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Stories from East to West for Awakening

  • 0:05 - 0:10
    Devemos saber que
    praticar meditação significa parar.
  • 0:11 - 0:16
    Parar é uma prática muito importante.
  • 0:18 - 0:22
    Em sino-vietnamita, diz-se chỉ (止).
  • 0:32 - 0:34
    Porque é que temos de parar?
  • 0:34 - 0:37
    O que é que estamos a parar, exatamente?
  • 0:40 - 0:41
    Antes de mais,
  • 0:41 - 0:46
    podemos dizer que parar significa
    parar a nossa fuga de casa.
  • 0:46 - 0:50
    Porque provavelmente estamos a fugir de casa.
  • 0:52 - 0:55
    Cada um de nós tem...
  • 0:55 - 0:57
    uma casa.
  • 0:58 - 1:00
    Todos temos antepassados.
  • 1:00 - 1:02
    Todos temos pais.
  • 1:02 - 1:04
    Todos temos raízes.
  • 1:04 - 1:09
    Todos temos as potencialidades
    para experimentar felicidade e paz interior.
  • 1:09 - 1:16
    Mas, por causa de algum acontecimento marcante
    ou por alguma razão infeliz, temos...
  • 1:16 - 1:22
    fugido de casa.
  • 1:24 - 1:26
    E,
  • 1:27 - 1:28
    "parar" aqui
  • 1:28 - 1:30
    significa parar essa nossa fuga de casa.
  • 1:30 - 1:34
    Chegámos à realização de que
    temos andado a fugir de casa,
  • 1:34 - 1:36
    e queremos parar.
  • 1:39 - 1:41
    Quando fugimos de casa,
  • 1:41 - 1:43
    é quando...
  • 1:43 - 1:47
    nos deparamos com sofrimentos, desventuras ou perigos.
  • 1:48 - 1:52
    Podemos perder a vida,
  • 1:52 - 1:55
    isto é, podemos morrer.
  • 1:56 - 2:01
    Com isso, falhamos em corresponder ao amor
    e à confiança dos nossos antepassados,
  • 2:02 - 2:04
    do nosso povo,
  • 2:04 - 2:06
    das...
  • 2:09 - 2:11
    das...
  • 2:11 - 2:13
    nossas raízes.
  • 2:21 - 2:25
    Alphonse Daudet escreveu
    um conto chamado...
  • 2:25 - 2:32
    A Cabra do Senhor Seguin, ou
    "La chèvre de Monsieur Seguin".
  • 2:32 - 2:38
    No jardim do Sr. Seguin,
    havia muitas flores e erva.
  • 2:38 - 2:42
    E ele amava muito a sua cabrinha.
  • 2:44 - 2:49
    Queria que ela fosse feliz
    vivendo dentro dos limites do seu jardim,
  • 2:49 - 2:52
    que estava sempre repleto de erva e água.
  • 2:52 - 2:57
    Mas, por viver ali tanto tempo,
    a cabrinha começou a aborrecer-se. Então, um dia...
  • 2:57 - 2:59
    saltou para fora.
  • 3:01 - 3:07
    O Sr. Seguin sabia que seria
    extremamente perigoso para a sua cabra,
  • 3:07 - 3:11
    porque, lá fora,
    mais cedo ou mais tarde, seria comida pelos lobos.
  • 3:11 - 3:17
    Por isso disse-lhe: "Minha filha, nunca te aventures
    para lá dos limites do jardim. É muito perigoso."
  • 3:17 - 3:19
    Mas...
  • 3:19 - 3:23
    a cabra do Sr. Seguin não deu ouvidos às suas palavras.
  • 3:23 - 3:27
    Então ele disse:
    "Se assim é, terei de te fechar de novo."
  • 3:27 - 3:31
    E assim fez—levou-a para o curral
  • 3:31 - 3:33
    e trancou-a.
  • 3:33 - 3:37
    Mas esqueceu-se de fechar a janela.
  • 3:38 - 3:40
    Então, ao entardecer,
  • 3:40 - 3:45
    a cabra saltou pela janela
    e foi para a floresta.
  • 3:48 - 3:51
    Nessa noite, encontrou um lobo.
