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Esta pintura revela uma realidade trágica

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    O Santo Matrimónio
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    Esta pintura chama-se "A Noiva Hesitante",
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    também conhecida como "A Noiva Relutante",
    de Auguste Toulmouche.
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    Hesitante?
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    Relutante?
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    Não sei.
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    Se me perguntarem,
    isto parece-me pura raiva.
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    Somos colocados numa sala
    ricamente decorada.
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    Os nossos olhos são imediatamente
    atraídos para uma jovem noiva
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    sentada na parte central do quadro,
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    banhada por uma luz brilhante
    vinda do lado oposto da sala.
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    Tem a cabeça levemente
    inclinada para baixo,
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    os sobrolhos franzidos
  • 0:44 - 0:46
    e olha diretamente para nós.
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    A raiva e o desafio ardem nos seus olhos.
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    Estará ela a preparar-se para o casamento
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    ou estaremos a assistir a consequências?
  • 0:55 - 0:57
    Não podemos ter a certeza.
  • 0:57 - 1:00
    Mas uma coisa é certa
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    - não é assim que se deve estar
    no dia do casamento.
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    Tem um penteado elegante
    com uma trança de sereia
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    que forma uma coroa no topo da cabeça,
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    um pequeno bouquet de noiva
    poisado no colo.
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    Tem um elegante vestido de noiva
    de cetim branco
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    que cai em pregas até ao chão.
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    O tecido acumula-se em volta
    de um banquinho para pés
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    revelando os sapatos de cetim branco.
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    Duas mulheres jovens rodeiam a noiva.
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    Parecem ser da idade dela,
    talvez amigas ou irmãs.
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    A mulher à esquerda da noiva
    tem um vestido de veludo vermelho,
  • 1:35 - 1:38
    está ajoelhada no chão
    e agarra na mão dela.
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    A outra, de pé, está inclinada
  • 1:40 - 1:43
    e segura gentilmente
    na mão direita da noiva,
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    e beija-a na testa.
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    Tem um xaile em volta
    do seu vestido de cetim azul.
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    Os acessórios dela estão atirados
    para a cadeira por trás dela.
  • 1:50 - 1:53
    Quase podemos imaginá-la
    a atirá-los para ali,
  • 1:53 - 1:56
    quando correu para a sala
    para consolar a noiva.
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    Embora as duas raparigas
    pareçam estar a tentar consolá-la,
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    a noiva parece irritada e exausta,
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    cansada delas... cansada de tudo.
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    Ao fundo, vemos uma rapariga,
    talvez a irmã mais nova da noiva.
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    Experimenta o toucado da noiva
    e admira-se ao espelho,
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    aparentemente perdida em pensamentos,
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    talvez imaginando o dia do seu casamento,
    num futuro distante.
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    Esta rapariga pode simbolizar a inocência
  • 2:24 - 2:29
    ou refletir a forma como a “noiva relutante”
    se sentia em relação ao casamento,
  • 2:29 - 2:33
    antes de se aperceber totalmente
    daquilo em que se estava a meter.
  • 2:33 - 2:37
    A decoração e a mobília
    são imaculadas e caras.
  • 2:37 - 2:40
    Uma tapeçaria requintada
    decora a parede posterior
  • 2:40 - 2:43
    e cria uma moldura em volta
