Isto é um mapa
das rotas marítimas mundiais
ilustrando a complicada rede
de rotas marítimas
que ligam o nosso mundo moderno
através do comércio global.
Embora algumas destas rotas
tenham sido instituídas mais recentemente,
como o Canal do Suez
e o Canal do Panamá,
a maioria destas autoestradas oceânicas
foram criadas há muito
numa época em que não havia
nenhum meio de navegação fiável
para além do conhecimento local
e de alguns mapas rudimentares.
Contudo, há mais de 500 anos,
no início do século XVI,
estas rotas comerciais internacionais
nem sequer existiam.
Foi devido ao aparecimento de Portugal,
um pequeno país ibérico,
enquanto superpotência marítima,
que se tornaram possíveis estas ligações
para outras partes do mundo.
Graças às suas viagens ousadas
e proezas de navegação.
Portugal rapidamente criou o seu império,
que se estendia da África à Ásia,
e à América doSul.
Estas explorações marítimas
alimentaram a riqueza de Portugal
e um espantoso aumento de poder,
e também lançaram as bases
para a economia global interligada
de que beneficiamos hoje.
Mas como é que este país, relativamente
obscuro, nos confins da Europa,
conseguiu forjar um império
que iria alterar o curso da História
nos séculos posteriores?
Esta é a História do Império Português.
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O reino de Portugal surgiu
a partir duma série de acontecimentos
conhecidos na História por Reconquista
que foi a gradual reconquista
das terras cristãs
da Península Ibérica,
aos mouros muçulmanos
que tinham invadido o território
no século VIII,
Ao estabelecerem-se
como um reino soberano,
em meados do século XII,
os portugueses foram empurrando
para sul os últimos mouros
conquistando o território
dos Algarves em 1249
e instituindo as fronteiras do seu reino
segundo as mesmas linhas
das que existem ainda hoje.
Com o território assegurado
contra ameaças exteriores
e excluída a possibilidade
de maior expansão na Península Ibérica,
dadas as relações de amizade
com o reino vizinho de Castela,
um reino cristão a leste,
Portugal virou as atenções para o mar
e a possibilidade de exercer
a sua influência
sobre o mar e sobre as terras
no norte de África.
O ano de 1415 marcou um momento
fundamental na expansão portuguesa
com a decisão de orquestrar
um ataque à cidade de Ceuta,
que estava na posse
do Sultanato Merínida
Embora muita gente, na altura,
achasse que aquilo não passava
da continuação das hostilidades
entre cristãos e muçulmanos,
na realidade já abria caminho
para os portugueses
expandirem os seus domínios
e interesses económicos
para além da Península Ibérica
e marcou o início
do Império Português.
Apesar de conquistarem a cidade,
os portugueses não conseguiram
avançar mais no norte de África,
conforme tinham planeado inicialmente,
devido à resistência determinada
das forças muçulmanas locais.
Apesar disso, mantiveram
a guarnição em Ceuta
e usaram o porto como base
para explorar a costa atlântica de África.
Esta política de exploração marítima
foi implementada
por uma figura proeminente
nos primeiros dias
do Império Português:
o Príncipe Henrique, o Navegador.
Ele tinha curiosidade em saber
até onde os territórios
muçulmanos em África
se estendiam para sul
e se seria possível chegar a Ásia
por uma rota marítima no sul,
Assim, muitos barcos portugueses
começaram a partir para o Oceano Atlântico
rodeando a costa do norte de África
avançando cada vez mais no que
naquela altura eram águas desconhecidas.
As ilhas da Madeira e dos Açores
foram citadas pela primeira vez
em 1419 e 1421, respetivamente
e foram posteriormente incorporadas
como as mais recentes adições
do Império Poruguês em expansão.
Uma das primeiras barreiras naturais
que os portugueses encontraram
na suas explorações
foi o Cabo Bojador.
As águas revoltas que o rodeiam
sacrificaram muitos navios
que tentaram dobrá-lo
e quase toda a gente considerava
que era um ponto de não retorno.
Isso até 1434,
quando Gil Eanes encontrou
a passagem navegável
para dobrar o cabo
e alargou a exploração para sul,
na direção da África subsaariana.
Mal este feito foi conseguido
logo os mercadores de Lisboa
começaram a procurar
mercados mais recentes e mais exóticos
que pudessem negociar.
