Olá e bem-vindos à Exposição de Van Gogh na Galeria Nacional em Londres A exposição chama-se "Poets & Lovers" e contém 60 — sim, 60 — das mais famosas obras de van Gogh. algumas das quais vêm a Londres pela primeira vez e o que é muito interessante é que tudo aqui exposto foi pintado nos dois curtos anos que van Gogh passou no sul da França. Chegou em fevereiro de 1888 e, depois de todo o tipo de tragédias, partiu em maio de 1890 mas, nesses dois curtos anos, produziu um monte de obras-primas. Para começar, a sua vista da "Casa Amarela" em Arles, a casa que ele arranjou para si próprio. Foi nesta pequena casa que ele pintou a maior parte das obras que estão à nossa volta. É uma pintura interessante por todas as razões. Esta maravilhosa cor dourada é uma delas mas, se repararem para o fundo, está ali o caminho-de-ferro, é provavelmente o comboio que o transportou até Arles, o comboio de Paris. Esta Café aqui é o "Night Café" de Ales. que era onde ele costumava ir para se embriagar e jogar bilhar e que estava mesmo ao lado da casa dele. Curiosamente vemos uns buracos no meio da rua. Sabem o que são? São obras na rua, porque, quando Vincent se mudou para esta casa, pediu que lhe ligassem o gás para ele poder trabalhar de noite. A iluminação a gás ainda não tinha chegado a Arles. Vincent tratou de se assegurar que a casa amarela tinha gás. O mundo em que van Gogh vivia em Arles era minúsculo, verdadeiramente minúsculo. Para vos ajudar a visualizá-lo, arranjei este mapa pormenorizado da região. Aqui está a grande casa amarela em que ele vivia, na esquina e por detrás dela, a estação do comboio com o comboio a chegar. É aqui mesmo. Na porta ao lado, o "Night Café" palco de muitas aventuras de bebida de Vincent. Ora bem, quando ele saía pela porta da frente, logo a 45 metros à direita, subindo a estrada, a visão da "Noite Estrelada" mesmo ali e em frente estava o grande parque, o "Jardim do Poeta", onde todos os apaixonados se perdiam e se encontravam. Então, depois de passar o parque, por esta rua acima, é o bordel onde ele costumava ir com Gauguin para aquilo a que chamavam as "visitas higiénicas". O mundo de van Gogh era só isto, praticamente tudo o que vemos besta exposição. tudo isto numa área de umas centenas de metros uma minúscula porção do mundo que produziu uma quantidade enorme de grande arte. O "Quarto de Dormir em Arles". Esta não é a primeira pintura que ele fez sobre isto. Esta é uma coisa que ele pintou mais tarde, fez uma espécie de recriação. Teve um esgotamento, as coisas correram mal e ele pintou-o de novo. Não consigo olhar para esta pintura sem traçar uma linha B para este lavatório aqui. De manhã, Vincent lavava-se e barbeava-se. Era aqui que ele devia guardar a navalha, a navalha com que, como é conhecido, mais tarde iria decepar a própria orelha. Porque é que van Gogh escolheu Arles como destino para o sul de França? É uma coisa que sempre me intrigou. Ele podia ter ido para qualquer parte do sul de França, para quaisquer locais espetaculares, mas escolheu Arles que, na altura, era uma cidade industrial. Tinha um porto cheio de barcos de carvão, com um fumo negro e a única coisa que era famosa em Arles, naquela altura, era a beleza das suas mulheres. As Arlesians, como lhes chamavam eram supostamente as mulheres mais belas de França e a minha suspeita, a minha teoria é que fora isso que atraíra sobretudo Vincent. Ele era um homem que procurava desesperadamente o amor e pensava que, se fosse para Arles, entre todas aquelas arlesianas famosas pela sua beleza, encontraria a parceira de que andava à procura. Por toda a exposição perpassam muitos sussurros de amor. Casalinhos sob as árvores, casalinhos a passear junto ao rio, casalinhos no parque. E, se isso nunca aconteceu a Vincent na vida real pôde acontecer na sua arte. Gosto muito destas vistas de Vincent das oliveiras perto de San Rémy onde se situava o hospício. Há qualquer coisa nestas oliveiras, a sua forma retorcida a form como se torcem e se debatem na terra seca. Isso tocou-lhe numa corda sensível e, para mim, é uma espécie de auto-retratos em que cada oliveira representa a sua própria luta. Tenho observado van Gogh durante quase toda a minha vida adulta e julgava que já tinha visto muita coisa mas não vi osto, não vi isto, não vi isto. Há aqui muita coisa que nunca ninguém viu. Por isso, há todas as razões par virem ver esta exposição mas uma delas é que vão ver um van Gogh que talvez vos seja pouco conhecido.