    das três raparigas em primeiro plano.
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    Parece não acabar, acentuando
    a altura do teto,
  • 2:47 - 2:50
    portanto, a noiva é obviamente abastada
  • 2:50 - 2:53
    — pelo menos, a família dela é —
  • 2:53 - 2:56
    mas também sabemos que ela é rica
    por causa do vestido branco.
  • 2:58 - 3:03
    Eu explico, o vestido de noiva
    é feito de uma seda cara
  • 3:03 - 3:05
    e, como a autora Lucy Johnston assinala,
  • 3:05 - 3:09
    orlado com largas faixas
    de raposa do ártico branca,
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    uma pele luxuosa muito dispendiosa
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    que devia ter sido apanhada na Natureza,
  • 3:13 - 3:16
    muito provavelmente no norte do Canadá
  • 3:16 - 3:17
    e importada por Londres.
  • 3:17 - 3:20
    Hoje, os vestidos brancos
    são sinónimos de casamento
  • 3:20 - 3:23
    mas isso nem sempre foi assim.
  • 3:23 - 3:27
    A moda do vestido de noiva branco
    começou com a Rainha Vitória
  • 3:27 - 3:31
    que usou um quando casou
    com o Príncipe Alberto, em 1840.
  • 3:31 - 3:34
    Embora tenha levado o seu tempo
    para este estilo pegar,
  • 3:34 - 3:39
    Na época em que esta pintura foi feita,
    só as noivas ricas usavam branco.
  • 3:39 - 3:43
    Johnston também acrescenta que as mulheres
    cada vez optaram mais pelo branco.
  • 3:43 - 3:47
    porque significava pureza, limpeza
    e refinamento social
  • 3:47 - 3:50
    As menos abastadas,
    ou as de espírito mais prático,
  • 3:50 - 3:54
    optavam pelo azul pálido,
    pelo cinzento rola ou pelo fulvo,
  • 3:54 - 3:56
    que podiam usar em ocasiões especiais.
  • 3:56 - 3:58
    muito depois do evento.
  • 3:58 - 4:03
    Auguste Toulmouche apresentou esta obra
    no Salão de Paris de 1866,
  • 4:03 - 4:07
    onde foi originalmente intitulada
    “O casamento de conveniência”.
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    Isto dá-nos uma pista crucial:
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    a jovem noiva está provavelmente
    a ser forçada a um casamento arranjado.
  • 4:13 - 4:17
    Embora os casamentos arranjados
    estivessem a tornar-se menos comuns,
  • 4:17 - 4:18
    nesta época ainda aconteciam
  • 4:18 - 4:20
    especialmente entre os ricos.
  • 4:20 - 4:24
    Isto significa que provavelmente
    foram os pais que escolheram o marido dela
  • 4:24 - 4:28
    e, provavelmente,
    ela não foi ouvida nem chamada.
  • 4:28 - 4:33
    Então... esse olhar é-nos dirigido a nós,
    ou aos pais dela?
  • 4:34 - 4:38
    Auguste Toulmouche ficou conhecido
    por pintar mulheres da classe alta,
  • 4:38 - 4:41
    descontraídas em ambientes
    domésticos luxuosos
  • 4:41 - 4:43
    usando vestidos luxuosos.
  • 4:43 - 4:46
    É muito provável
    que nunca tenham ouvido falar dele,
  • 4:46 - 4:48
    mas ele era muito conhecido
    quando era vivo
  • 4:48 - 4:51
    embora nem todos fossem fãs dele.
  • 4:51 - 4:56
    Havia quem achasse que a arte dele
    era elegante, frívola e oca.
  • 4:56 - 5:01
    Émile Zola chamava "bonecas deliciosas"
    às mulheres que ele pintava.
  • 5:02 - 5:05
    Outro crítico fez notar
    que as mulheres que ele pintava
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    "não têm miolos"
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    e, de certo modo, "A noiva hesitante"
    enquadra-se bem noutros trabalhos seus
  • 5:12 - 5:14
    mas nem em todos.
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    Esta noiva não parece ser
    uma figura decorativa sem senso.
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    Parece ter um cérebro
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    e parece que está a usá-lo,
    pensando na forma
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    de deitar fogo à casa,
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    uma ideia lamentável.
  • 5:27 - 5:29
    Auguste Toulmouche nasceu
  • 5:29 - 5:32
    numa família abastada em Nantes,
    em França, em 1829,
  • 5:32 - 5:37
    e fez a sua estreia no Salão de Paris
    quanto tinha apenas 19 anos.
  • 5:37 - 5:42
    Iria obter medalhas no Salão
    em 1852 e 1861.
  • 5:43 - 5:46
    Casou-se com Marie Lecadre,
    prima de Claude Monet
  • 5:46 - 5:51
    e a sua influência na carreira artística
    de Monet não pode ser subestimada.
  • 5:51 - 5:55
    Toulmouche apresentou Monet
    ao seu primeiro professor de arte
  • 5:55 - 5:57
    que lhe ensinou o estilo académico
  • 5:57 - 6:00
    embora Monet acabasse por rejeitar
    essa abordagem formal,
  • 6:00 - 6:03
    abrindo o caminho para aquilo
    a que hoje chamamos Impressionismo
  • 6:03 - 6:07
    e Monet acabaria pod ser
