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O meu ataque de instrospecção

  • 0:00 - 0:02
    Eu cresci para estudar o cérebro
  • 0:02 - 0:05
    porque tenho um irmão a quem
    foi diagnosticado
  • 0:05 - 0:08
    um problema cerebral: esquizofrenia.
  • 0:08 - 0:13
    E, como irmã, mais tarde como cientista,
  • 0:13 - 0:16
    quis perceber porque é que eu consigo
    agarrar nos meus sonhos,
  • 0:16 - 0:21
    consigo ligá-los à minha realidade
    e posso torná-los realidade.
  • 0:21 - 0:23
    O que é que faz com que
    o cérebro do meu irmão
  • 0:23 - 0:27
    e a sua esquizofrenia
    não consigam ligar os seus sonhos
  • 0:27 - 0:30
    a uma realidade comum e partilhada,
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    tornando-se, em vez disso, em ilusões?
  • 0:33 - 0:35
    Foi por isso que dediquei
    a minha carreira
  • 0:35 - 0:37
    à investigação de doenças mentais graves.
  • 0:38 - 0:41
    E mudei-me do meu estado natal,
    Indiana, para Boston,
  • 0:41 - 0:44
    onde trabalhava no laboratório
    da Dra. Francine Benes,
  • 0:44 - 0:46
    no Departamento Psiquiátrico de Harvard.
  • 0:47 - 0:50
    No laboratório colocávamos
    a seguinte pergunta;
  • 0:50 - 0:55
    "Quais são as diferenças biológicas
    entre os cérebros de indivíduos
  • 0:55 - 0:57
    que são diagnosticados como normais
  • 0:57 - 1:00
    comparativamente
    com os cérebros de indivíduos
  • 1:00 - 1:02
    diagnosticados com esquizofrenia,
  • 1:02 - 1:05
    perturbação esquizoafectiva
    ou perturbação bipolar?"
  • 1:05 - 1:08
    Elaborámos um mapa
    dos microcircuitos cerebrais:
  • 1:08 - 1:12
    quais as células que comunicam entre si,
  • 1:12 - 1:15
    através de que químicos
  • 1:15 - 1:17
    e qual a quantidade desses químicos?
  • 1:17 - 1:19
    A minha vida tinha muito significado,
  • 1:19 - 1:24
    porque realizava este tipo
    de investigação durante o dia.
  • 1:23 - 1:26
    Mas, depois, nos serões
    e nos fins-de-semana,
  • 1:26 - 1:31
    viajava como membro da ANDM (NAMI),
    a Aliança Nacional para as Doenças Mentais.
  • 1:32 - 1:35
    Mas na manhã de 10 de Dezembro de 1996,
  • 1:35 - 1:39
    quando acordei, descobri que eu também
    tinha uma perturbação cerebral.
  • 1:39 - 1:43
    Tinha rebentado um vaso sanguíneo
    na metade esquerda do meu cérebro.
  • 1:44 - 1:46
    Nas quatro horas seguintes,
  • 1:46 - 1:50
    assisti à deterioração total
    do meu cérebro
  • 1:50 - 1:53
    quanto à capacidade
    de processar informações.
  • 1:53 - 1:56
    Na manhã da hemorragia,
    eu não conseguia andar, falar,
  • 1:56 - 2:00
    ler, escrever ou lembrar-me da minha vida.
  • 2:00 - 2:04
    Tornei-me numa criança
    num corpo de mulher.
  • 2:05 - 2:08
    Se já viram um cérebro humano,
  • 2:08 - 2:11
    é óbvio que os dois hemisférios
    estão totalmente separados um do outro.
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    Eu trouxe-vos um cérebro humano verdadeiro.
  • 2:25 - 2:28
    Portanto, este é
    um cérebro humano verdadeiro.
  • 2:28 - 2:31
    Esta é a parte da frente do cérebro,
  • 2:31 - 2:34
    a parte de trás, com
    a medula espinal pendurada,
  • 2:34 - 2:37
    e seria assim que ele estaria posicionado
    dentro da minha cabeça.
