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Devemos saber que
praticar meditação significa parar.
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Parar é uma prática muito importante.
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Em sino-vietnamita, diz-se chỉ (止).
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Porque é que temos de parar?
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O que é que estamos a parar, exatamente?
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Antes de mais,
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podemos dizer que parar significa
parar a nossa fuga de casa.
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Porque provavelmente estamos a fugir de casa.
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Cada um de nós tem...
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uma casa.
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Todos temos antepassados.
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Todos temos pais.
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Todos temos raízes.
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Todos temos as potencialidades
para experimentar felicidade e paz interior.
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Mas, por causa de algum acontecimento marcante
ou por alguma razão infeliz, temos...
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fugido de casa.
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E,
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"parar" aqui
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significa parar essa nossa fuga de casa.
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Chegámos à realização de que
temos andado a fugir de casa,
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e queremos parar.
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Quando fugimos de casa,
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é quando...
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nos deparamos com sofrimentos, desventuras ou perigos.
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Podemos perder a vida,
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isto é, podemos morrer.
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Com isso, falhamos em corresponder ao amor
e à confiança dos nossos antepassados,
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do nosso povo,
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das...
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das...
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nossas raízes.
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Alphonse Daudet escreveu
um conto chamado...
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A Cabra do Senhor Seguin, ou
"La chèvre de Monsieur Seguin".
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No jardim do Sr. Seguin,
havia muitas flores e erva.
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E ele amava muito a sua cabrinha.
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Queria que ela fosse feliz
vivendo dentro dos limites do seu jardim,
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que estava sempre repleto de erva e água.
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Mas, por viver ali tanto tempo,
a cabrinha começou a aborrecer-se. Então, um dia...
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saltou para fora.
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O Sr. Seguin sabia que seria
extremamente perigoso para a sua cabra,
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porque, lá fora,
mais cedo ou mais tarde, seria comida pelos lobos.
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Por isso disse-lhe: "Minha filha, nunca te aventures
para lá dos limites do jardim. É muito perigoso."
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Mas...
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a cabra do Sr. Seguin não deu ouvidos às suas palavras.
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Então ele disse:
"Se assim é, terei de te fechar de novo."
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E assim fez—levou-a para o curral
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e trancou-a.
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Mas esqueceu-se de fechar a janela.
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Então, ao entardecer,
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a cabra saltou pela janela
e foi para a floresta.
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Nessa noite, encontrou um lobo.
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Ao perceber
que a sua cabra tinha fugido,
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o Sr. Seguin foi para o jardim,
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pegou num chifre e
começou a soprar para chamá-la de volta.
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Enquanto isso, a cabra enfrentava o lobo.
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Ela teve de—sozinha—defender-se do lobo.
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Como escreveu Alphonse Daudet,
esta cabra lutou com coragem—durante toda a noite—contra o lobo.
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Pois bem,
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na manhã seguinte, ao nascer do sol,
a cabra estava completamente exausta, e o lobo devorou-a.
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Daudet disse que,
na véspera,
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quando viu o lobo aproximar-se,
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ela fez o som: "Huuu-huuu.
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Huuu-huuu-huuu."
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E, nesse momento, também ouviu
o som do chifre do Sr. Seguin,
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como se dissesse:
"Volta, minha filha! Volta!" Mas já era tarde demais.
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O lobo já estava lá.
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E a cabra lutou
contra o lobo durante toda a noite.
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Resistiu até ao amanhecer,
quando caiu de cansaço, e o lobo a comeu.
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Dentro de cada um de nós, há...
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uma cabra do Sr. Seguin.
Temos essa tendência de querer fugir de casa,
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abandonar os nossos antepassados, avós,
pais, cultura e raízes.
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A semente da fuga e a potencialidade de nos tornarmos
uma alma solitária ou um fantasma faminto existem em cada um de nós.
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Se olharmos para trás,
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pode acontecer que percebamos
que o nosso passado
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é como um sonho.
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Ao despertarmos de repente,
queremos voltar.
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Há muito tempo, houve um estudante
que falhou num exame.
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A caminho de casa, como se sentia
muito cansado e com fome,
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parou numa cabana de colmo
onde vivia um eremita.
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Era ao entardecer.
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Ao ver o jovem estudante desesperado e aflito,
o eremita sentiu compaixão
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e acolheu-o.