  • 3:52 - 3:58
    Ao perceber
    que a sua cabra tinha fugido,
  • 3:58 - 4:02
    o Sr. Seguin foi para o jardim,
  • 4:02 - 4:11
    pegou num chifre e
    começou a soprar para chamá-la de volta.
  • 4:11 - 4:16
    Enquanto isso, a cabra enfrentava o lobo.
  • 4:16 - 4:20
    Ela teve de—sozinha—defender-se do lobo.
  • 4:20 - 4:27
    Como escreveu Alphonse Daudet,
    esta cabra lutou com coragem—durante toda a noite—contra o lobo.
  • 4:28 - 4:29
    Pois bem,
  • 4:29 - 4:38
    na manhã seguinte, ao nascer do sol,
    a cabra estava completamente exausta, e o lobo devorou-a.
  • 4:40 - 4:43
    Daudet disse que,
    na véspera,
  • 4:44 - 4:46
    quando viu o lobo aproximar-se,
  • 4:46 - 4:48
    ela fez o som: "Huuu-huuu.
  • 4:48 - 4:50
    Huuu-huuu-huuu."
  • 4:50 - 4:53
    E, nesse momento, também ouviu
    o som do chifre do Sr. Seguin,
  • 4:53 - 4:58
    como se dissesse:
    "Volta, minha filha! Volta!" Mas já era tarde demais.
  • 4:58 - 5:00
    O lobo já estava lá.
  • 5:00 - 5:05
    E a cabra lutou
    contra o lobo durante toda a noite.
  • 5:06 - 5:11
    Resistiu até ao amanhecer,
    quando caiu de cansaço, e o lobo a comeu.
  • 5:15 - 5:18
    Dentro de cada um de nós, há...
  • 5:18 - 5:25
    uma cabra do Sr. Seguin.
    Temos essa tendência de querer fugir de casa,
  • 5:25 - 5:33
    abandonar os nossos antepassados, avós,
    pais, cultura e raízes.
  • 5:33 - 5:40
    A semente da fuga e a potencialidade de nos tornarmos
    uma alma solitária ou um fantasma faminto existem em cada um de nós.
  • 5:46 - 5:49
    Se olharmos para trás,
  • 5:49 - 5:53
    pode acontecer que percebamos
    que o nosso passado
  • 5:53 - 5:56
    é como um sonho.
  • 6:03 - 6:08
    Ao despertarmos de repente,
    queremos voltar.
  • 6:08 - 6:13
    Há muito tempo, houve um estudante
    que falhou num exame.
  • 6:15 - 6:20
    A caminho de casa, como se sentia
    muito cansado e com fome,
  • 6:20 - 6:24
    parou numa cabana de colmo
    onde vivia um eremita.
  • 6:24 - 6:27
    Era ao entardecer.
  • 6:36 - 6:45
    Ao ver o jovem estudante desesperado e aflito,
    o eremita sentiu compaixão
  • 6:45 - 6:48
    e acolheu-o.
  • 6:48 - 6:52
    "Entra e descansa um pouco aqui!
  • 6:52 - 6:57
    Estou a meio de preparar uma panela
    de papa de milho-painço."
  • 6:57 - 7:01
    Hạt kê, em vietnamita, significa milho-painço.
  • 7:01 - 7:06
    "Quando a papa estiver pronta,
    partilhamos uma tigela juntos!"
  • 7:06 - 7:09
    O eremita levava uma vida muito simples.
  • 7:11 - 7:16
    Então, o jovem adormeceu, e
    no seu sonho, viu que tinha passado no exame...
  • 7:16 - 7:23
    no exame imperial, o que o tornava
    qualificado como o melhor diplomado
  • 7:23 - 7:27
    (ou seja, ông nghè ou trạng nguyên em vietnamita).
  • 7:30 - 7:38
    Por causa disso, foi favorecido pelo imperador,
    que ordenou que lhe dessem a mão da princesa em casamento
  • 7:40 - 7:45
    e o considerou para um cargo de alto escalão
    no palácio imperial,
  • 7:47 - 7:51
    prometendo-lhe grande fama e poder.
  • 7:56 - 8:04
    Nesse ano, os inimigos invadiram as fronteiras.