  • 2:38 - 2:40
    Quando olhamos para o cérebro,
  • 2:40 - 2:45
    é óbvio que os dois córtexes cerebrais
    estão totalmente separados um do outro.
  • 2:46 - 2:48
    Para os que percebem de computadores,
  • 2:48 - 2:52
    o nosso hemisfério direito funciona
    como um processador paralelo,
  • 2:52 - 2:56
    enquanto o nosso hemisfério esquerdo
    funciona como um processador em série.
  • 2:56 - 3:00
    Os dois hemisférios comunicam entre si
  • 3:00 - 3:01
    através do corpo caloso,
  • 3:01 - 3:05
    que é constituído por cerca
    de 300 milhões de axónios.
  • 3:05 - 3:06
    Mas, aparte isso,
  • 3:06 - 3:09
    os dois hemisférios
    estão totalmente separados.
  • 3:10 - 3:13
    Como processam a informação
    de forma distinta,
  • 3:13 - 3:16
    cada um dos nossos hemisférios
    pensa em coisas diferentes,
  • 3:16 - 3:20
    preocupa-se com coisas diferentes
    e, atrevo-me a dizer,
  • 3:20 - 3:22
    tem uma personalidade diferente.
  • 3:25 - 3:29
    Perdão. Obrigada. Foi um prazer.
  • 3:30 - 3:33
    (Risos)
  • 3:34 - 3:38
    O nosso hemisfério direito
    dedica-se ao momento presente.
  • 3:38 - 3:42
    Com o "aqui e agora."
  • 3:42 - 3:45
    O nosso hemisfério direito
    pensa por imagens
  • 3:45 - 3:50
    e aprende quinestesicamente
    através do movimento do nosso corpo.
  • 3:50 - 3:55
    As informações, sob a forma de energia,
    percorrem simultaneamente
  • 3:55 - 3:57
    todos os nossos sistemas sensoriais
  • 3:57 - 4:00
    e depois explodem nessa enorme colagem
  • 4:00 - 4:03
    que é a forma como vemos
    este momento presente,
  • 4:03 - 4:08
    o cheiro e o sabor deste momento presente,
  • 4:08 - 4:11
    a forma como o sentimos e ouvimos.
  • 4:11 - 4:17
    Eu sou um ser energético
    ligado à energia à minha volta
  • 4:17 - 4:20
    através da consciência
    do meu hemisfério direito.
  • 4:20 - 4:24
    Somos seres energéticos
    ligados uns aos outros
  • 4:24 - 4:27
    através da consciência
    do nosso hemisfério direito
  • 4:27 - 4:29
    como uma família humana.
  • 4:30 - 4:35
    E aqui mesmo, agora mesmo,
    somos irmãos e irmãs neste planeta,
  • 4:35 - 4:37
    para fazer do mundo um lugar melhor.
  • 4:37 - 4:43
    E neste momento somos perfeitos,
    somos um todo e somos belos.
  • 4:44 - 4:49
    O nosso hemisfério esquerdo
    é um lugar muito diferente.
  • 4:49 - 4:53
    O nosso hemisfério esquerdo
    pensa linear e metodicamente.
  • 4:54 - 4:55
    O nosso hemisfério esquerdo
  • 4:55 - 4:59
    dedica-se ao passado e dedica-se ao futuro.
  • 4:59 - 5:02
    O nosso hemisfério esquerdo está desenhado
  • 5:02 - 5:05
    para pegar nessa enorme colagem
    que é o momento presente
  • 5:05 - 5:09
    e começar a procurar detalhes, detalhes
    e mais detalhes acerca desses detalhes.
  • 5:10 - 5:12
    Depois categoriza e organiza
  • 5:12 - 5:15
    todas as informações, associa-as
  • 5:15 - 5:18
    com tudo o que aprendemos no passado
  • 5:18 - 5:21
    e projecta no futuro
    todas as nossas possibilidades.
  • 5:22 - 5:26
    E o nosso hemisfério esquerdo
    pensa através de linguagem.
