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Great Books Explained: o primeiro fólio de Shakespeare

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    Este vídeo é patrocinado por INCOGNI.
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    "A vida não passa de uma sombra ambulante.
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    "um pobre ator,
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    "que se pavoneia e se diverte no palco
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    "e depois nunca mais é ouvido."
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    "É uma história, contada por um idiota,
    cheio de sons e de fúria.
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    "Não significa nada."
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    Apesar de ser, indiscutivelmente,
    o escritor mais famoso de todos os tempos,
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    William Shakespeare continua a ser
    uma figura muito mal compreendida.
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    Atualmente, Shakespeare é considerado
    com frequência
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    como propriedade duma elite cultural
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    e a sua obra é abordada muitas vezes
    por obrigação em vez de o ser por desejo.
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    Contudo, as peças de Shakespeare
  • 0:50 - 0:55
    foram escritas sobretudo para entreter
    audiências de todos os tipos,
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    estão cheias de humor, de palhaçadas
    e de inteligentes jogos de palavras
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    e mostram uma profunda simpatia
    por pessoas vulgares
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    e pela dor, pela beleza, pela alegria
    e pelo sofrimento da vida humana.
  • 1:07 - 1:11
    São extremamente populares
    pelo mundo inteiro
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    e têm sido traduzidas
    em mais de 100 idiomas.
  • 1:14 - 1:18
    Shakespeare tem tido mais impacto
    na língua e na cultura inglesa
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    do que qualquer outro escritor.
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    E tudo começou com um livro,
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    composto por dois
    dos seus amigos e colegas
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    e publicado em 1623,
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    sete anos após a morte de Shakespeare.
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    Sem este livro, podíamos ter perdido
    grande parte da sua obra
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    visto que 18 das 36 peças
    incluídas neste primeiro fólio
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    nunca tinham sido publicadas,
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    incluindo Júlio César,
    a Tempestade e Macbeth.
  • 1:45 - 1:47
    Se não fosse este livro,
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    Shakespeare podia ter sido considerado
    apenas mais um escritor isabelino.
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    Muitas das suas peças
    são sobre reis ou sobre a nobreza,
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    mas Shakespeare escreveu sempre
    sobre o ser humano por baixo da coroa.
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    Do mesmo modo, não queria ser visto
    como um "génio" excecional,
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    pelo contrário, também queria que nós
    tentássemos compreendê-lo enquanto homem,
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    uma pessoa com sentimentos,
    com defeitos e contradições.
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    Tal como o seu personagem,
    Ricardo II deseja, quando diz.
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    "ponde de lado o respeito, a tradição,
    o dever formal e cerimonioso,
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    "porque sempre tivestes
    dificuldade em me compreender."
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    "Como vós, eu vivo também de pão,
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    "padeço de privações,
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    "sou sensível às dores,
    necessito de amigos,
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    "Se deste modo sou escravo,
    "como ousais vir dizer-me que eu sou rei?
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    1. Início da Vida
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    "O mundo inteiro é um palco,
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    "todos os homens e as mulheres
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    " são artistas que nele entram e saem.
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    "Muitos papéis cada um tem no seu tempo."
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    William Shakespeare nasceu em 1564
    em Stratford-upon-Avon,
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    na altura uma cidade muito pequena.
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    William andou numa escola primária
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    onde conheceu os clássicos,
    como Ovídio e Plutarco,
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    cujas obras lhe serviriam mais tarde
    de inspiração para as suas peças.
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    Ao contrário de outros dramaturgos
    da sua época,
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    Shakespeare não frequentou a Universidade.
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    Em 1582, William casou-se com a filha
    de um agricultor, chamada Anne Hathaway,
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    Tinha apenas 18 anos no dia do casamento
    e Anne tinha 26.
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    Estava grávida do seu primeiro filho.
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    O casal teve três filhos ao todo,
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    uma rapariga chamada Susanna
    e depois dois gémeos, Judith e Hamnet.
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    A família manter-se-ia em Stratford,
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    enquanto ele se mudava para Londres
    para concretizar os seus sonhos.
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    Por volta de 1592, Shakespeare já era
    um ator bem conhecido no palco londrino.
