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O mundo radical de William Blake: Great Books Explained

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    Esta é a parte dois de William Blake
  • 0:03 - 0:06
    - a parte um encontra-se
    em Great Art Explained.
  • 0:06 - 0:08
    A ligação está em baixo.
  • 0:11 - 0:15
    O artista e poeta inglês William Blake
    tinha 32 anos
  • 0:15 - 0:18
    quando os cidadãos de Paris
    assaltaram a prisão da Bastilha,
  • 0:18 - 0:21
    assinalando o início
    da Revolução Francesa.
  • 0:28 - 0:31
    As ondas de choque fizeram-se sentir
    por toda a Europa.
  • 0:32 - 0:36
    Para Blake, a Revolução foi
    uma fonte poderosa de inspiração.
  • 0:36 - 0:40
    Ao fim de poucos anos, impulsionado
    pelos sonhos de liberdade e revolução,
  • 0:40 - 0:45
    Blake produzira várias das suas obras
    mais significativas,
  • 0:45 - 0:49
    incluindo
    "Canções da Inocência e da Experiência".
  • 0:49 - 0:52
    Esta coleção enganadoramente simples
  • 0:52 - 0:54
    parece, à primeira vista,
    que é escrita para crianças,
  • 0:54 - 0:58
    e não passa de uma coleção
    de rimas infantis.
  • 0:58 - 1:02
    Mas, escondidas por trás desses poemas
    sem pretensões, há ideias radicais.
  • 1:02 - 1:06
    Neles, Blake revela
    o seu profundo ódio pela autoridade
  • 1:06 - 1:09
    assim como o seu desprezo
    pela igreja e pela monarquia,
  • 1:09 - 1:11
    e exprime a sua crença profunda
  • 1:11 - 1:14
    num dos valores fundamentais
    da Revolução Francesa:
  • 1:15 - 1:16
    a liberdade.
  • 1:33 - 1:35
    1. Estados contraditórios
  • 1:35 - 1:39
    "Canções da Inocência e da Experiência"
    foi escrita em duas partes,
  • 1:39 - 1:43
    para mostrar os dois estados contrários
    da alma humana.
  • 1:44 - 1:48
    A primeira coleção "Canções da Inocência"
    foi publicada em 1789,
  • 1:48 - 1:53
    e a segunda parte
    "Canções da Experiência", em 1794.
  • 1:53 - 1:56
    Nesse mesmo ano, produziu
    uma versão combinada
  • 1:56 - 2:00
    de "Canções da Inocência e da Experiência"
    que hoje conhecemos.
  • 2:00 - 2:03
    Depois imprimiu, coloriu manualmente
    e encadernou à mão
  • 2:03 - 2:06
    cerca de 20 exemplares
    desses conjuntos
  • 2:06 - 2:08
    — conforme os patronos
    encomendaram —
  • 2:08 - 2:11
    cada um deles visualmente diferente.
  • 2:11 - 2:14
    A primeira coleção
    "Canções da Inocência"
  • 2:14 - 2:17
    foi escrita nos primeiros dias
    da Revolução Francesa,
  • 2:17 - 2:21
    quando Blake e outros idealistas políticos
    sonhavam com uma nova Utopia,
  • 2:21 - 2:25
    em que se acreditava ser possível
    a reforma e a justiça social.
  • 2:25 - 2:28
    Na altura em que ele produziu
    as "Canções da Experiência"
  • 2:28 - 2:31
    tornara-se claro que
    a Revolução Francesa tinha falhado,
  • 2:31 - 2:34
    e o reino de terror que se seguiu
    levara a um banho de sangue
  • 2:34 - 2:37
    e à repressão dos pensadores radicais.
  • 2:38 - 2:41
    "Canções da Experiência"
    são mais sombrios, mais irónicos,
  • 2:42 - 2:44
    cheios de amargura e dúvidas.
  • 2:44 - 2:47
    Contudo, a divisória entre
    as duas coleções nem sempre é estável.
