Trevor Noah: Estava em um táxi quando meu gerente me ligou e ele disse: "Ei, você gostaria de apresentar o The Daily Show?" Adam Grant: Esse é o Trevor Noah. TN: Foi incrível. E acho que ainda não entendia a magnitude desse programa. Lembro-me de ter saído do táxi e meus joelhos estavam bambos, e provavelmente teria desmaiado se estivesse em pé. Ainda bem que estava sentado ao ouvir a notícia. E foi assim que aconteceu. AG: Quando Trevor recebeu a ligação, a sua carreira mudou. Ele passou muito tempo trabalhando como comediante solo em discotecas e teatros, sobretudo na África do Sul. Mas agora trabalha com uma equipe criativa em Nova Iorque. Quatro dias por semana, apresentam um programa assistido por milhões, e eu quero saber como eles conseguem, porque, geralmente, a criatividade não sobrevive em grupos grandes. (Música) Sou Adam Grant e esse é WorkLife, meu podcast em parceria com TED. Sou um psicólogo organizacional. Estudo como fazer o trabalho não ser uma droga. Nesse programa, estou adentrando alguns lugares bem incomuns, que dominaram algo sobre trabalho que eu gostaria de divulgar. Hoje, criatividade sob o microscópio, e como você pode ser mais criativo em qualquer coisa que faça. Agradeço a Warby Parker por patrocinar o episódio. (Música) Quando há um desafio criativo, o ponto de partida é juntar um grupo de pessoas para um "brainstorming". Os locais de trabalho têm recorrido a isso há anos. Só há um pequeno problema: isso não funciona. Temos décadas de evidência provando que os brainstormings são falhos. Grupos geram menos e piores ideias do que as mesmas pessoas sozinhas. (Música) O que há nos brainstormings que reduzem a criatividade? Primeiro, as pessoas não falam porque têm medo de parecem burras. Além disso, algumas pessoas dominam a conversa e silenciam as outras. E todos acabam apoiando a ideia preferida do chefe. Mas o The Daily Show superou esses problemas. Eles decifraram o segredo da criatividade em grupo, e eu vou descobrir como fizeram isso. (Música) São 9h da manhã, terça-feira. (Vozes sobrepostas) Ao entrar, percebo que o programa é uma imensa máquina. Em qualquer dia, há mais de 100 membros da equipe trabalhando. Mas quero focar em uma parte da máquina, a sala dos roteiristas. É onde o time criativo de roteiristas, produtores e artistas se reúnem. Estar numa sala de roteiristas é um sonho para um psicólogo organizacional, ou pelo menos é para mim. E o The Daily Show está me dando acesso para ver como começam o dia do zero e terminam com 22 minutos de boa comédia. (Vozes sobrepostas) A sala está cheia, com umas 30 pessoas. Algumas estão sentadas nos sofás, muitos estão sentados no chão e algumas estavam até com seus cães. Estão começando a trocar ideias antes do Trevor chegar. (Vozes sobrepostas) Estamos em novembro, e a grande notícia do dia é sobre o candidato ao Senado do Alabama, Roy Moore. Faltam algumas semanas até as eleições especiais para substituir Jeff Sessions. Todos sabemos como foram as eleições, mas, na época, isso era um assunto notável. Eles começam colocando vídeos da notícia de ontem, e então começam a elaborar. (Vídeo) Estão dizendo que Roy Moore foi banido do shopping. (Risos) Allison MacDonald, produtor supervisor: O fato do shopping ter padrões mais altos do que o senado... (Vídeo) Narrador: Ontem, Moore negou as acusações. (Vídeo) Roy Moore: Nunca fiz o que ela me acusou de ter feito. Nem conheço a mulher. Não sei nada sobre ela. Nem sei onde fica ou ficava o restaurante. Max Brown, produtor supervisor: Ele diria: "Eu nego. É tudo mentira. Não faço ideia do que se trata." Mas os que o acusam falam: "Ele estava aqui todas as noites. Temos uma foto dele na parede que ele autografou." Josh Johnson, roteirista: Uma hora, ele dirá: "Nem sou do Alabama. Nunca estive aqui antes". (Risos) Steve Bodow, produtor executivo: "Não sou Roy Moore". Adam Grant: A sala está começando a parecer um grande jantar em família. Todos estão participando da conversa. Zhubin Parang, roteirista-chefe: Será que sua mesa