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    2. Criando um Nome
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    Shakespeare foi um dos fundadores
    da companhia de teatro
  • 4:11 - 4:13
    os Lord Chamberlain's Men
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    que, em 1594, passariam a chamar-se
    os King's Men,
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    e começou a escrever peças
    para representarem.
  • 4:19 - 4:22
    A princípio, escrevia
    peças históricas e comédias.
  • 4:22 - 4:25
    A audiência londrina acorria
    às peças históricas
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    que existiam, às dezenas,
    na história de Inglaterra
  • 4:29 - 4:31
    do século XII ao século XVI.
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    Tal como as comédias de Shakespeare
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    têm temas sombrios
    e situações trágicas,
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    também as suas tragédias
    têm alguns momentos cómicos,
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    e as peças históricas de Shakespeare
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    não são só sobre a história
    com H grande.
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    "É um punhal o que vejo à minha frente?"
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    São sobretudo dramas humanos.
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    Na verdade, são a fonte
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    de alguns dos personagens
    mais notáveis de Shakespeare,
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    incluindo o extravagante, verboso
    e vaidoso Ricardo II.
  • 4:59 - 5:02
    "Com as minhas lágrimas,
    eu próprio tiro o meu bálsamo.
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    "Com as minhas mãos,
    entrego a minha coroa.
  • 5:04 - 5:07
    "Com a minha língua,
    renego o meu estatuto sagrado."
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    O ardente e impetuoso
    jovem cavaleiro Hotspur:
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    "Sim, por ele esvaziarei todas as veias,
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    "e deixarei cair na poeira
    o meu querido sangue, gota a gota.
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    "Mas erguerei o oprimido Mortimer
    tão alto quanto este rei ingrato..."
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    "ou o conivente maquiavélico
    Ricardo III,
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    um personagem sedento de poder
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    cuja corcunda simbolizava
    a sua moral defeituosa.
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    "Agora é o Inverno
    do nosso descontentamento
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    "transformado num glorioso Verão
    por este filho de York."
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    As histórias são tanto sobre pessoas,
    as suas vidas, relações e sentimentos
  • 5:46 - 5:49
    como são sobre a história duma nação.
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    Shakespeare era sobretudo
    um contador de histórias
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    e, tal como o entretenimento
    popular da atualidade,
  • 5:55 - 5:58
    as peças por vezes desviam-se
    dos factos históricos
  • 5:58 - 6:00
    para se obter um efeito dramático.
  • 6:00 - 6:03
    Ricardo III não foi o vilão
    que Shakespeare retratou,
  • 6:03 - 6:05
    mas convinha à propaganda Tudor
  • 6:05 - 6:08
    — tal como a versão de Shakespeare
    de "A Guerra das Rosas" —
  • 6:09 - 6:11
    e, em Ricardo II ele põe o rei
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    com a mesma idade da sua mulher
    Isabel de Valois,
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    enquanto Ricardo II tinha 29 anos
    quando casou com Isabela, de 7 anos.
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    Depois das primeiras histórias e comédias,
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    Shakespeare começou a mudar
    para as tragédias.
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    O período segue-se à morte de Hamnet,
    de 11 anos, filho de Shakespeare
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    (e gémeo de Judith) que morreu em 1596.
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    Shakespeare devia ter isso presente
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    quando escreveu a última comédia
    "Noite de Reis",
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    uma peça sobre Viola e Sebastian,
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    irmãos gémeos que foram separados
    durante uma violenta tempestade
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    mas acabam por se encontrar.
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    Só podemos imaginar
    como Shakespeare devia sentir desesperado
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    que os seus gémeos também
    voltassem a encontrar-se.
  • 6:53 - 6:55
    Cinco anos depois, em 1601,
  • 6:55 - 6:58
    o seu querido pai John Shakespeare
    também morreu
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    e, por volta dessa época, temos
    uma das suas maiores tragédias, Hamlet,
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    sobre um filho que chora o pai.
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    "Eu sou o espírito do teu pai,
  • 7:07 - 7:11
    "condenado a assombrar a noite
    durante algum tempo."
  • 7:12 - 7:14
    Começa com a declaração de Hamlet
  • 7:14 - 7:18
    de que está a sofrer uma dor
    que não consegue exprimir.
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    Toda a peça vê Hamlet
    a tentar verbalizar
  • 7:21 - 7:23
    o que se passa dentro da sua cabeça
  • 7:23 - 7:25
    ou, como ele diz,
  • 7:25 - 7:27
    "ele precisa de esvaziar o coração
    com palavras."