  • 2:48 - 2:50
    Blake reordenou os poemas muitas vezes
  • 2:50 - 2:52
    e parece não estar muito seguro
  • 2:52 - 2:56
    se determinados poemas encaixam melhor
    numa coleção ou na outra.
  • 2:57 - 3:01
    Por fim, Blake queria que lêssemos
    as duas partes da coleção em conjunto
  • 3:01 - 3:05
    e quase certamente imaginou-as
    ligadas desde o início.
  • 3:05 - 3:08
    Construiu alguns poemas fundamentais
    para serem lidos em conjunto
  • 3:08 - 3:12
    - por exemplo, o poema chamado
    "O Cordeiro" das "Canções da Inocência",
  • 3:12 - 3:16
    e um poema oposto, "O Tigre"
    em "Canções da Experiência".
  • 3:16 - 3:20
    Blake não apresenta esses elementos
    contraditórios ou opostos
  • 3:20 - 3:22
    como mutuamente exclusivos,
  • 3:22 - 3:25
    mas como parte integrante
    da existência um do outro.
  • 3:26 - 3:29
    "Sem contrários não há progressão.
  • 3:29 - 3:32
    "A atração e a repulsa,
    a razão e a energia,
  • 3:32 - 3:36
    "o amor e o ódio, são necessários
    à existência humana."
  • 3:37 - 3:39
    2. Visões e Profecias
  • 3:39 - 3:42
    Desde que viu Deus pela primeira vez
    ao espreitar à janela,
  • 3:42 - 3:46
    quando tinha quatro anos,
    Blake teve centenas de visões.
  • 3:46 - 3:49
    Apareciam-lhe anjos e demónios,
  • 3:49 - 3:52
    pintores do Renascimento
    abordavam-no nas escadas,
  • 3:52 - 3:56
    e conversava regularmente
    com santos e profetas da Bíblia.
  • 3:56 - 3:59
    Não era o primeiro grande pensador
    que tinha visões,
  • 3:59 - 4:03
    mas a diferença era
    que Blake tinha aptidões criativas
  • 4:03 - 4:05
    para exprimir o que vivera.
  • 4:05 - 4:08
    Essas visões inspiram
    grande parte da sua obra
  • 4:08 - 4:12
    e Blake descreve-as em poemas
    da Inocência e da Experiência.
  • 4:13 - 4:16
    "Assim, ele estava calmo
    e, nessa mesma noite,
  • 4:16 - 4:19
    "Tom, quando estava a dormir,
    teve uma visão espantosa
  • 4:19 - 4:22
    "de que milhares de varredores,
    Dick, Joe, Ned e Jack,
  • 4:22 - 4:26
    "estavam todos fechados
    em caixões negros.
  • 4:26 - 4:29
    "E apareceu um anjo
    que tinha uma chave brilhante
  • 4:29 - 4:32
    "e abriu os caixões
    e libertou-os a todos.
  • 4:32 - 4:36
    "Depois, eles correram pela planície
    verdejante, aos saltos, rindo,
  • 4:36 - 4:39
    "e lavaram-se num rio
    e secaram-se ao sol.
  • 4:39 - 4:43
    "Depois, nus e limpos,
    deixaram para trás todos os sacos,
  • 4:43 - 4:46
    "subiram até às nuvens,
    e brincaram com o vento."
  • 4:47 - 4:50
    O que é surpreendente
    nos encontros visionários de Blake
  • 4:50 - 4:53
    é a forma como ele os regista
    na sua poesia
  • 4:53 - 4:56
    como se fossem experiências normais,
    completamente naturais,
  • 4:56 - 4:59
    porque, para ele, assim eram.
  • 4:59 - 5:02
    Descrevendo um encontro com um anjo
    em "O Casamento do Céu e do Inferno",
  • 5:02 - 5:04
    Blake escreve sobre esse encontro
  • 5:04 - 5:08
    numa voz totalmente isenta
    de dúvida ou de ironia.
