O mundo radical de William Blake: Great Books Explained
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0:00 - 0:03Esta é a parte dois de William Blake
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0:03 - 0:06- a parte um encontra-se
em Great Art Explained. -
0:06 - 0:08A ligação está em baixo.
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0:11 - 0:15O artista e poeta inglês William Blake
tinha 32 anos -
0:15 - 0:18quando os cidadãos de Paris
assaltaram a prisão da Bastilha, -
0:18 - 0:21assinalando o início
da Revolução Francesa. -
0:28 - 0:31As ondas de choque fizeram-se sentir
por toda a Europa. -
0:32 - 0:36Para Blake, a Revolução foi
uma fonte poderosa de inspiração. -
0:36 - 0:40Ao fim de poucos anos, impulsionado
pelos sonhos de liberdade e revolução, -
0:40 - 0:45Blake produzira várias das suas obras
mais significativas, -
0:45 - 0:49incluindo
"Canções da Inocência e da Experiência". -
0:49 - 0:52Esta coleção enganadoramente simples
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0:52 - 0:54parece, à primeira vista,
que é escrita para crianças, -
0:54 - 0:58e não passa de uma coleção
de rimas infantis. -
0:58 - 1:02Mas, escondidas por trás desses poemas
sem pretensões, há ideias radicais. -
1:02 - 1:06Neles, Blake revela
o seu profundo ódio pela autoridade -
1:06 - 1:09assim como o seu desprezo
pela igreja e pela monarquia, -
1:09 - 1:11e exprime a sua crença profunda
-
1:11 - 1:14num dos valores fundamentais
da Revolução Francesa: -
1:15 - 1:16a liberdade.
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1:33 - 1:351. Estados contraditórios
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1:35 - 1:39"Canções da Inocência e da Experiência"
foi escrita em duas partes, -
1:39 - 1:43para mostrar os dois estados contrários
da alma humana. -
1:44 - 1:48A primeira coleção "Canções da Inocência"
foi publicada em 1789, -
1:48 - 1:53e a segunda parte
"Canções da Experiência", em 1794. -
1:53 - 1:56Nesse mesmo ano, produziu
uma versão combinada -
1:56 - 2:00de "Canções da Inocência e da Experiência"
que hoje conhecemos. -
2:00 - 2:03Depois imprimiu, coloriu manualmente
e encadernou à mão -
2:03 - 2:06cerca de 20 exemplares
desses conjuntos -
2:06 - 2:08— conforme os patronos
encomendaram — -
2:08 - 2:11cada um deles visualmente diferente.
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2:11 - 2:14A primeira coleção
"Canções da Inocência" -
2:14 - 2:17foi escrita nos primeiros dias
da Revolução Francesa, -
2:17 - 2:21quando Blake e outros idealistas políticos
sonhavam com uma nova Utopia, -
2:21 - 2:25em que se acreditava ser possível
a reforma e a justiça social. -
2:25 - 2:28Na altura em que ele produziu
as "Canções da Experiência" -
2:28 - 2:31tornara-se claro que
a Revolução Francesa tinha falhado, -
2:31 - 2:34e o reino de terror que se seguiu
levara a um banho de sangue -
2:34 - 2:37e à repressão dos pensadores radicais.
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2:38 - 2:41"Canções da Experiência"
são mais sombrios, mais irónicos, -
2:42 - 2:44cheios de amargura e dúvidas.
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2:44 - 2:47Contudo, a divisória entre
as duas coleções nem sempre é estável. -
2:48 - 2:50Blake reordenou os poemas muitas vezes
-
2:50 - 2:52e parece não estar muito seguro
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2:52 - 2:56se determinados poemas encaixam melhor
numa coleção ou na outra. -
2:57 - 3:01Por fim, Blake queria que lêssemos
as duas partes da coleção em conjunto -
3:01 - 3:05e quase certamente imaginou-as
ligadas desde o início. -
3:05 - 3:08Construiu alguns poemas fundamentais
para serem lidos em conjunto -
3:08 - 3:12- por exemplo, o poema chamado
"O Cordeiro" das "Canções da Inocência", -
3:12 - 3:16e um poema oposto, "O Tigre"
em "Canções da Experiência". -
3:16 - 3:20Blake não apresenta esses elementos
contraditórios ou opostos -
3:20 - 3:22como mutuamente exclusivos,
-
3:22 - 3:25mas como parte integrante
da existência um do outro. -
3:26 - 3:29"Sem contrários não há progressão.