  • 7:28 - 7:31
    Enquanto personagem, Hamlet
    é considerado um ponto de viragem
  • 7:31 - 7:35
    para um novo nível de realismo
    psicológico e emocional no teatro,
  • 7:35 - 7:39
    e os seus temas,
    como a indecisão e a inação,
  • 7:39 - 7:41
    a influência corruptora do poder,
  • 7:41 - 7:44
    e as complexidades da psique humana,
  • 7:44 - 7:46
    continuam a ter eco
    nas audiências modernas.
  • 7:47 - 7:50
    Esta obra foi uma revelação
    e, depois de Hamlet,
  • 7:50 - 7:53
    Shakespeare entrou num importante
    período médio da sua carreira,
  • 7:53 - 7:58
    em que escreveu algumas das suas tragédias
    mais monumentais e mais poderosas,
  • 7:58 - 8:01
    incluindo o Rei Lear e Otelo.
  • 8:01 - 8:03
    Otelo tem sido descrito
  • 8:03 - 8:07
    como "a mais dolorosamente emocionante
    e mais terrível de todas estas tragédias".
  • 8:07 - 8:10
    Tem um enredo explosivo e melodramático,
  • 8:10 - 8:14
    assim como uma poesia particularmente
    grandiosa e musical.
  • 8:14 - 8:18
    A história fala de um forasteiro racial
    transformado em herói militar
  • 8:18 - 8:20
    que é enganado pelo malvado Iago
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    e acaba por ser devorado vivo
  • 8:23 - 8:26
    por aquilo que é referido como
    "o monstro de olhos verdes do ciúme",
  • 8:26 - 8:29
    e mata a sua mulher Desdémona.
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    O trágico Otelo suicida-se
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    a fim de assumir a responsabilidade
    por matar Desdémona
  • 8:34 - 8:37
    e, no seu solilóquio de moribundo
    reconhece
  • 8:37 - 8:41
    que foi a sua procura do amor
    que o levou à perdição.
  • 8:43 - 8:45
    "Então, tens de falar de alguém
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    "que amou, não sabiamente,
    mas demasiado bem,
  • 8:50 - 8:55
    "de alguém não facilmente ciumento,
    mas, vítima de intriga,
  • 8:55 - 8:58
    "perplexo ao máximo..."
  • 8:59 - 9:01
    3. Teatro Isabelino
  • 9:01 - 9:05
    No início do período isabelino,
    os teatros não eram populares.
  • 9:05 - 9:07
    Os atores eram pouco
    mais considerados que os pedintes
  • 9:07 - 9:10
    e os escritores ganhavam
    menos do que os atores.
  • 9:10 - 9:13
    No final do mesmo período,
    o teatro estava a prosperar,
  • 9:13 - 9:15
    assim como Shakespeare.
  • 9:15 - 9:18
    Tornara-se num negócio
    de entretenimento de massas:
  • 9:18 - 9:20
    um negócio lucrativo,
    de rápida evolução,
  • 9:20 - 9:23
    e Shakespeare era um
    dos seus maiores êxitos,
  • 9:23 - 9:25
    ganhando mais dinheiro com a sua obra
  • 9:25 - 9:28
    do que praticamente
    todos os seus contemporâneos.
  • 9:28 - 9:30
    O teatro era popular em todas as classes.
  • 9:31 - 9:33
    Os "lugares dos lordes"
    eram os melhores assentos.
  • 9:33 - 9:35
    Apesar de verem os atores pelas costas
  • 9:35 - 9:38
    conseguiam ouvir todas as palavras da peça
  • 9:38 - 9:40
    acima do barulho da audiência.
  • 9:40 - 9:44
    As galerias tinham assentos de madeira
    mas eram cobertas, no caso de chover.
  • 9:44 - 9:47
    Os pobres conhecidos
    como os “groundlings”,
  • 9:47 - 9:50
    pagavam um cêntimo para ficarem
    muito perto da ação no palco.
  • 9:51 - 9:54
    No pino do verão, os "groundings"
    também eram designados
  • 9:54 - 9:57
    por "malcheirosos", por razões óbvias.