Ouro, marfim, pimenta, algodão e açúcar,
tudo proveniente de África,
em breve passaram a ser vulgares
nas bancas comerciais de Lisboa
tal como a prática de venda
de escravos africanos
que dava início à longa e negra história
do comércio transatlântico de escravos
que iria continuar durante
os 400 anos seguintes.
Durante as subsequentes décadas
do século XV,
os portugueses avançaram
cada vez mais para sul,
pela costa de África abaixo,
chegando às ilhas de Cabo Verde
em 1456
e ao Golfo da Guiné, na década de 1460.
À medida que exploravam,
colocavam uma série de padrões,
cruzes de pedra gravadas
com o brasão de Portugal,
marcando as suas pretensões territoriais
que eram seguidas
pela construção de fortalezas,
e postos de comércio.
A partir desta base, dedicavam-se
ao lucrativo comércio
do ouro e dos escravos
de que detiveram praticamente
o monopólio
durante mais de cem anos.
No entanto, o verdadeiro prémio
para os mercadores portugueses,
era uma suposta rota marítima
para a Ásia, ainda não confirmada.
Esperavam que a descoberta dessa rota
lhes permitiria acesso direto
aos mercados de especiarias das Índias
e ultrapassar os dispendiosos
mercadores árabes e venezianos
que controlavam as rotas comerciais
terrestres, pelo Médio Oriente,
e pelo Mediterrâneo, para a Europa.
Depois, em 1488, chegaram notícias
aos ouvidos das autoridades portuguesas
de que Bartolomeu Dias tinha dobrado
a ponta sul da África,
e chegara ao Oceano Índico,
provando que existia realmente
aquela passagem oriental.
Contudo, esta revelação em breve
seria ultrapassada em magnitude,
apenas quatro anos depois,
quando Cristóvão Colombo se desviou
para oeste, no Oceano Atlântico
procurando a sua hipotética rota
para as Índias
e, no processo, inadvertidamente,
descobriu todo um Novo Mundo.
A descoberta das Américas
que Colombo reclamou
em nome da Espanha,
e inicialmente, julgava fazer parte
da Ásia Oriental,
depressa criou um problema
para os dois países ibéricos.
Sem saberem onde acabavam
muitas das terras recém-descobertas
e começavam outras,
concordaram em dividir o mundo
em duas esferas de influência,
entre eles os dois,
marcando uma linha meridiana norte/sul
mais ou menos a meio,
entre o arquipélago de Cabo Verde
controlado por Portugal
e as ilhas das Caraíbas das Américas
que Colombo tinha descoberto há pouco
e reclamava para a Espanha.
O Tratado das Tordesilhas
ratificou este acordo em 1494
e, efetivamente, dividiu o mundo em dois
com as terras a leste dessa linha
para serem reclamadas só por Portugal
e as terras a oeste serem reclamadas
apenas pela Espanha.
Com a disputa resolvida,
Portugal pôde finalmente
começar a realizar
a sua ambição de há muito
de traçar uma rota marítima para a Ásia
e assim, a 8 de julho de 1497,
o explorador Vasco da Gama
saiu de Lisboa
com uma frota de quatro navios
e uma tripulação de 170 homens
com destino ao Oceano Índico,
na procura da Ásia.
Ao fim de uma viagem de uns 10 meses,
a expedição de Vasco da Gama
acabou por chegar em maio de 1498
à costa de Malibar, na Índia,
e subsequentemente, encontrou-se
com o Zamorim, o rei de Calicut,
para entabular as relações comerciais
que há muito pretendiam.
Embora a chegada dos portugueses
tivesse sido recebida com hospitalidade,
os comerciantes indianos locais
não encontraram grande valor
nas bugigangas e nas mercadorias
que os europeus tinham levado
para trocas
e, assim, a expedição
de Vasco da Gama voltou para trás,
praticamente de mãos vazias.
A viagem de regresso a Portugal
demorou imenso tempo
devido às monções que tiveram
de aguentar, no mar,
que causaram grandes baixas
na tripulação e danos nos navios.
Apesar disso, os sobreviventes
chegaram a Lisboa no verão de 1499
e foram recebidos como heróis,
apesar das pequenas quantidades
de especiarias e de outros bens,
que tinham levado consigo.
Embora a expedição em si
não ter sido proveitosa,
demonstrou que o comércio marítimo
para a Ásia era possível
e tinha um potencial enorme.