  • 8:05 - 8:10
    O imperador, seu sogro, ordenou-lhe
    que liderasse um exército
  • 8:10 - 8:14
    para expulsar os invasores das fronteiras. Mas...
  • 8:14 - 8:17
    como não tinha aptidão para as artes militares,
  • 8:17 - 8:21
    sofreram a pior derrota de todas.
  • 8:21 - 8:24
    Por isso, o imperador ordenou que fosse decapitado.
  • 8:27 - 8:29
    No local da execução,
  • 8:29 - 8:32
    quando os soldados se alinharam
    e tocaram o tambor três vezes,
  • 8:32 - 8:35
    sinalizando o momento da decapitação,
  • 8:36 - 8:39
    o jovem gritou.
  • 8:40 - 8:43
    E quando gritou assim, no sonho,
  • 8:43 - 8:45
    o eremita
  • 8:45 - 8:50
    tocou-lhe suavemente no ombro algumas vezes
    para o acordar.
  • 8:50 - 8:52
    Ao despertar,
  • 8:52 - 8:59
    o jovem estudante apercebeu-se
    de que ainda estava deitado em segurança na cabana do eremita.
  • 8:59 - 9:06
    O eremita tinha estado sentado ao seu lado,
    a vigiar a panela de papa de milho-painço.
  • 9:06 - 9:09
    A sorrir, o eremita olhou para ele e disse:
  • 9:09 - 9:12
    “Que sono tão profundo, hã?
  • 9:16 - 9:19
    A papa já está pronta.
  • 9:19 - 9:24
    Vem comer comigo!”
  • 9:28 - 9:33
    Então começou a cair-lhe a ficha:
  • 9:33 - 9:39
    num sonho que durou apenas
    o tempo de cozer uma panela de papa de milho-painço,
  • 9:39 - 9:44
    tinha vivido tantas voltas da vida,
  • 9:44 - 9:47
    tantos altos e baixos,
    tantas alegrias e dores—
  • 9:48 - 9:51
    desde passar no exame imperial com a melhor nota,
  • 9:51 - 9:53
    a casar com a princesa,
  • 9:54 - 9:56
    a ser promovido,
  • 9:57 - 10:00
    a ir à guerra contra os inimigos
    e regressar de mãos vazias,
  • 10:00 - 10:05
    até ser levado ao local de execução
    para ser decapitado.
  • 10:05 - 10:11
    Todos esses acontecimentos, tudo o que viveu
    nesse sonho, foi imenso.
  • 10:11 - 10:20
    Mas tudo isso aconteceu num espaço de tempo
    equivalente ao de cozinhar uma simples panela de papa.
  • 10:22 - 10:24
    Despertando sobressaltado,
  • 10:24 - 10:31
    perguntou a si mesmo:
    “O que é que eu ando realmente a perseguir?
  • 10:38 - 10:42
    O que é que me tem arrastado durante todo este tempo?”
  • 10:42 - 10:45
    Uma borboleta,
  • 10:45 - 10:47
    uma flor,
  • 10:47 - 10:48
    uma nuvem,
  • 10:48 - 10:50
    ou um fio de cabelo.
  • 10:50 - 10:56
    Qualquer uma destas coisas pode ter sido
    o que nos afastou da nossa terra natal, das nossas raízes, dos nossos antepassados.
  • 10:56 - 10:58
    Por causa delas, fugimos de casa.
  • 10:59 - 11:05
    Ao acordarmos, graças a um eremita, compreendemos que:
  • 11:05 - 11:11
    este é o momento de regressar a casa.
  • 11:12 - 11:16
    Fugimos durante tanto tempo.
  • 11:16 - 11:20
    Arruinámos a nossa vida o suficiente.
  • 11:20 - 11:22
    Este é o momento de voltar.
  • 11:22 - 11:24
    Voltar às raízes.
  • 11:24 - 11:25
    Voltar aos nossos antepassados.
  • 11:25 - 11:27
    Voltar...
  • 11:27 - 11:29
    à nossa verdadeira casa.
  • 11:29 - 11:34
    Voltar à nossa paz interior,
    felicidade e liberdade.
  • 11:40 - 11:44
    No budismo vietnamita,
    existem os termos trôi lăn (“derivar e rolar”)
  • 11:45 - 11:48
    e chìm đắm (“afundar e submergir”).
