Eu gostaria que vocês
imaginassem como seria
se, por dois minutos inteiros, seu braço
esquerdo ficasse balançando sem parar,
seus olhos ficassem girando
constantemente,
sua mandíbula apertasse tão forte
que parecesse que seus dentes
estão prestes a quebrar,
e, a cada dez segundos,
vocês fossem forçados a soltar
um grito alto e estridente.
(Tique)
Foi assim que vivi
com a idade de seis anos,
a todo momento, sete dias por semana.
(Tique)
E esses eram apenas alguns
de meus sintomas.
Quando esses sintomas surgiram, minha vida
literalmente mudou da noite para o dia.
Eu não podia mais ir à escola,
ver meus amigos ou até comer fora,
porque meus tiques atraíam
a atenção de todos na sala.
Em busca de uma cura,
viajamos para Nova York
para encontrar o melhor neuropsicólogo
pediátrico que meus pais pudessem achar.
(Tique)
Mas a médica não nos deu
o remédio fácil que esperávamos.
Em vez disso, ela me diagnosticou
com um distúrbio neurológico incurável:
a síndrome de Tourette.
Muitas vezes, a medicação pode ser
uma parte essencial e valiosa
de muitos processos de tratamento.
Mas, em meu caso, os medicamentos
só pioravam as coisas.
Um deles me colocou numa cadeira de rodas,
porque minhas pernas ficaram tão dormentes
que eu não conseguia movê-las.
Outro me causava alucinações.
Eu via pessoas verdes
correndo atrás de mim,
ameaçando me ferver numa panela
e me tomar como sopa.
Era realmente assustador.
Tentamos um medicamento atrás do outro
para encontrar algo que me traria
algum tipo de alívio.
Mas todas as tentativas
acabavam piorando as coisas.
Estima-se que, em 2013,
somente nos Estados Unidos,
o gasto com medicamentos prescritos
para tratar condições neurológicas
e doenças mentais
foi de cerca de US$ 89 bilhões anuais.
Mas imaginem se houvesse um modo
de tratar essas condições
sem um preço nem efeitos colaterais.
Imaginem se seu médico lhes prescrevesse
uma dose diária de música.
Estou aqui hoje para compartilhar
minha experiência pessoal com a música
e o efeito que ela teve
em meu distúrbio neurológico.
(Tique)
A síndrome de Tourette
é basicamente uma série
de movimentos e sons involuntários,
conhecidos como tiques.
A melhor maneira de descrever realmente
como é ter a síndrome de Tourette
é algo com o qual vocês devem estar
bem familiarizados:
o soluço.
Vocês podem tentar parar de soluçar,
prender a respiração e contar até dez,
ou beber água de cabeça para baixo,
mas não há nada
que possam fazer a respeito
até que a sensação passe,
e o soluço tome seu rumo.
Muitas vezes, deito no chão de meu quarto,
depois de um ataque de tiques,
sentindo-me exausta e desesperada.
(Tique)
Minha mãe, igualmente desesperada,
tentava nos acalmar
colocando alguma música.
Ela tocava música tranquila
para acalmar nosso coração dolorido.
E nos deitávamos juntas no chão
e permitíamos que a batida
dos tambores nos elevasse.
À medida que os ritmos
e as melodias se desdobravam,
nosso espírito elevava,
nosso humor ficava mais leve
e ficávamos rejuvenescidas.
(Tique)
Muito cedo, sem saber, fiquei viciada
nesse medicamento recém-descoberto.
Quando me vi decaindo em minhas
crises de tristeza e autopiedade,
corria para as 88 teclas de meu piano,
sabendo, em meu coração, que os tons
e os ritmos de cada uma daquelas teclas
logo me libertariam.
Na época, não percebi o quanto
a música estava me ajudando.
Foi apenas algo que fiz por padrão.
Não escrevi minhas músicas
para impressionar ninguém.
Foi apenas uma libertação.
Mas, quanto mais eu tocava,
menos meus sintomas surgiam,
e a intensidade de meus ataques diminuía.
Fiquei curiosa em saber como a música
aliviava meus sintomas.
E me perguntei se havia
outros casos de música medicinal.
Então, comecei a pesquisar.
Descobri uma congressista
norte-americana de muito sucesso,
Gabby Giffords, que foi baleada na cabeça.
