Cinquenta tons de preto: minhas experiências com o colorismo | Amaya Allen | TEDxVanderbiltUniversity
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0:05 - 0:07Eu sou negra.
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0:07 - 0:11Desde que me lembro,
é assim que eu me descrevo. -
0:11 - 0:15Descrever-me como negra
nunca foi algo que fiz com ódio. -
0:15 - 0:18Eu era uma criança
que tinha que pensar sobre raça, -
0:18 - 0:20porque, quando você cresce
com um Jesus branco, -
0:20 - 0:23você vai se perguntar o porquê
de ele não se parecer com você. -
0:24 - 0:25Minha mãe foi a primeira pessoa
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0:25 - 0:28a moldar meu ponto de vista
sobre raça e diversidade. -
0:28 - 0:30A explicação dela era simples:
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0:30 - 0:33"Existem pessoas negras,
brancas, asiáticas, etc. -
0:33 - 0:36Apesar de parecermos diferentes,
somos todos iguais". -
0:36 - 0:37E era isso.
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0:38 - 0:41Eu estava na sexta série quando descobri
que não era apenas negra. -
0:41 - 0:43Na verdade, eu tinha a pele parda,
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0:43 - 0:45ou seja, no meio do espectro da cor negra.
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0:46 - 0:48O termo pele parda é relativo,
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0:48 - 0:49Comparado a quem?
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0:49 - 0:53Ninguém sabe, porque é tudo inventado,
e varia de pessoa para pessoa. -
0:53 - 0:57E ainda, há um entendimento muito claro
entre a maioria das pessoas -
0:57 - 1:00que Drake tem a pele clara,
e Lupita Nyong'o tem a pele escura. -
1:00 - 1:03Pensei: "Isso é plausível".
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1:03 - 1:05Há pessoas de pele clara, parda ou escura.
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1:05 - 1:08E, na minha escola no Brooklyn,
cheia de negros, -
1:08 - 1:11pensei que não houvesse divisão
entre os ditos tons de preto. -
1:11 - 1:15Todos saíam com todos,
e todos geralmente eram respeitados, -
1:15 - 1:18mesmo se, de vez em quando,
a gente ouvisse: "Ei, seu negro maluco". -
1:19 - 1:21Basicamente, ocorriam outras coisas
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1:21 - 1:25em que víamos aquilo que determinava
nossa estratificação social. -
1:26 - 1:30Então, fui para o ensino médio
e comecei a notar algumas coisas. -
1:30 - 1:32Percebi que o mundo ao meu redor
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1:32 - 1:35tendia um pouco para as pessoas
com pele mais clara. -
1:36 - 1:37Percebi que garotas com pele mais clara
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1:37 - 1:40tinham mais curtidas
e comentários no Instagram, -
1:40 - 1:44e que os caras de quem eu gostava
só iam atrás de certos tipos de garotas. -
1:44 - 1:46Também percebi que pessoas mais escuras
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1:46 - 1:50não eram representadas nos programas de TV
e nos filmes a que eu assistia. -
1:50 - 1:51E, quando eram,
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1:51 - 1:54representavam o gueto,
começavam as brigas, -
1:54 - 1:55eram personagens secundários.
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1:56 - 1:59No entanto, os efeitos que o colorismo
tiveram sobre mim na época -
1:59 - 2:01eram coisas que pensei
que poderia evitar e até contrariar, -
2:01 - 2:04sem gastar energia com isso
e vivendo minha vida. -
2:04 - 2:05E assim eu fiz.
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2:05 - 2:07E, por um tempo, funcionou,
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2:07 - 2:09porque consegui me convencer
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2:09 - 2:11de que se eu conseguir
me separar do problema, -
2:11 - 2:12posso evitá-lo.
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2:13 - 2:15Tudo mudou quando entrei na faculdade,
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2:15 - 2:19porque lá, entre todos os universitários
e pressões acadêmicas, -
2:19 - 2:22aprendi muito a meu respeito
e ainda mais sobre o mundo ao meu redor. -
2:23 - 2:26Pela primeira vez,
eu não tinha mais a garantia -
2:26 - 2:28de ter pessoas que pensavam
exatamente como eu. -
2:28 - 2:32Pela primeira vez, o espectro de pardo
não era um espectro. -
2:32 - 2:33Era uma dicotomia.
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2:33 - 2:35Você tinha a pele clara ou escura.