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"Entra e descansa um pouco aqui!
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Estou a meio de preparar uma panela
de papa de milho-painço."
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Hạt kê, em vietnamita, significa milho-painço.
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"Quando a papa estiver pronta,
partilhamos uma tigela juntos!"
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O eremita levava uma vida muito simples.
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Então, o jovem adormeceu, e
no seu sonho, viu que tinha passado no exame...
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no exame imperial, o que o tornava
qualificado como o melhor diplomado
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(ou seja, ông nghè ou trạng nguyên em vietnamita).
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Por causa disso, foi favorecido pelo imperador,
que ordenou que lhe dessem a mão da princesa em casamento
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e o considerou para um cargo de alto escalão
no palácio imperial,
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prometendo-lhe grande fama e poder.
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Nesse ano, os inimigos invadiram as fronteiras.
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O imperador, seu sogro, ordenou-lhe
que liderasse um exército
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para expulsar os invasores das fronteiras. Mas...
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como não tinha aptidão para as artes militares,
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sofreram a pior derrota de todas.
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Por isso, o imperador ordenou que fosse decapitado.
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No local da execução,
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quando os soldados se alinharam
e tocaram o tambor três vezes,
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sinalizando o momento da decapitação,
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o jovem gritou.
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E quando gritou assim, no sonho,
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o eremita
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tocou-lhe suavemente no ombro algumas vezes
para o acordar.
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Ao despertar,
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o jovem estudante apercebeu-se
de que ainda estava deitado em segurança na cabana do eremita.
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O eremita tinha estado sentado ao seu lado,
a vigiar a panela de papa de milho-painço.
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A sorrir, o eremita olhou para ele e disse:
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“Que sono tão profundo, hã?
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A papa já está pronta.
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Vem comer comigo!”
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Então começou a cair-lhe a ficha:
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num sonho que durou apenas
o tempo de cozer uma panela de papa de milho-painço,
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tinha vivido tantas voltas da vida,
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tantos altos e baixos,
tantas alegrias e dores—
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desde passar no exame imperial com a melhor nota,
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a casar com a princesa,
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a ser promovido,
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a ir à guerra contra os inimigos
e regressar de mãos vazias,
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até ser levado ao local de execução
para ser decapitado.
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Todos esses acontecimentos, tudo o que viveu
nesse sonho, foi imenso.
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Mas tudo isso aconteceu num espaço de tempo
equivalente ao de cozinhar uma simples panela de papa.
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Despertando sobressaltado,
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perguntou a si mesmo:
“O que é que eu ando realmente a perseguir?
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O que é que me tem arrastado durante todo este tempo?”
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Uma borboleta,
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uma flor,
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uma nuvem,
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ou um fio de cabelo.
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Qualquer uma destas coisas pode ter sido
o que nos afastou da nossa terra natal, das nossas raízes, dos nossos antepassados.
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Por causa delas, fugimos de casa.
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Ao acordarmos, graças a um eremita, compreendemos que:
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este é o momento de regressar a casa.
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Fugimos durante tanto tempo.
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Arruinámos a nossa vida o suficiente.
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Este é o momento de voltar.
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Voltar às raízes.
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Voltar aos nossos antepassados.
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Voltar...
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à nossa verdadeira casa.
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Voltar à nossa paz interior,
felicidade e liberdade.
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No budismo vietnamita,
existem os termos trôi lăn (“derivar e rolar”)
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e chìm đắm (“afundar e submergir”).
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Na nossa fuga,
perdemo-nos constantemente,
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derivando, rolando, afundando e submergindo.
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E esse “derivar e rolar”...
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[Toque de relógio]
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Luân significa...
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“rolar”, “girar” ou
“movimentar-se em círculos”.
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É uma roda
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que continua a girar.
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Quando continuamos a mover-nos ou a girar (luân), perdemo-nos,
ficamos desorientados (lạc). Isso chama-se luân lạc.
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Esse rodar prossegue, sem parar,
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em cada momento.
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Pode parecer engraçado ao dizê-lo,
mas todos andamos a rolar assim.
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Nas fotografias, não se vê isso.
Mas no nosso coração e mente, estamos a rolar.
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Rolamos de um lugar para outro.
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Estamos a ser arrastados,
a perder o rumo, a rolar.
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E trầm
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significa “afundar” ou “submergir”.