  • 9:57 - 10:01
    Comiam, bebiam, aplaudiam e vaiavam
    durante as representações,
  • 10:01 - 10:04
    e exigiam que a peça
    tinha de os entreter
  • 10:04 - 10:06
    — e Shakespeare entretinha-os.
  • 10:06 - 10:09
    usando temas que tinham um amplo atrativo
  • 10:09 - 10:13
    — amor, morte, ambição, poder e destino —
  • 10:13 - 10:16
    misturando inteligentes jogos de palavras
    e piadas intelectuais
  • 10:16 - 10:20
    com insinuações grosseiras,
    humor baixo e palhaçadas,
  • 10:22 - 10:25
    "Este é o túmulo da velha Ninny!"
  • 10:31 - 10:33
    Contrariamente ao que muita gente pensa,
  • 10:33 - 10:36
    Shakespeare tinha um lado
    muito comercial.
  • 10:36 - 10:38
    Era um empresário
    e proprietário de um teatro
  • 10:38 - 10:41
    e escrevia para entreter audiências
    e para ganhar dinheiro.
  • 10:42 - 10:45
    Como sugeria no epílogo
    da sua última peça, "A Tempestade",
  • 10:45 - 10:48
    queria dar às audiências
    um tempo agradável
  • 10:48 - 10:50
    queria agradar às pessoas.
  • 10:50 - 10:54
    "Ao vosso suave sopro,
    as minhas velas hão de enfunar
  • 10:54 - 10:57
    "senão o meu projeto falha,
    o de vos agradar."
  • 11:00 - 11:02
    4. Suspendei a vossa Descrença
  • 11:03 - 11:05
    Neste mercado de ritmo acelerado,
  • 11:05 - 11:08
    a tendência não era de escrever
    peças novas, originais,
  • 11:08 - 11:12
    mas, pelo contrário, a norma era
    os dramaturgos adaptarem histórias
  • 11:12 - 11:13
    que já eram conhecidas.
  • 11:14 - 11:16
    Antes de Shakespeare
    escrever a sua peça
  • 11:16 - 11:19
    já existia uma peça idêntica a Hamlet
  • 11:19 - 11:22
    e uma outra que se chamava "King Leir",
  • 11:22 - 11:25
    ambas as quais foram escritas
    por Thomas Kidd.
  • 11:25 - 11:30
    O "Conto do Inverno" foi buscar a intriga
    a um livro popular na altura, Pandosto,
  • 11:30 - 11:33
    enquanto "Romeu e Julieta"
    já era muito conhecido em Inglaterra
  • 11:33 - 11:35
    do poema de Arthur Brook,
  • 11:35 - 11:37
    que conta exatamente a mesma história.
  • 11:37 - 11:41
    Mas é aquilo que Shakespeare
    faz com as suas fontes
  • 11:41 - 11:43
    que o torna Shakespeare.
  • 11:43 - 11:46
    Por exemplo, na versão mais antiga
    da história de Romeu e Julieta,
  • 11:46 - 11:49
    quando Julieta beija Romeu
    depois de ele ter morrido,
  • 11:49 - 11:52
    descreve a boca dele
    como estando "fria como pedra",
  • 11:52 - 11:54
    enquanto que, na peça de Shakespeare,
  • 11:54 - 11:57
    Julieta beija a boca de Romeu e diz:
  • 11:57 - 11:59
    "Os teus lábios aindaestão quentes."
  • 12:01 - 12:04
    Esta alteração engenhosa, embora pequena,
  • 12:04 - 12:09
    sublinha o facto de Romeu ter morrido
    segundos antes de Julieta acordar,
  • 12:09 - 12:11
    o que torna o beijo mais trágico
  • 12:11 - 12:14
    e também mais íntimo e mais sensual,
  • 12:14 - 12:18
    enquanto Julieta sente nos seus lábios
    o calor do corpo de Romeu a diminuir.
  • 12:19 - 12:23
    Muitas das peças de Shakespeare
    têm fontes da História clássica,
  • 12:23 - 12:26
    como Júlio César, António e Cleópatra,
    e Coriolano
  • 12:27 - 12:30
    — "Venho enterrar César,
    não venho elogiá-lo." —
  • 12:30 - 12:32
    enquanto outra importante fonte
    para Shakespeare
  • 12:32 - 12:36
    foi um volume de História de Inglaterra,
    chamado "Crónicas de Holinshed".
