempre me fascinei com duplas
dinâmicas como o Neil e o Dave.
Não só administram a empresa juntos,
mas sua liderança colaborativa
se difunde através da cultura.
A habilidade de trabalhar em equipe,
do produto ao atendimento
ao cliente e ao varejo,
tem sido a chave do sucesso
da Warby Parker.
Conversamos na sede
da empresa em Nova Iorque
para falar sobre como é
ser o chefe juntos.
(Música)
AG: A metáfora óbvia para a relação
entre co-diretores
seria um casamento,
mas vocês falam mais como se fossem pais.
NB: Sabe, acho que é isso mesmo.
Quando se é um pai, você precisa
de uma filosofia, certo?
Precisa de uma visão do que você quer
que sua criança seja quando crescer.
DG: Também faz os altos melhores,
podendo comemorar as vitórias,
e faz os baixos melhores,
ao reduzir as frustrações que aparecem.
NB: Há momentos em que assumimos
papéis diferentes,
como em uma negociação, onde
pode haver o cara bom e o mau.
Tendo filhos, um de dois e um
de seis anos, sei bem disso.
Rachel e eu muitas vezes fazemos isso.
AG: Como é liderar uma empresa
com um velho amigo?
NB: Sabe, muitas vezes converso
com outros fundadores e diretores.
e muitas vezes eles falam
do isolamento associado ao cargo,
e eu nunca senti isso.
Uma das melhores coisas
de possuir um parceiro
é que podemos apenas nos olhar,
rir e cair na gargalhada.
Algumas situações são muito difíceis.
Outras são simplesmente absurdas,
e tudo é muito mais agradável
ao ter alguém ao seu lado.
AG: Quais são os três principais
conselhos que vocês dariam
a alguém que vai liderar
com outro colega?
NB: Construa confiança.
Comunique-se frequentemente,
o que, em geral, leva à confiança.
E trabalhe com alguém com quem
você goste de passar o tempo.
AG: Quantas horas vocês acham
que já passaram juntos
em todas suas vidas?
DG: Talvez 15 mil horas?
Dizem que você precisa de 10 mil horas
para virar especialista em algo?
NB: Somos experts um no outro.
(Risos)
NB: Quando ganho o anel?
(Risos)
(Música)
AG: Neil Blumenthal e Dave Gilboa,
diretores e co-fundadores da Warby Parker.
Warby Parker possui inúmeras
armações interessantes.
Se você cansou de usar lentes de contato,
experimente o monóculo deles.
Procurando por onde começar?
Nos testes gratuitos, você pode
escolher cinco armações
para experimentar por cinco dias.
Se não gostar delas, pode
devolvê-las.
Experimente-as hoje no site
warbyparker.com/TED.
(Música)
AG: Se você já participou de debates,
sabe que deve conter as críticas.
Deixar cada pensamento fluir.
Não existem más ideias.
Mas, na verdade, isso é uma má ideia.
Acontece que as pessoas são mais criativas
em grupos onde críticas são bem-vindas.
Isso eleva os padrões.
Segurança psicológica não significa
que tudo será um mar de rosas.
Você ainda precisa ter padrões.
No The Daily Show, os roteiristas não
deixam piadas ruins saírem impunes.
DR: Você não humilha alguém
por fazer uma piada ruim.
Quer dizer, um pouco, mas...
AG: Como seria isso?
ZP: Acho que uma leve provocação.
Mas, geralmente, a pessoa que fez a piada
é a primeira a zoar sobre
como a piada foi ruim.
AG: As pessoas se sentem mais seguras
e confortáveis rindo de si mesmas.
E alguns experimentos novos têm
nos mostrado como fazer isso.
Tudo começa com um clipe de papel.
(Música)
Pesquisadores perguntaram: "quantas novas
utilidades consegue criar para o clipe?"
As pessoas saíram para um brainstorming.
O primeiro grupo gerou ideias bem típicas,
um anel, uma pulseira e um colar.
Mas o segundo grupo criou ideias
totalmente inesperadas,
como uma sutura para ferimentos,
uma obra de arte e uma chave de fenda.
O que fez a diferença?
No primeiro grupo, todos apenas
começaram o brainstorming,
mas, no segundo grupo,
alguns tiveram que compartilhar
uma história embaraçosa
antes de começarem a debater.
