Maneirismo Extra | Alonso Berruguete -Génio perdido da escultura espanhola

Depois de adorarem o Movimento Mais Louco da Arte: o Maneirismo, temos ainda mais para vocês. Waldemar explora a escultura espanhola de Alonso Berruguete!

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Legendas em português de Margarida Mariz

Um Génio Perdido da Escultura Espanhola

Olhem para esta fachada.

Excitante, não é?

Esta é a contribuição da Espanha.

Uma arte que é ativa, viva, atarefada,
quase frenética,

quase como se este montão de coisas
acontecesse tudo ao mesmo tempo,

um pouco islâmica, um pouco medieval,
um pouco gótica,

um pouco oriental, um pouco ocidental.

É uma mistura emocionante.

Isto data aproximadamente de 1500.

Portanto, é pouco antes do maneirismo.

Mas em Espanha, tudo parece vibrar
com uma excitação maneirista

e isto é apenas a porta de entrada.

O altar de San Benito,
de Alonso Berruguete

faz-me sentir pequenino.

Isto é apenas um terço do retábulo.

Não conseguiram introduzi-lo no edifício

por isso, tiveram de o cortar em secções

e vamos vê-lo em pormenor,
dentro de momentos.

É uma das obras-primas do maneirismo

mas, primeiro, temos de conhecer melhor
Alonzo Berruguete.

Quem é que ele era?

Berruguete é provavelmente o maior
escultor de que nunca ouviram falar.

Isto, sem contar com a pequena
cidade espanhola de onde ele veio.

Esta é Paredes de Nava,
uma cidadezinha poeirenta em Castela,

a cerca de 300 quilómetros
a norte de Madrid,

e foi aqui que nasceu
Alonzo Berruguete.

Esta igreja está em Paredes de Nava,

é a Igreja de Santa Eulalia
onde ele foi batizado.

É uma das razões por que vim aqui.

Outra das razões é para admirar
estas pinturas no altar,

porque foram feitas pelo pai de Alonso.

Uma das coisas mais agradáveis
em fazer estes filmes

é que descobrimos estes artistas
de que não sabemos nada,

novos nomes na História da Arte

e isso foi o que me aconteceu
com o pai de Alonso,

Pedro Berruguete.

Pedro pintou estes fabulosos
Reis de Israel,

uma série de profetas religiosos
no altar-mor.

diferente de tudo
o que já se viu em arte.

O que isto tem de maravilhoso
é que têm o ar de pessoas reais,

cidadãos de Paredes de Nava
vestidas com roupas exóticas,

Gosto especialmente do Rei David
no seu traje fabuloso.

O David de Pedro é um rei
que podemos tocar e em que acreditamos,

uma presença humana preocupada,
retirada da Bíblia.

Olhem para este pormenor fantástico
do seu traje extravagante.

Como é imaginativo,

como está perfeitamente pintado

e como é profundamente diferente
do David mais famoso na arte,

o colosso de mármore
de Miguel Ângelo, em Florença,

um Apolo divino, num pedestal imponente.

Portanto, Pedro Berruguete,
este maravilhoso artista espanhol,

que devia ser mais conhecido
do que é,

é o pai de Alonso Berruguete

que o ensina e o inspira

e que se torna no maior
escultor do seu tempo.

Isto é de Alonso, num modo calmo,

uma Maria terna, embalando suavemente
um Menino Jesus pensativo

e, mais a sul, aqui em Toledo,
na catedral,

estas espantosas bancas de coro
também são de Alonso,

esculpidas em madeira de nogueira.

Como se contorcem e brigam
e saltam.

A peça grande no topo,
a Transfiguração de Jesus,

também é de Alonso,

esculpida desta vez em alabastro.

Cristo está a transformar-se
na luz divina

e Alonso Berruguete evoca
essa transformação em pedra.

Uau!

Era mesmo bom!

Agora que sabemos tudo sobre ele,

vamos deliciar-nos com isto,

a sua obra mais poderosa e mais ambiciosa.

Não me perguntem quantas figuras há
neste retábulo de San Benito.

Desisti de contar quando cheguei aos cem.

Foi feito para o mosteiro
de San Benito el Real,

aqui em Valhadolid

e é a criação mais impressionante
do maneirismo em Espanha.

Berruguete não se limitou
a esculpir todas as figuras,

também concebeu a moldura
arquitetural

e fez todas as pinturas.

Mas olhem para a escala extraordinária
de tudo aquilo.

No centro está um San Benito gigantesco.

São Benedito, fundador
e padroeiro do mosteiro,

rodeado por imensos santos
e figuras bíblicas

a abarrotar o próprio céu.

A escala é uma das armas de Berruguete.

Reparem como San Benito é grande.

Mas outra das suas armas,
aquela que o torna conhecido,

é a emoção e a invenção das suas figuras,

os sentimentos profundos
que ele lhes imprime.

A forma como trabalhava
também era diferente.

Ele não esculpia estas figuras
mais pequenas para o altar

a partir de um só pedaço de madeira
revelando a forma escondida no interior.

Não, ele montava-as,

um pedaço para a cabeça,

um pedaço para o corpo,

um pedaço para a perna.

Significava que podia ser

muito mais expressivo
e inventivo nas poses delas.

Reparem nas torções,
nos altos e nas curvas

que ele encontra
na figura de São Jerónimo,

a bater no próprio peito com uma pedra,

ou a emoção lacrimosa de Abraão

a quem Deus ordenou
que sacrificasse Isaac, o seu filho.

Este é São Cristóvão, atravessando o rio
com o Menino Jesus às costas.

Olhem para todas as curvas
e redemoinhos das figuras,

as mudanças de equilíbrio.

Isto é madeira que deixou de ser madeira

e a túnica que São Cristóvão tem
não é esculpida,

é feita de pano verdadeiro,
que foi ensopado em cola

e endurecido.

É um atalho prático,

mas possibilita um novo tipo
de liberdade escultúral

e conduz a uma arte que é forte,
dinâmica e emotiva.

Alonso Berruguete, provavelmente,
é um nome que vocês nunca ouviram

mas devia ser um nome
na boca de todo o amante de arte.