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Uma drag fora do armário | Eric Anthony Dorsa | TEDxSanAntonio

  • 0:14 - 0:18
    William Shakespeare disse
    que "o mundo é um grande palco,
  • 0:18 - 0:21
    e homens e mulheres são simples atores".
  • 0:21 - 0:24
    Em minha experiência
    como "drag queen", devo admitir
  • 0:24 - 0:26
    que aprendo constantemente a diferença
  • 0:26 - 0:30
    entre ser um ator e representar um papel.
  • 0:30 - 0:33
    Nós todos, seres humanos,
    vivenciamos a tensão
  • 0:33 - 0:39
    entre quem pensamos que somos
    e quem o mundo deseja que sejamos.
  • 0:40 - 0:44
    Sabe, aprendi tantas coisas
    em minha jornada como drag queen,
  • 0:44 - 0:46
    inclusive que, vestindo-me como drag,
  • 0:46 - 0:51
    sou mais parecida com todos vocês
    do que diferente,
  • 0:51 - 0:54
    porque a verdade é que todos
    aprendemos a usar disfarces na vida.
  • 0:54 - 0:57
    Usamos disfarces
    para descobrir onde nos encaixamos
  • 0:57 - 1:01
    em nossos relacionamentos,
    nossos empregos e nossos hobbies,
  • 1:01 - 1:07
    disfarces para fugir de nossos medos,
    vulnerabilidades e inseguranças,
  • 1:07 - 1:09
    da pressão que sofremos
    para sermos versões mais magras,
  • 1:09 - 1:13
    felizes, bem-sucedidas
    e confiantes de nós mesmos.
  • 1:13 - 1:18
    Usamos disfarces para sermos aquilo
    que a vida espera de nós:
  • 1:18 - 1:22
    o CEO com todas as respostas
    num momento de crise;
  • 1:22 - 1:26
    a mãe ativa e participativa,
    que não mede esforços por seus filhos;
  • 1:26 - 1:31
    a versão de filho ou filha perfeitos
    que os outros imaginam;
  • 1:31 - 1:33
    ser o cônjuge perfeito.
  • 1:34 - 1:39
    Usamos disfarces quando
    nossa vida social fica tão ativa
  • 1:39 - 1:44
    que não temos tempo algum para nada
    remotamente real ou emocional.
  • 1:44 - 1:47
    Como drag queen, eu aprendi
  • 1:47 - 1:51
    que, quando usamos disfarces
    para termos a aprovação dos outros,
  • 1:51 - 1:55
    quando encenamos um papel
    em nossa vida real
  • 1:55 - 1:58
    por parecer mais fácil e tentador,
  • 1:58 - 2:02
    perdemos a capacidade
    de viver nossa autenticidade
  • 2:02 - 2:08
    e nos perdemos encenando um papel
    num faz de conta, com outros personagens,
  • 2:08 - 2:12
    em vez de sermos
    atores verdadeiros no palco.
  • 2:13 - 2:16
    Vestir-me de drag é e continua sendo
  • 2:16 - 2:19
    o ato máximo de rebelião
    para a minha família
  • 2:19 - 2:24
    latina, italiana, conservadora,
    republicana e católica do sul do Texas
  • 2:24 - 2:25
    (Risos) (Aplausos)
  • 2:25 - 2:27
    da qual faço parte.
  • 2:27 - 2:30
    (Aplausos)
  • 2:31 - 2:34
    É um pouco cansativo.
  • 2:34 - 2:38
    O Natal é bem interessante.
  • 2:38 - 2:40
    Mas, sendo minha família assim,
    nasci em um mundo
  • 2:40 - 2:45
    repleto de expectativas e exigências
    de quem eu devia ser enquanto homem.
  • 2:45 - 2:49
    Ser drag queen não é uma delas,
    mas é o que sou.
