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Erros foram cometidos | Lauren Redniss | TEDxEast

  • 0:14 - 0:17
    Recentemente publiquei um livro
    chamado "Radioactive".
  • 0:17 - 0:23
    É um livro visual sobre coisas invisíveis.
  • 0:23 - 0:26
    Ele combina imagens e textos.
  • 0:26 - 0:31
    Ele conta a história de dois cientistas,
    Marie e Pierre Curie.
  • 0:31 - 0:35
    É uma história romântica e cheia de drama.
  • 0:35 - 0:37
    Na virada do século 19,
  • 0:37 - 0:43
    uma moça se muda da Polônia ocupada
    pelos russos, pra estudar em Paris.
  • 0:44 - 0:47
    Ela acha espaço para fazer
    sua pesquisa no laboratório
  • 0:47 - 0:51
    de um reservado e bonito cientista
    que estudava calor e magnetismo.
  • 0:52 - 0:55
    Eles se apaixonam.
  • 0:55 - 0:59
    Eles se casam, têm duas filhas
    e começam a trabalhar juntos.
  • 1:00 - 1:02
    Eles descobrem dois novos elementos,
  • 1:02 - 1:06
    expandindo a tabela periódica,
    com o Rádio e o Polônio,
  • 1:06 - 1:11
    e começam a investigar as incríveis
    propriedades desses elementos.
  • 1:12 - 1:14
    Ela cunha o termo "radioatividade".
  • 1:14 - 1:18
    Eles entendem essa radioatividade
    como uma propriedade atômica.
  • 1:18 - 1:20
    E essa foi uma importante concepção.
  • 1:20 - 1:25
    Esse é um dos momentos mais críticos
    na história da ciência moderna.
  • 1:25 - 1:27
    Eles recebem o Prêmio Nobel.
  • 1:27 - 1:29
    E tudo parece estar indo bem,
  • 1:29 - 1:33
    ótimo casamento, casal realizado,
    duas filhas lindas.
  • 1:33 - 1:39
    E então, em 1906, Pierre Curie
    morre num trágico acidente.
  • 1:40 - 1:43
    Marie é forçada a continuar
    por conta própria, o que ela faz,
  • 1:43 - 1:48
    ganhando um segundo Prêmio Nobel, o que,
    por sinal, é totalmente sem precedentes.
  • 1:48 - 1:51
    Agora ela não só é a primeira mulher
    a ganhar o Prêmio Nobel,
  • 1:51 - 1:53
    mas a primeira ganhar o prêmio duas vezes,
  • 1:53 - 1:55
    em dois campos diferentes,
    química e física.
  • 1:56 - 1:59
    Alguns anos depois,
    ela se apaixona novamente,
  • 1:59 - 2:03
    dessa vez pelo físico Paul Langevin.
  • 2:03 - 2:09
    Outro romance fabuloso, um casal
    formado por dois grandes cientistas,
  • 2:09 - 2:12
    mas, infelizmente, tem um problema.
  • 2:13 - 2:14
    Langevin era casado.
  • 2:16 - 2:19
    Nem preciso dizer, pessoas famosas
    em um triângulo amoroso,
  • 2:19 - 2:23
    foi um escândalo e houve duelos.
  • 2:24 - 2:27
    Então, esse é um livro de 200 páginas.
  • 2:27 - 2:30
    Além da narrativa
    sobre a biografia dos Curies,
  • 2:30 - 2:32
    há também um pulo temporal,
  • 2:32 - 2:37
    dando uma olhada nas ramificações
    contemporâneas do trabalho dos Curies.
  • 2:37 - 2:40
    De armas nucleares, para energia nuclear
    até chegar à medicina nuclear.
  • 2:40 - 2:45
    Mas, em resumo, tem dois temas principais:
  • 2:45 - 2:47
    radioatividade e amor.
  • 2:47 - 2:51
    Essas eram as coisas invisíveis
    às quais me referi mais cedo.