  • 5:26 - 5:29
    É aquela voz permanente dentro do cérebro
  • 5:29 - 5:33
    que me liga a mim e ao meu mundo interno
    ao meu mundo externo.
  • 5:33 - 5:37
    É aquela pequena voz que me diz:
  • 5:37 - 5:40
    "Não te esqueças de comprar bananas
    no caminho para casa.
  • 5:40 - 5:42
    Preciso delas de manhã."
  • 5:42 - 5:46
    É essa inteligência calculista
    que me lembra que tenho de lavar a roupa.
  • 5:47 - 5:49
    Mas talvez mais importante,
  • 5:49 - 5:51
    é aquela pequena voz que me diz:
  • 5:52 - 5:55
    "Eu sou. Eu sou."
  • 5:56 - 6:01
    Logo que o meu hemisfério esquerdo me diz:
    "Eu sou," eu separo-me.
  • 6:01 - 6:04
    Torno-me num indivíduo sólido e singular,
  • 6:04 - 6:07
    separado do fluxo de energia à minha volta,
    e separada de vocês.
  • 6:08 - 6:12
    Foi essa parte do meu cérebro que eu perdi
    na manhã do meu AVC.
  • 6:13 - 6:19
    Na manhã do AVC, acordei com uma forte dor
    por detrás do meu olho esquerdo.
  • 6:20 - 6:23
    Era daquele tipo de dor cáustica
    que sentimos
  • 6:23 - 6:25
    quando damos uma dentada num gelado.
  • 6:25 - 6:28
    A dor apertou-me e depois libertou-me.
  • 6:29 - 6:32
    Depois apertou-me e depois libertou-me.
  • 6:33 - 6:37
    Era muito invulgar eu sentir
    qualquer tipo de dor, por isso pensei:
  • 6:37 - 6:40
    "Ok, vou começar a minha rotina normal".
  • 6:40 - 6:42
    Levantei-me e saltei
    para a minha máquina de exercícios,
  • 6:42 - 6:45
    que exercita todo o corpo.
  • 6:47 - 6:50
    Estava a trabalhar naquela coisa
    e a aperceber-me
  • 6:50 - 6:55
    que as minhas mãos pareciam
    garras primitivas a agarrar a barra.
  • 6:55 - 6:58
    E pensei: "Isto é muito estranho."
  • 6:58 - 7:00
    Olhei para o meu corpo e pensei:
  • 7:00 - 7:03
    "Uau! sou uma coisa
    com um aspecto esquisito."
  • 7:03 - 7:06
    Era como se a minha consciência
    se tivesse deslocado
  • 7:06 - 7:10
    da minha percepção normal da realidade,
    de que eu sou uma pessoa numa máquina,
  • 7:10 - 7:13
    a viver uma experiência,
    para uma espécie de espaço esotérico
  • 7:13 - 7:16
    em que assisto à minha própria experiência.
  • 7:17 - 7:21
    Era tudo muito estranho,
    a minha dor de cabeça estava cada vez pior.
  • 7:21 - 7:24
    Saí da máquina, começo a atravessar a sala
  • 7:24 - 7:29
    e apercebo-me de que tudo
    dentro do meu corpo estava mais lento.
  • 7:29 - 7:32
    Cada passo era muito rígido
    e muito deliberado.
  • 7:32 - 7:35
    Não havia fluidez no meu andar,
  • 7:35 - 7:38
    e havia uma constrição
    na minha área de percepção,
  • 7:38 - 7:41
    que me fazia focar apenas
    nos sistemas internos.
  • 7:41 - 7:44
    Eu estava na casa de banho
    a preparar-me para entrar no chuveiro,
  • 7:44 - 7:47
    e conseguia ouvir o diálogo
    dentro do meu corpo.
  • 7:47 - 7:49
    Ouvia uma pequena voz a dizer:
  • 7:49 - 7:51
    "Ok. Vocês músculos,
    vocês têm de se contrair.
  • 7:51 - 7:53
    Vocês músculos, relaxem."
  • 7:53 - 7:56
    Depois perdi o equilíbrio,
    fui contra a parede.