  • 2:50 - 2:53
    Jamais vou esquecer
    o olhar de pavor da minha mãe
  • 2:53 - 2:58
    quando lhe contei que queria me vestir
    de mulher quando crescesse,
  • 2:58 - 3:01
    como outros rapazes faziam
    no programa do Jerry Springer.
  • 3:01 - 3:03
    (Risos)
  • 3:03 - 3:07
    Eu tinha cinco anos e não faço ideia
    de por que assistíamos ao Jerry Springer.
  • 3:07 - 3:08
    (Risos)
  • 3:09 - 3:14
    Mas lembro que o que eu achava
    ser belo minha mãe dizia ser pecado.
  • 3:14 - 3:18
    A verdade é que se vestir de drag
    é e continua sendo
  • 3:18 - 3:21
    a celebração de quem sou na vida.
  • 3:21 - 3:24
    Encenar um personagem me remeteu
  • 3:24 - 3:28
    à pessoa que sou
    debaixo da maquiagem, o ator,
  • 3:28 - 3:33
    vivendo por trás de um personagem,
    num mundo superficial que diz a todos nós
  • 3:33 - 3:37
    que podemos, de alguma forma,
    ser versões melhores de nós mesmos.
  • 3:38 - 3:41
    Lá no fundo, eu sabia, enquanto crescia,
  • 3:41 - 3:45
    que aquilo que eu era
    provavelmente jamais mudaria.
  • 3:48 - 3:52
    Fiz tudo que pude para convencer
    o mundo e minha família
  • 3:52 - 3:55
    de que eu podia ser outra pessoa por fora.
  • 3:55 - 3:58
    Na época, eu não percebia
    no que estava me metendo,
  • 3:58 - 4:02
    mas ser drag continua sendo minha
    real jornada para fora do armário.
  • 4:02 - 4:07
    Ser drag é a jornada
    que salvou minha vida.
  • 4:07 - 4:09
    Eu criei um personagem
    a partir de um ato desesperado
  • 4:09 - 4:13
    para me reconectar
    com algo profundo e íntimo.
  • 4:13 - 4:17
    Quando me assumi,
    perdi tudo que eu podia imaginar.
  • 4:17 - 4:20
    Perdi o apoio da minha família,
  • 4:20 - 4:26
    perdi meu senso de amor,
    de conexão, de fazer parte, de fé.
  • 4:26 - 4:28
    Perdi tudo e todos em minha vida,
  • 4:28 - 4:33
    para quem eu fingia ser outra pessoa.
  • 4:33 - 4:35
    E, aos 21 anos,
    quando me olhava no espelho,
  • 4:35 - 4:40
    a pessoa que eu enxergava era o maior
    desconhecido que eu já tinha visto.
  • 4:40 - 4:42
    E como não seria?
  • 4:42 - 4:46
    Eu tinha sido levado a viver uma mentira
    durante toda a minha vida.
  • 4:46 - 4:50
    Eu tinha aprendido a deixar de lado
    aquilo que eu tinha nascido para ser
  • 4:50 - 4:52
    para ser quem eu precisava encenar,
  • 4:52 - 4:57
    para ter a sensação
    de segurança e aceitação.
  • 4:57 - 5:00
    Perder tudo não foi o "fim do jogo"
  • 5:00 - 5:03
    que achei que seria, como no "Mario".
  • 5:03 - 5:05
    Eu tive uma segunda chance.
  • 5:05 - 5:09
    Perder tudo foi a retomada
    da minha autenticidade,
  • 5:09 - 5:13
    em que minha vida,
    se eu conseguisse aceitar quem eu era,
  • 5:13 - 5:16
    poderia ser genuína, sincera e verdadeira.
  • 5:17 - 5:20
    Então, criei um personagem drag
  • 5:20 - 5:24
    para fugir do menino inseguro,
    com medo e com raiva
  • 5:24 - 5:28
    que tinha me tornado,
    vivendo em meu armário.