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Quando alguém se afunda e submerge (chìm đắm),
deriva e rola (trôi lăn), chama-se trầm luân.
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Por isso, quando abrimos a porta
e entramos na sala de meditação, recitamos o gatha “Sentar-se”:
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"Vào thiền đường,
"Ao entrar na sala de meditação,
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Thấy chân tâm.
Vê-se a verdadeira mente.
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Một ngồi xuống,
Ao sentar-se,
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Dứt trầm luân."
Cessa-se o afundar, submergir, derivar e rolar."
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Entramos na sala de meditação
para pôr fim a todo o derivar e rolar.
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Temos andado a derivar e rolar
no nosso coração-mente e nos nossos pensamentos.
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O nosso derivar e rolar acontece a cada segundo,
a cada minuto da nossa vida quotidiana.
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Por vezes, parece que estamos a vestir o nosso manto,
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a juntar as palmas das mãos,
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a caminhar ou a estar de pé,
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mas, na verdade, há um vaguear e um rebolar
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a acontecer no nosso coração e mente.
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Quando a comunidade caminha em meditação,
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em princípio, todos estão a habitar
em paz na consciência plena,
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dando cada passo com solidez e liberdade,
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e trazendo para o coração e para a mente
a paz e a alegria (da prática). Mas embora
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estejamos a caminhar em meditação com a comunidade,
temos andado a vaguear, a rebolar,
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... a afundar-nos e a afogar-nos
mesmo enquanto caminhamos.
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A comunidade está sentada em meditação,
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e todos na comunidade estão a praticar
a consciência plena da respiração,
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isto é, "Ao inspirar, sei que estou a inspirar.
Ao expirar, sei que estou a expirar.
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Ao inspirar, encontro a minha mente serena e tranquila.
Ao expirar, nasce um meio-sorriso nos meus lábios."
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Enquanto todos praticam assim,
embora estejamos sentados na almofada
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e voltados para a parede como todos,
temos andado a vaguear e a rebolar nas nossas almofadas.
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A comunidade está a comer em nobre silêncio,
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colocando a mente e a atenção na comida,
nos dons da terra e do céu.
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Os seus corações e mentes sentem-se felizes
por estarem rodeados
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de Irmãos e Irmãs monásticos,
e daqueles...
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das comunidades locais de prática.
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Há felicidade e paz interior.
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Entretanto, estamos a segurar a nossa tigela de esmolas
e a comer em silêncio como qualquer pessoa,
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mas no nosso coração e na nossa mente, fugimos,
-
e temos andado a afundar-nos e a afogar-nos.
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Assim, essa fuga, esse afundar e afogar
acontecem a cada minuto e a cada segundo dentro de nós.
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Por isso, praticar meditação mindfulness significa,
antes de mais, parar toda a fuga.
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Quando abrimos a porta da sala de meditação
e damos um passo dentro dela, temos consciência de que:
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"Ao entrar na sala de meditação,
vê-se a verdadeira mente.
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Uma vez sentado,
todo o afundar, afogar, vaguear e rebolar termina."
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Com apenas um passo, podemos regressar
imediatamente à nossa verdadeira casa,
-
e podemos pôr fim a toda a fuga.
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Pôr fim à fuga — ou parar —
é um processo de treino e prática.
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Não importa se ficamos aqui
7 dias, 10 dias ou 3 meses.
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Esses 7 dias, 10 dias ou 3 meses
-
são para praticarmos
o fim da fuga.
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Pomos fim a essa fuga enquanto comemos,
-
caminhamos em meditação,
-
trabalhamos e servimos a comunidade,
-
e nos sentamos em meditação.
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Não há um momento em que não estejamos a praticar
o regresso à nossa verdadeira casa, o fim da fuga.
-
Os nossos antepassados
-
ou as nossas raízes
-
estão sempre...
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a chamar-nos de volta a casa.
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Mas não estamos suficientemente quietos para ouvir esse chamamento.
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O Sr. Seguin tinha tirado...
-
a sua trompa,
-
a sua corneta, para tocar.
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Ele amava muito a sua cabra.
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Mas a cabra do Sr. Seguin
não queria voltar para casa
-
até se deparar com o lobo.
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No momento em que encontrou o lobo,
aquele som da corneta — aquele chamamento —
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deixou de operar os seus milagres.