  • 7:57 - 7:59
    Olhei para o meu braço
  • 7:59 - 8:04
    e apercebi-me que não conseguia definir
    os limites do meu corpo.
  • 8:04 - 8:08
    Não conseguia definir
    onde começava e acabava,
  • 8:08 - 8:11
    porque os átomos e moléculas do meu braço
  • 8:11 - 8:14
    misturaram-se com os átomos
    e moléculas da parede.
  • 8:14 - 8:18
    Só conseguia detectar
    era esta energia — energia.
  • 8:18 - 8:21
    E perguntei a mim mesma:
    "O que é que se passa comigo?
  • 8:21 - 8:22
    O que é que está a acontecer?"
  • 8:22 - 8:26
    Nesse momento, a voz dentro do meu cérebro
    — a voz do meu hemisfério esquerdo —
  • 8:26 - 8:28
    calou-se completamente.
  • 8:28 - 8:30
    Tal como alguém que pega num telecomando
  • 8:30 - 8:33
    e carrega no botão "Silêncio".
    Silêncio total.
  • 8:34 - 8:38
    A princípio fiquei chocada por me encontrar
    dentro duma mente silenciosa.
  • 8:38 - 8:41
    Mas depois senti-me imediatamente cativada
  • 8:41 - 8:45
    pela magnificência da energia
    à minha volta.
  • 8:45 - 8:48
    E como já não conseguia identificar
  • 8:48 - 8:53
    os limites do meu corpo,
    senti-me enorme e expansiva.
  • 8:54 - 8:56
    Senti-me em harmonia
    com aquela energia toda,
  • 8:56 - 8:58
    e lá tudo era lindo.
  • 8:58 - 9:02
    De repente, o meu hemisfério esquerdo
    voltou a estar online, e disse-me:
  • 9:02 - 9:04
    "Hei! Temos um problema!
  • 9:04 - 9:05
    Temos um problema!
    Precisamos de ajuda."
  • 9:05 - 9:08
    E eu: "Ai! Tenho um problema.
    Tenho um problema!"
  • 9:08 - 9:11
    Por isso foi tipo: "Ok. Ok.
    Eu tenho um problema."
  • 9:11 - 9:15
    Mas depois flutuei imediatamente
    de novo para fora da consciência,
  • 9:15 - 9:20
    um espaço a que eu me refiro
    afectivamente como La La Land.
  • 9:20 - 9:22
    Mas aquilo era lindo.
  • 9:22 - 9:26
    Imaginem o que será estarem totalmente
    desligados da voz do cérebro
  • 9:26 - 9:28
    que vos põe em contacto
    com o mundo exterior.
  • 9:28 - 9:30
    Ali estava eu nesse espaço,
  • 9:30 - 9:33
    O meu trabalho — e toda a tensão
    relacionada com o meu trabalho —
  • 9:33 - 9:35
    tinha desaparecido.
  • 9:35 - 9:37
    Eu sentia-me mais leve no meu corpo.
  • 9:38 - 9:41
    Imaginem, todas as relações
    no mundo exterior
  • 9:41 - 9:45
    e todos os factores de tensão
    com elas relacionados, tinham desaparecido.
  • 9:45 - 9:48
    Eu tive uma sensação de paz.
  • 9:49 - 9:54
    Imaginem o que será perder 37 anos
    de bagagem emocional!
  • 9:55 - 9:59
    Oh! Senti euforia.
  • 10:00 - 10:03
    Euforia. Foi lindo.
  • 10:03 - 10:06
    E de novo, o meu hemisfério esquerdo
    volta a ficar online e diz:
  • 10:06 - 10:09
    "Hei! Tens de prestar atenção.
    Temos de procurar ajuda."
  • 10:09 - 10:12
    E eu pensei: "Preciso de ajuda.
    Tenho que me concentrar"
  • 10:12 - 10:15
    Saí do chuveiro e, mecanicamente,
    vesti-me e andei pelo meu apartamento,
  • 10:15 - 10:18
    a pensar: "Tenho que ir trabalhar.
  • 10:18 - 10:20
    Será que consigo conduzir?"