    o fundador do movimento impressionista.
  • 6:07 - 6:09
    Apesar da ascensão do Impressionismo
  • 6:09 - 6:12
    Toulmouche manteve-se empenhado
    nas suas luxuosas cenas femininas.
  • 6:13 - 6:15
    Se não está estragado,
    não precisa de ser arranjado, certo?
  • 6:15 - 6:16
    Errado!
  • 6:16 - 6:18
    Porque a ascensão do Impressionismo
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    foi precisamente o que elevou
    a popularidade de Toulmouche ao máximo.
  • 6:22 - 6:25
    Podemos nunca vir a saber porque é
    que Toulmouche pintou este quadro.
  • 6:26 - 6:28
    Talvez estivesse a refletir
    numa mudança cultural mais ampla
  • 6:28 - 6:31
    que acabasse com casamentos arranjados.
  • 6:31 - 6:34
    Talvez sentisse que a sua carreira
    estava a ir por água abaixo
  • 6:34 - 6:38
    e quisesse fazer uma coisa inesperada
    para agitar as coisas.
  • 6:38 - 6:40
    Talvez quisesse dizer ao mundo
    como se sentia
  • 6:40 - 6:44
    com as informações limitadas disponíveis
    sobre a resposta crítica
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    quando esta pintura foi exposta em 1866.
  • 6:47 - 6:51
    Parece que foi recebida
    com uma aceitação média.
  • 6:51 - 6:54
    E o crítico Felix Jahyer
    escreveu sobre isso:
  • 6:54 - 6:56
    "imersa num sonho melancólico,
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    "revela saudades do passado
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    "e uma vaga preocupação quanto ao futuro,
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    "enquanto abandona os seus pensamentos
    a mil e uma preocupações
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    "cujo significado exato lhe escapa."
  • 7:07 - 7:10
    Duas das suas amigas tentam
    que ela abandone as ideias sombrias.
  • 7:10 - 7:14
    Para perceber bem
    porque é que os olhos dela faíscam
  • 7:14 - 7:18
    com mais intensidade que Dante e Virgílio
    no oitavo círculo do Inferno,
  • 7:18 - 7:22
    precisamos de revisitar algumas
    das mais duras realidades do casamento na década de 1860.
  • 7:23 - 7:25
    Segundo o código civil
    napoleónico de 1804,
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    as mulheres casadas eram tratadas
    legalmente como menores.
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    Isto significava que qualquer propriedade,
    património ou rendimentos
  • 7:31 - 7:33
    que uma mulher levasse para o csamento
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    automaticamente passavam
    a ser do marido.
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    Ainda por cima, podia
    encontrar-se grávida
  • 7:38 - 7:42
    numa época em que o parto
    era muito mais perigoso
  • 7:42 - 7:45
    e possivelmente punha em perigo
    a vida das mulheres.
  • 7:45 - 7:47
    Mesmo que ela sobrevivesse,
  • 7:47 - 7:50
    tanto ela como a criança
    pertenciam legalmente ao marido.
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    Além disso, o divórcio era ilegal
    em França na década de 1860.
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    Embora esta dinâmica de casamento
    não fosse exclusiva de França,
  • 8:00 - 8:04
    parece que Toulmouch estava
    a criricar especificamente o seu país.
  • 8:04 - 8:08
    Os vestidos das três raparigas
    da noiva hesitante
  • 8:08 - 8:11
    formam as cores da bandeira francesa
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    o que pode ser uma forma subtil
    de lançar uma sombra
  • 8:14 - 8:17
    sobre as opressivas leis de casamento
    da nação.
  • 8:17 - 8:20
    Mas, se a instituição do casamento
    era tão terrível para as mulheres,
  • 8:20 - 8:24
    porque é que elas não optavam
    por não se casar?
  • 8:24 - 8:26
    Charlotte Despard escreveu
    sobre a sua experiência
  • 8:26 - 8:29
    enquanto jovem em meados
    do século XIX.
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    Embora ela afirmasse pertencer
    a uma classe social diferente
  • 8:32 - 8:34
    da noiva do quadro de Toulmouche,
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    as palavras dela lançam luz
    sobre a mentalidade da época,
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    Ela escreve: "Foi uma época estranha,
  • 8:39 - 8:43
    "insatisfatória, cheia
    de aspirações não satisfeitas.
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    "Eu desejava ardentemente
    ser de utilidade no mundo,
  • 8:46 - 8:48
    "mas nós, enquanto raparigas,
    com pouco dinheiro
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    "e nascidas numa determinada
    posição social,
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    "não se considerava necessário
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    "que fizéssemos outra coisa