  • 11:48 - 11:52
    Na nossa fuga,
    perdemo-nos constantemente,
  • 11:52 - 11:55
    derivando, rolando, afundando e submergindo.
  • 11:57 - 11:59
    E esse “derivar e rolar”...
  • 11:59 - 12:05
    [Toque de relógio]
  • 12:37 - 12:39
    Luân significa...
  • 12:39 - 12:42
    “rolar”, “girar” ou
    “movimentar-se em círculos”.
  • 12:44 - 12:47
    É uma roda
  • 12:48 - 12:51
    que continua a girar.
  • 12:54 - 13:00
    Quando continuamos a mover-nos ou a girar (luân), perdemo-nos,
    ficamos desorientados (lạc). Isso chama-se luân lạc.
  • 13:00 - 13:04
    Esse rodar prossegue, sem parar,
  • 13:04 - 13:06
    em cada momento.
  • 13:06 - 13:12
    Pode parecer engraçado ao dizê-lo,
    mas todos andamos a rolar assim.
  • 13:13 - 13:16
    Nas fotografias, não se vê isso.
    Mas no nosso coração e mente, estamos a rolar.
  • 13:16 - 13:20
    Rolamos de um lugar para outro.
  • 13:20 - 13:24
    Estamos a ser arrastados,
    a perder o rumo, a rolar.
  • 13:24 - 13:28
    E trầm
  • 13:30 - 13:35
    significa “afundar” ou “submergir”.
  • 13:43 - 13:48
    Quando alguém se afunda e submerge (chìm đắm),
    deriva e rola (trôi lăn), chama-se trầm luân.
  • 13:49 - 14:00
    Por isso, quando abrimos a porta
    e entramos na sala de meditação, recitamos o gatha “Sentar-se”:
  • 14:00 - 14:02
    "Vào thiền đường,
    "Ao entrar na sala de meditação,
  • 14:02 - 14:05
    Thấy chân tâm.
    Vê-se a verdadeira mente.
  • 14:05 - 14:07
    Một ngồi xuống,
    Ao sentar-se,
  • 14:07 - 14:09
    Dứt trầm luân."
    Cessa-se o afundar, submergir, derivar e rolar."
  • 14:09 - 14:14
    Entramos na sala de meditação
    para pôr fim a todo o derivar e rolar.
  • 14:18 - 14:23
    Temos andado a derivar e rolar
    no nosso coração-mente e nos nossos pensamentos.
  • 14:40 - 14:47
    O nosso derivar e rolar acontece a cada segundo,
    a cada minuto da nossa vida quotidiana.
  • 14:48 - 14:51
    Por vezes, parece que estamos a vestir o nosso manto,
  • 14:51 - 14:53
    a juntar as palmas das mãos,
  • 14:53 - 14:55
    a caminhar ou a estar de pé,
  • 14:55 - 14:58
    mas, na verdade, há um vaguear e um rebolar
  • 14:58 - 15:02
    a acontecer no nosso coração e mente.
  • 15:06 - 15:08
    Quando a comunidade caminha em meditação,
  • 15:08 - 15:11
    em princípio, todos estão a habitar
    em paz na consciência plena,
  • 15:11 - 15:15
    dando cada passo com solidez e liberdade,
  • 15:15 - 15:19
    e trazendo para o coração e para a mente
    a paz e a alegria (da prática). Mas embora
  • 15:19 - 15:24
    estejamos a caminhar em meditação com a comunidade,
    temos andado a vaguear, a rebolar,
  • 15:24 - 15:28
    ... a afundar-nos e a afogar-nos
    mesmo enquanto caminhamos.
  • 15:29 - 15:33
    A comunidade está sentada em meditação,
  • 15:37 - 15:47
    e todos na comunidade estão a praticar
    a consciência plena da respiração,
  • 15:48 - 15:55
    isto é, "Ao inspirar, sei que estou a inspirar.
    Ao expirar, sei que estou a expirar.
  • 15:55 - 16:02
    Ao inspirar, encontro a minha mente serena e tranquila.
    Ao expirar, nasce um meio-sorriso nos meus lábios."