  • 10:20 - 10:24
    Nesse momento o meu braço direito
    paralisou totalmente.
  • 10:24 - 10:25
    Então percebi.
  • 10:25 - 10:28
    "Meu Deus! Estou a ter um ACV!
    Estou a ter um ACV!"
  • 10:28 - 10:30
    E o meu cérebro disse-me a seguir:
  • 10:30 - 10:33
    "Uau!
  • 10:33 - 10:35
    (Risos)
  • 10:35 - 10:37
    "Isso é fixe!"
  • 10:37 - 10:40
    Quantos neurocientistas têm a oportunidade
  • 10:40 - 10:42
    de estudar o seu cérebro
    de dentro para fora?
  • 10:43 - 10:44
    (Risos)
  • 10:44 - 10:46
    Depois passou-me pela cabeça:
  • 10:46 - 10:49
    "Mas eu sou uma mulher muito ocupada!"
  • 10:49 - 10:50
    Não tenho tempo para um ACV!"
  • 10:50 - 10:52
    (Risos)
  • 10:52 - 10:54
    Então pensei: "Ok, não posso impedir
    o AVC de acontecer,
  • 10:54 - 10:56
    portanto vou aguentar
    uma semana ou duas
  • 10:56 - 10:58
    e depois volto para a minha rotina.
  • 10:58 - 11:01
    Tenho que pedir ajuda,
    que ligar para o trabalho."
  • 11:01 - 11:02
    Não me conseguia lembrar do número,
  • 11:02 - 11:06
    mas lembrei-me que, no meu escritório,
    tinha um cartão com o meu número.
  • 11:07 - 11:10
    Fui ao escritório e peguei
    num maço de 8 cm de cartões.
  • 11:10 - 11:13
    Olhei para o cartão que estava em cima
  • 11:13 - 11:17
    e, apesar de ver claramente na minha cabeça
    como era o meu cartão,
  • 11:17 - 11:20
    não conseguia dizer se aquele
    era o meu cartão ou não
  • 11:20 - 11:22
    porque só via píxeis.
  • 11:22 - 11:24
    Os píxeis das palavras misturavam-se
  • 11:24 - 11:28
    com os píxeis do fundo
    e com os píxeis dos símbolos,
  • 11:28 - 11:30
    e eu não conseguia distinguir nada.
  • 11:30 - 11:33
    Depois esperei por aquilo
    a que chamo uma "onda de clareza".
  • 11:33 - 11:37
    Nessa altura, eu conseguiria
    ligar-me à realidade normal
  • 11:37 - 11:41
    e dizer: "Não é este cartão...
    não é este cartão... não é este cartão".
  • 11:41 - 11:47
    Levei 45 minutos para pôr de parte 2,5 cm
    daquele maço de cartões.
  • 11:47 - 11:49
    Entretanto, nesses 45 minutos,
  • 11:49 - 11:52
    a hemorragia aumentava
    no meu hemisfério esquerdo.
  • 11:52 - 11:53
    Não entendia números.
  • 11:53 - 11:56
    Não entendia o telefone,
    mas era o único plano que tinha.
  • 11:56 - 12:00
    Por isso peguei no telefone e pu-lo aqui.
  • 12:00 - 12:01
    Peguei no cartão e pu-lo aqui,
  • 12:01 - 12:06
    e tentei comparar a forma
    dos rabiscos do cartão
  • 12:06 - 12:08
    com a forma dos rabiscos
    no teclado do telefone.
  • 12:08 - 12:11
    Mas depois voltei para fora,
    para a La La Land
  • 12:11 - 12:14
    e, quando voltei,
    já não conseguia lembrar-me
  • 12:14 - 12:16
    se tinha marcado aqueles números.
  • 12:16 - 12:19
    Por isso tive de dominar
    o meu braço paralisado, como um coto,
  • 12:19 - 12:23
    para cobrir os números
    que já tinha marcado
  • 12:23 - 12:26
    para que, quando voltasse
    à realidade normal,
  • 12:26 - 12:29
    fosse capaz de dizer:
    "Sim, já marquei esse número."