  • 5:09 - 5:12
    "Mas, de repente, apanhou-o
    pela força, nos seus braços
  • 5:12 - 5:14
    "e voou para oeste, pela noite dentro,
  • 5:14 - 5:17
    "até nos elevarmos
    acima da sombra da Terra:
  • 5:17 - 5:22
    "Depois, atirei-me com ele
    diretamente de encontro ao Sol,
  • 5:22 - 5:24
    "e aí vesti-me de branco."
  • 5:25 - 5:27
    Quando Blake descreveu Jesus
  • 5:27 - 5:30
    no seu poema tardio
    "The Everlasting Gospel",
  • 5:30 - 5:32
    escreveu como se estivesse a falar
    dum adolescente rebelde,
  • 5:32 - 5:34
    a falar pelas costas,
  • 5:34 - 5:36
    e não do Filho de Deus.
  • 5:38 - 5:42
    "Quando ainda criança ele fugiu
    e deixou os pais desgostosos.
  • 5:42 - 5:44
    "É esta a corrida que Jesus fez,
  • 5:44 - 5:47
    "humilde para com Deus,
    altivo para com os homens,
  • 5:47 - 5:49
    "amaldiçoando os governantes
  • 5:49 - 5:52
    "perante o povo.
    até ao mais alto dos campanários."
  • 5:52 - 5:55
    Os encontros visionários de Blake
    são poderosos
  • 5:55 - 5:58
    porque sentem-se como encontros reais,
  • 5:58 - 6:01
    e isso porque ele escreveu sobre eles
  • 6:01 - 6:05
    como escreveu sobre todas as coisas,
    com uma enorme convicção.
  • 6:06 - 6:10
    Disse-se que a indiferença
    era impossível para Blake.
  • 6:10 - 6:14
    Ele era um poeta com um único sentido
    para o poder da imaginação humana.
  • 6:15 - 6:19
    Ele acreditava que a maioria das pessoas
    vivia encerrada em regras e restrições
  • 6:19 - 6:22
    isolada por uma perceção
    estreita da realidade
  • 6:22 - 6:24
    e pelas limitações dos cinco sentidos.
  • 6:24 - 6:27
    E considerava que era nosso dever
  • 6:27 - 6:29
    libertar-nos dessa visão limitada.
  • 6:29 - 6:32
    "Se as portas da perceção
    fossem limpas
  • 6:32 - 6:36
    "tudo apareceria aos homens
    como... infinito."
  • 6:36 - 6:39
    Para Blake, há uma experiência
    infinita do mundo
  • 6:39 - 6:42
    que nos é acessível
    na nossa vida diária.
  • 6:42 - 6:46
    Ele argumenta que precisamos de olhar
    para além do que vemos ou tocamos,
  • 6:46 - 6:49
    e expandir a nossa visão do mundo
  • 6:49 - 6:52
    usando a imaginação,
    abrindo-nos ao maravilhoso.
  • 6:53 - 6:57
    Se o fizermos, até a coisa mais pequena
    pode conter mundos inteiros dentro dela
  • 6:58 - 7:00
    - mas só se o permitirmos.
  • 7:01 - 7:05
    "Ver um mundo num grão de areia
    e o céu numa flor selvagem.
  • 7:05 - 7:10
    "Segurar o infinito na palma da mão
    e a eternidade numa hora."
  • 7:11 - 7:13
    3. Contradições
  • 7:14 - 7:15
    Blake acreditava
  • 7:15 - 7:18
    que essa visão mais profunda
    sobre a condição humana
  • 7:18 - 7:20
    provém de compreender e aceitar
  • 7:20 - 7:23
    formas alternativas e opostas
    de olhar para o mundo.
  • 7:23 - 7:26
    Sentia que s emoções
    — as boas e as más —
  • 7:26 - 7:29
    deviam exprimir-se livremente,
    em vez de serem escondidas
  • 7:29 - 7:32
    e que não nos devíamos esquivar
    aos conflitos.
  • 7:33 - 7:38
    "Eu estava zangado com o meu amigo,
    falei-lhe disso e a zanga acabou.