  • 5:28 - 5:30
    Como Fonda, eu experimentei um mundo
  • 5:30 - 5:35
    em que eu era visto
    como corajoso, confiante e belo.
  • 5:35 - 5:38
    Eu me posicionava e enfrentava
    o ideal "hétero-normativo"
  • 5:38 - 5:41
    com meu spray de cabelo,
    purpurina e saltos-agulha.
  • 5:41 - 5:42
    (Risos)
  • 5:42 - 5:48
    Pela primeira vez na vida, eu me sentia
    amado, celebrado e aceito.
  • 5:48 - 5:51
    Sempre que eu punha
    perucas e maquiagem,
  • 5:51 - 5:54
    minha vida se tornava mais real,
  • 5:54 - 5:58
    mas também os monstros
    dos quais eu fugia.
  • 5:58 - 6:00
    Sabe, eu aprendi,
    vestindo-me de Fonda Cox,
  • 6:00 - 6:03
    que os personagens
    que eu vinha encenando em minha vida
  • 6:03 - 6:05
    não eram os personagens drag.
  • 6:05 - 6:10
    Era o Eric, o menino que nunca pôde ser,
  • 6:10 - 6:13
    que tinha um transtorno alimentar,
  • 6:13 - 6:14
    que precisava ser amado
  • 6:14 - 6:18
    tentando sempre ser o centro das atenções.
  • 6:18 - 6:23
    Era o menino que fingia
    ter orgulho de ser gay,
  • 6:23 - 6:28
    em vez de expor e lidar
    com sua vergonha de ser gay.
  • 6:30 - 6:34
    Foi um privilégio poder finalmente começar
    a ouvir as pessoas à minha volta,
  • 6:34 - 6:41
    pois elas me ajudaram a perceber que
    Fonda Cox e Eric Dorsa são a mesma pessoa,
  • 6:41 - 6:44
    que um ator não pode existir
  • 6:44 - 6:48
    sem que haja diálogo
    com os personagens na vida dele.
  • 6:48 - 6:52
    Fonda tinha o que eu também tinha.
  • 6:52 - 6:57
    O amor e a aceitação
    que eu recebia no palco eram reais.
  • 6:57 - 7:02
    Aprendi que a vergonha é o algoz
  • 7:02 - 7:06
    que me arrasta para o meu armário
    e lá me deixa, trancado.
  • 7:06 - 7:08
    No meu armário, eu aprendi
    a esconder do mundo
  • 7:08 - 7:12
    minhas vulnerabilidades, inseguranças
  • 7:12 - 7:14
    e até minha humanidade.
  • 7:14 - 7:16
    Mas ao abandonar meus disfarces,
  • 7:16 - 7:20
    eu peguei meu armário
    e o tornei meu aliado.
  • 7:20 - 7:22
    O que colocamos em um armário,
    afinal de contas?
  • 7:22 - 7:26
    Nossos trajes, nossas memórias,
    nossos pertences.
  • 7:26 - 7:30
    Eles ficam a salvo no armário,
    fora de vista,
  • 7:30 - 7:33
    e sabemos aonde ir
    quando precisamos encontrá-los.
  • 7:33 - 7:36
    Fiz do meu armário meu aliado.
  • 7:36 - 7:38
    Nele eu escondia as partes de mim
  • 7:38 - 7:42
    das quais eu achava que o mundo
    da crítica não ia querer chegar perto.
  • 7:42 - 7:48
    Ainda me pego em meu armário às vezes,
    com a porta fechada, pronto para agarrar
  • 7:48 - 7:53
    um de meus disfarces, para vesti-lo
    e encarar esse mundo de crítica.