favorita tem seu nome escrito nela? "Lugar do Roy Moore". "Nunca comi panquecas e waffles lá," e o restaurante diria: "Chamamos esse prato Especial Roy Moore." Jimmy Don, produtor sênior: "Tem uma foto sua na parade, no desafio da panqueca." AG: O que notei primeiro foi que a sala estava cheia de impulsos criativos. Acredite se quiser, mas há um nome para isso na psicologia da criatividade, chama-se explosão. (Música) As explosões se parecem com os melhores momentos do jazz. Alguém toca uma nota, outro entra com um acorde, e logo você tem uma harmonia musical que ninguém planejou. A maioria dos grupos não chegam a esse ponto, mas você reconhece as explosões quando presencia uma. No The Daily Show, a sala parecia estar fervilhando de ideias. Você pode perceber nas piadas sobre Roy Moore. ZP: Acho... Ah, olha ele aí. E aí, cara? AG: Trevor Noah acabou de entrar na sala. ZP: Estamos vendo os vídeos e rindo de Roy Moore indo ao shopping, passeando, até... TN: Sendo banido do shopping? Isso é um detalhe importante que foi ignorado. ZP: Por um promotor. TN: Até o segurança do shopping diria: "olha, seu promotor, eu sei." MB: É bem difícil ser banido do shopping. Até um adolescente mal-educado não é banido. Dan McCoy, roteirista: Roy Moore está dando desculpas por ter sido banido. "Não, estava roubando batom". (Risos) AG: Nesse momento, fiquei atento. As explosões criativas estão de volta, mesmo com o Trevor na sala. Todos estão sugerindo ideias cruas ao chefe. O quão à vontade você fica simplesmente jogando ideias na frente da pessoa mais poderosa do seu ambiente de trabalho? Ter um chefe que está sempre te avaliando seria um pesadelo. Você teria medo de errar ou de fazer papel de bobo. Mas Trevor cria um ambiente tranquilo. Não há frenesi, nem pânico. Ele guia o grupo. Apesar do relógio estar correndo, ele não parece estressado. TN: Vamos passar o olho na lista. AG: A reunião acaba às 10h30min. Eles têm um esboço para o programa. Agora é dividir para conquistar. Os roteiristas só têm cerca de duas horas para entregarem os primeiros rascunhos. ZP: Preciso de uns roteiristas para encerrar o assunto da Ásia, e dois roteiristas que queiram fazer o negócio do "Don Jr. é um idiota." AG: Eles saem em duplas para escrever. Quero me aprofundar mais para saber como eles criam as condições ideais para as explosões criativas. Então procurei o roteirista-chefe, Zhubin Parang, e o roteirista sênior Daniel Radosh. AG: Psicólogos falam sobre padrões chamados de explosões, que é o quão rápido estamos revezando em uma conversa, interrompendo uns aos outros. Houve momentos em que alguém fez uma piada muito boa, e daí várias pessoas a desenvolveram. Daniel Radosh: O principal é criar as piadas a partir do material, e é daí que vêm as explosões. AG: Adorei como você adotou o termo explosões, como se fosse algo comum de se falar. DR: Focamos em improvisar. O que você disser, é o novo termo. AG: Sejamos claros, nem todos estavam de acordo imediatamente. Aqui estão dois dos novos roteiristas, Kat Radley e Colleen Werthmann. Colleen Werthmann: Explosões? Kat Radley: Você que criou o termo? AG: Não, peguei emprestado. Aprendi sobre as explosões através de uma colega. Anita Williams Woolley: Sou a Anita Williams Woolley. Sou professora associada na Universidade Carnegie Mellon. Explosões ocorrem quando todos estão falando e respondendo uns aos outros em um curto espaço de tempo, ao invés de prolongarem isso por um longo período. AG: Anita vê essas explosões em todos os tipos de grupos, não só no trabalho. AWW: Tenho quatro irmãos mais velhos e três filhos meninos. Brinco sobre como isso explica minha vida, pois em várias conversas na mesa do jantar você me escutará falando: "Espera, deixa-me terminar." Há muitas dessas explosões nas conversas e há muitas interrupções, o que não parece incomodá-los, mas às vezes me deixa maluca. AG: Nem sempre é rude interromper. Em momentos críticos, queremos contribuições rápidas. Anita estudou grupos que trabalham com softwares em países