E esse simples ato diminuiu
suas inibições.
Isso é algo que eles sabem por experiência
própria no The Daily Show.
ZP: Uma vez, eu me confundi e disse que,
para nos mantermos flexíveis,
tínhamos que manter a cintura aberta.
Eu quis dizer que devíamos manter
a cabeça aberta,
mas disse isso há dois anos,
e nesses dois anos que passaram,
continuei falando "cintura aberta",
porque todos dizem que está errado.
DR: Dizer "cabeça aberta" é melhor?
"Cabeça aberta" é um termo que existe.
AG: Nada nosso deve ser aberto.
DR: Hannibal.
ZP: Independentemente disso, todo erro
que cometemos na sala de roteiro,
geralmente se torna algo
e acho que isso ajuda
a promover a criatividade.
Se pegarmos as besteiras
que dissemos e rirmos delas,
isso faz todos ficarem mais
despreocupados para falar.
AG: Tenho me divertido
falando com os roteiristas
sobre explosões criativas,
mas não consigo esquecer o relógio.
Faltam três horas para começarem a gravar.
Embora eu não trabalhe no programa,
estou começando a me sentir
um pouco estressado com o prazo.
Perguntei à Kat e à Colleen
se estão surtando.
AG: Você já percebeu o quão louco é
começar às 9h da manhã
para ter o programa à tarde?
KR: É louco mesmo.
Antes de trabalhar aqui, eu pensava:
"Como fazem isso todos os dias?"
Mas agora, eu entendo.
Há pessoas suficientes que são
tão boas no que fazem,
que elas fazem dar certo.
Mas é, sim. É muito corrido...
CW: Mas isso é como uma fábrica
que já existe há muito tempo.
AG: Uma fábrica?
CW: É uma máquina muito precisa.
KR: Também fazemos sapatos aqui.
(Risos)
CW: Todos fazemos uma contribuição
incrivelmente precisa.
Você sabe por quanto tempo fazer.
Sabe quais são os padrões de qualidade.
Entende o que estou dizendo?
AG: Sim. Ninguém parece estressado.
Todos estão descontraídos, sorrindo.
É assim sempre?
KR: Acho que depende do dia,
mas, em geral, sinto que todos estão
bem descontraídos,
pois você nunca pensa:
"Ah, isso vai sobrar para mim."
Você sabe que sempre terá
alguém para te ajudar.
CW: Sim, sentir-se livre
e com um senso de possibilidade
é sempre um ambiente melhor
para trabalhar criativamente.
Então, mesmo que você sinta
aquela pitada de ansiedade
dentro de você, funciona
melhor se pensar:
"Sou um rio que sempre está correndo."
É brega, mas funciona para mim,
então é isso que faço.
AG: O ambiente descontraído possibilita
as explosões de ideias.
Eles também têm a segurança de saber
que seus dias são meticulosamente
planejados e organizados.
Na verdade, há uma estrutura em tudo,
pois o que o The Daily Show fez,
conscientemente ou não,
foi construir bolhas de tarefas diárias.
(Música)
Bolhas de tarefas.
Pense em alguma vez que você
entrou em uma reunião
e tentou entrar na discussão,
mas não conseguiu.
Parecia que havia um campo de força
que você não conseguia ultrapassar.
Isso é uma bolha de tarefas,
em que as pessoas ficam totalmente
concentradas em um projeto comum.
Mantém o grupo focado.
Assim, todos podem construir
a partir das ideias dos outros.
Bolhas de tarefas dão aos roteiristas
e produtores o espaço que precisam
para aprimorar e refinar suas ideias.
Sem essas horas asseguradas
para a colaboração,
todos estariam trabalhando
em horários diferentes, sem sincronia.
ZP: Uma vez que os roteiristas
saem para escrever,
têm, geralmente, duas
horas ininterruptas
para decidirem como será a estrutura,
respeitando as diretrizes que foram
discutidas, e acrescentarem suas piadas.
Só os interrompo se houver
mudanças significativas
pedidas pelo Trevor,
ou alguma notícia que requeira
uma modificação imediata.
AG: Muita estrutura pode
inibir a criatividade,
mas pouca estrutura também.
Se há um acordo sobre certas
regras de quando e como trabalhar,
você pode focar toda a energia
em efetuar o trabalho.