  • 7:53 - 7:56
    Mas agora eu digo a mim mesmo a verdade:
  • 7:56 - 7:59
    que do lado de fora do armário
  • 7:59 - 8:03
    está uma sala repleta de fãs,
    não de críticos,
  • 8:03 - 8:08
    pessoas que estão prontas para me ver
    e celebrar o ator que sou;
  • 8:08 - 8:13
    um mundo em que não preciso
    de um disfarce para me enquadrar;
  • 8:13 - 8:18
    um mundo em que me veem
    com amor e curiosidade, não com medo.
  • 8:19 - 8:23
    Sabe, Fonda Cox não é mais
    um personagem que enceno em minha vida.
  • 8:23 - 8:27
    Ela é e continua sendo minha jornada
    para fora do armário.
  • 8:27 - 8:30
    Ela me faz lembrar do menino que eu era
  • 8:30 - 8:34
    antes mesmo que eu tivesse ouvido falar
    de regras de gênero,
  • 8:34 - 8:39
    antes que eu tivesse que me esconder
    no fundo de um armário gay,
  • 8:39 - 8:44
    antes que o mundo ou minha família
    me dissessem que era errado seu eu mesmo.
  • 8:45 - 8:49
    Fonda Cox é o que me lembra
  • 8:49 - 8:53
    do menino que eu era e que só queria
    brincar de se disfarçar.
  • 8:53 - 8:58
    Ela também me faz lembrar do menino
    que queria que sua mãe pintasse suas unhas
  • 8:58 - 9:00
    e que não sossegou
  • 9:00 - 9:04
    enquanto não ganhou um forninho Easy-Bake.
  • 9:04 - 9:07
    Sabe, aprendi que quando
    vivemos nossa vida
  • 9:07 - 9:11
    nos escondendo atrás de uma porta fechada,
  • 9:11 - 9:16
    nós nos amedrontamos e nos separamos
    daqueles que mais se parecem com aquilo
  • 9:16 - 9:19
    que tentamos esconder do mundo.
  • 9:19 - 9:22
    Vivemos uma realidade
    onde somos "nós versus eles",
  • 9:22 - 9:26
    onde esperamos que as pessoas vejam
    a pessoa que fingimos ser,
  • 9:26 - 9:29
    em vez de quem realmente somos.
  • 9:29 - 9:33
    Eu pergunto a vocês: como vocês
    brincam de vestir disfarces na vida?
  • 9:33 - 9:37
    Que personagens vocês se veem encenando?
  • 9:37 - 9:42
    O personagem não existiria,
    não fosse pelo ator,
  • 9:42 - 9:45
    porque é este que pertence à sua vida,
  • 9:45 - 9:49
    é este que nós queremos ver,
  • 9:49 - 9:53
    é este que merece ser amado e celebrado.
  • 9:53 - 9:56
    É este que você nasceu para encenar.
  • 9:56 - 9:58
    Muito obrigado.
  • 9:58 - 10:01
    (Aplausos)
Title:
Uma drag fora do armário | Eric Anthony Dorsa | TEDxSanAntonio
Description:

Esta palestra foi dada em um evento TEDx local, produzido independentemente das Conferências TED.

Quando Eric se assumiu gay, e depois drag queen, ele simplesmente abriu uma porta. Ele logo descobriu que o que ele achou serem identidades eram, na verdade, máscaras que ele usava para sair do armário e encarar o mundo cruel que o havia colocado nesse mesmo armário. Quando essas máscaras caíram, ele se deparou com o mesmo medo, vergonha e isolamento que sempre sentira, o que o deixou com uma escolha: aceitar a si mesmo sem as máscaras e rótulos ou viver com a realidade: a de que, na verdade, eram essas máscaras que o estavam usando. Quando ele decidiu sair do armário sem nenhuma máscara ou rótulo, ele chegou a uma poderosa conclusão. Ele não estava mais preso à sua própria percepção de um mundo cruel, que exigia que ele permanecesse no armário. Ele estava se abrindo para sua própria vida, uma vida que sempre esperou por ele e à qual ele pertencia completamente.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
10:12

Portuguese, Brazilian subtitles

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