  • 7:38 - 7:40
    "Eu estava zangado com o meu inimigo;
  • 7:40 - 7:44
    não lhe disse nada
    e a minha ira aumentou."
  • 7:44 - 7:48
    O poema de Blake prevê
    as posteriores teorias de Sigmund Freud,
  • 7:48 - 7:51
    que sugeriu que as emoções reprimidas
  • 7:51 - 7:55
    podem criar posteriormente pensamentos
    e comportamentos neuróticos prejudiciais.
  • 7:55 - 7:57
    Os efeitos prejudiciais
    das emoções reprimidas
  • 7:57 - 8:01
    são descritos usando a metáfora alargada
    duma árvore venenosa
  • 8:01 - 8:03
    que vai crescendo cada vez mais
  • 8:03 - 8:06
    à medida que o orador contém
    dentro de si a amargura e o ressentimento.
  • 8:06 - 8:11
    "E reguei-o com as minhas lágrimas
    de noite e de manhã, em medos.
  • 8:11 - 8:16
    "E expu-lo ao sol com sorridos
    e com suaves artifícios enganadores.
  • 8:17 - 8:20
    "E cresceu dia e noite."
  • 8:21 - 8:23
    4. O Tigre e o Cordeiro
  • 8:23 - 8:27
    O poema mais conhecido
    na coleção é "O Tigre",
  • 8:27 - 8:30
    um retrato de um animal
    belo e perigoso
  • 8:30 - 8:33
    - e que é ele mesmo
    um poema belo e perigoso.
  • 8:34 - 8:38
    "Tigre, tigre, ardendo em chamas
    nas florestas durante a noite.
  • 8:38 - 8:43
    "Que mão ou olho imortal
    pode enquadrar a tua terrível simetria?"
  • 8:44 - 8:47
    É uma imagem de tudo
    o que é sublime na Natureza.
  • 8:47 - 8:52
    Para Blake, não se trata apenas
    da beleza, mas da ferocidade do tigre,
  • 8:52 - 8:54
    que o torna um milagre da Natureza.
  • 8:55 - 8:58
    O tigre representa
    o terrível poder de Deus.
  • 8:59 - 9:03
    "Em que profundezas ou céus distantes
    arde o fogo dos teus olhos?"
  • 9:04 - 9:08
    "A que asas ele aspira?
    "Que mão se atreve a agarrar o fogo?"
  • 9:09 - 9:11
    O poema pergunta-nos:
  • 9:11 - 9:15
    "Que tipo de Deus podia criar uma coisa
    tão aterrorizadora, tão perigosa,
  • 9:15 - 9:18
    "e, no entanto, tão bela como o tigre?"
  • 9:18 - 9:23
    O imaginário de Blake neste poema
    é dramático e apocalíptico:
  • 9:23 - 9:26
    "Olhos de fogo, um coração
    violentamente retorcido,
  • 9:26 - 9:29
    "martelos e correntes
    e uma fornalha em brasa.
  • 9:29 - 9:33
    "Estrelas que disparam lanças
    e um céu banhado em lágrimas.
  • 9:34 - 9:38
    "Que martelo? Que correntes?
    Em que fornalha estava o teu cérebro?
  • 9:39 - 9:44
    "Que bigorna? Que suspiro terrível
    ousam os teus terrores mortais agarrar?"
  • 9:44 - 9:48
    O poema é uma torrente de perguntas
    - todas elas sem resposta.
  • 9:49 - 9:53
    O clímax do poema
    são os versos finais da quinta estância.
  • 9:53 - 9:58
    "Quando as estrelas lançaram as lanças
    e regaram o céu com as suas lágrimas
  • 9:58 - 10:00
    "ele sorriu ao ver a sua obra?
  • 10:01 - 10:03
    Aquele que fez o cordeiro fez-te a ti?