-
3:29 - 3:32"A atração e a repulsa,
a razão e a energia, -
3:32 - 3:36"o amor e o ódio, são necessários
à existência humana." -
3:37 - 3:392. Visões e Profecias
-
3:39 - 3:42Desde que viu Deus pela primeira vez
ao espreitar à janela, -
3:42 - 3:46quando tinha quatro anos,
Blake teve centenas de visões. -
3:46 - 3:49Apareciam-lhe anjos e demónios,
-
3:49 - 3:52pintores do Renascimento
abordavam-no nas escadas, -
3:52 - 3:56e conversava regularmente
com santos e profetas da Bíblia. -
3:56 - 3:59Não era o primeiro grande pensador
que tinha visões, -
3:59 - 4:03mas a diferença era
que Blake tinha aptidões criativas -
4:03 - 4:05para exprimir o que vivera.
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4:05 - 4:08Essas visões inspiram
grande parte da sua obra -
4:08 - 4:12e Blake descreve-as em poemas
da Inocência e da Experiência. -
4:13 - 4:16"Assim, ele estava calmo
e, nessa mesma noite, -
4:16 - 4:19"Tom, quando estava a dormir,
teve uma visão espantosa -
4:19 - 4:22"de que milhares de varredores,
Dick, Joe, Ned e Jack, -
4:22 - 4:26"estavam todos fechados
em caixões negros. -
4:26 - 4:29"E apareceu um anjo
que tinha uma chave brilhante -
4:29 - 4:32"e abriu os caixões
e libertou-os a todos. -
4:32 - 4:36"Depois, eles correram pela planície
verdejante, aos saltos, rindo, -
4:36 - 4:39"e lavaram-se num rio
e secaram-se ao sol. -
4:39 - 4:43"Depois, nus e limpos,
deixaram para trás todos os sacos, -
4:43 - 4:46"subiram até às nuvens,
e brincaram com o vento." -
4:47 - 4:50O que é surpreendente
nos encontros visionários de Blake -
4:50 - 4:53é a forma como ele os regista
na sua poesia -
4:53 - 4:56como se fossem experiências normais,
completamente naturais, -
4:56 - 4:59porque, para ele, assim eram.
-
4:59 - 5:02Descrevendo um encontro com um anjo
em "O Casamento do Céu e do Inferno", -
5:02 - 5:04Blake escreve sobre esse encontro
-
5:04 - 5:08numa voz totalmente isenta
de dúvida ou de ironia. -
5:09 - 5:12"Mas, de repente, apanhou-o
pela força, nos seus braços -
5:12 - 5:14"e voou para oeste, pela noite dentro,
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5:14 - 5:17"até nos elevarmos
acima da sombra da Terra: -
5:17 - 5:22"Depois, atirei-me com ele
diretamente de encontro ao Sol, -
5:22 - 5:24"e aí vesti-me de branco."
-
5:25 - 5:27Quando Blake descreveu Jesus
-
5:27 - 5:30no seu poema tardio
"The Everlasting Gospel", -
5:30 - 5:32escreveu como se estivesse a falar
dum adolescente rebelde, -
5:32 - 5:34a falar pelas costas,
-
5:34 - 5:36e não do Filho de Deus.
