Laylah Ali em "Power" - 3ª Temporada - "Arte no Século XXI" | Art21
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0:09 - 0:13LAYLAH: Certo, então vamos pro rosto dele,
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0:13 - 0:15o que é uma loucura. (risos)
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0:16 - 0:18Ora, ora, ora.
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0:18 - 0:20Que outro fundo azul nós temos?
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0:21 - 0:24Você sabe, estava pensando pro outdoor.
Eu queria falsear o céu -
0:24 - 0:27como um céu azul irreal.
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0:28 - 0:29(buzinas de carros)
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0:29 - 0:31Eu passei muito tempo assistindo tv.
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0:31 - 0:34Acho que, pros artistas da minha geração,
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0:34 - 0:36deve ser algum tipo de influência.
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0:37 - 0:39Eu assisti muitos desenhos animados.
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0:39 - 0:42Não era incomum as coisas
serem bidimensionais. -
0:42 - 0:47Então, quando eu uso essas imagens
que parecem de desenho animado, -
0:47 - 0:50é apenas algo que eu cresci vendo.
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0:51 - 0:52Quando eu falo sobre o trabalho
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0:52 - 0:57eu não quero falar como se eu acreditasse
nesse mundo de fantasia alternativo -
0:57 - 1:00que é meu mundinho secreto,
como uma casa de boneca. -
1:00 - 1:04Não é assim que funciona pra mim.
Não é uma fantasia escapista. -
1:05 - 1:07Eu queria que fosse.
Seria muito mais divertido -
1:07 - 1:09e um alívio muito maior estar aqui.
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1:09 - 1:14É um pouco conectado demais aos mundos,
a minha própria vida, -
1:15 - 1:19pra isso ser uma tentativa escapista.
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1:22 - 1:26Ao longo do tempo eu junto imagens
e quando estou em casa -
1:26 - 1:28e lendo jornal ou em revistas,
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1:28 - 1:29eu arranco elas fora.
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1:30 - 1:33E depois, periodicamente, eu as arquivo.
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1:33 - 1:36Meu sistema de arquivamento fica na parede
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1:36 - 1:40de acordo com categorias que fazem sentido
pro meu trabalho. -
1:41 - 1:44É como sublinhar quando você lê.
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1:44 - 1:46Pra mim é recortar quando leio.
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1:46 - 1:51Eu penso sobre o que me interessa naquilo
que pode estimular o trabalho. -
1:51 - 1:54Eu te mostro categoria de mãos.
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1:55 - 1:56Gestos com as mãos
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1:57 - 1:59tem sido importantes pro meu trabalho.
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1:59 - 2:02Esses são alguns mulçumanos xiitas rezando
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2:02 - 2:06e suas mãos são do meu interesse.
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2:06 - 2:07Ah!
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2:07 - 2:10Esses são de alguns anos atrás.
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2:10 - 2:111994.
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2:11 - 2:16Esses são executivos do tabaco
jurando que dizem a verdade. -
2:16 - 2:19Mesmo algo como a diferença entre o jeito
que ele faz o juramento -
2:19 - 2:21versus a diferença que ele faz.
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2:21 - 2:23O dedão dele está dobrado
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2:23 - 2:25em direção à mão daquele jeito.
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2:25 - 2:26Tipo isso.
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2:26 - 2:30E essas pequenas coisas
me interessam bastante. -
2:37 - 2:41Uma das maneiras que eu acompanho tudo
é que eu tenho um caderno bem detalhado -
2:41 - 2:45sobre o que eu devo fazer todos os dias
com as pinturas. -
2:45 - 2:49E então, eu escrevo todas as
anotações daquele dia, -
2:49 - 2:54e circulo ou faço notas sobre o que acho
que devo dar atenção no próximo dia. -
2:54 - 2:58Especialmente nesse tipo de sistema,
quando as coisas estão por todos os lados -
2:58 - 3:01e eu tenho 100 cores de tinta.