Aqui estão Jen Flanz e Steve Bodow,
os produtores executivos.
Jen Flanz: Existe um mito de que,
em um show de comédia,
é divertido o tempo todo
e somos hiperativos.
É divertido, mas executado
um pouco como uma redação.
Steve Bodow: Planejamento e estrutura.
Parece que é rígido,
mas é o que dá a liberdade de encontrar
as descobertas criativas que fazem
a coisa acontecer.
AG: Porque a criatividade realmente
não começa com uma página em branco.
Começa com alguma matéria prima.
No caso do The Daily Show,
são as notícias que passam
na reunião da manhã.
Os produtores já revisaram
horas de filmagens
e selecionaram os clipes mais promissores.
Uma vez que decidimos
sobre as manchetes,
os roteiristas sabem que o primeiro ato
terá de sete a 12 minutos,
o segundo terá de quatro a sete minutos,
sabendo exatamente quanto tempo
têm para escrever.
Eu arrasto Dan Amira e David Kibukka
para fora da bolha de tarefas.
Eles trabalham para tornar
os improvisos matinais
um segmento refinado.
David Kibukka: Às vezes você pensa
que todos estão fazendo as melhores
piadas o tempo todo.
Quando percebe que não...
Dan Amira: A maioria das piadas são
apenas lixo.
DK: É como: "deixe-me contribuir
com esse lixo também,
esperando que, no fim da gravação,
isso seja removido
e substituído por algo maravilhoso."
Porque o primeiro rascunho não é
para ser o último rascunho.
DA: Por isso se chama primeiro rascunho.
DK: Sim, isso foi uma grande parte
do processo de nomenclatura.
AG: OK, estrutura e segurança
ajudam as explosões.
Mas você também precisa da mistura certa
de pessoas na sala.
E julgar o talento criativo é difícil.
Veja um dos meus estudos favoritos.
Produtores de Hollywood
gostavam mais de roteiros
quando os roteiristas se apresentavam
como artistas em voga.
Roteiristas que usavam óculos estilosos
pareciam ter vantagem.
O The Daily Show não quer ser influenciado
por esses estereótipos.
Eles querem escolher
os roteiristas mais criativos,
e os produtores executivos Jen e Steve têm
um processo para isso.
JF: Esse é o bebê dele.
SB: Sim, é algo que comecei
provavelmente em 2008.
AG: A inspiração veio de algo poderoso
que acontecia em orquestras,
audições cegas.
DR: Usávamos vendas
e os trazíamos para um local secreto.
AG: Talvez não desse jeito.
(Música)
Por anos, sinfonias americanas foram
dominadas por homens.
Nos anos 70, um conjunto típico tinha
nove homens para cada mulher.
Supostamente, as mulheres não eram
talentosas o suficiente
mas, na década de 1990, a proporção mudou
para menos de dois para um.
A razão pela qual isso aconteceu?
A indústria introduziu audições cegas,
onde os candidatos tocavam
atrás de uma cortina.
Uma vez que os avaliadores não podiam ver
se um artista era homem ou mulher,
seus preconceitos foram neutralizados.
Eles se concentravam apenas
na qualidade da música
e, como deveriam saber o tempo todo,
as mulheres eram tão excelentes
quanto os homens.
O The Daily Show tem
uma abordagem semelhante.
SB: Foi um esforço para diversificar,
de outra maneira importante, no show.
Não no vídeo, mas na sala de roteiristas.
Sempre recebíamos as inscrições
de roteiristas com seus nomes,
e, muitas vezes, poderia ser alguém
que você conhece, ou amigo de um amigo.
Para tirar esse ingrediente
disso, dissemos:
"E se nós apenas os numerarmos?"
AG: Na primeira tentativa
de inscrições cegas,
contrataram três roteiristas,
e duas eram mulheres.
Logo, contrataram mais pessoas de cor
e roteiristas de fora dos EUA também.
Então, no momento em que Trevor
se juntou ao show,
estava trabalhando com uma
equipe diversificada
e era uma prioridade continuar
diversificando de todos os ângulos.
No começo, ele não estava certo
em como trazer seu contexto
como um sul-africano.
TN: Fiquei tão marcado com pessoas
dizendo que eu era diferente,
que esqueci que a maioria
de nós somos de fora.