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5:38 - 5:42"Quando ainda criança ele fugiu
e deixou os pais desgostosos. -
5:42 - 5:44"É esta a corrida que Jesus fez,
-
5:44 - 5:47"humilde para com Deus,
altivo para com os homens, -
5:47 - 5:49"amaldiçoando os governantes
-
5:49 - 5:52"perante o povo.
até ao mais alto dos campanários." -
5:52 - 5:55Os encontros visionários de Blake
são poderosos -
5:55 - 5:58porque sentem-se como encontros reais,
-
5:58 - 6:01e isso porque ele escreveu sobre eles
-
6:01 - 6:05como escreveu sobre todas as coisas,
com uma enorme convicção. -
6:06 - 6:10Disse-se que a indiferença
era impossível para Blake. -
6:10 - 6:14Ele era um poeta com um único sentido
para o poder da imaginação humana. -
6:15 - 6:19Ele acreditava que a maioria das pessoas
vivia encerrada em regras e restrições -
6:19 - 6:22isolada por uma perceção
estreita da realidade -
6:22 - 6:24e pelas limitações dos cinco sentidos.
-
6:24 - 6:27E considerava que era nosso dever
-
6:27 - 6:29libertar-nos dessa visão limitada.
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6:29 - 6:32"Se as portas da perceção
fossem limpas -
6:32 - 6:36"tudo apareceria aos homens
como... infinito." -
6:36 - 6:39Para Blake, há uma experiência
infinita do mundo -
6:39 - 6:42que nos é acessível
na nossa vida diária. -
6:42 - 6:46Ele argumenta que precisamos de olhar
para além do que vemos ou tocamos, -
6:46 - 6:49e expandir a nossa visão do mundo
-
6:49 - 6:52usando a imaginação,
abrindo-nos ao maravilhoso. -
6:53 - 6:57Se o fizermos, até a coisa mais pequena
pode conter mundos inteiros dentro dela -
6:58 - 7:00- mas só se o permitirmos.
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7:01 - 7:05"Ver um mundo num grão de areia
e o céu numa flor selvagem. -
7:05 - 7:10"Segurar o infinito na palma da mão
e a eternidade numa hora." -
7:11 - 7:133. Contradições
-
7:14 - 7:15Blake acreditava
-
7:15 - 7:18que essa visão mais profunda
sobre a condição humana -
7:18 - 7:20provém de compreender e aceitar
-
7:20 - 7:23formas alternativas e opostas
de olhar para o mundo. -
7:23 - 7:26Sentia que s emoções
— as boas e as más — -
7:26 - 7:29deviam exprimir-se livremente,
em vez de serem escondidas -
7:29 - 7:32e que não nos devíamos esquivar
aos conflitos. -
7:33 - 7:38"Eu estava zangado com o meu amigo,
falei-lhe disso e a zanga acabou. -
7:38 - 7:40"Eu estava zangado com o meu inimigo;
-
7:40 - 7:44não lhe disse nada
e a minha ira aumentou." -
7:44 - 7:48O poema de Blake prevê
as posteriores teorias de Sigmund Freud, -
7:48 - 7:51que sugeriu que as emoções reprimidas
-
7:51 - 7:55podem criar posteriormente pensamentos
e comportamentos neuróticos prejudiciais. -
7:55 - 7:57Os efeitos prejudiciais
das emoções reprimidas -
7:57 - 8:01são descritos usando a metáfora alargada
duma árvore venenosa -
8:01 - 8:03que vai crescendo cada vez mais
-
8:03 - 8:06à medida que o orador contém
dentro de si a amargura e o ressentimento. -
8:06 - 8:11"E reguei-o com as minhas lágrimas
de noite e de manhã, em medos. -
8:11 - 8:16"E expu-lo ao sol com sorridos
e com suaves artifícios enganadores. -
8:17 - 8:20"E cresceu dia e noite."
-
8:21 - 8:234. O Tigre e o Cordeiro
-
8:23 - 8:27O poema mais conhecido
na coleção é "O Tigre", -
8:27 - 8:30um retrato de um animal
belo e perigoso -
8:30 - 8:33- e que é ele mesmo
um poema belo e perigoso. -
8:34 - 8:38"Tigre, tigre, ardendo em chamas
nas florestas durante a noite. -
8:38 - 8:43"Que mão ou olho imortal
pode enquadrar a tua terrível simetria?" -
8:44 - 8:47É uma imagem de tudo
o que é sublime na Natureza. -
8:47 - 8:52Para Blake, não se trata apenas
da beleza, mas da ferocidade do tigre, -
8:52 - 8:54que o torna um milagre da Natureza.