diversos. Descobriu que grupos mais inovadores e produtivos tinham as explosões. AWW: As equipes mais eficazes sabiam quando seus colegas de trabalho estariam trabalhando e ficavam on-line no mesmo horário, trocando mensagens e enviando códigos uns aos outros. Já os outros times podem ter se comunicado tanto quanto e realizado muitas atividades, mas cada um era mais dedicado ao seu próprio horário, e essas equipes não eram tão eficazes. AG: Explosões indicam que você não está preso em uma sessão de brainstorming que não funciona. É quando um grupo atinge o pico da sua criatividade, pois todos estão participando livremente e contribuindo com ideias. AWW: Não acho que as explosões de ideias aconteçam somente em espaços criativos. Porém, acredito que esses espaços se beneficiam dessas explosões. As pessoas que estão conversando estão empolgadas, porque quando você fala, alguém responde na mesma hora. Você sabe que está sendo ouvido e também escuta os outros. Logo, é muito mais fácil trocar ideias e talvez até criar ideias. AG: Claro, as explosões são diferentes quando o material não consiste em códigos, mas sim em comédia. Na sala dos roteiristas, as explosões não acontecem ao acaso. Trevor Noah falou sobre isso. TN: Quando estou na sala de roteiristas, há duas coisas acontecendo na minha mente. Primeiro, penso no que vamos fazer no programa naquele dia e, em segundo, penso na sala como um palco de comédia e nas risadas que estão impregnadas naquele momento. Sei que é muito supersticioso, e ninguém pode provar se é verdade ou não, mas acredito que risadas são absorvidas, da mesma forma que o fumo passivo, no âmago do ser humano. AG: Vendo vocês na sala essa manhã, fiquei intrigado com algumas coisas. Primeiro, esperava uma mudança quando você entrasse, e quase nada mudou, o que é um sinal de que você fez a sala ser psicologicamente segura. AG: As pessoas não têm medo de você. TN: Ah, na sala? Isso é engraçado. AG: Eles não surtam quando você entra, e continuam sugerindo as piadas cruas. Isso se chama segurança psicológica. É quando você pode se arriscar sem sentir medo. Sem esse senso de segurança, as explosões criativas não acontecem. As pessoas se censuram. TN: Bem, sempre acreditei que, em qualquer relacionamento em que haja alguém no comando, seja em uma família, com um dos pais, seja um professor, ou seja um chefe em um ambiente de trabalho, o que traz à tona o melhor das pessoas é o respeito mútuo. Confio que os roteiristas estão tentando criar o melhor programa, e eles confiam que quero criar o show mais engraçado. Levou muito tempo, mas agora, quando entro em uma reunião, estou entrando em uma conversa contínua. AG: Desenvolver segurança psicológica leva tempo. É algo que se cria aos poucos, dia a dia, e que você presencia em pequenos momentos. Um deles me chamou a atenção na sala de roteiristas. TN: Aquela piada que você sugeriu foi muito boa, até mesmo na sala. ZP: Aquela foi ótima, ela deu certo. AG: Você ouviu isso? Trevor disse que seu roteirista-chefe Zhubin sugeriu uma piada boa. ZP: Sou um cara engraçado, escrevo boas piadas. AG: A ideia das explosões criativas é que, quando o grupo cria momentum, você quer que isso continue. Então me pergunto por que Trevor interrompeu. AG: Isso é um esforço consciente seu, de elogiar alguém na frente do grupo? Ou isso ocorre espontaneamente? TN: Acho que é subconsciente, mas eu sempre acreditei que se deve elogiar as pessoas quando elas merecem. Especialmente quando se trabalha num local onde todo elogio está destinado a ser para mim. Se algo incrível aparece no programa, Trevor recebe o crédito. Se algo horrível aparece no programa, Trevor também é o culpado. Acho que as pessoas melhoram como seres humanos ao saberem que são reconhecidas pelo que estão fazendo. AG: Quando se está num grupo que está criando, é fácil perder a noção de quem disse o quê ou se sua ideia sequer é importante. Aqui está o Daniel. DR: É como uma mistura, todo esse material entra e você termina com um tipo de suco de comédia que é