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3:01 - 3:04Então tem que ter um método de anotações.
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3:04 - 3:07Todos esses pincéis ficam aqui,
cada um pra uma cor diferente. -
3:07 - 3:10E eu não misturo.
Um pincel, uma cor. -
3:10 - 3:13Sem contaminação cruzada nos meus pincéis.
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3:13 - 3:16Então eu tenho que ter certeza
que estou usando o pincel certo. -
3:16 - 3:18Tem vezes em que eu etiqueto o pincel.
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3:18 - 3:21Quando as coisas ficam muito doidas.
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3:21 - 3:23Por isso eu tenho pedacinhos de fita
e eu os etiqueto. -
3:24 - 3:25Isso é guache.
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3:25 - 3:30Ela não é muito flexível
e pode ser bem difícil de usar. -
3:30 - 3:36É uma fonte constante de frustração,
mas eu sempre gosto do produto final. -
3:37 - 3:39Mas leva um tempo pra chegar lá.
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3:39 - 3:43Isso é um pouco mais aveludado
e suave que o acrílico. -
3:45 - 3:47Pelo estúdio você vai ver,
removi algumas delas, -
3:47 - 3:48amostras de cores espalhadas.
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3:48 - 3:51Então, antes de decidir
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3:51 - 3:53por aquele tom de cinza,
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3:53 - 3:55eu testei todos esses.
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3:56 - 3:59Foi bem difícil colá-los,
porque são muito fininhos. -
4:00 - 4:03Todos tem notas no verso de como eu os fiz
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4:03 - 4:06e quais combinações de cores usei.
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4:06 - 4:10Tudo que eu faço é planejado meses antes.
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4:11 - 4:14Essa parte não é muito divertida, porque
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4:15 - 4:18a tensão pra não cometer um erro é alta.
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4:21 - 4:24Minhas figuras não tem orelhas.
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4:24 - 4:25Ainda não.
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4:26 - 4:28Elas não tem que ter sobrancelhas.
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4:28 - 4:30Tem coisas que elas simplesmente não tem.
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4:30 - 4:33E ainda assim elas simplesmente existem.
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4:33 - 4:39Eu não gosto de chamar de criaturas,
porque parece muito monstruoso. -
4:41 - 4:46E eu não as considero seres fantásticos.
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4:48 - 4:52De algum jeito, removendo os braços
eu entendo um pouco mais o que elas fazem. -
4:52 - 4:54Então,
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4:55 - 4:57pra entender o que pode ser feito
sem braços, -
4:57 - 5:01que tipo de comandos podem ser dados
sem braços, -
5:01 - 5:04somente através de outros tipos de gestos.
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5:04 - 5:06Ainda sobra muita força no corpo
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5:06 - 5:09e, de algum jeito, eu estou tentando ver
quanto mais eu consigo tirar -
5:10 - 5:14e ainda reter uma essência
realmente poderosa, ou influente -
5:14 - 5:16ou uma que possa contar uma história.
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5:18 - 5:20É um pouco o que acontece
com esse cara aqui. -
5:20 - 5:23Ele está, obviamente, comprometido.
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5:23 - 5:27Ele tem esses espinhos saindo do abdômen.
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5:27 - 5:29Isso me interessa porque não fica claro
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5:29 - 5:32se ele ficou preso neles
ou se estão crescendo nele. -
5:33 - 5:36Se é algo que os outros estão com medo
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5:36 - 5:38ou é algo que fizeram com ele.
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5:38 - 5:41Eu cresci em Buffalo, Nova Iorque.
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5:42 - 5:45Numa família de classe trabalhadora.
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5:47 - 5:50Eu era uma verdadeira leitora
e acredito que de, certa maneira, -
5:50 - 5:53a forma como eu trabalho é mais como ler
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5:54 - 5:56ou escrever.
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5:56 - 6:00Eu uso papel ao invés de tela.
Sou muito conectada ao papel. -
6:01 - 6:05Acho que isso tem a ver com o amor por
ler e escrever, -
6:05 - 6:07e pela pequenez das imagens.