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2:35 - 2:36Eu era considerada de pele escura,
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2:36 - 2:39e as pessoas não viam isso
como uma coisa boa. -
2:39 - 2:41É claro, ninguém me dizia:
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2:41 - 2:43"Amaya, sua pele é escura. Você é feia".
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2:43 - 2:46Mas houve muitas microagressões
que deixaram isso bem claro. -
2:46 - 2:48Vocês conhecem a história:
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2:49 - 2:52"Não é que as garotas
de pele escura sejam feias. -
2:52 - 2:54Eu apenas prefiro garotas mais claras".
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2:54 - 2:59Foi então que percebi
que o colorismo está vivo e bem, -
2:59 - 3:01e as pessoas não gostam
de falar sobre isso. -
3:02 - 3:04O que é colorismo afinal?
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3:04 - 3:06Embora não seja um fenômeno novo,
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3:06 - 3:09essa palavra foi criada
em 1982, por Alice Walker, -
3:09 - 3:12que a definiu como tratamento
tendencioso ou preferencial -
3:12 - 3:13de pessoas da mesma raça
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3:13 - 3:15com base somente na cor.
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3:15 - 3:18O termo-chave aqui é:
pessoas da mesma raça, -
3:18 - 3:21o que o torna um pouco diferente
do racismo evidente. -
3:21 - 3:23É tipo isto:
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3:23 - 3:26se os Estados Unidos fossem uma árvore,
e suas raízes fossem o racismo, -
3:26 - 3:30o colorismo seria como uma folha
saindo do ramo que é o eurocentrismo. -
3:31 - 3:35Porque, desde que os europeus
tiveram contato com os africanos, -
3:35 - 3:38eles acreditavam que eram a melhor raça.
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3:38 - 3:41E essa ideia generalizada do claro
ser melhor do que o escuro, -
3:41 - 3:43porque branco é melhor do que negro,
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3:43 - 3:44nunca deixou de existir.
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3:45 - 3:46E isso é ruim,
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3:46 - 3:50porque significa que não apenas
os negros mais escuros -
3:50 - 3:54têm que lidar com o racismo dos brancos
e das pessoas não negras, -
3:54 - 3:57mas também com um tratamento
mais severo de outros negros, -
3:57 - 4:00porque são mais escuros
do que um saco de papel pardo. -
4:00 - 4:03Há vários motivos pelos quais
esse fenômeno é problemático. -
4:03 - 4:05Por uma questão de tempo,
compartilharei apenas alguns. -
4:06 - 4:10O colorismo cria um estereótipo
sobre o que é a negritude aceitável. -
4:10 - 4:13Ele cria um modelo de negro,
se podemos assim dizer, -
4:13 - 4:17e o colorismo coloca os negros
uns contra os outros, -
4:17 - 4:19e é isso que os brancos querem.
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4:19 - 4:24Entendam que as pessoas de pele clara
não são culpadas pelo colorismo. -
4:24 - 4:26Elas não têm culpa
por terem nascido assim. -
4:26 - 4:29No entanto, o privilégio
da pele clara existe, -
4:29 - 4:32porque, junto com essas visões,
noções e estereótipos -
4:32 - 4:34do que é a negritude aceitável,
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4:34 - 4:37vêm visões, noções
e estereótipos negativos -
4:37 - 4:40de pessoas que não se encaixam
nessa caixa-preta "branca". -
4:40 - 4:42Os estereótipos incluem:
-
4:42 - 4:45serem menos cultos,
mais do gueto, mais feios -
4:45 - 4:48e, em geral, menos apropriados
do que os de pele mais clara. -
4:48 - 4:51Isso é visto em todos os lugares
ao longo do tempo. -
4:51 - 4:52Em espetáculos de menestréis,
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4:52 - 4:55em que homens brancos
se fantasiavam de caricaturas escuras -
4:55 - 4:58e se faziam parecer quase idiotas
para zombar dos negros. -
4:58 - 5:00Ainda é visto hoje na televisão,
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5:00 - 5:03em que personagens escuros
são usados como ferramentas -
5:03 - 5:05para contrastar personagens claros,
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5:05 - 5:10para que estes pareçam
mais vulneráveis e suaves. -
5:10 - 5:12Por exemplo, Penny Proud,
de "A Família Radical", -
5:12 - 5:14e sua melhor amiga, Dijonay Jones,
-
5:14 - 5:17com seus oito irmãos e irmãs
e um nome difícil de pronunciar. -
5:17 - 5:20Ou Pam e Gina, da série de TV
"Martin", da Fox. -
5:20 - 5:23Também está na literatura
aclamada pela crítica. -
5:23 - 5:25Por exemplo, "O olho mais azul",
de Toni Morrison, -
5:25 - 5:27em que a personagem principal
Pecola Breedlove -
5:27 - 5:29ouvia repetidamente
-
5:29 - 5:32que, por ser negra, não era bonita.