delicioso, mas você não pode dizer: "Ei, é o meu morango que está aí." Nós entendemos que a maioria das piadas não chegam a aparecer no programa, especialmente não como foram criadas inicialmente. TN: Pode não ser a piada que você criou que apareça na televisão, mas pode ser uma piada que faça você sentir algo que vai resultar na piada que irá para a televisão. E teve uma na qual pensei ontem, sobre as acusações de Roy Moore, em que Sean Hannity aparece para defendê-lo. E eu disse: "Sean Hannity tem o bilhete para o lado errado da história." Isso me fez rir, sabe? Então, eu pensei: "É, vou falar isso". Se seu dia for marcado por alegria, essa alegria irá se manifestar no produto final, que será o programa. AG: Voltaremos com o Trevor e o The Daily Show logo após o intervalo. Isto será uma propaganda diferente. No espírito de explorar ideias criativas no trabalho, levaremos vocês para a Warby Parker, nossa patrocinadora. (Música) AG: Neil Blumenthal e Dave Gilboa, da Warby Parker, têm muito em comum. Neil Blumenthal: Vocês podem não nos distinguir pelas nossas vozes, mas sou o Neil. Dave Gilboa: E eu sou o Dave. AG: Isso não ajudou em nada. Mas agradeço por tentarem. (Risos) AG: Sim, eles soam parecidos, frequentaram a mesma escola, têm os mesmos amigos e também possuem o mesmo trabalho. Neil e Dave são diretores executivos da Warby Parker, a empresa bilionária que fez comprar óculos ser legal de novo. Sempre me fascinei com duplas dinâmicas como o Neil e o Dave. Não só administram a empresa juntos, mas sua liderança colaborativa se difunde através da cultura. A habilidade de trabalhar em equipe, do produto ao atendimento ao cliente e ao varejo, tem sido a chave do sucesso da Warby Parker. Conversamos na sede da empresa em Nova Iorque para falar sobre como é ser o chefe juntos. (Música) AG: A metáfora óbvia para a relação entre co-diretores seria um casamento, mas vocês falam mais como se fossem pais. NB: Sabe, acho que é isso mesmo. Quando se é um pai, você precisa de uma filosofia, certo? Precisa de uma visão do que você quer que sua criança seja quando crescer. DG: Também faz os altos melhores, podendo comemorar as vitórias, e faz os baixos melhores, ao reduzir as frustrações que aparecem. NB: Há momentos em que assumimos papéis diferentes, como em uma negociação, onde pode haver o cara bom e o mau. Tendo filhos, um de dois e um de seis anos, sei bem disso. Rachel e eu muitas vezes fazemos isso. AG: Como é liderar uma empresa com um velho amigo? NB: Sabe, muitas vezes converso com outros fundadores e diretores. e muitas vezes eles falam do isolamento associado ao cargo, e eu nunca senti isso. Uma das melhores coisas de possuir um parceiro é que podemos apenas nos olhar, rir e cair na gargalhada. Algumas situações são muito difíceis. Outras são simplesmente absurdas, e tudo é muito mais agradável ao ter alguém ao seu lado. AG: Quais são os três principais conselhos que vocês dariam a alguém que vai liderar com outro colega? NB: Construa confiança. Comunique-se frequentemente, o que, em geral, leva à confiança. E trabalhe com alguém com quem você goste de passar o tempo. AG: Quantas horas vocês acham que já passaram juntos em todas suas vidas? DG: Talvez 15 mil horas? Dizem que você precisa de 10 mil horas para virar especialista em algo? NB: Somos experts um no outro. (Risos) NB: Quando ganho o anel? (Risos) (Música) AG: Neil Blumenthal e Dave Gilboa, diretores e co-fundadores da Warby Parker. Warby Parker possui inúmeras armações interessantes. Se você cansou de usar lentes de contato, experimente o monóculo deles. Procurando por onde começar? Nos testes gratuitos, você pode escolher cinco armações para experimentar por cinco dias. Se não gostar delas, pode devolvê-las. Experimente-as hoje no site warbyparker.com/TED. (Música) AG: Se você já participou de debates, sabe que deve conter as críticas. Deixar cada pensamento fluir. Não existem más ideias. Mas, na verdade, isso é uma má ideia. Acontece que as pessoas são mais criativas em grupos onde