  • 12:38 - 12:41
    Embora hoje possamos
    não querer saber
  • 12:41 - 12:43
    antecipadamente o desfecho da intriga,
  • 12:43 - 12:47
    a maioria das audiências de Shakespeare
    sabia como a história acabava.
  • 12:47 - 12:49
    No caso de Romeu e Julieta,
  • 12:49 - 12:52
    dizem-nos logo no prólogo
    exatamente o que vai acontecer
  • 12:52 - 12:55
    "Dois amantes malfadados suicidam-se."
  • 12:55 - 12:58
    Shakespeare pede à audiência
  • 12:58 - 13:01
    que mergulhem completamente
    no "mundo imaginado"
  • 13:01 - 13:03
    como no "Conto do Inverno"
  • 13:03 - 13:07
    antes de uma estátua de Hermione,
    a mulher morta de Leontes ganhar vida,
  • 13:07 - 13:09
    Shakespeare diz à audiência:
  • 13:09 - 13:12
    "É necessário que desperteis a vossa fé."
  • 13:12 - 13:15
    Por outras palavras,
    suspendam a vossa incredulidade.
  • 13:16 - 13:18
    5. Tragicomédia
  • 13:18 - 13:22
    O primeiro fólio organizou as tragédias
    de Shakespeare em três categorias:
  • 13:22 - 13:24
    Comédias, Histórias e Tragédias.
  • 13:25 - 13:28
    Mas, dentro destas categorias
    há sempre uma fertilização cruzada
  • 13:28 - 13:31
    de seriedade e trivialidade,
  • 13:31 - 13:33
    de escuridão e de luz.
  • 13:33 - 13:36
    É a amplitude de sentimentos
    expressos nas peças de Shakespeare
  • 13:36 - 13:38
    que é tão espantosa
  • 13:38 - 13:40
    e nas suas obras podemos sempre ver
  • 13:40 - 13:43
    a sua vontade de tratar os aspetos
    contraditórios da vida,
  • 13:44 - 13:47
    Nalgumas das mais importantes
    obras de Shakespeare, como "O Rei Lear",
  • 13:47 - 13:50
    ele cria cenas
    de inacreditável ternura e amor
  • 13:50 - 13:53
    assim como as profundezas mais sombrias
    de desespero e de raiva.
  • 13:54 - 13:57
    Ou em "Noite de Reis",
    quando uma partida muito engraçada
  • 13:57 - 13:59
    que põe o público a rir às gargalhadas
  • 13:59 - 14:02
    passa rapidamente a uma manipulação
    psicológica intensa
  • 14:02 - 14:06
    terminando numa promessa
    sombria de Malvolio:
  • 14:06 - 14:08
    "Eu hei de me vingar..."
  • 14:10 - 14:13
    "... de todos vocês."
  • 14:15 - 14:16
    Em "Titus Andronicus",
  • 14:16 - 14:19
    Shakespeare tece habilmente
    o sangue e o humor negro,
  • 14:20 - 14:23
    como quando a personagem principal
    Titus serve a Tamora,
  • 14:23 - 14:26
    os filhos dela, mortos,
    cozinhados numa tarte!
  • 14:26 - 14:28
    É tão sanguinolento e violento
  • 14:28 - 14:31
    que quase se torna perversamente cómico
  • 14:31 - 14:33
    pelo uso de um melodrama insano.
  • 14:34 - 14:38
    "Porquê? Aí estão eles os dois,
    cozinhados nesta tarte,
  • 14:38 - 14:42
    "que a mãe deles se alimentou
    delicadamente,
  • 14:42 - 14:45
    "comendo a carne que ela mesma criou.
  • 14:45 - 14:47
    "É verdade, é verdade!
  • 14:47 - 14:50
    "A ponta afiada da minha faca
    é testemunha."
  • 14:50 - 14:53
    Na verdade, os limites
    do género cómico e trágico
  • 14:53 - 14:55
    foram testados no teatro isabelino
  • 14:55 - 14:59
    e Shakespeare esteve na linha da frente
    desta revolução teatral,
  • 15:00 - 15:03
    como pioneiro, particularmente
    nas suas últimas peças,
  • 15:03 - 15:05
    do género tragicomédia.