  • 16:02 - 16:09
    Enquanto todos praticam assim,
    embora estejamos sentados na almofada
  • 16:11 - 16:18
    e voltados para a parede como todos,
    temos andado a vaguear e a rebolar nas nossas almofadas.
  • 16:19 - 16:22
    A comunidade está a comer em nobre silêncio,
  • 16:22 - 16:28
    colocando a mente e a atenção na comida,
    nos dons da terra e do céu.
  • 16:28 - 16:32
    Os seus corações e mentes sentem-se felizes
    por estarem rodeados
  • 16:32 - 16:37
    de Irmãos e Irmãs monásticos,
    e daqueles...
  • 16:40 - 16:41
    das comunidades locais de prática.
  • 16:41 - 16:44
    Há felicidade e paz interior.
  • 16:44 - 16:48
    Entretanto, estamos a segurar a nossa tigela de esmolas
    e a comer em silêncio como qualquer pessoa,
  • 16:48 - 16:52
    mas no nosso coração e na nossa mente, fugimos,
  • 16:52 - 16:54
    e temos andado a afundar-nos e a afogar-nos.
  • 16:54 - 17:02
    Assim, essa fuga, esse afundar e afogar
    acontecem a cada minuto e a cada segundo dentro de nós.
  • 17:02 - 17:09
    Por isso, praticar meditação mindfulness significa,
    antes de mais, parar toda a fuga.
  • 17:13 - 17:19
    Quando abrimos a porta da sala de meditação
    e damos um passo dentro dela, temos consciência de que:
  • 17:19 - 17:21
    "Ao entrar na sala de meditação,
    vê-se a verdadeira mente.
  • 17:21 - 17:25
    Uma vez sentado,
    todo o afundar, afogar, vaguear e rebolar termina."
  • 17:25 - 17:29
    Com apenas um passo, podemos regressar
    imediatamente à nossa verdadeira casa,
  • 17:29 - 17:32
    e podemos pôr fim a toda a fuga.
  • 17:33 - 17:39
    Pôr fim à fuga — ou parar —
    é um processo de treino e prática.
  • 17:40 - 17:45
    Não importa se ficamos aqui
    7 dias, 10 dias ou 3 meses.
  • 17:45 - 17:48
    Esses 7 dias, 10 dias ou 3 meses
  • 17:48 - 17:51
    são para praticarmos
    o fim da fuga.
  • 17:51 - 17:53
    Pomos fim a essa fuga enquanto comemos,
  • 17:53 - 17:55
    caminhamos em meditação,
  • 17:55 - 17:58
    trabalhamos e servimos a comunidade,
  • 17:58 - 18:00
    e nos sentamos em meditação.
  • 18:00 - 18:09
    Não há um momento em que não estejamos a praticar
    o regresso à nossa verdadeira casa, o fim da fuga.
  • 18:11 - 18:13
    Os nossos antepassados
  • 18:13 - 18:15
    ou as nossas raízes
  • 18:15 - 18:17
    estão sempre...
  • 18:17 - 18:19
    a chamar-nos de volta a casa.
  • 18:19 - 18:23
    Mas não estamos suficientemente quietos para ouvir esse chamamento.
  • 18:23 - 18:27
    O Sr. Seguin tinha tirado...
  • 18:27 - 18:30
    a sua trompa,
  • 18:30 - 18:33
    a sua corneta, para tocar.
  • 18:33 - 18:37
    Ele amava muito a sua cabra.
  • 18:41 - 18:45
    Mas a cabra do Sr. Seguin
    não queria voltar para casa
  • 18:45 - 18:48
    até se deparar com o lobo.
  • 18:48 - 18:52
    No momento em que encontrou o lobo,
    aquele som da corneta — aquele chamamento —
  • 18:52 - 18:57
    deixou de operar os seus milagres.
    Mesmo que a cabra quisesse voltar, já era demasiado tarde.
  • 18:57 - 19:00
    Por isso,
  • 19:00 - 19:06
    quando o regresso a casa ainda é possível, fá-lo.
  • 19:14 - 19:17
    A nossa fuga de casa
    tornou-se um hábito,
  • 19:17 - 19:20
    ou seja, uma energia de hábito.
  • 19:26 - 19:30
    Quando praticamos, precisamos de aprender
    a reconhecer essa energia de hábito.