Só depende do nosso ponto de vista.
AG: Diversas origens e perspectivas ajudam
nas explosões criativas,
mas nem sempre nos damos conta disso.
Quando todos em um grupo são
da mesma etnia,
eles são piores na resolução criativa
de problemas, mas pensam que são melhores
porque estão mais confortáveis.
Grupos diversos são mais criativos.
Não só porque têm acesso a uma gama
mais ampla de ideias.
Eles se sentem mais desconfortáveis,
e esse desconforto os motiva
a se prepararem mais
e a compartilharem novas informações.
TN: Trump como um ditador Africano será
sempre um dos meus favoritos,
porque foi o primeiro momento no show
em que pensaram que eu
poderia dar certo.
AG: Esse segmento que Trevor está falando?
Saiu de sua própria experiência.
TN: Foi o primeiro segmento em que percebi
que minha singularidade
poderia ser uma habilidade,
não um obstáculo.
Meu presidente também não deu
suas declarações fiscais,
não as disponibilizou enquanto
foi presidente.
Meu presidente também tem
amizade com os russos
que são questionáveis,
na melhor das hipóteses.
Ao criar o show, percebi agora
que posso criar dentro dele
uma sensação de estranheza,
que geralmente é uma curiosidade,
uma vontade de aprender sobre um mundo
que você não conhece muito,
e então tento levar o show
dentro dessa esfera.
(Música rap ambiente)
AG: Neste momento do dia,
roteiristas e produtores
estão juntos para o ensaio.
Trevor está de terno, as luzes
estão acesas.
Parece exatamente
com o que vi na televisão.
Agora, é hora de experimentar
todas as piadas.
Trevor está contando-as pela primeira vez,
narrando suas próprias
impressões sobre Roy Moore.
TN: Vamos começar o programa
com algo leve.
O candidato para o Senado do Alabama
do GOP, Roy Moore, e seu escândalo sexual.
Estou muito curioso sobre
quais cantadas Roy Moore usou.
Você está cansada? Porque você está
correndo de mim o dia todo.
(Risos)
Que vestido fofo.
Vai ficar ainda melhor fora
desta Lilica Ripilica.
GAP Kids? É.
Tem um desconto? Porque minhas calças
já estão pela metade.
(Risos)
TN: Ontem, uma nova acusação.
Beverly Young Nelson
afirmou foi abusada sexualmente por ele
quando ela tinha 16 anos de idade
e trabalhava em um restaurante local,
mas ele ainda diz que é inocente.
"Não conheço esse restaurante,
ou qualquer outro restaurante.
Na verdade, nunca ingeri comida.
Nem sequer tenho uma boca."
(Imita alguém falando com a boca fechada)
(Risos)
Sinto que Moore ainda negaria tudo
mesmo se houvesse uma foto
dele no restaurante
ganhando um concurso de comer panquecas.
AG: No final de cada ensaio, roteiristas
e produtores enchem o set.
DK: Às vezes, você tem um roteiro e pensa:
"Este roteiro é mágico.
Por que estamos ensaiando?
Cara! Por que estamos ensaiando?”
E então, no ensaio, você fala:
"Alguém tem alguma outra ideia?"
AG: E, nesse momento, parece que a equipe
de criação tem algum feedback.
ZP: Acho que precisamos
reescrever algumas piadas.
Como a última, "sinto que Moore, mesmo
que haja uma foto dele
no restaurante ganhando um concurso
de panquecas", não é engraçada.
SB: Precisa ser reescrita,
mas estruturalmente é boa.
ZP: Reescrita totalmente?
TN: Uma camada de reescrita.
SB: Precisamos jogá-la fora
e fazer algo diferente.
AG: Reescrever? Sério?
Achei que foi muito engraçado,
mas roteiristas e produtores
não estavam satisfeitos.
Eles têm cerca de uma hora apenas
para trabalhar no material final,
e eu fico imaginando o que acontece
por detrás das portas fechadas.
CW: Há um ritual satânico... não.
KR: Há uma sala de reescrita,
basicamente com o Trevor,
o roteirista-chefe, produtores.
CW: É uma sala bem pequena.
Há oito ou nove pessoas meio
amontoadas lá dentro.
KR: Calças opcionais.
CW: Lanches saudáveis.
