A história de uma harpista negra | Ann Hobson | TEDxBeaconStreet

Ann Hobson Pilot, a harpista principal de longa data da Orquestra Sinfônica de Boston toca um belo solo de harpa para a composição do argentino Astor Piazzolla, enquanto compartilha alguns dos seus desafios como a primeira musicista afro-americana, tanto na Orquestra Sinfônica Nacional de Washington como na Orquestra Sinfônica de Boston, em meados da década de 1960.
Ao se aposentar em 2009, após uma carreira de 40 anos com a Orquestra Sinfônica de Boston, foi realizado um concerto apresentando o solo de harpa composto especialmente para Ann pelo famoso compositor John Williams. Ela apresentou o concerto no Symphony Hall em Boston, no Carnegie Hall em Nova York e com muitas orquestras por todo o país.
Ann foi, também, solista de orquestras internacionais na Argentina, Nova Zelândia, África do Sul e Canadá. Possui vários CDs lançados, incluindo um chamado "Escualo", contendo a música de Piazzolla, com a violinista Lucia Lin e JP Jofre no bandoneón. O seu CD mais recente intitula-se "A Dream" ("Um Sonho") e é uma compilação de lindas músicas meditativas para harpa que inclui "Chiquilin de Bachin".

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx

(Solo de harpa)

Meu nome é Ann Hobson Pilot.

(Música termina)

Eu fui abençoada por ter desfrutado
de uma carreira gratificante e de sucesso

como harpista clássica,

primeiro na Orquestra Sinfônica
Nacional de Washington, por 3 anos,

e depois por 40 anos,

na Orquestra Sinfônica de Boston;

foram 29 anos como harpista principal.

Este é um momento

em que parte de nosso país

tem começado a entender
e a lidar com seu passado racista.

Você pode imaginar como foi a minha vida

como a primeira afro-americana
nessas duas orquestras

em meados de 1960.

Lembro-me do meu primeiro dia de trabalho
na Orquestra Sinfônica de Boston.

Foi meu primeiro ensaio.

Cheguei cedo

para afinar minha harpa e me aquecer.

Um membro antigo da orquestra
veio diretamente até a mim.

Eu esperava que ele dissesse:
"Bem-vinda à orquestra"

ou outras palavras educadas.

Ao invés disso, ele me encarou e disse:

"Seu frango frito deve ser delicioso".

Para quem não compreende
o que isso significa,

frango frito é uma das principais
concepções racistas contra os negros.

Pensei que tivesse obtido sucesso

quando ganhei a audição
para a Sinfônica de Boston,

mas com essas poucas palavras,
aquele homem tentou me inferiorizar.

Felizmente, tenho bom senso de humor,

o qual usei naquele momento
e em muitos outros depois.

Em Washington, havia problemas
mais tradicionais em relação à raça,

principalmente por nossas apresentações
serem, em sua maioria, no Sul.

Era muito comum não conseguir comer
em certos restaurantes, naquela época,

mas eu podia me hospedar
nos hotéis com a orquestra.

Não vou dizer que foi fácil

navegar naquele mundo branco
da música clássica tão exclusivo,

então estou muito contente em ver
que o mundo está mudando.

Mesmo que seja bem devagar.

Ver os protestos nas ruas
por justiça racial

me dá esperanças para um futuro
com um melhor cenário racial.

Irei tocar uma linda peça

do compositor argentino Astor Piazzolla,

chamada "Chiquilín de Bachín".

Eu me apaixonei por essa peça
e outros trabalhos de Piazzolla

após me aposentar da Sinfônica de Boston
cerca de dez anos atrás.

Eu a ouvi pela primeira vez com um cantor,

como a peça foi originalmente composta.

Não consegui entender
as palavras em espanhol,

mas encontrei uma tradução para o inglês.

É uma história muito triste e sombria

sobre um jovem menino que é tão pobre

que se alimenta com restos
das latas de lixo e não tem sapatos.

Ele consegue uns trocados

vendendo rosas em uma cafeteria
de Buenos Aires,

a Cafeteria Bachín.

Não havia arranjos para solo de harpa,

então pedi ao Michael Maganuco
que escrevesse um para mim.

Michael é harpista e compositor,

e ele escreveu esse belo arranjo
para solo de harpa.

Acredito que essa peça se harmoniza
muito bem com a harpa,

com seu tom afetuoso e memorável.

Usarei técnicas diferentes
para variar os timbres,

tocando no meio das cordas,

como normalmente,

ou na parte baixa delas,

produzindo sons que lembram sinos
chamados de harmônicos,

e notas graves nas cordas de arame
com a mão aberta.

Esta é uma peça dolorosa e meditativa,

que espero irá proporcionar
alguma tranquilidade

neste momento estressante e desafiador
de pandemia e agitação social.

[CHIQUILÍN DE BACHÍN
Astor Piazzolla (1968)]

[Arranjo de solo de harpa
de Michael Maganuco]

[Dedicado a Ann Hobson Pilot]

(Solo de harpa)

(Música termina)