  • 12:30 - 12:32
    Por fim, marquei o número todo,
  • 12:32 - 12:35
    fico ao telefone,
    o meu colega atende e diz:
  • 12:35 - 12:37
    o meu colega atende e diz:
  • 12:38 - 12:40
    "Uoo-uoo-uoo-uoo."
  • 12:40 - 12:42
    (Risos)
  • 12:43 - 12:48
    E eu pensei: "Meu Deus!
    Parece um Golden Retriever!"
  • 12:48 - 12:50
    (Risos)
  • 12:50 - 12:53
    Então disse-lhe
    — claramente na minha mente, disse-lhe:
  • 12:53 - 12:54
    "É a Jill! Preciso de ajuda!"
  • 12:54 - 12:56
    E a minha voz resulta em:
  • 12:56 - 12:58
    "Uoo-uoo-uoo-uoo."
  • 12:58 - 13:01
    E eu pensei: "Meu Deus!
    Eu pareço um Golden Retriever."
  • 13:01 - 13:04
    Portanto, eu não sabia
    que não conseguia falar
  • 13:04 - 13:07
    ou perceber a linguagem
    enquanto não o tentei.
  • 13:07 - 13:10
    Ele percebeu que eu precisava
    de ajuda e arranjou-me ajuda.
  • 13:10 - 13:13
    Pouco depois eu estava numa ambulância
  • 13:13 - 13:18
    que atravessou Boston,
    para o Hospital Geral de Massachusetts
  • 13:19 - 13:21
    Enrolei-me numa pequena bola fetal.
  • 13:21 - 13:27
    E tal como um balão
    com a última réstia de ar,
  • 13:27 - 13:30
    ali mesmo a sair do balão,
  • 13:30 - 13:35
    eu senti a minha energia desaparecer
    senti o meu espírito render-se.
  • 13:37 - 13:40
    Nesse momento percebi
  • 13:40 - 13:42
    que tinha deixado de ser
    a coreógrafa da minha vida.
  • 13:42 - 13:45
    Apesar disso, os médicos
    salvaram o meu corpo
  • 13:45 - 13:47
    e deram-me uma segunda
    oportunidade na vida,
  • 13:47 - 13:50
    ou então isto foi talvez
    o meu momento de transição.
  • 13:55 - 14:01
    Quando acordei nessa tarde, fiquei chocada
    ao descobrir que ainda estava viva.
  • 14:03 - 14:05
    Quando senti o meu espírito render-se,
  • 14:05 - 14:07
    disse adeus à minha vida.
  • 14:08 - 14:10
    A minha mente estava agora suspensa
  • 14:10 - 14:13
    entre dois planos opostos da realidade.
  • 14:14 - 14:19
    Os estímulos que entravam através
    dos meus sistemas sensoriais eram pura dor.
  • 14:19 - 14:23
    A luz queimava o meu cérebro
    como se fosse fogo,
  • 14:23 - 14:27
    e os sons eram tão altos e caóticos
  • 14:27 - 14:31
    que eu não conseguia distinguir
    uma voz do barulho de fundo,
  • 14:31 - 14:33
    e só queria fugir.
  • 14:33 - 14:38
    Como não conseguia identificar a posição
    do meu corpo no espaço,
  • 14:38 - 14:46
    sentia-me enorme e expansiva,
    como um génio liberto da garrafa.
  • 14:47 - 14:51
    O meu espírito subiu livre,
    como uma grande baleia
  • 14:51 - 14:55
    a deslizar pelo mar da euforia silenciosa.
  • 14:57 - 15:00
    Nirvana. Eu encontrei o Nirvana.
  • 15:03 - 15:07
    E lembro-me de pensar
    que nunca conseguiria espremer
  • 15:07 - 15:11
    a enormidade em mim mesma
    dentro deste pequeno corpo.
  • 15:14 - 15:19
    Mas apercebi-me:
    "Mas eu ainda estou viva! Ainda estou viva
  • 15:19 - 15:21
    e encontrei o Nirvana.