-
8:55 - 8:58O tigre representa
o terrível poder de Deus. -
8:59 - 9:03"Em que profundezas ou céus distantes
arde o fogo dos teus olhos?" -
9:04 - 9:08"A que asas ele aspira?
"Que mão se atreve a agarrar o fogo?" -
9:09 - 9:11O poema pergunta-nos:
-
9:11 - 9:15"Que tipo de Deus podia criar uma coisa
tão aterrorizadora, tão perigosa, -
9:15 - 9:18"e, no entanto, tão bela como o tigre?"
-
9:18 - 9:23O imaginário de Blake neste poema
é dramático e apocalíptico: -
9:23 - 9:26"Olhos de fogo, um coração
violentamente retorcido, -
9:26 - 9:29"martelos e correntes
e uma fornalha em brasa. -
9:29 - 9:33"Estrelas que disparam lanças
e um céu banhado em lágrimas. -
9:34 - 9:38"Que martelo? Que correntes?
Em que fornalha estava o teu cérebro? -
9:39 - 9:44"Que bigorna? Que suspiro terrível
ousam os teus terrores mortais agarrar?" -
9:44 - 9:48O poema é uma torrente de perguntas
- todas elas sem resposta. -
9:49 - 9:53O clímax do poema
são os versos finais da quinta estância. -
9:53 - 9:58"Quando as estrelas lançaram as lanças
e regaram o céu com as suas lágrimas -
9:58 - 10:00"ele sorriu ao ver a sua obra?
-
10:01 - 10:03Aquele que fez o cordeiro fez-te a ti?
-
10:04 - 10:06Por outras palavras, o poema pergunta
-
10:06 - 10:09se o mesmo Deus que fez o cordeiro,
-
10:09 - 10:12ou bebés a sorrir,
ou delicadas borboletas, -
10:12 - 10:15pode também criar tigres violentos,
com garras, -
10:15 - 10:18cobras venenosas ou doenças mortais.
-
10:18 - 10:21É uma pergunta que ainda hoje se faz.
-
10:22 - 10:25Chocantemente, é um poema
do século XVIII -
10:25 - 10:28que se atreve a questionar
a benevolência de Deus, -
10:28 - 10:32um poema de admiração
pela variedade do mundo, -
10:32 - 10:34mas com medo de um Deus louco
-
10:34 - 10:38que podia ter criado o universo
e todas as suas dolorosas contradições. -
10:39 - 10:41O cordeiro de "Canções da Inocência"
-
10:41 - 10:45começa com uma pergunta muito semelhante
à pergunta feita em "O Tigre". -
10:45 - 10:47"Cordeirinho, quem te fez?"
-
10:47 - 10:51Mas o tom deste poema
e a atitude para com Deus -
10:51 - 10:53é totalmente diferente.
-
10:53 - 10:57"Cordeirinho, quem te fez?
Sabes quem te fez? -
10:57 - 11:01"Quem te deu vida e mandou-te alimentar
junto ao riacho e no prado? -
11:02 - 11:06"Quem te deu uma roupa de delícia,
a mais suave roupa de lã brilhante. -
11:06 - 11:11"Quem te deu uma voz tão terna
que alegra todos os vales?" -
11:11 - 11:14Neste alegre poema que parece uma canção
-
11:14 - 11:16somos levados a pensar num Deus
-
11:16 - 11:19não como o temível criador
de um mundo perigoso -
11:19 - 11:22mas, pelo contrário, como uma força
protetora e reconfortante, -
11:22 - 11:24que nos dá o dom da vida,
-
11:24 - 11:27assim como a roupa para usar
e os alimentos para comer. -
11:28 - 11:32"Ele é manso e suave!
Tornou-se uma criancinha. -
11:32 - 11:36"Eu sou uma criança e tu és um cordeiro.