  • 10:04 - 10:06
    Por outras palavras, o poema pergunta
  • 10:06 - 10:09
    se o mesmo Deus que fez o cordeiro,
  • 10:09 - 10:12
    ou bebés a sorrir,
    ou delicadas borboletas,
  • 10:12 - 10:15
    pode também criar tigres violentos,
    com garras,
  • 10:15 - 10:18
    cobras venenosas ou doenças mortais.
  • 10:18 - 10:21
    É uma pergunta que ainda hoje se faz.
  • 10:22 - 10:25
    Chocantemente, é um poema
    do século XVIII
  • 10:25 - 10:28
    que se atreve a questionar
    a benevolência de Deus,
  • 10:28 - 10:32
    um poema de admiração
    pela variedade do mundo,
  • 10:32 - 10:34
    mas com medo de um Deus louco
  • 10:34 - 10:38
    que podia ter criado o universo
    e todas as suas dolorosas contradições.
  • 10:39 - 10:41
    O cordeiro de "Canções da Inocência"
  • 10:41 - 10:45
    começa com uma pergunta muito semelhante
    à pergunta feita em "O Tigre".
  • 10:45 - 10:47
    "Cordeirinho, quem te fez?"
  • 10:47 - 10:51
    Mas o tom deste poema
    e a atitude para com Deus
  • 10:51 - 10:53
    é totalmente diferente.
  • 10:53 - 10:57
    "Cordeirinho, quem te fez?
    Sabes quem te fez?
  • 10:57 - 11:01
    "Quem te deu vida e mandou-te alimentar
    junto ao riacho e no prado?
  • 11:02 - 11:06
    "Quem te deu uma roupa de delícia,
    a mais suave roupa de lã brilhante.
  • 11:06 - 11:11
    "Quem te deu uma voz tão terna
    que alegra todos os vales?"
  • 11:11 - 11:14
    Neste alegre poema que parece uma canção
  • 11:14 - 11:16
    somos levados a pensar num Deus
  • 11:16 - 11:19
    não como o temível criador
    de um mundo perigoso
  • 11:19 - 11:22
    mas, pelo contrário, como uma força
    protetora e reconfortante,
  • 11:22 - 11:24
    que nos dá o dom da vida,
  • 11:24 - 11:27
    assim como a roupa para usar
    e os alimentos para comer.
  • 11:28 - 11:32
    "Ele é manso e suave!
    Tornou-se uma criancinha.
  • 11:32 - 11:36
    "Eu sou uma criança e tu és um cordeiro.
    Somos chamados pelo seu nome.
  • 11:37 - 11:41
    "Cordeirinho, Deus te abençoe,
    Cordeirinho, Deus te abençoe."
  • 11:42 - 11:46
    Neste poema, o orador explica
    que Deus também já foi criança,
  • 11:46 - 11:48
    na forma de Jesus
  • 11:48 - 11:51
    — também conhecido na Bíblia
    como o Cordeiro de Deus —
  • 11:51 - 11:54
    e estes termos sublinham
    a condição vulnerável
  • 11:54 - 11:57
    e a capacidade de relação de Deus.
  • 11:57 - 12:00
    Os dois poemas, "O Tigre" e "O Cordeiro",
  • 12:00 - 12:02
    oferecem duas formas diferentes
    de olhar para Deus,
  • 12:03 - 12:07
    uma forma inocente, em que Deus
    é uma fonte de simpatia e consolação,
  • 12:07 - 12:09
    e uma forma resultante da experiência
  • 12:09 - 12:13
    em que Deus é todo-poderoso
    temível e intocável.
  • 12:13 - 12:16
    Juntos, demonstram como o bem e o mal
  • 12:16 - 12:19
    podem existir simultaneamente
    sob o mesmo Deus.
  • 12:19 - 12:23
    Pedem-nos que consideremos formas
    "opostas" de pensar no mundo,
  • 12:24 - 12:29
    para questionarmos os nossos preconceitos,
    e também a nossa ingenuidade.
  • 12:29 - 12:33
    "É de esperar veneno nas águas paradas."
  • 12:33 - 12:37
    Ou, dizendo de outro modo, estagnamos
    se formos casmurros nas nossas opiniões,
  • 12:37 - 12:40
    e isso inevitavelmente envenena-nos.