  • 19:30 - 19:35
    Caminhamos como se fôssemos perseguidos por um fantasma.
  • 19:44 - 19:50
    Comemos como se a nossa casa estivesse a arder
    — não conseguimos estar quietos.
  • 19:50 - 19:54
    Sentamo-nos como se houvesse fogo...
  • 19:54 - 19:58
    debaixo das nossas nádegas
    — não conseguimos estar quietos.
  • 19:58 - 20:01
    Sempre com a sensação de que temos de nos levantar
  • 20:01 - 20:04
    e fugir.
  • 20:07 - 20:10
    E isso tornou-se um hábito.
  • 20:10 - 20:15
    Quando nos apercebemos de que temos mesmo de regressar,
  • 20:15 - 20:20
    precisamos de reconhecer com êxito essa energia de hábito.
    Sempre que as energias de hábito de fugir de casa,
  • 20:20 - 20:22
    de inquietação,
  • 20:22 - 20:28
    de não conseguirmos habitar pacificamente
    no momento presente — se manifestarem em nós,
  • 20:28 - 20:32
    temos de as reconhecer. Por isso,...
  • 20:33 - 20:36
    a prática
  • 20:38 - 20:40
    de parar
  • 20:40 - 20:46
    anda de mãos dadas com a prática de simplesmente reconhecer,
    sem julgamento, os nossos hábitos ou energias de hábito nocivos.
  • 20:46 - 20:53
    A caminhada em plena consciência, por exemplo,
    é um método maravilhoso para praticar o parar.
  • 21:06 - 21:08
    Na Persimmon Village
    (nota: nome anterior de Plum Village),
  • 21:08 - 21:13
    se és principiante,
  • 21:16 - 21:23
    assegura-te de que praticas o parar
    através da caminhada em plena consciência.
  • 21:23 - 21:26
    Embora caminhemos,
    já parámos.
  • 21:30 - 21:33
    Não importa para onde vais,
  • 21:37 - 21:46
    sempre que surgir a necessidade
    de ir de um lugar para outro,
  • 21:46 - 21:50
    pratica a meditação caminhando da mesma forma.
  • 21:50 - 21:56
    Porque a meditação caminhando
    é uma forma maravilhosa de praticar o parar.
  • 21:56 - 22:01
    O termo sino-vietnamita thiền hành (禅行)
    significa đi thiền em vietnamita comum.
  • 22:01 - 22:05
    Caminha-se com a mente tranquila.
  • 22:07 - 22:12
    Do nosso quarto até à sala de meditação,
  • 22:12 - 22:15
    do nosso quarto até à cozinha,
  • 22:15 - 22:20
    ou do nosso quarto até à casa de banho,
  • 22:21 - 22:23
    — sempre que houver necessidade de caminhar,
  • 22:23 - 22:31
    mesmo que só sejam 4 ou 5 passos até lá,
    aplica o método da meditação caminhando da mesma forma.
  • 22:34 - 22:40
    Claro que, todos os dias, temos a oportunidade
    de praticar a meditação caminhando com a comunidade.
  • 22:40 - 22:44
    Mas se só praticarmos
    uma vez por dia, não é suficiente,
  • 22:44 - 22:50
    porque o hábito de vaguear e rebolar
    está profundamente enraizado em nós.
  • 22:50 - 22:57
    Vagueamos 23 horas por dia.
    Se só praticarmos meditação caminhando uma hora por dia,
  • 22:57 - 22:59
    como poderemos contrariar essas 23 horas?
  • 22:59 - 23:04
    Por isso, precisamos de praticar
    a meditação caminhando ao longo de todo o dia.
  • 23:04 - 23:09
    Sempre que surgir a necessidade de ir de um lugar
    para outro, devemos praticar a meditação caminhando.
  • 23:09 - 23:12
    Em Persimmon Village, é isso que fazemos.
  • 23:12 - 23:15
    Se ficarmos aqui durante 7 dias,
    praticamos isso durante 7 dias.
  • 23:15 - 23:18
    Se ficarmos 10 dias,
    praticamos isso durante 10 dias.
  • 23:18 - 23:24
    Não deixes que nenhum passo fique sem prática.
    Seria um desperdício.
  • 23:31 - 23:35
    Havia uma jovem a trabalhar em Paris.