críticas são bem-vindas. Isso eleva os padrões. Segurança psicológica não significa que tudo será um mar de rosas. Você ainda precisa ter padrões. No The Daily Show, os roteiristas não deixam piadas ruins saírem impunes. DR: Você não humilha alguém por fazer uma piada ruim. Quer dizer, um pouco, mas... AG: Como seria isso? ZP: Acho que uma leve provocação. Mas, geralmente, a pessoa que fez a piada é a primeira a zoar sobre como a piada foi ruim. AG: As pessoas se sentem mais seguras e confortáveis rindo de si mesmas. E alguns experimentos novos têm nos mostrado como fazer isso. Tudo começa com um clipe de papel. (Música) Pesquisadores perguntaram: "quantas novas utilidades consegue criar para o clipe?" As pessoas saíram para um brainstorming. O primeiro grupo gerou ideias bem típicas, um anel, uma pulseira e um colar. Mas o segundo grupo criou ideias totalmente inesperadas, como uma sutura para ferimentos, uma obra de arte e uma chave de fenda. O que fez a diferença? No primeiro grupo, todos apenas começaram o brainstorming, mas, no segundo grupo, alguns tiveram que compartilhar uma história embaraçosa antes de começarem a debater. E esse simples ato diminuiu suas inibições. Isso é algo que eles sabem por experiência própria no The Daily Show. ZP: Uma vez, eu me confundi e disse que, para nos mantermos flexíveis, tínhamos que manter a cintura aberta. Eu quis dizer que devíamos manter a cabeça aberta, mas disse isso há dois anos, e nesses dois anos que passaram, continuei falando "cintura aberta", porque todos dizem que está errado. DR: Dizer "cabeça aberta" é melhor? "Cabeça aberta" é um termo que existe. AG: Nada nosso deve ser aberto. DR: Hannibal. ZP: Independentemente disso, todo erro que cometemos na sala de roteiro, geralmente se torna algo e acho que isso ajuda a promover a criatividade. Se pegarmos as besteiras que dissemos e rirmos delas, isso faz todos ficarem mais despreocupados para falar. AG: Tenho me divertido falando com os roteiristas sobre explosões criativas, mas não consigo esquecer o relógio. Faltam três horas para começarem a gravar. Embora eu não trabalhe no programa, estou começando a me sentir um pouco estressado com o prazo. Perguntei à Kat e à Colleen se estão surtando. AG: Você já percebeu o quão louco é começar às 9h da manhã para ter o programa à tarde? KR: É louco mesmo. Antes de trabalhar aqui, eu pensava: "Como fazem isso todos os dias?" Mas agora, eu entendo. Há pessoas suficientes que são tão boas no que fazem, que elas fazem dar certo. Mas é, sim. É muito corrido... CW: Mas isso é como uma fábrica que já existe há muito tempo. AG: Uma fábrica? CW: É uma máquina muito precisa. KR: Também fazemos sapatos aqui. (Risos) CW: Todos fazemos uma contribuição incrivelmente precisa. Você sabe por quanto tempo fazer. Sabe quais são os padrões de qualidade. Entende o que estou dizendo? AG: Sim. Ninguém parece estressado. Todos estão descontraídos, sorrindo. É assim sempre? KR: Acho que depende do dia, mas, em geral, sinto que todos estão bem descontraídos, pois você nunca pensa: "Ah, isso vai sobrar para mim." Você sabe que sempre terá alguém para te ajudar. CW: Sim, sentir-se livre e com um senso de possibilidade é sempre um ambiente melhor para trabalhar criativamente. Então, mesmo que você sinta aquela pitada de ansiedade dentro de você, funciona melhor se pensar: "Sou um rio que sempre está correndo." É brega, mas funciona para mim, então é isso que faço. AG: O ambiente descontraído possibilita as explosões de ideias. Eles também têm a segurança de saber que seus dias são meticulosamente planejados e organizados. Na verdade, há uma estrutura em tudo, pois o que o The Daily Show fez, conscientemente ou não, foi construir bolhas de tarefas diárias. (Música) Bolhas de tarefas. Pense em alguma vez que você entrou em uma reunião e tentou entrar na discussão, mas não conseguiu. Parecia que havia um campo de força que você não conseguia ultrapassar. Isso é uma bolha de tarefas, em que as pessoas ficam totalmente concentradas em