  • 12:46 - 12:50
    Uma das principais preocupações temáticas
    em "Canções da Inocência e da Experiência"
  • 12:50 - 12:52
    é a autoridade.
  • 12:52 - 12:55
    Estes são poemas cheios
    de figuras de autoridade, simbólicas:
  • 12:55 - 12:58
    pais e padres, enfermeiras e anjos,
  • 12:58 - 13:01
    pessoas que têm o poder
    de castigar ou de proteger.
  • 13:01 - 13:03
    Em "Canções da Inocência",
  • 13:03 - 13:05
    os poemas são habitualmente
    ditos por personagens
  • 13:05 - 13:07
    que têm um profundo sentido
    de fé e confiança
  • 13:07 - 13:10
    nas figuras de autoridade à sua volta.
  • 13:10 - 13:12
    Viver no mundo da inocência
  • 13:12 - 13:15
    é ter uma ligação
    com Deus e com a Natureza,
  • 13:15 - 13:17
    um sentimento de espiritualidade
    e de objetivo.
  • 13:18 - 13:20
    Sentir-se acarinhado
    pelos que estão no poder
  • 13:20 - 13:22
    e ser guiado por eles.
  • 13:22 - 13:25
    "A minha mãe ensinou-me
    à sombra duma árvore
  • 13:25 - 13:27
    "e, ali sentados, antes do calor do dia
  • 13:27 - 13:29
    "pegou-me ao colo e beijou-me
  • 13:29 - 13:32
    "e, apontando para o oriente,
    começou a dizer:
  • 13:32 - 13:36
    "Olha para o nascer do Sol,
    é ali que Deus vive.
  • 13:36 - 13:39
    "E dá-nos a sua luz
    e dá-nos o seu calor.
  • 13:39 - 13:42
    "E as flores e árvores e animais
    e os homens
  • 13:42 - 13:46
    "recebem o conforto de manhã,
    alegria ao meio-dia."
  • 13:46 - 13:49
    Nos poemas da "Inocência"
    encontramos figuras de autoridade
  • 13:49 - 13:52
    que estão li para nos proteger
    e olhar por nós,
  • 13:52 - 13:56
    como enfermeiras, pastores, anjos
    e mães amáveis e professoras,
  • 13:56 - 13:59
    mas não nos oprimem nem nos restringem.
  • 13:59 - 14:01
    Pelo contrário, ensinam-nos a agir,
  • 14:01 - 14:04
    e dão-nos espaço para fazermos
    as nossas escolhas.
  • 14:04 - 14:07
    "E somos colocados na Terra,
    num pequeno espaço
  • 14:08 - 14:11
    "onde podemos aprender a suportar
    os raios do amor.
  • 14:12 - 14:13
    Em profundo contraste,
  • 14:13 - 14:16
    nos posteriores poemas
    de "Canções da Experiência",
  • 14:16 - 14:19
    encontramos padres
    que batem em crianças na igreja,
  • 14:19 - 14:22
    e fazem regras sobre
    o que nos é permitido fazer,
  • 14:22 - 14:26
    assim como pais impiedosos
    que nos embrulham em faixas,
  • 14:26 - 14:29
    ou nos fazem ficar envergonhados
    quando nos apaixonamos,
  • 14:29 - 14:32
    ou cruéis professores escolares
    que nos ensinam regras à pancada
  • 14:32 - 14:33
    quando somos novos.
  • 14:33 - 14:35
    Nos últimos poemas de "Experiência",
  • 14:35 - 14:38
    os poemas são escritos
    na perspetiva de um cinismo terrível,
  • 14:38 - 14:41
    e as personagens de Blake
    parecem cansadas da vida.
  • 14:41 - 14:45
    E, muitas vezes, têm ódio
    ou medo da autoridade.
  • 14:45 - 14:49
    "Como é que a ave
    que nasceu para a alegria
  • 14:49 - 14:51
    "consegue cantar numa gaiola?"