  • 23:35 - 23:40
    Todas as manhãs, bem cedo, ela tinha de tomar o pequeno-almoço
  • 23:40 - 23:46
    e apanhar o metro para ir trabalhar.
  • 23:46 - 23:49
    Muitas vezes, tinha de correr
  • 23:51 - 23:54
    para apanhar
  • 23:55 - 23:57
    um comboio do metro.
  • 23:57 - 24:00
    Um dia,
  • 24:01 - 24:04
    ao entrar num elevador,
  • 24:04 - 24:10
    deparou-se com uma senhora idosa
    que já lá estava, em pé.
  • 24:12 - 24:16
    Ela disse “Bom dia,” e...
  • 24:16 - 24:19
    começou a queixar-se
  • 24:21 - 24:25
    de que correr a vida inteira
  • 24:25 - 24:30
    tornava a vida indigna de ser vivida.
  • 24:34 - 24:38
    Quando as pessoas se encontram, têm de dizer algo.
  • 24:38 - 24:42
    E foi isso que ela disse à outra senhora:
  • 24:42 - 24:47
    "Il faut toujours courir comme ça,
    ce n'est pas la vie, hein?"
  • 24:49 - 24:55
    A senhora idosa olhou-a de cima a baixo.
  • 24:57 - 25:02
    Depois disse: “Bem, ao menos
    ainda tens duas pernas fortes para correr.
  • 25:02 - 25:06
    Eu não tenho esperança. Se correr, caio...
  • 25:06 - 25:09
    logo para a frente.”
  • 25:09 - 25:12
    Essa jovem não sabia
    que estava a ter felicidade.
  • 25:12 - 25:14
    Essa é a verdade.
  • 25:14 - 25:19
    Ter duas pernas fortes
  • 25:19 - 25:21
    é uma felicidade imensa.
  • 25:21 - 25:25
    Só é preciso andar em meditação,
    ou correr, para que a felicidade seja possível.
  • 25:25 - 25:31
    E essa felicidade está fora do alcance do braço —
    ou fora do alcance da perna daquela mulher idosa.
  • 25:31 - 25:36
    Por mais que
    ela quisesse correr, não conseguia.
  • 25:42 - 25:46
    Vamos imaginar que há um astronauta
  • 25:46 - 25:49
    que é enviado para a Lua
  • 25:50 - 25:53
    para algum tipo de investigação.
  • 25:54 - 25:59
    A sua nave tem um problema,
    e ele não consegue regressar à Terra.
  • 26:00 - 26:04
    E os seus tanques de oxigénio
  • 26:04 - 26:09
    só têm capacidade para mais 3 ou 4 dias.
  • 26:09 - 26:11
    Ele sabe que a morte é iminente,
  • 26:11 - 26:14
    porque, em Houston (Texas, EUA),
  • 26:14 - 26:22
    as pessoas não terão tempo suficiente para enviar
    outra nave até à Lua para o trazer de volta.
  • 26:22 - 26:26
    Isto é apenas ficção.
  • 26:26 - 26:30
    Sabendo que ficará sem oxigénio
    em 4 dias e que a morte se aproxima,
  • 26:30 - 26:36
    podemos perguntar-nos em que é que esse astronauta pensa,
  • 26:36 - 26:38
    com o que sonha.
  • 26:39 - 26:41
    O que é a felicidade?
  • 26:41 - 26:45
    Parece que, na Lua,
    não se pode andar em meditação.
  • 26:45 - 26:48
    Como a gravidade é diferente,
  • 26:48 - 26:52
    só se pode saltar, não andar.
  • 26:57 - 27:03
    Bem, ele sente saudades da Terra, do seu planeta natal
    — de como é belo.
  • 27:03 - 27:07
    Da Lua, olhando para cima
    — não para baixo —
  • 27:07 - 27:11
    ao olhar para o planeta Terra,
    ele sente-se profundamente tocado.
  • 27:11 - 27:14
    Uma esfera azul.
  • 27:17 - 27:23
    Já viste fotografias tiradas do planeta Terra
    a partir do espaço? É verdadeiramente majestosa!
  • 27:24 - 27:27
    Se olharmos com muita atenção,
    podemos aperceber-nos de que estamos...