Somos chamados pelo seu nome. -
11:37 - 11:41"Cordeirinho, Deus te abençoe,
Cordeirinho, Deus te abençoe." -
11:42 - 11:46Neste poema, o orador explica
que Deus também já foi criança, -
11:46 - 11:48na forma de Jesus
-
11:48 - 11:51— também conhecido na Bíblia
como o Cordeiro de Deus — -
11:51 - 11:54e estes termos sublinham
a condição vulnerável -
11:54 - 11:57e a capacidade de relação de Deus.
-
11:57 - 12:00Os dois poemas, "O Tigre" e "O Cordeiro",
-
12:00 - 12:02oferecem duas formas diferentes
de olhar para Deus, -
12:03 - 12:07uma forma inocente, em que Deus
é uma fonte de simpatia e consolação, -
12:07 - 12:09e uma forma resultante da experiência
-
12:09 - 12:13em que Deus é todo-poderoso
temível e intocável. -
12:13 - 12:16Juntos, demonstram como o bem e o mal
-
12:16 - 12:19podem existir simultaneamente
sob o mesmo Deus. -
12:19 - 12:23Pedem-nos que consideremos formas
"opostas" de pensar no mundo, -
12:24 - 12:29para questionarmos os nossos preconceitos,
e também a nossa ingenuidade. -
12:29 - 12:33"É de esperar veneno nas águas paradas."
-
12:33 - 12:37Ou, dizendo de outro modo, estagnamos
se formos casmurros nas nossas opiniões, -
12:37 - 12:40e isso inevitavelmente envenena-nos.
-
12:46 - 12:50Uma das principais preocupações temáticas
em "Canções da Inocência e da Experiência" -
12:50 - 12:52é a autoridade.
-
12:52 - 12:55Estes são poemas cheios
de figuras de autoridade, simbólicas: -
12:55 - 12:58pais e padres, enfermeiras e anjos,
-
12:58 - 13:01pessoas que têm o poder
de castigar ou de proteger. -
13:01 - 13:03Em "Canções da Inocência",
-
13:03 - 13:05os poemas são habitualmente
ditos por personagens -
13:05 - 13:07que têm um profundo sentido
de fé e confiança -
13:07 - 13:10nas figuras de autoridade à sua volta.
-
13:10 - 13:12Viver no mundo da inocência
-
13:12 - 13:15é ter uma ligação
com Deus e com a Natureza, -
13:15 - 13:17um sentimento de espiritualidade
e de objetivo. -
13:18 - 13:20Sentir-se acarinhado
pelos que estão no poder -
13:20 - 13:22e ser guiado por eles.
-
13:22 - 13:25"A minha mãe ensinou-me
à sombra duma árvore -
13:25 - 13:27"e, ali sentados, antes do calor do dia
-
13:27 - 13:29"pegou-me ao colo e beijou-me
-
13:29 - 13:32"e, apontando para o oriente,
começou a dizer: -
13:32 - 13:36"Olha para o nascer do Sol,
é ali que Deus vive. -
13:36 - 13:39"E dá-nos a sua luz
e dá-nos o seu calor. -
13:39 - 13:42"E as flores e árvores e animais
e os homens -
13:42 - 13:46"recebem o conforto de manhã,
alegria ao meio-dia." -
13:46 - 13:49Nos poemas da "Inocência"
encontramos figuras de autoridade -
13:49 - 13:52que estão li para nos proteger
e olhar por nós, -
13:52 - 13:56como enfermeiras, pastores, anjos
e mães amáveis e professoras, -
13:56 - 13:59mas não nos oprimem nem nos restringem.
-
13:59 - 14:01Pelo contrário, ensinam-nos a agir,
-
14:01 - 14:04e dão-nos espaço para fazermos
as nossas escolhas. -
14:04 - 14:07"E somos colocados na Terra,
num pequeno espaço -
14:08 - 14:11"onde podemos aprender a suportar
os raios do amor. -
14:12 - 14:13Em profundo contraste,
-
14:13 - 14:16nos posteriores poemas
de "Canções da Experiência", -
14:16 - 14:19encontramos padres
que batem em crianças na igreja, -
14:19 - 14:22e fazem regras sobre
o que nos é permitido fazer, -
14:22 - 14:26assim como pais impiedosos
que nos embrulham em faixas, -
14:26 - 14:29ou nos fazem ficar envergonhados
quando nos apaixonamos, -
14:29 - 14:32ou cruéis professores escolares
que nos ensinam regras à pancada -
14:32 - 14:33quando somos novos.