KR: Repassando o roteiro
do começo ao fim,
apenas certificando-se de que tudo está
tão forte quanto possível.
AG: Agora está fora das mãos deles
e o show começa, ao vivo.
No ar, Trevor, alfinetando Roy Moore.
TN: Esse cara, ele é uma lenda.
Ele é uma lenda.
É como se o passado dele estivesse
delatando o seu futuro.
(Risos)
Porque tudo o que ele nega,
é como se estivesse confessando.
Agora, eu quero que ele diga:
"Nunca me sentei
naquele restaurante."
"Sério? Esta mesa tem seu nome gravado."
"Bem, nunca comi nada lá."
"Sua foto está na parede, no concurso
de comer panquecas."
Olha, não sei como isso tudo vai acabar.
Mas, a partir de agora,
as lideranças do Senado
e da Casa Republicana
pediram a Roy Moore que renuncie.
E parece que ele pode ser
expulso do Senado,
caso ganhe a eleição.
Não estou dizendo ele não é
adequado para o Senado,
Mas, há 40 anos atrás, ele escreveu num
anuário: "Não sou bom para o Senado."
(Risos)
Nós voltamos já.
(Aplausos)
AG: Trevor e sua equipe criativa
fazem isso dia após dia.
Após assistir a um programa inteiro,
fica claro que essas pessoas
se conhecem muito bem.
Eles sabem quem será
mais engraçado em cada tópico,
quais roteiristas funcionam juntos,
quais produtores têm a melhor
expertise em cada segmento,
e quem consegue consertar
um roteiro confuso.
Aqui está o Steve.
SB: Porque nós temos muitos programas
para fazer, 160 por ano,
não há muito tempo
para se concentrar
ou ensaiar as coisas.
O modo de criar um processo novo,
ou de fazer as pessoas
funcionarem juntas,
é fazendo um show, fazendo outro show
e depois fazendo outro show.
AG: Grupos nem sempre são ruins
para a criatividade.
Talvez só tenhamos estudado
da maneira errada.
(Música)
Raramente acompanhamos grupos
que criaram segurança e estrutura
trabalhando juntos ao longo de anos.
Então, não importa se você é bom
em encontrar as pessoas certas.
Se você quer que um grupo seja criativo,
o que mais importa é o tempo que se gasta
conhecendo um ao outro.
É um desvio da ideia de que 10 mil horas
de prática tornam você um especialista.
Normalmente, pensamos que isso
significa praticar sozinho.
Mas se o objetivo é
a criatividade do grupo,
talvez vocês devessem praticar juntos.
Acho que devemos levar
grupos mais a sério,
como uma unidade essencial
para a criatividade.
Ao invés de procurar pessoas criativas,
e se contratássemos grupos
criativos inteiros?
E se em vez de promover
celebridades individuais,
promovêssemos equipes inteiras?
Porque os melhores grupos criativos não
são apenas a soma de suas partes,
eles são a soma de sua
experiência compartilhada.
(Música)
WorkLife é apresentado
por mim, Adam Grant.
O show é produzido pelo TED
com Transmitter Media
e Pineapple Street Media.
Nossa equipe inclui
Colin Helms, Gretta Cohen,
Dan O'Donnell, Angela Cheng e Janet Lee.
Este episódio foi produzido
por Gabrielle Lewis.
Nosso show é mixado por David Herman
com a ajuda de Dan Dzula.
Música original de Hahnsdale Hsu.
Agradecemos aos nossos patrocinadores,
Warby Parker, Accenture, Bonobos
e JPMorgan Chase.
No próximo episódio,
Vamos para Indiana para conhecer
os Butler Bulldogs,
um time de basquete com um jeito único
de construir cultura
e vencer as expectativas.
Homem: Tinha esses cinco caras
no meu escritório
e, você sabe, meu maior desafio foi
como escolher o capitão?
Trouxe todos eles e apenas disse:
"Ei, temos 12 caras no time, mas vocês
cinco são capitães."
Então, 40% da nossa equipe eram capitães.
Adam, sabe a única coisa
que eu não queria fazer?
Não queria desempoderar um deles.
AG: Semana que vem em WorkLife.
Obrigado por ouvir e, se você gostou,
agradecemos se puder classificar
e avaliar o show.
Ajude outras pessoas a nos encontrar.
Até a semana que vem.
(Música)