  • 27:28 - 27:30
    a caminhar sobre ela,
  • 27:31 - 27:38
    a ver esquilos a trepar às nogueiras,
  • 27:38 - 27:42
    e ribeiros a correr, serpenteando
    pela superfície da Terra.
  • 27:42 - 27:45
    Se olharmos profundamente com consciência plena,
  • 27:45 - 27:50
    poderemos despertar para o facto de que muitas maravilhas
    estão a acontecer nesse pequeno planeta.
  • 27:50 - 27:59
    Até agora, ao longo de 30 ou 35 anos da nossa vida,
    nunca saboreámos verdadeiramente a beleza deste planeta.
  • 27:59 - 28:02
    Temos sempre corrido como se fôssemos perseguidos por um fantasma.
  • 28:03 - 28:06
    Discutimos com esta pessoa.
  • 28:06 - 28:09
    E sentimos inveja daquela outra.
  • 28:10 - 28:12
    Corremos atrás disto.
    Perseguimos aquilo.
  • 28:12 - 28:15
    Nunca nos demos conta da beleza
  • 28:15 - 28:22
    e da felicidade de alguém
    que é livre e está em paz, que caminha...
  • 28:22 - 28:26
    com passos suaves sobre esse belo planeta.
  • 28:26 - 28:30
    Então, este astronauta
  • 28:30 - 28:33
    pergunta a si mesmo:
  • 28:33 - 28:37
    “O que é mais importante para mim?
    O que é que mais desejo?”
  • 28:37 - 28:43
    O seu único desejo é poder
    regressar ao planeta Terra.
  • 28:43 - 28:47
    Neste momento, ele não deseja mais nada. Não precisa...
  • 28:47 - 28:49
    de mais um doutoramento,
  • 28:49 - 28:51
    nem de outro cargo de presidente.
  • 28:51 - 28:58
    Ele apenas deseja voltar ao planeta Terra
    para caminhar sobre ele com passos suaves e felizes.
  • 28:58 - 29:00
    Isso já seria uma grande felicidade.
  • 29:00 - 29:04
    Para um astronauta como ele, isso é...
  • 29:04 - 29:06
    o seu desejo mais profundo.
  • 29:08 - 29:13
    Outros desejos e ânsias
    tornaram-se tão frios como cinzas.
  • 29:15 - 29:21
    Resta apenas um desejo —
    regressar a este belo planeta que é o lar,
  • 29:21 - 29:29
    para poder caminhar sobre ele com paz e liberdade.
    Isso basta para o fazer feliz. Ele despertou.
  • 29:29 - 29:34
    E, com sorte,
    ele consegue finalmente voltar a casa.
  • 29:35 - 29:41
    Todos nós somos esse astronauta
    que acaba de regressar da Lua.
  • 29:41 - 29:44
    Já voltámos.
  • 29:44 - 29:47
    O que é que mais desejamos agora?
  • 29:48 - 29:51
    O que é que estamos a perseguir?
  • 29:51 - 29:56
    Será que temos a capacidade de caminhar com leveza,
  • 29:56 - 30:01
    liberdade e felicidade
    neste nosso belo planeta?
  • 30:02 - 30:07
    Ou ainda andamos a correr
    atrás de alguma coisa?
  • 30:08 - 30:13
    Assim, caminhar em meditação
    pode trazer-nos uma grande felicidade.
  • 30:13 - 30:16
    Cada passo alimenta
  • 30:16 - 30:18
    o nosso corpo, o nosso coração e a nossa mente.
  • 30:18 - 30:25
    Cada passo pode transformar e desfazer os nós do sofrimento
    e os laços das aflições no nosso coração e na nossa mente.
  • 30:25 - 30:30
    Caminhar — caminhar conscientemente, por si só,
    já é suficiente para haver felicidade.
  • 30:36 - 30:42
    Temos de nos dedicar verdadeiramente à prática.
  • 30:42 - 30:49
    Porque esta prática verdadeira
    não é difícil, nem um trabalho pesado.
  • 30:49 - 30:56
    Ela traz paz interior e felicidade
    a cada minuto e a cada segundo da prática.
Title:
Stories from East to West for Awakening
Description:

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Duration:
30:56

Portuguese subtitles

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