A Pintura que vos fará chorar !"Angústia", de August Friedrich Schenck

Esta obra chama-se "Angústia", de August Friedrich Schenck. Uma mãe ovelha grita em desespero pela morte do seu cordeiro, enquanto um grupo de corvos espera pacientemente para se banquetear com ele.
Este quadro é muito comovente .Mas acho que a parte mais interessante e potencialmente perturbadora é a dos corvos. Podiam importunar e bicar, mas não o fazem, simplesmente esperam. Porque é só isso que precisam de fazer. Na pior das hipóteses, a mãe ovelha acaba por ir embora, na melhor das hipóteses, ela enfraquece e cai de exaustão e os pássaros podem banquetear-se com os dois. Vendo as coisas desta forma, os corvos parecem encarnar a crueldade e o egoísmo que existem no nosso mundo.

Esta obra chama-se "Angústia",
de August Friedrich Schenck

Os nossos olhos são atraídos imediatamente
para uma ovelha

no centro da pintura,

de cabeça virada para o céu

e vemos o hálito dela
recordando-nos o ar frio do inverno.

É quase como se pudéssemos
ouvi-la chorar.

Se observarmos mais abaixo, vemos
o corpo sem vida dum cordeirinho
jazendo aos pés dela,

com sangue a escorrer da boca
para a neve branca.

que atapeta o solo.

Vemos o raspar da perna do cordeiro
impressa na neve

fornecedo-nos uma pista

para o facto de, se ele está
realmente morto,

não o está há muito tempo.

Em volta deles h´um grupo de corvos

que, acabei de saber, se chama "murder".

Podem às vezes precisar de saber
isto para um trivia, ou coisa assim.

Há pegadas que rodeiam as ovelhas

deixando-nos a pensar se são
da ovelha

em volta do cordeirinho, ou dos corvos.

Este mundo quase não tem cor

o que o torna mais parecido
com Marte ou com o Inferno.

A ovelha tem quase a mesma cor
cinzenta acastanhada lamacenta do céu.

As formas negras dos corvos

destacam-se contra o branco
da neve do terreno.

Estes pormenores são muito poderosos

mas vocês só precisam de dar
uma rápida olhadela a esta pintura

para saberem de imediato o que se passa.

Uma mãe ovelha chora de desespero
a morte do seu cordeirinho,

enquanto um grupo de corvos
espera pacientemente para se banquetear.

Esta pintura é comovente

mas eu penso que a parte mais interessante
e possivelmente mais perturbadora

são os corvos.

Podiam incomodar e bicar
mas não o fazem.

Esperam apenas porque,
se pensarmos nisso,

é só o que precisam de fazer.

Qual é o pior dos cenários para eles?

A ovelha, finalmente, acaba por se ir embora.

E o melhor dos cenários?

Ela enfraquece e cai de exaustão

e as aves podem banquetear.se
com os dois.

Olhando para isto dessa maneira,

os corvos parecem corporizar a crueldade
e o egoísmo que existe no nosso mundo.

Eu acho que devemos fazer uma pausa.

Isto é tudo muito difícil.

Baixemos as luzes e eu convido-vos
a imaginar comigo uma outra coisa.

Alguém morreu,

OK, é mesmo muito duro,
mas sigam-me.

Um grupo atento reúne-se à sua volta,
todos vestidos de preto.

O que é que isto vos faz lembrar?

Um funeral, não é?

Esta pintura é assim tão diferente?

E se, em vez de representar
a brutalidade,

os corvos estão a lamentar-se,
juntamente com a ovelha mãe?

Com efeito, os corvos selvagens são conhecidos
por fazerem funerais aos corvos seus amigos

que morreram.

Talvez Schenck os represente
a fazer o mesmo aqui.

Não se sabe muita coisa sobre
August Friedrich Schenck.

Digamos que ele terá conhecido
Jan vn Eik ou Leonardo da Vinci,

em termos de ???

Sabemos que ele era um artista dinamarquês
nascido em 1828.

Sabemos que, depois, foi para França
estudar arte.

Quando a "Angústia" foi exposta pela primeira vez
no Salão de Pais de 1878,

mexeu fortemente com o público.

Há uma série de razões para isso.

Primeiro, no século XIX,

morte estava na primeira linha
dos espíritos das pessoas.

Doenças como a tuberculose
eram frequentes

e dizimavam muita gente,
sobretudo os jovens

e também porque a Rainha Vitória

estava de luto pela morte do marido,
o Príncipe Alberto, nessa época.

o que tornara a morte numa
esquisita "moda", suponho

Mas também porque, uns anos antes
de esta pintura ser criada,

Charles Darwin publicada o seu livro

"A expressão das emoções
no homem e nos animais,"

Este livro apresentava a ideia
de que os animais partilham
algumas das mesmas emoções,

como a alegria, a tristeza e a dor,

que os seres humanos.

Estas ideias eram revlucionárias

e levaram as pessoas a deixar
de pensar nos animais

como existindo apenas para
nosso consumo e prazer

e a pensar neles mais
como em nós mesmos.

O Dr, Ted Gott, curador-mor
em Arte Internacional

na Galeria Nacional de Vitória

sugeriu que esta pintura

possa ter sido inspirada
pelas ideias revolucionárias de Darwi.

Um crítico descreveu o artista em 1878
como um dos melhores pintores de animais.

Ele é um desses originais
das espécies ainda não extintas

que preferem os cães aos homens

e encontram mais meiguice
nas ovelhas do que nas mulheres.

Isto era para ser um cumprimento,
segundo julgo.

Na verdade, Schenck admirava
efetivamente os animais

e tinha um don para os retratar

de uma forma que tocava melhor
no nosso coração

do que muitas pinturas de pessoas.

E esta obra era tão popular
que o artista decidiu

fazer outra pintura semelhante
intitulada "Órfão",

onde os papéis do cordeiro
e da ovelha estão invertidos.

Schenck era um artista com muito êxito na vida

de tal modo que foi feito
Cavaleiro da Legião.

Mas os tempos e os gostos mudaram

e, por volta de meados da década de 1900,

as pessoas achavam a sua arte
foleira, pirosa,

e, sobretudo, emotiva.

Não é preciso dizer que Schenck
passou a ser um artista ignorado

embora esta obra continue a siuar-se
entre as pinturas

de artistas muito mais populares,
como Rembrandt

e Monet.