  • 14:52 - 14:55
    Blake sentia-se frustrado pela forma
    como a religião organizada
  • 14:55 - 14:57
    impunha regulamentos em todas as coisas,
  • 14:57 - 15:01
    desde o que comemos ou bebemos
    até à nossa vida sexual.
  • 15:02 - 15:05
    "E os portões desta capela foram fechados
  • 15:05 - 15:09
    e 'Não escreverás na porta'."
  • 15:09 - 15:14
    "Então, virei-me para o Jardim do Amor
    que contém tantas flores formosas
  • 15:14 - 15:20
    "E vi que estava cheia de sepulturas
    e lápides onde devia haver flores.
  • 15:20 - 15:25
    "E padres de sotainas pretas
    faziam as suas rondas.
  • 15:25 - 15:28
    E a atar com sarças
    as minhas alegrias e desejos.
  • 15:32 - 15:33
    "Enquanto a igreja diz:
  • 15:33 - 15:37
    " 'Não deves...' ao álcool, ao sexo,
    e a outros desejos.
  • 15:37 - 15:38
    Blake achava que os desejos
  • 15:38 - 15:41
    deviam ser aceites
    em vez de serem reprimidos.
  • 15:42 - 15:45
    "Aqueles que reprimem o desejo,
  • 15:45 - 15:48
    "fazem-no, porque esse desejo é tão fraco
    que pode ser reprimido
  • 15:48 - 15:52
    "e a repressão vai-se fazendo por níveis
    até se tornar passiva
  • 15:52 - 15:56
    "até ser apenas a sombra do desejo."
  • 15:56 - 15:59
    Também acreditava que os pais
    muitas vezes tentam incutir nos filhos
  • 15:59 - 16:02
    os seus constrangimentos e controlo,
  • 16:02 - 16:05
    logo a partir do momento
    em que eles nascem
  • 16:05 - 16:08
    — como vemos no curto poema
    "Tristeza infantil",
  • 16:08 - 16:10
    em que o bebé enfaixado
    é uma metáfora
  • 16:10 - 16:15
    para todas as formas em que os pais
    e o mundo nos tenta controlar.
  • 16:16 - 16:21
    "Debatendo-me nas mãos do meu pai
    lutando contra as faixas que me prendem
  • 16:21 - 16:26
    "Cansado e farto, achei melhor
    refugiar-me no peito da minha mãe."
  • 16:27 - 16:30
    Contudo é em "London",
    o poema apocalíptico,
  • 16:30 - 16:32
    talvez mais do que qualquer outro,
  • 16:32 - 16:35
    que Blake apresenta o seu poema
    de protesto mais violento.
  • 16:35 - 16:40
    É uma tirada apaixonada contra
    a Revolução Industrial, a monarquia,
  • 16:40 - 16:44
    contra a igreja e um poderoso relato
    da opressão das classes trabalhadoras
  • 16:44 - 16:48
    assim como da pobreza e da hipocrisia
    que Blake via todos os dias,
  • 16:48 - 16:51
    quando andava nas ruas
    de Londres do século XVIII.
  • 16:51 - 16:55
    É assim Blake, na sua forma
    mais política e mais subversiva:
  • 16:56 - 17:00
    "Vagueio pelas ruas
    perto do local onde Tamisa corre.
  • 17:01 - 17:06
    "E reparo em todos os rostos que encontro
    marcas de fraqueza, marcas de sofrimento.
  • 17:07 - 17:11
    "Em cada grito de cada homem
    "Em cada grito de medo de cada criança.
  • 17:11 - 17:16
    "Em cada voz, em cada proibição
    Oiço as algemas que forçam a mente.
  • 17:16 - 17:21
    "Como choram os limpa-chaminés
    em cada igreja que escurece.
  • 17:21 - 17:25
    "E os infelizes soldados suspiram,
    Corre o sangue pelas paredes do palácio.