um projeto comum. Mantém o grupo focado. Assim, todos podem construir a partir das ideias dos outros. Bolhas de tarefas dão aos roteiristas e produtores o espaço que precisam para aprimorar e refinar suas ideias. Sem essas horas asseguradas para a colaboração, todos estariam trabalhando em horários diferentes, sem sincronia. ZP: Uma vez que os roteiristas saem para escrever, têm, geralmente, duas horas ininterruptas para decidirem como será a estrutura, respeitando as diretrizes que foram discutidas, e acrescentarem suas piadas. Só os interrompo se houver mudanças significativas pedidas pelo Trevor, ou alguma notícia que requeira uma modificação imediata. AG: Muita estrutura pode inibir a criatividade, mas pouca estrutura também. Se há um acordo sobre certas regras de quando e como trabalhar, você pode focar toda a energia em efetuar o trabalho. Aqui estão Jen Flanz e Steve Bodow, os produtores executivos. Jen Flanz: Existe um mito de que, em um show de comédia, é divertido o tempo todo e somos hiperativos. É divertido, mas executado um pouco como uma redação. Steve Bodow: Planejamento e estrutura. Parece que é rígido, mas é o que dá a liberdade de encontrar as descobertas criativas que fazem a coisa acontecer. AG: Porque a criatividade realmente não começa com uma página em branco. Começa com alguma matéria prima. No caso do The Daily Show, são as notícias que passam na reunião da manhã. Os produtores já revisaram horas de filmagens e selecionaram os clipes mais promissores. Uma vez que decidimos sobre as manchetes, os roteiristas sabem que o primeiro ato terá de sete a 12 minutos, o segundo terá de quatro a sete minutos, sabendo exatamente quanto tempo têm para escrever. Eu arrasto Dan Amira e David Kibukka para fora da bolha de tarefas. Eles trabalham para tornar os improvisos matinais um segmento refinado. David Kibukka: Às vezes você pensa que todos estão fazendo as melhores piadas o tempo todo. Quando percebe que não... Dan Amira: A maioria das piadas são apenas lixo. DK: É como: "deixe-me contribuir com esse lixo também, esperando que, no fim da gravação, isso seja removido e substituído por algo maravilhoso." Porque o primeiro rascunho não é para ser o último rascunho. DA: Por isso se chama primeiro rascunho. DK: Sim, isso foi uma grande parte do processo de nomenclatura. AG: OK, estrutura e segurança ajudam as explosões. Mas você também precisa da mistura certa de pessoas na sala. E julgar o talento criativo é difícil. Veja um dos meus estudos favoritos. Produtores de Hollywood gostavam mais de roteiros quando os roteiristas se apresentavam como artistas em voga. Roteiristas que usavam óculos estilosos pareciam ter vantagem. O The Daily Show não quer ser influenciado por esses estereótipos. Eles querem escolher os roteiristas mais criativos, e os produtores executivos Jen e Steve têm um processo para isso. JF: Esse é o bebê dele. SB: Sim, é algo que comecei provavelmente em 2008. AG: A inspiração veio de algo poderoso que acontecia em orquestras, audições cegas. DR: Usávamos vendas e os trazíamos para um local secreto. AG: Talvez não desse jeito. (Música) Por anos, sinfonias americanas foram dominadas por homens. Nos anos 70, um conjunto típico tinha nove homens para cada mulher. Supostamente, as mulheres não eram talentosas o suficiente mas, na década de 1990, a proporção mudou para menos de dois para um. A razão pela qual isso aconteceu? A indústria introduziu audições cegas, onde os candidatos tocavam atrás de uma cortina. Uma vez que os avaliadores não podiam ver se um artista era homem ou mulher, seus preconceitos foram neutralizados. Eles se concentravam apenas na qualidade da música e, como deveriam saber o tempo todo, as mulheres eram tão excelentes quanto os homens. O The Daily Show tem uma abordagem semelhante. SB: Foi um esforço para diversificar, de outra maneira importante, no show. Não no vídeo, mas na sala de roteiristas. Sempre recebíamos as inscrições de roteiristas com seus nomes, e, muitas vezes, poderia ser alguém que