    que não fosse divertirnos,
  • 8:56 - 8:59
    "até à altura e à oportunidade
    do casamento.
  • 8:59 - 9:02
    "Mais vale um casamento qualquer
    do que ficar solteira", costumava dizer-nos uma tia idiota.
  • 9:04 - 9:08
    "A mulher das classes abastadas
    aprendia cedo a perceber
  • 9:08 - 9:14
    "que a única porta aberta
    para uma vida fácil e respeitável,
  • 9:14 - 9:15
    "era o casamento.
  • 9:15 - 9:18
    "Portanto, tinha de depender
    do seu bom aspeto,
  • 9:18 - 9:20
    "segundo os ideais dos homens
    daquela época,
  • 9:20 - 9:23
    "do seu encanto, das suas belas artes
    da sala de estar.
  • 9:23 - 9:27
    Na época, o casamento era muitas vezes
    a única via socialmente aceitávek
  • 9:27 - 9:30
    para as mulheres criarem uma vida estável
  • 9:30 - 9:32
    visto que trabalhar fora de casa`
    era mal encarado.
  • 9:32 - 9:37
    Desde muito cedo, as mulheres
    eram encorajadas
    a procurar arranjar um marido,
  • 9:37 - 9:39
    cultivando qualidades como passividade,
  • 9:39 - 9:41
    aperfeiçoando
    as suas competências domésticas
  • 9:41 - 9:43
    e melhorando o seu aspeto físico.
  • 9:43 - 9:47
    Toulmouche também criou
    outra pintura intigante
  • 9:47 - 9:49
    intitulada "O fruto proibido"
  • 9:49 - 9:51
    que era um pouco atrevida para ele.
  • 9:51 - 9:54
    Nesta obra, quatro jovens
    procuram numa biblioteca
  • 9:54 - 10:00
    para, às escondidas,
    aprenderem, às escondidas, sobre S-E...x.
  • 10:02 - 10:07
    uma coisa proibida, porque as mulheres
    deviam ser ensinadas sobre essas coisas
  • 10:07 - 10:09
    pelos maridos.
  • 10:09 - 10:11
    Quando esta pintura foi exposta, em 1885,
  • 10:11 - 10:16
    o crítico de arte Paul Manz resumiu
    a opinião dominante da época, dizendo:
  • 10:16 - 10:21
    "Não aprovo estas jovens insensatas
    que procurem em páginas proibidas
  • 10:21 - 10:23
    "o conhecimento que lhes falta,
  • 10:23 - 10:25
    "quando fariam melhor em deixar
    ao seu futuro amante
  • 10:25 - 10:29
    "o prazer de as instruir
    nos assuntos que elas ignoram."
  • 10:29 - 10:33
    Tudo isto, para dizer que Toulmouche
    podia ter usado esta pintura
  • 10:33 - 10:34
    para envergonhar as raparigas.
  • 10:34 - 10:36
    Mas não me parece que ele
    quisesse fazer isso.
  • 10:36 - 10:40
    Quanto a mim, parece que ele optou
    por ser solidário com a curiosidade delas
  • 10:40 - 10:41
    e humanizá-las.
  • 10:41 - 10:44
    E vejo a mesma abordagem
    quando olho para outras pinturas,
  • 10:44 - 10:45
    como esta aqui,
  • 10:45 - 10:48
    uma mulher que se admira num espelho.
  • 10:48 - 10:52
    Ele podia ter criticado a vaidade,
    mas não o faz.
  • 10:52 - 10:54
    Pelo contrário, é como se esteja a dizer
  • 10:54 - 10:58
    "claro, ela está a olhar para si mesma,
    vocês não fariam o mesmo?"
  • 10:58 - 11:02
    "O fruto proibido" foi pintado
    um ano antes de "A noiva hesitante"
  • 11:02 - 11:05
    e Katherine Brown, historiadora de arte,
  • 11:05 - 11:07
    sugere que há uma ligação
    entre as duas.
  • 11:07 - 11:10
    Ela defende que as raparigas
    de "O fruto proibido"
  • 11:10 - 11:13
    são as mesmas que aparecem
    em "A noiva hesitante",
  • 11:13 - 11:16
    onde agora vemos uma delas
    à beira do casamento
  • 11:17 - 11:19
    percebendo o que tem na sua frente.
  • 11:19 - 11:22
    Há um contraste flagrante
    entre o olhar intenso da noiva
  • 11:22 - 11:25
    e a sua postura caída e sem vida,
  • 11:25 - 11:29
    quase como se estivesse acorrentada
    à cadeira com grilhetas,
  • 11:29 - 11:33
    disfarçada com peles de raposa,
    com beijos e de mãos dadas.
  • 11:33 - 11:35
    Faz-me lembrar de como nos conformamos
  • 11:35 - 11:39
    em obedecer a expetativas sociais
    com as quais não concordamos.
  • 11:39 - 11:42
    Estas normas subtis
    muitas vezes não ditas,
  • 11:42 - 11:45
    formam a nossa compreensão
    de como devemos agir,
  • 11:45 - 11:48
    quem devemos ser e até
    como devemos pensar,
  • 11:48 - 11:50
    que nos influenciam silenciosamente
  • 11:50 - 11:54
    mas de forma tão poderosa
    como as correntes mais fortes.
  • 11:54 - 11:57
    Muita coisa mudou nos últimos 150 anos
  • 11:57 - 12:00
    e provavelmente vão continuar a mudar.
  • 12:00 - 12:03
    A forma como encaramos o casamento
    provavelmente continuará a evoluir.
  • 12:03 - 12:06
    Talvez um dia as noivas usem
    vestidos verdes em vez de brancos.
  • 12:06 - 12:09
    E, embora as pressões
    que tanto pesam em cima de nós
  • 12:09 - 12:11
    possam mudar com o tempo,
  • 12:11 - 12:13
    tenho a sensação
    de que o olhar na cara dela
  • 12:13 - 12:16
    se manterá para sempre na nossa memória.
Title:
Esta pintura revela uma realidade trágica
Description:

Esta peça chama-se "A Noiva Hesitante", também conhecida como "A Noiva Relutante", de Auguste Toulmouche. Somos colocados numa sala de estar ricamente decorada. Os nossos olhos são imediatamente atraídos para uma jovem noiva sentada na parte inferior central do quadro, banhada por uma luz brilhante vinda do lado oposto da sala. A raiva e o desafio ardem nos seus olhos. Estará ela a preparar-se para o casamento ou estaremos a assistir a consequências? Não podemos ter a certeza. Mas uma coisa é certa - não é assim que se deve estar no dia do casamento.

Duas mulheres jovens rodeiam a jovem noiva. Parecem ser da idade dela - talvez amigas ou irmãs. Embora as duas raparigas pareçam estar a tentar consolá-la, a noiva parece irritada e exausta... por elas... por tudo. Ao fundo, vemos uma rapariga jovem, talvez a irmã mais nova da noiva. Está a usar o toucado da noiva e admira-se ao espelho, aparentemente perdida em pensamentos - talvez imaginando o dia do seu próprio casamento, num futuro distante. Esta rapariga pode simbolizar a inocência ou refletir a forma como a “noiva relutante” se sentia em relação ao casamento, antes de se aperceber completamente daquilo em que se estava a meter.

Auguste Toulmouche apresentou esta peça no Salão de Paris de 1866, onde foi originalmente intitulada “O casamento de conveniência”.

Isto dá-nos uma pista crucial: a jovem noiva está provavelmente a ser forçada a um casamento arranjado. Isto significa que os pais da noiva provavelmente escolheram o marido por ela e, provavelmente, ela não teve uma palavra a dizer, se é que teve alguma. Então... esse olhar é-nos dirigido a nós, ou aos pais dela?

Tradução de Margarida Mariz (2025)

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Video Language:
English
Duration:
12:16

Portuguese subtitles

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