A segunda expedição à Índia
partiu em 1500,
sob o comando de Pedro Álvares Cabral.
Mas, durante a travessia
do Oceano Atlântico,
desviaram-se muito para ocidemte
e, inesperadamente, chegaram
à costa do que é hoje o Brasil.
Embora esta descoberta
possa não ter sido intencional
alguma especulação sugere
que os portugueses podiam ter já
conhecimento da existência do Brasil
e, secretamente, sabiam que esta parte
da América do Sul
caía dentro do território
que lhes estava atribuído
segundo o Tratado de Tordesilhas.
Pedro Álvares Cabral recomendou
ao rei português, D. Manuel I
que o território fosse colonizado
e foram feitas duas viagens
de acompanhamento em 1501 e 1503.
Verificou-se que naquela terra
era abundante em pau-brasil,
e foi daí que herdou o nome
mas como não encontraram
ouro nem prata
os portugueses decidiram
concentrar os seus esforços
no valioso comércio com a Índia.
Durante a primeira década
do século XVI,
os portugueses avançaram
para outras partes da Ásia
tais como o Sri Lanka e a Indonésia,
onde descobriram as fontes
da canela e da noz-moscada.
Estes produtos eram tão valiosos
que Afonso de Albuquerque
o primeiro vice-rei nomeado
da Índia portuguesa,
ordenou a construção
de feitorias e de fortalezas
ao longo da rota
com mais de 20 000 quilómetros
desde Portugal até às Índias Orientais.
Estas serviam de base de operações
para orientarem o comércio
e garantiam a salvaguarda
das valiosas cargas
que seriam transportadas
ao longo de perigosas viagens
para os mercados da Europa.
Pouco tempo depois,
a rede comercial dos portugueses
alargou-se, cobrindo uma área
que rodeava as costas da África,
a Arábia, a India, a Indonésia
e até a distante China e Japão.
Embora os portugueses fossem
motivados sobretudo
para estabelecer relações
comerciais, por meios pacíficos,
a sua chegada à Ásia foi encarada
muitas vezes com alto grau de suspeita
por parte dos mercadores locais
que os consideravam
como meros estrangeiros,
intrusos no território deles.
Por conseguinte, as tensões aumentaram
e os portugueses começaram a impor
a sua atividade comercial
recorrendo ao uso da força.
Durante todo o século XVI,
rebentaram numerosos conflitos
por toda a região do Indo-Pacífico,
enquanto os portugueses
se envolviam numa guerra
contra os inúmeros sultanatos
e impérios da Ásia.
Possuindo quase sempre
uma tecnologia militar superior
em relação aos adversários,
os portugueses tiveram grandes êxitos
na defesa das suas empresas comerciais
assim como na ofensiva
para conquistar objetivos estratégicos
de que desejavam apoderar-se.
Contudo, não foi só
o comércio e as conquistas
que fizeram aumentar
os domínios do Império Português.
A religião também teve
um papel a desempenhar.
Acompanhando os oficiais,
mercadores, marinheiros e soldados,
a bordo dos navios que saíam de Lisboa
iam pequenos números
de padres e missionários,
habitualmente pertencendo
à ordem dos Jesuítas.
Tinham sido enviados
pela monarquia portuguesa
para espalhar a fé católica
entre os povos nativos
da Ásia e da África
com que tinham entrado em contacto.
Esta política teve um êxito parcial
porque, embora esse esforço
tenha ajudado a estabelecer relações
e novas povoações, como
a do porto de Nagasaki no Japão, em 1571,
por quase toda a parte,
os padres e os missionários
espalhavam a palavra de Deus
por meio da violência e coerção.
No caso de Goa, por exemplo,
a Inquisição perseguiu fortemente
a população hindu da Índia portuguesa
na tentativa de os converter
ao Cristianismo.
O período inicial do Império Português
concentrou-se em desenvolver
o comércio pela Ásia e África,
que era muito mais lucrativo
e de fácil acesso do que o Brasil.
Mas esta atitude mudou rapidamente.
Quando outos exploradores europeus,
especialmente os franceses,
começaram a mostrar-se interessados
em possuir territórios
e instalar feitorias ali, em 1531,
a reação dos portugueses,
conforme decretado pelo rei D, João II
a 28 de setembro de 1532,
foi deter as incursões francesas na região
iniciando um programa
de colonização de grande escala
que iria dividir as terras e o seu governo
em 15 capitanias separadas
com instruções para construir povoações,
atribuir loteamentos
e administrar a justiça.