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6:08 - 6:11Eu tenho essa ideia inicial
de que você pode estar -
6:11 - 6:14intimamente envolvido
como você fica numa leitura. -
6:14 - 6:17Esses são alguns desenhos que fiz.
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6:17 - 6:18Desenhos preliminares.
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6:18 - 6:23Parte do meu processo é fazer coisas
pra me soltar e ter ideias. -
6:23 - 6:27Esses ajudam bastante a pensar os trajes.
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6:27 - 6:30Alguns pequenos detalhes
dos adereços de cabeça -
6:30 - 6:34e formas e detalhes que devem aparecer
nas pinturas. -
6:34 - 6:36Obviamente as pinturas serão coloridas.
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6:37 - 6:39Nesse um pouco mais da expressão
poderia aparecer. -
6:39 - 6:43Mas, com sorte, vai ter mais complexidade
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6:43 - 6:46na psicologia das expressões faciais.
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6:46 - 6:50Eu ajo por impulso nos desenhos.
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6:50 - 6:54E acho que isso é importante.
É importante deixar essa parte bem viva. -
6:54 - 6:57Então não há pinturas sem os desenhos.
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6:57 - 6:59Mas eles são bem diferentes entre si.
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6:59 - 7:03Às vezes, parecem feitos
por duas pessoas diferentes. -
7:03 - 7:05Como eles não são muito estudados,
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7:05 - 7:08podem capturar algo que não antecipei.
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7:08 - 7:12E são mais divertidos do que as pinturas.
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7:12 - 7:16E são mais legais de fazer, honestamente!
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7:19 - 7:22Todas as criaturas de cabeça verde
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7:23 - 7:27tinham as mesmas cores de cabeça
e mesmas cores de pele. -
7:30 - 7:32Esses novos personagens
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7:33 - 7:37tem uma variedade maior de cores faciais.
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7:39 - 7:43Eu fico fascinada de como apenas
esse tipo de fenômeno visual -
7:43 - 7:45afeta a sua leitura da figura.
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7:46 - 7:47O que uma cor faz, sabe?
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7:47 - 7:49Como ela afeta o seu globo ocular.
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7:50 - 7:53Às vezes eu me pergunto
se é sobre isso que se trata. -
7:53 - 7:55Sabe, pra pessoas de pele escura,
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7:55 - 7:58o rosto delas absorve mais luz
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7:58 - 8:00então você tem que olhar mais pra elas?
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8:00 - 8:03Elas são mais misteriosas?
Quero dizer, o que é, sabe? -
8:03 - 8:06O racismo poderia ser atribuído apenas
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8:06 - 8:09a um fenômeno visual bizarro? Sabe?
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8:09 - 8:10Essa é a pergunta que fica.
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8:13 - 8:15Acho que quando se fala em violência,
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8:16 - 8:19muitas vezes pensamos em um ato violento.
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8:20 - 8:25No meu trabalho anterior era mais sobre
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8:25 - 8:29talvez o momento em que alguém
estava sendo estrangulado ou enforcado. -
8:29 - 8:32Enquanto agora, isso raramente acontece.
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8:32 - 8:36Tem pouca concentração no momento
em ocorre a violência. -
8:37 - 8:40Eu tenho mais interesse
no antes e no depois. -
8:40 - 8:43E em analisar isso.
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8:46 - 8:49Eu não podia deixar passar a oportunidade
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8:49 - 8:53de colaborar criativamente com alguém
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8:54 - 8:56só pra ver o que aconteceria.
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8:57 - 9:00É tão diferente quanto eu poderia imaginar
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9:00 - 9:03trabalhar com dançarinos
e uma peça performática. -
9:03 - 9:07É bastante estranho quando eu entro lá
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9:07 - 9:11e tem corpos respirando
e corações batendo de verdade. -
9:13 - 9:15É um tanto esquisito, um tanto Ah!