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5:32 - 5:33E ela internalizou isso,
-
5:33 - 5:36o que a fez odiar pessoas de pele clara.
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5:36 - 5:38Isso é muito problemático,
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5:38 - 5:41porque pessoas mais escuras
-
5:41 - 5:44farão esforços drásticos
para se tornarem esse modelo negro -
5:44 - 5:47para receberem os privilégios
associados a ele. -
5:47 - 5:51É por isso que o povo caribenho
branqueia a pele. -
5:51 - 5:53É por isso que mulheres
falam a seus filhos: -
5:53 - 5:56"Não fiquem lá fora por muito tempo
ou ficarão muito escuros". -
5:56 - 5:59E é por isso que alguns homens escuros,
e mulheres, na verdade, -
5:59 - 6:03encontram a pessoa mais clara que puderem
para se casarem e terem filhos, -
6:03 - 6:06para que seus filhos
não sejam escuros como eles. -
6:08 - 6:12Isso espalha o ódio por si mesmos
e coloca os negros uns contra os outros. -
6:12 - 6:14Outra coisa para se entender:
-
6:14 - 6:16colocar os negros uns contra os outros
-
6:16 - 6:18não é um fenômeno novo.
-
6:18 - 6:21Isso foi usado, durante a escravidão,
para dividir e conquistar. -
6:21 - 6:23Os brancos fazem isso agora
pela mesma razão. -
6:23 - 6:25Se você fizer os negros se odiarem
-
6:25 - 6:29por algo tão natural e biológico
como a cor da pele, -
6:30 - 6:32é menos provável que fiquem unidos,
-
6:32 - 6:35e assim será preciso menos trabalho
para você se manter no poder. -
6:35 - 6:38Isso é bem mostrado no filme
"Lute Pela Coisa Certa", de Spike Lee, -
6:38 - 6:41em que um dos destaques do filme
é uma cena musical -
6:41 - 6:45na qual mulheres claras e escuras
trocam ofensas como: -
6:45 - 6:48neguinha, cabelo ruim
e aspirante a branquela. -
6:48 - 6:50Os brancos também usam isso
-
6:50 - 6:54para desculpar suas intenções
ou noções racistas. -
6:55 - 6:57Ao dar privilégios especiais
a esses negros-modelos -
6:57 - 6:59e ajudá-los a chegar ao topo,
-
6:59 - 7:03podem mantê-los acima
do restante de sua raça, dizendo: -
7:03 - 7:05"O sistema não é o motivo de sua falha.
-
7:05 - 7:07Veja essas pessoas:
elas são bem-sucedidas. -
7:07 - 7:09Você não é por sua causa.
-
7:09 - 7:10Aqueles negros-modelos...
-
7:11 - 7:13são bem-sucedidos".
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7:14 - 7:16E a parte mais maluca
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7:16 - 7:19é que esse não é um fenômeno
visto apenas na comunidade negra. -
7:19 - 7:23Comunidades asiáticas,
sul-asiáticas e latino-americanas -
7:23 - 7:25vivenciam a mesma coisa.
-
7:25 - 7:28O colorismo nessas comunidades
assume muitas formas diferentes. -
7:28 - 7:30Seja um comercial chinês de lavanderia,
-
7:30 - 7:33em que um homem escuro
entra em uma máquina de lavar -
7:33 - 7:36para se tornar mais claro, e mais chinês,
-
7:36 - 7:40ou os filipinos, que são informados
de que estão na base do totem asiático -
7:40 - 7:42porque são escuros.
-
7:43 - 7:45Em Bollywood, houve um clamor
nos últimos anos -
7:45 - 7:49porque seus filmes usam uma gama
muito pequena de tons de pele -
7:49 - 7:52para representar toda a população indiana.