Cada Capitão era responsável
por desenvolver e absorver
os custos da colonização,
embora não lhes fosse permitido
a posse da terra a título definitivo.
Porém, apesar dos seus melhores esforços,
só dois dos capitães alcançaram
um estádio de desenvolvimento
significativo,
devido sobretudo à sua dedicação
em aumentar o cultivo da cana-de-açúcar
altamente lucrativo.
Isso exigia uma quantidade enorme
de trabalho manual na produção
e, com o tempo,
o trabalho nas plantações
passou a depender exclusivamente
de africanos escravizados.
Tal era a escala e a importância
da indústria do açúcar
que, dos estimados
quatro milhões de africanos
que foram vendidos como escravos
nas Américas
entre os séculos XVI e XIX,
mais de 40% acabaram no Brasil.
A presença dos portugueses
na América do Sul
começou a aumentar lentamente,
à medida que o tempo passava,
com as cidades da Baía, São Paulo
e Rio de Janeiro,
fundadas em meados do século XVI.
Contudo, em 1580, ocorreu
uma mudança significativa
no progresso do Império Português,
quando uma crise de sucessão
provocada pela morte prematura
do rei D. Sebastião, dois anos antes,
levou Filpe II de Espanha
a invadir Portugal
e apoderar-se do trono.
Assim, as duas coroas e impérios
ultramarinos de Espanha e de Portugal
ficaram unidos sob a União Ibérica
embora continuassem a ser governados
separadamente um do outro.
Contudo, durante esta época,
no final do século XVI,
a Espanha estava em guerra,
com a Inglaterra, a França e a Holanda
e, em resultado da união
com o vizinho ibérico,
Portugal viu-se embrulhado
naquele conflito mais lato
com os rivais europeus
que estavam todos em competição
para instituir
os seus impérios ultramarinos.
Os holandeses, em especial, constituíam
a maior ameaça para Portugal
naquela época,
porque tinham acabado
de conquistar a independência
da monarquia dos Habsburgos
espanhóis, em 1581
e como eram hábeis mercadores
e exploradores marítimos
estavam interessados em participar
no lucrativo comércio com a Ásia.
Estas ambições também eram
partilhadas pelos ingleses
e ambos depressa aprenderam
as rotas de navegção
definidas pelos portugueses
que os iria levar
aos mercados de especiarias
da Índia e Indonésia.
De tal modo que, na viragem
para o século XVII,
os interesses mercantis
de holandeses e ingleses
já estavam instalado nos portos asiáticos
como Surat, Madras, Bantam e Sri Lanka,
com grande desagrado dos mercadores
portugueses na região.
A presença de outros mercadores europeus
a competir pelo mesmo comércio
não só representava
uma ameaça comercial
ao Império Português.
mas também levou a um conflito colonial
quando os holandeses começaram a atacar
as feitorias comerciais
e as colónias portuguesas.
A guerra Holanda-Portugal
travada entre 1598 e 1663
ocorreu com batalhas por todo o globo
onde quer que os interesses coloniais
das duas potências europeias
entrassem em contacto.
Embora os portugueses conseguissem
repelir com êxito os holandeses,
nalgumas áreas, como na Segunda Batalha
de Guararapes no norte do Brasil
perderam-se muitos territórios na Ásia,
como a Malásia e o Sri Lanka,
e a Costa do Ouro, em África.
As consequências mais vastas
deste conflito
também foram as perdas
para o Império Português
em volta do Golfo Pérsico e do Japão,
onde os governantes locais
procuraram capitalizar
a posição enfraquecida dos portugueses
e expulsá-los das suas respetivas regiões.
A perda destes territórios coloniais
levou os portugueses a pôr fim
à união pessoal com a monarquia espanhola,
acreditando que tinham sido abandonados
sobretudo pelo seu vizinho ibérico
que dera prioridade
aos seus interesses coloniais
à custa dos interesses de Portugal.
Na Guerra da Restauração portuguesa
que rebentou em 1640
D. João IV foi proclamado rei
e foi instituído o Conselho Ultramarino
para governar todos os aspetos
do Império Português
a partir dessa altura.