  • 2:51 - 2:56
    E, como nesse livro faço
    a escrita, a pesquisa,
  • 2:56 - 3:00
    a arte, assim como
    o próprio design do livro,
  • 3:00 - 3:05
    é muito importante para mim que cada um
    desses componentes tenha significado
  • 3:05 - 3:09
    e que cada um deles incorpore
    as ideias da narrativa.
  • 3:09 - 3:13
    Então, quando chegou a hora
    de escolher o meio
  • 3:13 - 3:15
    pelo qual eu criaria a parte artística,
  • 3:15 - 3:18
    e, de fato, essa é uma escolha
    muito importante,
  • 3:18 - 3:23
    eu decidi que criaria as imagens
    com algo chamado cianotipia.
  • 3:23 - 3:26
    A cianotipia é uma técnica
    fotográfica sem câmera.
  • 3:26 - 3:29
    E eu tive dois motivos
    pra fazer essa escolha.
  • 3:30 - 3:32
    O primeiro foi temático.
  • 3:33 - 3:39
    Pra fazer a cianotipia, você cobre o papel
    com certos produtos químicos.
  • 3:39 - 3:41
    Então pega o papel coberto
    com esses produtos
  • 3:41 - 3:46
    e o expõe aos raios ultravioletas do sol,
    e isso faz o papel ficar azul.
  • 3:46 - 3:52
    Agora, um processo que utiliza
    a exposição para que os raios penetrem,
  • 3:52 - 3:56
    acredito fazer sentido num livro
    sobre a história da radioatividade.
  • 3:57 - 4:00
    E o segundo motivo foi a aparência.
  • 4:01 - 4:05
    A cianotipia passa uma sensação
    temperamental, penumbrosa.
  • 4:05 - 4:08
    As linhas brancas contra o fundo azul,
  • 4:08 - 4:11
    acho que capturam
    o que Marie Curie descreveu
  • 4:11 - 4:14
    como a luminosidade espontânea do Rádio.
  • 4:14 - 4:16
    Uma espécie de brilho interno.
  • 4:16 - 4:21
    Então, eu queria mostrar a vocês
    como é feita uma página do livro.
  • 4:21 - 4:27
    Essas duas páginas mostram o banquete real
    de quando Marie chegou a Estocolmo
  • 4:27 - 4:30
    para receber seu segundo Prêmio Nobel.
  • 4:30 - 4:34
    Só voltando um pouco antes disso,
  • 4:34 - 4:37
    quando começo, em geral,
    estou sempre coletando desenhos.
  • 4:37 - 4:40
    Estou sempre desenhando,
  • 4:40 - 4:44
    e quando faço um desenho nunca sei
    se ele vai estar na versão final do livro,
  • 4:44 - 4:47
    mas continuo juntando esse pequeno
    arquivo, apenas pra mim mesma.
  • 4:47 - 4:52
    Esta é uma natureza-morta que fiz
    a partir da minha mesa da cozinha.
  • 4:52 - 4:55
    Estes são alguns músicos tocando jazz
    que desenhei num clube no centro.
  • 4:55 - 5:00
    Meus rascunhos de uma reunião
    do corpo docente da Parsons.
  • 5:01 - 5:06
    Eu estava fazendo uma pesquisa no arquivo,
    procurando material de diferentes fontes.
  • 5:06 - 5:10
    E então, pego esses elementos diferentes
  • 5:10 - 5:15
    e os recombino em uma composição única
    que lhes dá um novo contexto.
  • 5:15 - 5:18
    E às vezes me surpreendo
    com o novo significado
  • 5:18 - 5:22
    que surge desse novo contexto.
  • 5:22 - 5:25
    Como quero fazer uma cianotipia,
    pego esse desenho
  • 5:25 - 5:30
    e o transformo num negativo
    numa folha de acetato transparente.
  • 5:30 - 5:34
    Então, pego essa folha de acetato e coloco
    sobre o papel revestido de químicos,
  • 5:34 - 5:35
    como mencionei antes,
  • 5:35 - 5:38
    exponho esse papel aos raios UV do sol
  • 5:38 - 5:43
    e esta é a imagem azul resultante.