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9:15 - 9:16Aaah!
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9:16 - 9:18Eles estão todos vivos!
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9:18 - 9:20Como que se lida com pessoas vivas?
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9:22 - 9:24DEAN: Eu fui atingido por essas imagens
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9:24 - 9:26na primeira vez que vi
o trabalho da Laylah. -
9:26 - 9:30E daí brotou a ideia de trabalhar junto.
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9:32 - 9:37Comecei a fazer um trabalho em relação
a um conjunto de imagens. -
9:50 - 9:53Ela chega no ensaio, os observa,
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9:53 - 9:55faz diversas anotações.
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9:55 - 9:57LAYLAH: Tenho umas observações.
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9:57 - 10:00Eu percebi que, como as pinturas
estão congeladas no tempo, -
10:00 - 10:03a expressão que dei pra ela
é aquela e ponto. -
10:03 - 10:08Mas pra você, um ser humano,
carregar esse peso não parece certo. -
10:08 - 10:09Entende o que quero dizer?
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10:09 - 10:10DEAN: Ela é muito precisa.
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10:10 - 10:14Eu tinha uma lista de coisas que eu
queria que ocorressem durante o trabalho, -
10:14 - 10:18então eu comecei a recortar os livros
que a Laylah fez pro MoMA. -
10:18 - 10:21Essas imagens me prenderiam
a um tipo de esboço, -
10:21 - 10:24poque elas próprias eram iconográficas.
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10:24 - 10:27É um ponto de partida,
mas não me diz o que fazer. -
10:28 - 10:31LAYLAH: O que eu acho interessante de ver
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10:31 - 10:35é como ele consegue incluir
o meu jeito de trabalhar -
10:36 - 10:38nos movimentos.
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10:40 - 10:44E eu não sei como ele consegue,
porque é fascinante de assistir. -
10:49 - 10:52Eu sempre fui fascinada por queimada.
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10:53 - 10:56Isto é, eu não sei quanto tempo
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10:56 - 10:58vai levar pra nos darmos conta
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10:58 - 10:59de que é um jogo cruel em que
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10:59 - 11:02o mais fraco da escola vira alvo.
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11:03 - 11:04Tem algo da minha infância,
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11:04 - 11:08sendo a única criança negra
numa escola primária branca, -
11:09 - 11:12e o jogo de queimada não era divertido.
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11:23 - 11:26Cintos conotam um tipo de poder.
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11:27 - 11:32Cintos também são usados como um tipo
de instrumento de violência doméstica. -
11:32 - 11:35Eu usei cintos pra enforcar
alguns dos meus personagens. -
11:37 - 11:39Eu acho que confiscam seu cinto na prisão.
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11:39 - 11:43Eles confiscam coisas
com as quais você possa se ferir. -
11:49 - 11:52Isto é, eu acho que sei de fato que,
parte do controle que eu quero sobre isso, -
11:52 - 11:56tem a ver com a falta de controle
sobre aspectos da minha vida. -
11:57 - 11:59Especialmente quando eu era criança.
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11:59 - 12:03O mistério é que, com todo o controle
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12:03 - 12:06que posso ter sobre as pinturas,
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12:06 - 12:10as que são bem-sucedidas pra mim,
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12:10 - 12:12quando estão finalizadas e olho pra elas,
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12:12 - 12:15acontece algo que eu não esperava.
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12:15 - 12:18E não significa,
"Oh, o que é isso? O que aconteceu?". -
12:18 - 12:20Significa que elas estão devolvendo
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12:20 - 12:22um tipo de energia ou de presença.
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12:23 - 12:28É como se tivessem adquirido
uma personalidade própria no processo. -
12:29 - 12:32Muito do trabalho
sou eu tentando controlar ele, -
12:32 - 12:37fazendo de tudo que posso para controlar,
e ainda assim ele me desafia. -
12:37 - 12:38Então,
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12:39 - 12:40tem essa batalha.
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12:41 - 12:42É.
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