No entanto, à medida que decorria
a segunda metade do século XVII,
o poder colonial de Portugal
continuava a diminuir
e outras nações da Europa
começaram a preencher o vazio do poder
que outrora Portugal tinha exercido,
com os ingleses a tornarem-se
o poder dominante na Índia
e os holandeses a cimentar o controlo
sobre o que é hoje a Indonésia.
Assim, na maior parte,
restava apenas o Brasil,
como o restante território significativo
do Império
que, consequentemente, passou
a ser encarado com importância crescente
O interesse em desenvolver o Brasil
foi rapidamente reforçado em 1693
com a descoberta de ouro
e, mais tarde, de diamantes,
na região de Minas Gerais,
o que levou uma corrida ao ouro
e a um grande afluxo de migrantes
para aquele território.
No espaço de 40 anos,
a população de Minas Gerais
atingira uma população
entre 200 000 a 250 000
quando migrantes de Portugal
chegavam como prospetores
e os escravos africanos eram levados
para trabalhar nas minas.
A corrida ao ouro
aumentou consideravelmente
as receitas da Coroa portuguesa
e, em meados do século XXVIII,
constituía cerca de 46%
das exportações do Brasil,
embora a indústria do açúcar
se mantivesse
a principal fonte de riqueza.
Embora o Império Português
tivesse reconquistado
parte do seu anterior prestígio
e riqueza, por essa altura,
um terramoto devastador
que atingiu a capital de Lisboa, em 1755,
marcou o que veio a ser
o início do fim
para as ambições
colonialistas portuguesas.
O desastre natural não só colocou
uma enorme pressão sobre o Império
como a perda de vidas,
calculada, na região,
entre 40 a 60 mil pessoas,
diminuiu também significativamente
a capacidade dos portugueses
para se recomporem plenamente.
No decorrer do século XVIII,
uma vaga de revoluções
começou a varrer toda a região atlântica,
começando na América do Norte,
quando as 13 colónias declararam
a independência da Grã-Bretanha, em 1775,
o que, por sua vez, inspirou
a Revolução Francesa de 1789.
O Império Português em breve começou
a experimentar este fenómeno
quando a discórdia se manifestou
na sua maior colónia, o Brasil.
Apesar de inicialmente confinada
a revoltas localizadas de escravos,
que foram rapidamente sufocadas,
havia um sentimento crescente
no território sul americano
de que deviam caminhar
pelas própria pernas
para uma autodeterminação
fora do domínio colonial.
O ano de 1808 iria marcar
um passo significativo nesta direção.
quando a família real portuguesa
liderada pelo príncipe regente,
D. João VI,
decidiu fugir de Lisboa
em resposta à invasão de Portugal
por Napoleão Bonaparte
e transferir a Corte real para o Brasil.
Sete anos depois, em 1815,
o Brasil foi elevado
à categoria de um reino,
dentro do Reino Unido de Portugal,
Brasil e Algarves,
e assistiu à honra sem precedentes
de ver a capital ser transferida de Lisboa
para a sua cidade do Rio de Janeiro.
Este facto reforçou ainda mais
o sentimento de independência do Brasil
e um ano depois de a família real
regressar Portugal,
D. Pedro I, o quarto filho de D. João VI,
que tinha ficado no Rio,
viu a possibilidade de capitalizar
a oportunidade
e declarou-se como imperador
de um Império do Brasil,
recém-independente, em 1822.
Isso transformou o Império Português
numa sombra de si mesmo
que passou a englobar
apenas algumas feitorias na Ásia
e os territórios de Angola, Guiné
e Moçambique, em África.
Durante o restante do século XIX
os esforços dos portugueses
para manterem o que restava do império
concentraram-se no sul da África
e, em breve, apareceu a proposta
de ligar uma à outra
as duas colónias
de cada lado do continente,
expandindo-as
pelos territórios do interior.
Este projeto conhecido
por "mapa cor-de-rosa"
desagradou aos britânicos
que, nesta altura, tinham passado a ser
o império mais poderoso do mundo,
porque afrontava diretamente
a sua política
para um sistema de colónias em África
que se estenderia do Cairo
à Cidade do Cabo.
Os britânicos apresentaram um ultimato
aos portugueses em 1890
para acabarem com a política
do Mapa Cor-de-rosa,
que, posteriormente,
impediu qualquer hipótese
de ressuscitar as ambições
colonialistas portuguesas.