-
14:33 - 14:35Nos últimos poemas de "Experiência",
-
14:35 - 14:38os poemas são escritos
na perspetiva de um cinismo terrível, -
14:38 - 14:41e as personagens de Blake
parecem cansadas da vida. -
14:41 - 14:45E, muitas vezes, têm ódio
ou medo da autoridade. -
14:45 - 14:49"Como é que a ave
que nasceu para a alegria -
14:49 - 14:51"consegue cantar numa gaiola?"
-
14:52 - 14:55Blake sentia-se frustrado pela forma
como a religião organizada -
14:55 - 14:57impunha regulamentos em todas as coisas,
-
14:57 - 15:01desde o que comemos ou bebemos
até à nossa vida sexual. -
15:02 - 15:05"E os portões desta capela foram fechados
-
15:05 - 15:09e 'Não escreverás na porta'."
-
15:09 - 15:14"Então, virei-me para o Jardim do Amor
que contém tantas flores formosas -
15:14 - 15:20"E vi que estava cheia de sepulturas
e lápides onde devia haver flores. -
15:20 - 15:25"E padres de sotainas pretas
faziam as suas rondas. -
15:25 - 15:28E a atar com sarças
as minhas alegrias e desejos. -
15:32 - 15:33"Enquanto a igreja diz:
-
15:33 - 15:37" 'Não deves...' ao álcool, ao sexo,
e a outros desejos. -
15:37 - 15:38Blake achava que os desejos
-
15:38 - 15:41deviam ser aceites
em vez de serem reprimidos. -
15:42 - 15:45"Aqueles que reprimem o desejo,
-
15:45 - 15:48"fazem-no, porque esse desejo é tão fraco
que pode ser reprimido -
15:48 - 15:52"e a repressão vai-se fazendo por níveis
até se tornar passiva -
15:52 - 15:56"até ser apenas a sombra do desejo."
-
15:56 - 15:59Também acreditava que os pais
muitas vezes tentam incutir nos filhos -
15:59 - 16:02os seus constrangimentos e controlo,
-
16:02 - 16:05logo a partir do momento
em que eles nascem -
16:05 - 16:08— como vemos no curto poema
"Tristeza infantil", -
16:08 - 16:10em que o bebé enfaixado
é uma metáfora -
16:10 - 16:15para todas as formas em que os pais
e o mundo nos tenta controlar. -
16:16 - 16:21"Debatendo-me nas mãos do meu pai
lutando contra as faixas que me prendem -
16:21 - 16:26"Cansado e farto, achei melhor
refugiar-me no peito da minha mãe." -
16:27 - 16:30Contudo é em "London",
o poema apocalíptico, -
16:30 - 16:32talvez mais do que qualquer outro,
-
16:32 - 16:35que Blake apresenta o seu poema
de protesto mais violento. -
16:35 - 16:40É uma tirada apaixonada contra
a Revolução Industrial, a monarquia, -
16:40 - 16:44contra a igreja e um poderoso relato
da opressão das classes trabalhadoras -
16:44 - 16:48assim como da pobreza e da hipocrisia
que Blake via todos os dias, -
16:48 - 16:51quando andava nas ruas
de Londres do século XVIII. -
16:51 - 16:55É assim Blake, na sua forma
mais política e mais subversiva: -
16:56 - 17:00"Vagueio pelas ruas
perto do local onde Tamisa corre. -
17:01 - 17:06"E reparo em todos os rostos que encontro
marcas de fraqueza, marcas de sofrimento. -
17:07 - 17:11"Em cada grito de cada homem
"Em cada grito de medo de cada criança. -
17:11 - 17:16"Em cada voz, em cada proibição
Oiço as algemas que forçam a mente. -
17:16 - 17:21"Como choram os limpa-chaminés
em cada igreja que escurece. -
17:21 - 17:25"E os infelizes soldados suspiram,
Corre o sangue pelas paredes do palácio. -
17:26 - 17:31"Mas, pelas ruas da meia-noite,
oiço como a maldição da jovem prostituta -
17:31 - 17:33"rebenta as lágrimas dos recém-nascidos
-
17:33 - 17:37"E mancha com pragas
