Quem é você?
Essa pergunta é muito complicada.
Eu não sei se vocês concordam comigo,
mas é curiosíssimo que nós, seres humanos,
tenhamos tido essa criatividade,
essa capacidade, essa ousadia,
de propor um questionamento
uns para os outros.
Quem é você?
A saída mais fácil quando alguém
pergunta isso para nós
geralmente é falarmos o nosso nome.
Quem é você?
Rodrigo Villalba Caniza Caldini.
Você não me disse quem é você.
Você me falou o seu nome.
Você é o seu nome?
Nossa, nesse diálogo maluco,
o tal Rodrigo Villalba Caniza Caldini
poderia responder assim:
"Não, eu não sou o meu nome,
mas o meu nome carrega
uma parte muito importante
de quem eu sou".
O linguista Émile Benveniste
nos explica no seu Tratado
Geral de Linguística
que sujeito é aquele
que é capaz de dizer
"eu" sobre si próprio.
Imagine um pouco...
A situação de comunicação...
Das milhões de pessoas
que foram escravizadas,
trazidas ao Brasil...
Sofrendo um processo de apagamento
não apenas das suas identidades,
mas da própria essência
das suas humanidades.
Pessoas que com certeza
viveram décadas, muitos anos,
sem poder pronunciar....
A palavra "eu"...
Ou dizer assim:
"Eu quero", "Eu sou",
"Meu nome é Rodrigo".
Esse exemplo radical, com certeza,
mas muito vívido na nossa
memória e na nossa herança
enquanto povo,
enquanto sociedade,
serve para destacar, para você,
a importância do nome,
a importância de poder
se apresentar tendo um nome.
Nós lemos a literatura contemporânea
e ficamos até impressionados
com a quantidade de autores
que tratam desse processo
de burocratização,
e, de certa maneira, emburrecimento
das relações humanas,
e aqueles processos muito loucos
nos quais uma pessoa
dentro de um determinado ambiente,
deixa de ter um nome
e passa a ser um número.
Esse processo de burocratização
que apaga os nomes das pessoas
e substitui esses nomes por números,
por sequências numéricas,
é grandemente brutalizador.
É tão brutal associar a nossa
existência enquanto seres
apenas a uma sequência
de números, tão brutal,
que nem as empresas querem
ser percebidas dessa forma.
As empresas, que nós já entendemos
que querem se humanizar,
certamente não querem ser reconhecidas
pelo seu público
como alternativa A,
alternativa B, alternativa C.
Elas também querem, como nós,
dentro desse processo de humanização,
ter nomes.
Essa relação entre
as empresas e seus nomes,
e o seu processo
de humanização, é tão forte,
que o nome fantasia, o nome
público de várias empresas...
É nada mais, nada menos,
que os sobrenomes das famílias
que são donas daquelas empresas.
O exemplo de Disney,
dado no tópico anterior,
ilustra muito bem isso.
Disney é o sobrenome de Walt Disney,
o criador de grande parte do universo
das empresas Disney, da corporação Disney,
e dos personagens que representam certos valores
dessa empresa junto ao público.
Nós estamos falando aqui de "naming"...
O ato de nomear...
A identidade pública de uma empresa,
de uma corporação, de um negócio.
Dar um nome.
Muitas vezes, quando você
for trabalhar com o processo
de construção de marca...
e chegar
para renovar
a identidade visual
e a estratégia de posicionamento
de marca
de uma empresa, você vai compreender
que alguns elementos
do naming já foram decididos
e não podem ser mudados, alterados,
porque fazem parte de uma tradição
que é importante
para os donos da empresa,
para a direção da empresa
e muitas vezes também
uma tradição que já se estabeleceu
já se consolidou de forma positiva
junto ao público.
Nome é uma coisa muito séria, porém,
se você tiver a oportunidade de acompanhar
o processo inicial
de construção de uma marca, você,
enquanto profissional,
poderá oferecer sugestões,
conselhos e orientações muito valiosas
na hora de nomear essa marca.
Existem alguns tipos de nomes de marcas.
Alguns são bem descritivos.
Eles apontam exatamente
o que aquela empresa faz.
Por exemplo, Casa do pão de queijo,
é óbvio.
Outros não são tão descritivos,
mas são associativos.
Por aquilo que está
sendo dito ali no nome,
você consegue ter uma certa ideia
do tipo de
produto de serviço que está sendo vendido.