Esta humilhação no palco mundial,
desta maneira,
denunciou a fraqueza do governo
da monarquia portuguesa
que jogou a favor dum crescente
movimento republicano, no país.
Aproveitando a oportunidade
de reforçar a sua causa,
no dia 1 de fevereiro de 1908,
o rei D. Carlos e o Príncipe Luís Filipe
foram assassinados em Lisboa
por dois republicanos,
ativistas revolucionários.
Embora o rei D. Manuel II
sucedesse imediatamente ao trono,
também ele teve de fugir do país
dois anos mais tarde, em 1910,
quando a monarquia e o governo
foram derrubados
e foi declarada a República em Portugal.
O contínuo enfraquecimento
da posição do Império Português
foi aprofundado com a eclosão
da I Guerra Mundial, em 1914.
O Império Germânico planeava
expandir os seus domínios
e a sua influência, em África,
à custa das colónias portuguesas
vizinhas
de Angola e Moçambique.
Como, a princípio, só houve
umas escaramuças esporádicas,
Portugal só declarou guerra formalmente
à Alemanha em 1916,
mas, a partir dessa data;
a maiorparte do esforço de guerra
foi travada para apoiar os Aliados
que lutavam em França
negligenciando a defesa
das colónias de África
dos ataques dos alemães.
Mas, quando a guerra chegou ao fim,
em 1918, com o Tratado de Versailles,
Portugal conseguiu retomar o controlo
de todos os territórios perdidos.
Os anos entre as duas guerras mundiais
assistiram a outro golpe em Portugal,
desta vez substituindo
o instável governo republicano
por um regime mais à direita
chamado "Estado Novo" em 1933.
A nova administração
optou por manter-se neutra
durante a II Guerra Mundial
e, em vez disso, preservar o que restava
do seu império ultramarino.
Mas, ao chegar o fim da guerra,
houve uma crescente mudança de atitude
perante o imperialismo europei
e começaram a aumentar
cada vez mais, em todo o mundo,
as exigências de descolonização
Os esforços da Grã-Bretanha e da França
para garantirem uma independência
das colónias sob o seu controlo
pressionaram Portugal
para fazer o mesmo,
embora este se mantivesse
relutante em fazê-lo.
A instituição da independência da Índia,
do controlo britânico, em 1947,
criou um ponto de inflamação
sobre esta questão.
Como os enclaves portugueses
de Goa, Damão e Diu
foram impedidos de se juntarem
ao estado recém-independente,
o exército indiano entrou
nesses territórios em 1961.
Mas Portugal, sob a ditadura
de António de Oliveira Salazar,
manteve a recusa de reconhecer
essa incorporação na Índia.
A relutância de garantir a independência
das colónias em África
resultou na Guerra Colonial Portuguesa
que se travou de 1961 a 1974.
Muitos movimentos africanos
de independência
recebiam apoio da União Soviética,
dentro da Guerra Fria mais ampla
durante esta época
e, em resultado disso, a guerrilha
em breve se alargou
às colónias africanas de Portugal.
O custo crescente e a impopularidade
da guerra, no continente,
levaram a outro golpe militar travado
contra o regime do Estado Novo
naquilo que ficou conhecido
pela "Revolução dos Cravos".
a 25 de Abril de 1975.
O novo governo acabou rapidamente
com as hostilidades ultramarinas
e começou a retirar as tropas,
para dar início ao processo de reconhecer
a independência d.as Colónias
Angola e Moçambique
declararam a independência em 1975
tal como Timor Leste.
E os governos portugueses acabaram
por reconhecer também
as suas antigas colónias da Índia
com tendo passado a fazer parte
da União Indiana.
A última peça do território
ultramarino português
a sofrer a transferência de soberania
foi Macau,
que foi entregue
à República Popular da China,
no dia 20 de dezembro de 1999
e que marcou oficialmente
o fim do Império Português.
Um dos impérios marítimos
e comerciais mais longos da História
tinha chegado ao fim.
Embora os territórios
dos Açores e da Madeira
sejam hoje governados
como regiões autónomas de Portugal,
o legado do Império Português
continua vivo
na medida em que a língua portuguesa
continua a ser falada
por uns 250 milhões de pessoas,
em todo o mundo
e, talvez ainda mais importante,
as rotas marítimas que foram instituídas
por aqueles exploradores
marítimos de então
continuam a realizar o comércio mundial
ao longo de cinco séculos.