Ela perdeu sua capacidade de falar.
Como a capacidade de falar e a de cantar
ficam em duas partes distintas do cérebro,
seus médicos trouxeram musicoterapeutas
para trabalhar com ela.
Os terapeutas a incentivaram
a cantar seus pensamentos,
já que ela era incapaz
de falar sobre eles.
Por meio dessa técnica,
a congressista finalmente
conseguiu recuperar seu discurso.
A música ajudou a curar Gabby Giffords.
Os cientistas descobriram
que a música faz com que o cérebro
libere um analgésico natural
conhecido como oxitocina
e um produto químico
de bem-estar: a dopamina.
A dopamina é essencial
para um sistema nervoso saudável
e afeta fortemente a saúde emocional.
A música também afeta
nossa frequência cardíaca,
respiração e frequência do pulso,
conforme estimula o fluxo sanguíneo.
Além disso, diminui
nossos níveis de cortisol,
reduzindo assim a ansiedade,
que é um estimulante comum
para sintomas neurológicos.
Em nossa vida, todos nós vamos conhecer
alguém com um distúrbio neurológico.
Se não for um membro da família,
(Tique)
pode ser um amigo
ou um colega de trabalho.
Por favor, ajudem-me
a espalhar esta mensagem:
a música tem a capacidade
de elevar nossa vida
e de nos curar a partir de dentro.
Ainda tenho síndrome de Tourette.
Lido com isso todos os dias, toda hora.
Vou lidar com isso pelo resto da vida.
Isso significa que frequentemente tenho
que me desculpar em minha sala de aula,
porque meus tiques verbais podem ser
extremamente distrativos.
Isso significa que, às vezes, quando
pisco os olhos involuntariamente,
o cara do outro lado pensa
que estou flertando com ele,
quando, na verdade, não estou.
(Risos)
Tenho que dizer a ele: "Desculpe,
eu não estava tentando flertar".
Mas o mais incrível
é que, quando canto,
toco e até ouço música,
não tenho tiques.
Estive no palco inúmeras vezes
em situações altamente estressantes,
com milhares de pessoas me observando.
E, embora eu tenha tiques
antes de minha apresentação,
(Tique)
quando a música começa,
eles ficam em segundo plano.
Posso ter composto minhas próprias letras
e minha própria música,
mas, na realidade, percebi
que foi a música que me compôs.
Obrigada.
(Vivas) (Aplausos)
(Tique)
(Música de piano)
♪ Acho que tirei
minha máscara cedo demais ♪
♪ Porque você estava lá
e depois não estava ♪
♪ Acho que empurrei tudo para você ♪
♪ Eu deveria ter arrastado isso,
arrastado para fora ♪
♪ Acho que talvez, cada vez que perco
um pouco de mim, coloco de volta ♪
♪ Só para fingir até eu partir
meu próprio coração em dois ♪
♪ Ah, como eu queria que você
conhecesse meu verdadeiro eu ♪
♪ E o levasse a sério ♪
♪ Mas agora ♪
♪ Não vou te amar, não vou te amar ♪
♪ Não vou te amar ♪
♪ Achei que pudesse confiar em você ♪
♪ Mas você está fugindo de mim
e de minha máscara ♪
♪ Não vou te amar, não vou te amar ♪
♪ Não vou te amar ♪
♪ Neste momento ♪
♪ Acho que tirei
minha máscara cedo demais ♪
♪ Porque você gritou quando eu a tirei ♪
♪ Você me disse que não estava preparado ♪
♪ E assim, mesmo assim ♪
♪ Acho que talvez desta vez
doesse mais do que nunca ♪
♪ Acho que talvez esse golpe que tomei
tenha sido um pouco mais ♪
♪ Um pouco mais ♪
♪ Ah, como eu queria que você
conhecesse meu verdadeiro eu ♪
♪ E o levasse a sério ♪
♪ Mas agora ♪
♪ Não vou te amar, não vou te amar ♪
♪ Não vou te amar ♪
♪ Achei que pudesse confiar em você ♪
♪ Mas você está fugindo de mim
e de minha máscara ♪
♪ Não vou te amar, não vou te amar ♪
♪ Não vou te amar ♪
♪ Neste momento ♪
(Aplausos) (Vivas)
Obrigada.