o cortejo do casamento." -
17:37 - 17:406. Um Eterno Apelo às Armas
-
17:40 - 17:44Blake considerava todas as injustiças
como uma coisa que devia ser combatida, -
17:44 - 17:46e via a sua arte como
um "apelo às armas", -
17:47 - 17:49uma revolta
contra a tirania de todos os tipos. -
17:50 - 17:55"Um pisco de peito vermelho numa gaiola
enfurece o céu." -
17:55 - 18:00Ele estava a escrever num período
de significativa agitação política. -
18:00 - 18:03A Guerra Americana de Independência
e a Revolução Francesa -
18:03 - 18:07tinham acendido grandes esperanças
entre os republicanos, como Blake, -
18:07 - 18:09de que a tirania
podia ser derrubada brevemente. -
18:10 - 18:14Muito à frente do seu tempo,
Blake condenou o colonialismo e a guerra, -
18:14 - 18:17a escravatura de todos os tempos,
a repressão das mulheres, -
18:17 - 18:20a exploração das crianças e dos animais,
-
18:20 - 18:23e as injustiças duma sociedade
baseada em classes. -
18:24 - 18:26Mas enquanto "As Canções
da Inocência e da Experiência" -
18:26 - 18:30estão indissociavelmente ligadas
à revolução e ao radicalismo, -
18:30 - 18:34também devem a sua existência
ao misticismo, aos sonhos e às visões, -
18:34 - 18:39assim como à total rejeição de Blake
da razão e do racionalismo. -
18:39 - 18:44Era um verdadeiro artista revolucionário
com um espírito notável e complexo -
18:44 - 18:47— e uma imaginação colossal.
-
18:47 - 18:51A sua obra continua
a assombrar o século XXI. -
18:51 - 18:55"Uma pintura de William Blake
vai ser projetada esta noite -
18:55 - 18:57"na cúpula da catedral de S. Paulo..."
-
18:57 - 18:59William Blake foi um poeta
que compreendia -
18:59 - 19:01que as nossas naturezas
divididas e contraditórias -
19:02 - 19:05são precisamente aquilo que nos torna
melhores enquanto seres humanos. -
19:06 - 19:10São apenas as nossas limitações
autoimpostas que nos restringem. -
19:11 - 19:14"Em cada voz, em cada proibição,
-
19:14 - 19:17"Oiço as algemas que forçam a mente."
-
19:23 - 19:25Tradução de Margarida Mariz (2024)
- Title:
- O mundo radical de William Blake: Great Books Explained
- Description:
-
“Devemos chamar-lhe artista ou génio - ou místico - ou louco? Provavelmente ele é tudo isso.”
O artista e poeta inglês William Blake tinha 32 anos quando os cidadãos de Paris invadiram a prisão da Bastilha, assinalando o início da Revolução Francesa.
Para Blake, a revolução foi uma poderosa fonte de inspiração. Em poucos anos, animado por sonhos de liberdade e revolução, Blake produziu rapidamente várias das suas obras mais significativas, incluindo "Songs of Innocence and of Experience".Esta coleção enganadoramente simples parece, à primeira vista, ter sido escrita para crianças, e não ser mais do que uma coleção de rimas infantis. Mas escondidas nestes poemas despretensiosos estão ideias radicais. Neles, Blake revela o seu profundo ódio pela autoridade, bem como o seu desprezo pela Igreja e pela monarquia, e exprime a sua profunda crença num dos valores-chave da revolução francesa: a liberdade.
- Video Language:
- English
- Duration:
- 19:26
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Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for The Radical world of William Blake: Great Books Explained | |
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