Por exemplo,
sem parar.
Essa empresa que permite
que os condutores
trafeguem pelas estradas
sem parar nas cancelas dos pedágios,
porque a cobrança é feita automaticamente.
Então eles contam com essa associação
entre o trânsito livre
e o tipo de serviço
que é oferecido pela empresa.
Ainda que
a expressão sem parar
não descreva perfeitamente
o negócio da empresa ao contrário
da Casa do Pão de queijo, se não a empresa
sem parar, se chamaria etiquetagem
eletrônica de pedágio,
alguma coisa assim.
E nós temos também
aquelas empresas cujo nome não dá
nenhuma pista
a respeito do tipo de produto
ou serviço que é comercializado.
É muito interessante porque.
Algumas empresas têm nomes
que não descrevem os seus negócios,
mas elas se tornam
tão fortes,
tão poderosas
dentro daquele segmento
que elas acabam oferecendo o seus nomes
para definir todo o segmento de produtos
ou de serviços oferecidos.
Como um exemplo, Gillette
Gillette
é o nome de uma marca de uma empresa
que se especializou em vender,
num primeiro momento, lâminas de barbear.
O nome do produto é Lâmina de barbear.
Mas quem é que usa essa expressão?
Lâmina de barbear
A gente usa a expressão gillete.
Essa é uma forma de mostrar a potência
que uma marca
muitas vezes tem dentro do seu segmento.
O nome da marca se torna mais conhecido
do que o nome genérico do tipo do produto.
Essa é a sociedade em que nós vivemos.
Essa é a força, a potência das marcas.
Agora, se a gente tem a oportunidade
de sugerir nomes
dentro desse processo de construção
das marcas, ou seja,
se quando a gente chega para trabalhar
para a empresa, para o nosso cliente,
o nome já não foi estabelecido,
aí a gente pode dar algumas dicas.
Nomes curtos
costumam ser melhores do que nomes longos.
Uma outra dica
a ser levada em consideração
é a capacidade de se pronunciar o nome.
Alguns nomes,
principalmente se a marca tem desejos
de se internacionalizar.
Eles são de difícil pronúncia
porque contêm
fonemas, sons que são estranhos
a determinadas línguas
em certas partes do mundo.
Por isso,
o cuidado com a possibilidade de pronúncia
daquela palavra.
Um bom exemplo positivo
nesse caso seria a Coca-Cola Coke Nike.
São palavras curtas e fáceis
de serem pronunciadas
em praticamente qualquer idioma.
Uma última
dica quando nós falamos de naming
é o cuidado que nós devemos ter
ao observar e estudar
os nomes dos nossos concorrentes.
Porque se essas empresas já estão aí
há algum tempo,
elas podem ter criado
uma espécie de imprint
no imaginário linguístico do público.
De imaginar, de pensar que empresas
daquele setor, daquele segmento
têm que ter nomes que soam
mais ou menos sempre de uma determinada
forma.
Pensar, por exemplo,
no setor de surfwear
ou de street wear Nesses setores,
o setor do surfe, o setor de skate,
as palavras em inglês
têm uma predominância.
Então,
se você quiser oferecer um conselho,
você pode levar em consideração
o fato de que os seus concorrentes
carregam nomes na língua inglesa.
Isso pode fazer a diferença
na hora de escolher um nome
que pelo menos lembre
algo como uma pronúncia na língua inglesa.
Antes da gente.
E por finalmente desse tópico aqui.
Eu queria
convidar você a pensar um pouquinho
também na questão do design do nome.
Tá certo?
Lembre se de uma coisa que eu já falei
nomes são desenhos.
Se eles são visualmente representados,
desenhos tem legibilidade distintas,
então é muito importante que você associe.
A escolha do nome
à escolha
da tipografia que você vai usar
ou que você vai criar
para registrar visualmente aquele nome.
Se esse nome virá acompanhado
de alguma imagem que remeta
ao universo a ser explorado
por aquela empresa de produtos
ou de serviços, é necessário que você
faça um estudo cromático.
É necessário que você faça um estudo
de peso, de equilíbrio,
de simetria ou assimetria.
Lembre se
o nome tem que estar
extremamente conectado
às suas decisões e enquanto
um design de uma visualidade,
de uma identidade visual,
a gente vai falar mais um pouquinho
a respeito disso.
Em seguida.