você conhece, ou amigo de um amigo. Para tirar esse ingrediente disso, dissemos: "E se nós apenas os numerarmos?" AG: Na primeira tentativa de inscrições cegas, contrataram três roteiristas, e duas eram mulheres. Logo, contrataram mais pessoas de cor e roteiristas de fora dos EUA também. Então, no momento em que Trevor se juntou ao show, estava trabalhando com uma equipe diversificada e era uma prioridade continuar diversificando de todos os ângulos. No começo, ele não estava certo em como trazer seu contexto como um sul-africano. TN: Fiquei tão marcado com pessoas dizendo que eu era diferente, que esqueci que a maioria de nós somos de fora. Só depende do nosso ponto de vista. AG: Diversas origens e perspectivas ajudam nas explosões criativas, mas nem sempre nos damos conta disso. Quando todos em um grupo são da mesma etnia, eles são piores na resolução criativa de problemas, mas pensam que são melhores porque estão mais confortáveis. Grupos diversos são mais criativos. Não só porque têm acesso a uma gama mais ampla de ideias. Eles se sentem mais desconfortáveis, e esse desconforto os motiva a se prepararem mais e a compartilharem novas informações. TN: Trump como um ditador Africano será sempre um dos meus favoritos, porque foi o primeiro momento no show em que pensaram que eu poderia dar certo. AG: Esse segmento que Trevor está falando? Saiu de sua própria experiência. TN: Foi o primeiro segmento em que percebi que minha singularidade poderia ser uma habilidade, não um obstáculo. Meu presidente também não deu suas declarações fiscais, não as disponibilizou enquanto foi presidente. Meu presidente também tem amizade com os russos que são questionáveis, na melhor das hipóteses. Ao criar o show, percebi agora que posso criar dentro dele uma sensação de estranheza, que geralmente é uma curiosidade, uma vontade de aprender sobre um mundo que você não conhece muito, e então tento levar o show dentro dessa esfera. (Música rap ambiente) AG: Neste momento do dia, roteiristas e produtores estão juntos para o ensaio. Trevor está de terno, as luzes estão acesas. Parece exatamente com o que vi na televisão. Agora, é hora de experimentar todas as piadas. Trevor está contando-as pela primeira vez, narrando suas próprias impressões sobre Roy Moore. TN: Vamos começar o programa com algo leve. O candidato para o Senado do Alabama do GOP, Roy Moore, e seu escândalo sexual. Estou muito curioso sobre quais cantadas Roy Moore usou. Você está cansada? Porque você está correndo de mim o dia todo. (Risos) Que vestido fofo. Vai ficar ainda melhor fora desta Lilica Ripilica. GAP Kids? É. Tem um desconto? Porque minhas calças já estão pela metade. (Risos) TN: Ontem, uma nova acusação. Beverly Young Nelson afirmou foi abusada sexualmente por ele quando ela tinha 16 anos de idade e trabalhava em um restaurante local, mas ele ainda diz que é inocente. "Não conheço esse restaurante, ou qualquer outro restaurante. Na verdade, nunca ingeri comida. Nem sequer tenho uma boca." (Imita alguém falando com a boca fechada) (Risos) Sinto que Moore ainda negaria tudo mesmo se houvesse uma foto dele no restaurante ganhando um concurso de comer panquecas. AG: No final de cada ensaio, roteiristas e produtores enchem o set. DK: Às vezes, você tem um roteiro e pensa: "Este roteiro é mágico. Por que estamos ensaiando? Cara! Por que estamos ensaiando?” E então, no ensaio, você fala: "Alguém tem alguma outra ideia?" AG: E, nesse momento, parece que a equipe de criação tem algum feedback. ZP: Acho que precisamos reescrever algumas piadas. Como a última, "sinto que Moore, mesmo que haja uma foto dele no restaurante ganhando um concurso de panquecas", não é engraçada. SB: Precisa ser reescrita, mas estruturalmente é boa. ZP: Reescrita totalmente? TN: Uma camada de reescrita. SB: Precisamos jogá-la fora e fazer algo diferente. AG: Reescrever? Sério? Achei que foi muito engraçado, mas roteiristas e produtores não estavam satisfeitos. Eles têm cerca de uma hora apenas para trabalhar no material final, e