  • 17:26 - 17:31
    "Mas, pelas ruas da meia-noite,
    oiço como a maldição da jovem prostituta
  • 17:31 - 17:33
    "rebenta as lágrimas dos recém-nascidos
  • 17:33 - 17:37
    "E mancha com pragas
    o cortejo do casamento."
  • 17:37 - 17:40
    6. Um Eterno Apelo às Armas
  • 17:40 - 17:44
    Blake considerava todas as injustiças
    como uma coisa que devia ser combatida,
  • 17:44 - 17:46
    e via a sua arte como
    um "apelo às armas",
  • 17:47 - 17:49
    uma revolta
    contra a tirania de todos os tipos.
  • 17:50 - 17:55
    "Um pisco de peito vermelho numa gaiola
    enfurece o céu."
  • 17:55 - 18:00
    Ele estava a escrever num período
    de significativa agitação política.
  • 18:00 - 18:03
    A Guerra Americana de Independência
    e a Revolução Francesa
  • 18:03 - 18:07
    tinham acendido grandes esperanças
    entre os republicanos, como Blake,
  • 18:07 - 18:09
    de que a tirania
    podia ser derrubada brevemente.
  • 18:10 - 18:14
    Muito à frente do seu tempo,
    Blake condenou o colonialismo e a guerra,
  • 18:14 - 18:17
    a escravatura de todos os tempos,
    a repressão das mulheres,
  • 18:17 - 18:20
    a exploração das crianças e dos animais,
  • 18:20 - 18:23
    e as injustiças duma sociedade
    baseada em classes.
  • 18:24 - 18:26
    Mas enquanto "As Canções
    da Inocência e da Experiência"
  • 18:26 - 18:30
    estão indissociavelmente ligadas
    à revolução e ao radicalismo,
  • 18:30 - 18:34
    também devem a sua existência
    ao misticismo, aos sonhos e às visões,
  • 18:34 - 18:39
    assim como à total rejeição de Blake
    da razão e do racionalismo.
  • 18:39 - 18:44
    Era um verdadeiro artista revolucionário
    com um espírito notável e complexo
  • 18:44 - 18:47
    — e uma imaginação colossal.
  • 18:47 - 18:51
    A sua obra continua
    a assombrar o século XXI.
  • 18:51 - 18:55
    "Uma pintura de William Blake
    vai ser projetada esta noite
  • 18:55 - 18:57
    "na cúpula da catedral de S. Paulo..."
  • 18:57 - 18:59
    William Blake foi um poeta
    que compreendia
  • 18:59 - 19:01
    que as nossas naturezas
    divididas e contraditórias
  • 19:02 - 19:05
    são precisamente aquilo que nos torna
    melhores enquanto seres humanos.
  • 19:06 - 19:10
    São apenas as nossas limitações
    autoimpostas que nos restringem.
  • 19:11 - 19:14
    "Em cada voz, em cada proibição,
  • 19:14 - 19:17
    "Oiço as algemas que forçam a mente."
  • 19:23 - 19:25
    Tradução de Margarida Mariz (2024)
Title:
O mundo radical de William Blake: Great Books Explained
Description:

“Devemos chamar-lhe artista ou génio - ou místico - ou louco? Provavelmente ele é tudo isso.”

O artista e poeta inglês William Blake tinha 32 anos quando os cidadãos de Paris invadiram a prisão da Bastilha, assinalando o início da Revolução Francesa.
Para Blake, a revolução foi uma poderosa fonte de inspiração. Em poucos anos, animado por sonhos de liberdade e revolução, Blake produziu rapidamente várias das suas obras mais significativas, incluindo "Songs of Innocence and of Experience".

Esta coleção enganadoramente simples parece, à primeira vista, ter sido escrita para crianças, e não ser mais do que uma coleção de rimas infantis. Mas escondidas nestes poemas despretensiosos estão ideias radicais. Neles, Blake revela o seu profundo ódio pela autoridade, bem como o seu desprezo pela Igreja e pela monarquia, e exprime a sua profunda crença num dos valores-chave da revolução francesa: a liberdade.

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Video Language:
English
Duration:
19:26

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