  • 15:05 - 15:08
    A forma tragicómica de Shakespeare
    de olhar para o mundo,
  • 15:08 - 15:11
    está mais bem demonstrada
    em "O Conto do Inverno",
  • 15:11 - 15:14
    uma peça em que Antigonus,
    um homem de bom coração,
  • 15:14 - 15:16
    é atacado e morto por um urso,
  • 15:17 - 15:19
    um evento fundamentalmente trágico
  • 15:19 - 15:21
    que se torna simultaneamente cómico
  • 15:22 - 15:26
    quando um homem vestido de urso
    persegue Antigonus pelo palco.
  • 15:26 - 15:31
    É também uma oportunidade para Shakespeare
    nos dar uma rara orientação de cena:
  • 15:31 - 15:33
    "Saída perseguida por um urso".
  • 15:34 - 15:36
    Esta morte tragicómica
    é seguida imediatamente
  • 15:36 - 15:39
    pela descoberta
    de uma criança recém-nascida.
  • 15:39 - 15:42
    É um momento shakespeariano clássico,
  • 15:42 - 15:45
    em que o desespero e a esperança
    se cruzam,
  • 15:45 - 15:49
    e a tragédia muda repentinamente
    para a esperança da comédia.
  • 15:49 - 15:54
    Num barulhento teatro ao ar livre
    com tantas distrações,
  • 15:54 - 15:58
    Shakespeare era um mestre
    em manter a audiência envolvida,
  • 15:59 - 16:02
    e as peças dele mostram-nos
    a verdade, vezes sem conta,
  • 16:02 - 16:05
    de que a vida tanto pode ser
    ridícula como triste,
  • 16:05 - 16:08
    trágica e cómica ao mesmo tempo.
  • 16:09 - 16:10
    6. Magia
  • 16:11 - 16:15
    Na véspera do Ano Novo em 1607,
    morreu Edmund, o irmão de Shakespeare,
  • 16:15 - 16:19
    seguido pelo sobrinho de Shakespeare
    apenas uns meses depois.
  • 16:19 - 16:23
    Ambas as mortes ocorreram durante
    um significativo surto de peste em Londres
  • 16:23 - 16:26
    quando Shakespeare regressara
    a Stratford-upon-Avon para escrever.
  • 16:27 - 16:30
    Susana, a filha de Shakespeare,
    casou-se no mesmo ano
  • 16:30 - 16:32
    e em breve ficou grávida
    do primeiro neto dele.
  • 16:33 - 16:37
    Este ano tumultuoso com as tristes mortes
    e as perspetivas felizes
  • 16:37 - 16:40
    precipitou uma mudança surpreendente
    na carreira de Shakespeare.
  • 16:41 - 16:44
    Foi por esta altura
    que ele se virou para a magia.
  • 16:44 - 16:48
    "Se isto é magia, que seja uma arte
  • 16:48 - 16:51
    "tão lícita como comer."
  • 16:51 - 16:53
    As suas quatro obras finais:
  • 16:53 - 16:57
    Cimbelino, O Conto do Inverno,
    Péricles e A Tempestade,
  • 16:57 - 16:59
    todas elas se inspiraram na magia.
  • 16:59 - 17:04
    São obras sentimentais com personagens
    que procuram uma forma de regressar a casa,
  • 17:04 - 17:07
    e reunirem-se com os seus entes queridos,
  • 17:08 - 17:13
    tal como Shakespeare, quando regressou
    a Stratford-upon-Avon.
  • 17:14 - 17:16
    7. Uma Morte Anunciada?
  • 17:16 - 17:20
    Shakespeare morreu em 1616, aos 52 anos.
  • 17:20 - 17:23
    Apesar da aparente rapidez
    da morte do dramaturgo,
  • 17:23 - 17:25
    as suas últimas peças
    — escritas anos antes —
  • 17:25 - 17:27
    parecem ser a obra de um escritor
  • 17:28 - 17:31
    estranhamente consciente
    da sua própria morte.
  • 17:31 - 17:34
    Na sua última peça, "A Tempestade",
  • 17:34 - 17:38
    o protagonista Próspero,
    aqui desempenhado por uma mulher,
  • 17:38 - 17:41
    tem consciência de que se aproxima
    o fim da sua vida,
  • 17:41 - 17:43
    e planeia voltar a casa para morrer.