  • 15:21 - 15:25
    Se eu encontrei o Nirvana
    e ainda estou viva,
  • 15:25 - 15:28
    então todos os que estão vivos
    podem encontrar o Nirvana."
  • 15:31 - 15:32
    E imaginei um mundo
  • 15:32 - 15:38
    cheio de pessoas belas, pacíficas,
    compassivas, afectuosas,
  • 15:38 - 15:42
    que sabiam que podiam chegar
    a esse espaço em qualquer altura.
  • 15:43 - 15:50
    E que podiam escolher
    ficar à direita do seu hemisfério esquerdo
  • 15:50 - 15:52
    e encontrar esta paz.
  • 15:52 - 15:55
    Depois, apercebi-me do tremendo presente
  • 15:55 - 15:57
    que esta experiência podia ser,
  • 15:57 - 16:01
    que podia ser um acesso de introspecção,
  • 16:01 - 16:04
    sobre a forma como vivemos a nossa vida.
  • 16:05 - 16:07
    E isso motivou-me a recuperar.
  • 16:10 - 16:13
    Duas semanas e meia após a hemorragia,
  • 16:13 - 16:17
    os cirurgiões removeram um coágulo
    do tamanho de uma bola de golfe
  • 16:17 - 16:19
    que estava a pressionar
    os meus centros de linguagem.
  • 16:19 - 16:23
    Aqui estou eu com a minha mãe,
    que é um verdadeiro anjo na minha vida.
  • 16:24 - 16:28
    Demorei oito anos
    a recuperar completamente.
  • 16:29 - 16:31
    Afinal, quem somos nós?
  • 16:31 - 16:36
    Somos a força da vida do universo,
  • 16:36 - 16:40
    com destreza manual
    e duas mentes cognitivas.
  • 16:41 - 16:45
    Temos o poder de escolher,
    momento a momento,
  • 16:45 - 16:47
    quem e como queremos estar no mundo.
  • 16:48 - 16:50
    Aqui mesmo e agora mesmo,
  • 16:50 - 16:53
    eu posso entrar no consciente
    do meu hemisfério direito,
  • 16:53 - 16:55
    onde nos encontramos.
  • 16:55 - 16:58
    Eu sou a força da vida do universo.
  • 16:58 - 17:02
    Eu sou a força da vida de 50 biliões
    de incríveis génios moleculares
  • 17:02 - 17:07
    que criam a minha forma,
    em harmonia com tudo o que isso inclui.
  • 17:07 - 17:12
    Ou posso escolher entrar no consciente
    do meu hemisfério esquerdo,
  • 17:12 - 17:16
    onde me torno um indivíduo
    singular, um sólido.
  • 17:16 - 17:20
    Separada do fluxo, separada de vós.
  • 17:19 - 17:25
    Eu sou a Dra. Jill Bolte Taylor,
    intelectual, neuroanatomista.
  • 17:26 - 17:31
    Estes são os "nós" dentro de mim.
  • 17:32 - 17:34
    Qual deles escolheriam?
  • 17:36 - 17:38
    Qual deles escolhem?
  • 17:39 - 17:41
    E quando?
  • 17:44 - 17:46
    Acredito que, quanto mais tempo gastamos
  • 17:46 - 17:49
    a escolher activar
    o circuito profundo de paz interior
  • 17:49 - 17:50
    do nosso hemisfério direito,
  • 17:50 - 17:56
    mais paz iremos projectar no mundo,
    e mais pacífico será o nosso planeta.
  • 17:57 - 18:01
    E pensei que esta fosse uma ideia
    que valesse a pena divulgar.
  • 18:02 - 18:06
    (Aplausos)
Title:
O meu ataque de instrospecção
Speaker:
Jill Bolte Taylor
Description:

Jill Bolte Taylor teve uma oportunidade de investigação que poucos neurocientistas desejariam ter: ela sofreu um ACV e viu as suas funções cerebrais — movimentos, fala, consciência — cessarem uma a uma. Uma história surpreendente.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
18:21
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for My stroke of insight
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for My stroke of insight
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Marta Pereira added a translation

Portuguese subtitles

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