-
7:52 - 7:53Como resultado,
-
7:53 - 7:57algumas pessoas iniciaram movimentos
contrários a essa propaganda prejudicial, -
7:57 - 8:00como Nandita Das e sua campanha
"Why Dark Is Beautiful". -
8:01 - 8:05Estrelas latinas, como Amara La Negra,
recebem reação significativa -
8:05 - 8:09ao tentar quebrar o molde de como são
os principais artistas latinos, -
8:09 - 8:12incluindo hiperanálise
do cabelo e da pele, -
8:12 - 8:17sendo acusada de "rosto negro"
e nem mesmo sendo considerada latina. -
8:18 - 8:21Sendo algo que afeta tantas pessoas,
-
8:21 - 8:23você pode pensar que mais pessoas
falariam sobre isso. -
8:23 - 8:27E, sim, tem havido um interesse crescente
nessa coisa toda de colorismo. -
8:27 - 8:32No entanto, não é tão veemente
quanto poderia ser -
8:32 - 8:34porque as pessoas acham que é natural.
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8:34 - 8:36Elas nunca foram expostas
a nada diferente. -
8:36 - 8:37Elas cresceram nesse ambiente.
-
8:37 - 8:41E, mesmo que você tenha crescido
em uma família como a minha, -
8:41 - 8:44que ensinava que seu preto é lindo,
ou sua cor parda é linda, -
8:44 - 8:47que sua pele escura é formidável,
e seu cabelo também, -
8:48 - 8:50assim que sair por aquela porta,
-
8:50 - 8:53você sentirá todos
os efeitos do colorismo. -
8:53 - 8:54Ponto.
-
8:54 - 8:57Então, qual é o objetivo
de estar dizendo isso a vocês? -
8:57 - 8:59Acredito que caberia aqui
a famosa citação: -
8:59 - 9:02"O primeiro passo para a recuperação
é admitir que você tem um problema". -
9:02 - 9:04Sim, existem muitos problemas por aí...
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9:04 - 9:05hum, Trump.
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9:05 - 9:08No entanto, eles estão sendo consertados
-
9:08 - 9:11porque há pessoas lá fora
que trabalham incansavelmente -
9:11 - 9:15para fazer o público reconhecer
que há algo que precisa ser consertado. -
9:16 - 9:17E este é um deles.
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9:17 - 9:20Não tenho uma solução
específica para o colorismo, -
9:20 - 9:24porque sou apenas uma garota,
e tive apenas a minha experiência. -
9:24 - 9:26No entanto, quero enfatizar uma coisa.
-
9:26 - 9:29Quando os Estados Unidos
e o resto do mundo -
9:29 - 9:31reconhecerem que o colorismo não é natural
-
9:31 - 9:35e que, em vez disso, tem sido introduzido
em nossa mente por gerações -
9:35 - 9:36que mais claro é melhor,
-
9:36 - 9:40então, como seres humanos, podemos
começar o processo de descolorização. -
9:40 - 9:43Temos que abandonar isso
e deixá-lo em nosso passado, -
9:43 - 9:47pois queremos realmente
que nosso tempo na Terra seja assim? -
9:47 - 9:48Obrigada.
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9:48 - 9:49(Aplausos)
-
9:49 - 9:51(Vivas)
- Title:
- Cinquenta tons de preto: minhas experiências com o colorismo | Amaya Allen | TEDxVanderbiltUniversity
- Description:
-
Afeta todas as pessoas, não importa se você é negro, branco, asiático ou não. É um julgamento que fazemos sobre as pessoas de nossa própria raça com base em um sistema criado há muito tempo. É algo enraizado em nós, algo que fazemos inconscientemente. É uma tentativa de ocultar fatos que estão sempre encobertos. É feio. É belo. É história. É "a história dela". É a minha história. É o colorismo.
Amaya Allen é estudante do segundo ano da Universidade Vanderbilt, onde estuda direito, história e sociedade e comunicação social no curso de pré-direito. Natural de Queens, Nova York, Allen se formou na Medgar Evers College Preparatory School com honras em 2017 e recebeu uma bolsa de estudos da Posse Foundation com mensalidade integral. Em Vanderbilt, Allen é conselheira residente do colégio residencial E. Bronson Ingram e está envolvida em muitas organizações estudantis, como a Caribbean Student Association e a Evolve. Durante seus verões, Allen estagiou na The Asia Society, bem como na QBE North America. Depois de se formar em Vanderbilt, ela planeja estudar direito na área dos três estados de Nova York.
Seus gostos e hobbies incluem comer muffins de mirtilo, assistir à série "Maravilhosa Sra. Maisel" e a muitos vídeos de cabelos naturais no YouTube. Seu pior medo é chegar ao auge da vida, porque ela acredita que só pode subir.
Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx
- Video Language:
- English
- Team:
closed TED
- Project:
- TEDxTalks
- Duration:
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