  • 17:44 - 17:46
    "E assim me retiro para a minha Milão,
  • 17:48 - 17:50
    "onde penso com frequência
  • 17:52 - 17:54
    "na minha sepultura."
  • 17:54 - 17:56
    E em "O Conto do Inverno",
  • 17:56 - 17:58
    um Camilo, cansado do mundo,
  • 17:58 - 18:00
    também faz planos
    para ir para casa morrer.
  • 18:00 - 18:03
    "Há 15 anos que não vejo o meu país.
  • 18:03 - 18:05
    "Embora na maior parte
    tenha estado fora,
  • 18:05 - 18:08
    "é lá que desejo repousar os meus ossos."
  • 18:09 - 18:12
    E é "lá" que repousam
    os ossos de Shakespeare
  • 18:12 - 18:14
    na sua cidade natal
    de Stratford-upon-Avon,
  • 18:14 - 18:17
    outrora uma pequena e ignorada cidade.
  • 18:18 - 18:20
    Hoje, graças a ele,
  • 18:20 - 18:23
    um dos locais mais visitados do planeta.
  • 18:26 - 18:29
    Agora, uma palavra do meu patrocinador.
  • 18:29 - 18:31
    Se já assinaram um cartão de fidelidade
  • 18:31 - 18:34
    e, de repente, recebem emails aleatórios,
  • 18:34 - 18:36
    ou pesquisam no Google
    "great books explained"
  • 18:36 - 18:38
    e recebem imensos emails suspeitos
  • 18:38 - 18:41
    sobre livrarias online
    ou livros novos que não vos interessam,
  • 18:41 - 18:44
    isso acontece porque
    essas companhias
  • 18:44 - 18:47
    andam a vender as vossas informações
    a corretores de dados e anunciantes.
  • 18:47 - 18:51
    As nossas informações pessoais
    estão a ser vendidas ou publicadas online
  • 18:51 - 18:54
    sempre que preenchemos um questionário
    ou abrimos uma nova conta,
  • 18:54 - 18:57
    sem que nós tenhamos conhecimento disso.
  • 18:57 - 19:00
    O que acontece é que, por lei,
    esses corretores de dados
  • 19:00 - 19:03
    têm de apagar as nossas informações,
    quando pedirmos.
  • 19:03 - 19:07
    Mas quem é que tem tempo para enviar
    centenas de emails a corretores de dados?
  • 19:07 - 19:11
    A INCOGNI que patrocina este vídeo,
    faz isso por nós.
  • 19:11 - 19:14
    Contactam os corretores de dados
    em nosso nome
  • 19:14 - 19:17
    e exigem que as nossas informações
    sejam eliminadas da lista deles.
  • 19:17 - 19:20
    E quando o nosso nome é eliminado,
    eles avisam-nos.
  • 19:20 - 19:24
    Só temos de criar uma conta
    e deixar a INCOGNI trabalhar.
  • 19:24 - 19:27
    Eu já o fiz e agora
    já não recebo lixo
  • 19:27 - 19:31
    e, melhor ainda, não recebo
    telefonemas desconhecidos.
  • 19:31 - 19:35
    As primeiras 100 pessoas a usar BOOKS
    na ligação abaixo
  • 19:35 - 19:38
    beneficiam de 60% de desconto da INCOGNI.
  • 19:39 - 19:41
    Obrigado por assistirem.
  • 19:41 - 19:43
    Tradução de Margarida Mariz (2025)
Title:
Great Books Explained: o primeiro fólio de Shakespeare
Description:

Apesar de ser, indiscutivelmente, o escritor mais famoso de todos os tempos, William Shakespeare continua a ser uma figura amplamente incompreendida. Atualmente, é muitas vezes visto como propriedade da elite cultural, e a sua obra é frequentemente abordada por obrigação e não por desejo. Mas Shakespeare era um populista e as suas peças foram escritas, antes de mais, para entreter o público - de todos os géneros. Estão cheias de humor, de palhaçadas e de jogos de palavras inteligentes, e têm uma profunda simpatia pelas pessoas comuns e pela dor, pela beleza, pela alegria e pelo sofrimento que todos sentimos. São, de facto, puro entretenimento.

Traduzido com a versão gratuita do tradutor - DeepL.com

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Video Language:
English
Duration:
19:43

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