Mesmo que a cabra quisesse voltar, já era demasiado tarde.
-
Por isso,
-
quando o regresso a casa ainda é possível, fá-lo.
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A nossa fuga de casa
tornou-se um hábito,
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ou seja, uma energia de hábito.
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Quando praticamos, precisamos de aprender
a reconhecer essa energia de hábito.
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Caminhamos como se fôssemos perseguidos por um fantasma.
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Comemos como se a nossa casa estivesse a arder
— não conseguimos estar quietos.
-
Sentamo-nos como se houvesse fogo...
-
debaixo das nossas nádegas
— não conseguimos estar quietos.
-
Sempre com a sensação de que temos de nos levantar
-
e fugir.
-
E isso tornou-se um hábito.
-
Quando nos apercebemos de que temos mesmo de regressar,
-
precisamos de reconhecer com êxito essa energia de hábito.
Sempre que as energias de hábito de fugir de casa,
-
de inquietação,
-
de não conseguirmos habitar pacificamente
no momento presente — se manifestarem em nós,
-
temos de as reconhecer. Por isso,...
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a prática
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de parar
-
anda de mãos dadas com a prática de simplesmente reconhecer,
sem julgamento, os nossos hábitos ou energias de hábito nocivos.
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A caminhada em plena consciência, por exemplo,
é um método maravilhoso para praticar o parar.
-
Na Persimmon Village
(nota: nome anterior de Plum Village),
-
se és principiante,
-
assegura-te de que praticas o parar
através da caminhada em plena consciência.
-
Embora caminhemos,
já parámos.
-
Não importa para onde vais,
-
sempre que surgir a necessidade
de ir de um lugar para outro,
-
pratica a meditação caminhando da mesma forma.
-
Porque a meditação caminhando
é uma forma maravilhosa de praticar o parar.
-
O termo sino-vietnamita thiền hành (禅行)
significa đi thiền em vietnamita comum.
-
Caminha-se com a mente tranquila.
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Do nosso quarto até à sala de meditação,
-
do nosso quarto até à cozinha,
-
ou do nosso quarto até à casa de banho,
-
— sempre que houver necessidade de caminhar,
-
mesmo que só sejam 4 ou 5 passos até lá,
aplica o método da meditação caminhando da mesma forma.
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Claro que, todos os dias, temos a oportunidade
de praticar a meditação caminhando com a comunidade.
-
Mas se só praticarmos
uma vez por dia, não é suficiente,
-
porque o hábito de vaguear e rebolar
está profundamente enraizado em nós.
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Vagueamos 23 horas por dia.
Se só praticarmos meditação caminhando uma hora por dia,
-
como poderemos contrariar essas 23 horas?
-
Por isso, precisamos de praticar
a meditação caminhando ao longo de todo o dia.
-
Sempre que surgir a necessidade de ir de um lugar
para outro, devemos praticar a meditação caminhando.
-
Em Persimmon Village, é isso que fazemos.
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Se ficarmos aqui durante 7 dias,
praticamos isso durante 7 dias.
-
Se ficarmos 10 dias,
praticamos isso durante 10 dias.
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Não deixes que nenhum passo fique sem prática.
Seria um desperdício.
-
Havia uma jovem a trabalhar em Paris.
-
Todas as manhãs, bem cedo, ela tinha de tomar o pequeno-almoço
-
e apanhar o metro para ir trabalhar.
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Muitas vezes, tinha de correr
-
para apanhar
-
um comboio do metro.
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Um dia,
-
ao entrar num elevador,
-
deparou-se com uma senhora idosa
que já lá estava, em pé.
-
Ela disse “Bom dia,” e...
-
começou a queixar-se
-
de que correr a vida inteira
-
tornava a vida indigna de ser vivida.
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Quando as pessoas se encontram, têm de dizer algo.
-
E foi isso que ela disse à outra senhora:
-
"Il faut toujours courir comme ça,
ce n'est pas la vie, hein?"
-
A senhora idosa olhou-a de cima a baixo.
-
Depois disse: “Bem, ao menos
ainda tens duas pernas fortes para correr.
-
Eu não tenho esperança. Se correr, caio...
-
logo para a frente.”
-
Essa jovem não sabia
que estava a ter felicidade.
-
Essa é a verdade.
-
Ter duas pernas fortes
-
é uma felicidade imensa.