eu fico imaginando o que acontece por detrás das portas fechadas. CW: Há um ritual satânico... não. KR: Há uma sala de reescrita, basicamente com o Trevor, o roteirista-chefe, produtores. CW: É uma sala bem pequena. Há oito ou nove pessoas meio amontoadas lá dentro. KR: Calças opcionais. CW: Lanches saudáveis. KR: Repassando o roteiro do começo ao fim, apenas certificando-se de que tudo está tão forte quanto possível. AG: Agora está fora das mãos deles e o show começa, ao vivo. No ar, Trevor, alfinetando Roy Moore. TN: Esse cara, ele é uma lenda. Ele é uma lenda. É como se o passado dele estivesse delatando o seu futuro. (Risos) Porque tudo o que ele nega, é como se estivesse confessando. Agora, eu quero que ele diga: "Nunca me sentei naquele restaurante." "Sério? Esta mesa tem seu nome gravado." "Bem, nunca comi nada lá." "Sua foto está na parede, no concurso de comer panquecas." Olha, não sei como isso tudo vai acabar. Mas, a partir de agora, as lideranças do Senado e da Casa Republicana pediram a Roy Moore que renuncie. E parece que ele pode ser expulso do Senado, caso ganhe a eleição. Não estou dizendo ele não é adequado para o Senado, Mas, há 40 anos atrás, ele escreveu num anuário: "Não sou bom para o Senado." (Risos) Nós voltamos já. (Aplausos) AG: Trevor e sua equipe criativa fazem isso dia após dia. Após assistir a um programa inteiro, fica claro que essas pessoas se conhecem muito bem. Eles sabem quem será mais engraçado em cada tópico, quais roteiristas funcionam juntos, quais produtores têm a melhor expertise em cada segmento, e quem consegue consertar um roteiro confuso. Aqui está o Steve. SB: Porque nós temos muitos programas para fazer, 160 por ano, não há muito tempo para se concentrar ou ensaiar as coisas. O modo de criar um processo novo, ou de fazer as pessoas funcionarem juntas, é fazendo um show, fazendo outro show e depois fazendo outro show. AG: Grupos nem sempre são ruins para a criatividade. Talvez só tenhamos estudado da maneira errada. (Música) Raramente acompanhamos grupos que criaram segurança e estrutura trabalhando juntos ao longo de anos. Então, não importa se você é bom em encontrar as pessoas certas. Se você quer que um grupo seja criativo, o que mais importa é o tempo que se gasta conhecendo um ao outro. É um desvio da ideia de que 10 mil horas de prática tornam você um especialista. Normalmente, pensamos que isso significa praticar sozinho. Mas se o objetivo é a criatividade do grupo, talvez vocês devessem praticar juntos. Acho que devemos levar grupos mais a sério, como uma unidade essencial para a criatividade. Ao invés de procurar pessoas criativas, e se contratássemos grupos criativos inteiros? E se em vez de promover celebridades individuais, promovêssemos equipes inteiras? Porque os melhores grupos criativos não são apenas a soma de suas partes, eles são a soma de sua experiência compartilhada. (Música) WorkLife é apresentado por mim, Adam Grant. O show é produzido pelo TED com Transmitter Media e Pineapple Street Media. Nossa equipe inclui Colin Helms, Gretta Cohen, Dan O'Donnell, Angela Cheng e Janet Lee. Este episódio foi produzido por Gabrielle Lewis. Nosso show é mixado por David Herman com a ajuda de Dan Dzula. Música original de Hahnsdale Hsu. Agradecemos aos nossos patrocinadores, Warby Parker, Accenture, Bonobos e JPMorgan Chase. No próximo episódio, Vamos para Indiana para conhecer os Butler Bulldogs, um time de basquete com um jeito único de construir cultura e vencer as expectativas. Homem: Tinha esses cinco caras no meu escritório e, você sabe, meu maior desafio foi como escolher o capitão? Trouxe todos eles e apenas disse: "Ei, temos 12 caras no time, mas vocês cinco são capitães." Então, 40% da nossa equipe eram capitães. Adam, sabe a única coisa que eu não queria fazer? Não queria desempoderar um deles. AG: Semana que vem em WorkLife. Obrigado por ouvir e, se você gostou, agradecemos se puder classificar e avaliar o show. Ajude outras pessoas a nos encontrar. Até a semana que vem. (Música)