-
Só é preciso andar em meditação,
ou correr, para que a felicidade seja possível.
-
E essa felicidade está fora do alcance do braço —
ou fora do alcance da perna daquela mulher idosa.
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Por mais que
ela quisesse correr, não conseguia.
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Vamos imaginar que há um astronauta
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que é enviado para a Lua
-
para algum tipo de investigação.
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A sua nave tem um problema,
e ele não consegue regressar à Terra.
-
E os seus tanques de oxigénio
-
só têm capacidade para mais 3 ou 4 dias.
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Ele sabe que a morte é iminente,
-
porque, em Houston (Texas, EUA),
-
as pessoas não terão tempo suficiente para enviar
outra nave até à Lua para o trazer de volta.
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Isto é apenas ficção.
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Sabendo que ficará sem oxigénio
em 4 dias e que a morte se aproxima,
-
podemos perguntar-nos em que é que esse astronauta pensa,
-
com o que sonha.
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O que é a felicidade?
-
Parece que, na Lua,
não se pode andar em meditação.
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Como a gravidade é diferente,
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só se pode saltar, não andar.
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Bem, ele sente saudades da Terra, do seu planeta natal
— de como é belo.
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Da Lua, olhando para cima
— não para baixo —
-
ao olhar para o planeta Terra,
ele sente-se profundamente tocado.
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Uma esfera azul.
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Já viste fotografias tiradas do planeta Terra
a partir do espaço? É verdadeiramente majestosa!
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Se olharmos com muita atenção,
podemos aperceber-nos de que estamos...
-
a caminhar sobre ela,
-
a ver esquilos a trepar às nogueiras,
-
e ribeiros a correr, serpenteando
pela superfície da Terra.
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Se olharmos profundamente com consciência plena,
-
poderemos despertar para o facto de que muitas maravilhas
estão a acontecer nesse pequeno planeta.
-
Até agora, ao longo de 30 ou 35 anos da nossa vida,
nunca saboreámos verdadeiramente a beleza deste planeta.
-
Temos sempre corrido como se fôssemos perseguidos por um fantasma.
-
Discutimos com esta pessoa.
-
E sentimos inveja daquela outra.
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Corremos atrás disto.
Perseguimos aquilo.
-
Nunca nos demos conta da beleza
-
e da felicidade de alguém
que é livre e está em paz, que caminha...
-
com passos suaves sobre esse belo planeta.
-
Então, este astronauta
-
pergunta a si mesmo:
-
“O que é mais importante para mim?
O que é que mais desejo?”
-
O seu único desejo é poder
regressar ao planeta Terra.
-
Neste momento, ele não deseja mais nada. Não precisa...
-
de mais um doutoramento,
-
nem de outro cargo de presidente.
-
Ele apenas deseja voltar ao planeta Terra
para caminhar sobre ele com passos suaves e felizes.
-
Isso já seria uma grande felicidade.
-
Para um astronauta como ele, isso é...
-
o seu desejo mais profundo.
-
Outros desejos e ânsias
tornaram-se tão frios como cinzas.
-
Resta apenas um desejo —
regressar a este belo planeta que é o lar,
-
para poder caminhar sobre ele com paz e liberdade.
Isso basta para o fazer feliz. Ele despertou.
-
E, com sorte,
ele consegue finalmente voltar a casa.
-
Todos nós somos esse astronauta
que acaba de regressar da Lua.
-
Já voltámos.
-
O que é que mais desejamos agora?
-
O que é que estamos a perseguir?
-
Será que temos a capacidade de caminhar com leveza,
-
liberdade e felicidade
neste nosso belo planeta?
-
Ou ainda andamos a correr
atrás de alguma coisa?
-
Assim, caminhar em meditação
pode trazer-nos uma grande felicidade.
-
Cada passo alimenta
-
o nosso corpo, o nosso coração e a nossa mente.
-
Cada passo pode transformar e desfazer os nós do sofrimento
e os laços das aflições no nosso coração e na nossa mente.
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Caminhar — caminhar conscientemente, por si só,
já é suficiente para haver felicidade.
-
Temos de nos dedicar verdadeiramente à prática.
-
Porque esta prática verdadeira
não é difícil, nem um trabalho pesado.
-
Ela traz paz interior e felicidade
a cada minuto e a cada segundo da prática.