  • 5:43 - 5:48
    Às vezes eu pinto a imagem à mão,
    nesse caso com lápis de cor.
  • 5:48 - 5:51
    E então, o último passo
    é adicionar o texto.
  • 5:52 - 5:57
    Isso faz o processo parecer muito fácil.
  • 5:57 - 5:58
    O que, obviamente, nunca é.
  • 5:58 - 6:05
    Então, agora eu conto a verdade,
    com um exemplo.
  • 6:05 - 6:11
    Como mencionei mais cedo, Pierre Curie
    morreu em 1906 num acidente de carro.
  • 6:11 - 6:15
    E, quando comecei a trabalhar nessa parte
    da história, eu tive algumas dificuldades,
  • 6:15 - 6:22
    porque eu não conseguia imaginar
    como ilustrar esse momento angustiante.
  • 6:22 - 6:27
    Como capturar em uma imagem a emoção
    dolorosa da morte de um homem,
  • 6:27 - 6:30
    da mulher que perde seu marido,
    seu parceiro de pesquisa,
  • 6:30 - 6:32
    o pai de suas filhas.
  • 6:33 - 6:36
    Pesquisei gravuras japonesas
    e a forma como demonstram o luto.
  • 6:36 - 6:41
    Li os diários de Marie Curie,
    que eram completamente devastadores.
  • 6:41 - 6:47
    Ela descreveu como era ver o corpo
    de seu marido, seu cadáver decompondo.
  • 6:47 - 6:50
    E, apesar de certa vergonha,
    mostrarei essa imagem.
  • 6:50 - 6:53
    Esta foi minha primeira tentativa
    e, acho que vão concordar,
  • 6:53 - 6:56
    acredito que falhou de longe.
  • 6:56 - 7:00
    Eu tentei superexpor a imagem pra ver
    se conseguia colocar um pouco de drama.
  • 7:00 - 7:05
    Tentei subexpor pra trazer
    uma atmosfera sombria e sinistra.
  • 7:05 - 7:09
    Tentei inverter para que o esqueleto
    ficasse branco e a mulher em negativo.
  • 7:09 - 7:11
    E nada funcionava.
  • 7:11 - 7:15
    Eu sabia que esse não era o caminho certo.
  • 7:15 - 7:19
    Mas como não estava conseguindo dar
    continuidade, deixei essa parte de lado
  • 7:19 - 7:23
    e decidi me dedicar a outra parte do livro
  • 7:23 - 7:27
    e comecei a trabalhar numa seção
    que aparece muito depois,
  • 7:27 - 7:29
    num ânimo completamente diferente.
  • 7:29 - 7:34
    Estamos na Primeira Guerra Mundial
    e Marie Curie foge de Paris
  • 7:34 - 7:39
    carregando uma mala de chumbo
    com todo o estoque de Rádio de seu país.
  • 7:39 - 7:43
    Ela está levando para Bordeaux,
    pra evitar que caia nas mãos dos alemães.
  • 7:43 - 7:48
    E no texto ela está
    descrevendo sua aventura e...
  • 7:49 - 7:51
    Este laranja é manipulação digital.
  • 7:51 - 7:56
    Mas quando tentei fazer essa imagem
    pela primeira vez, isto aconteceu.
  • 7:56 - 8:02
    Eu baguncei completamente os produtos
    químicos e acabei com essa imagem
  • 8:02 - 8:06
    onde, basicamente, nenhuma das linhas
    do desenho ficam visíveis.
  • 8:06 - 8:07
    Não dá pra ver nada.
  • 8:07 - 8:10
    Eu soube imediatamente
    que eu teria refazer a imagem,
  • 8:10 - 8:16
    mas fiquei chocada com a imagem
    que surgiu do meu erro.
  • 8:16 - 8:17
    E, quando pensei sobre ela
  • 8:17 - 8:23
    no contexto da seção
    sobre a morte de Pierre Curie,
  • 8:24 - 8:30
    eu percebi algo e pensei se, na verdade,
  • 8:30 - 8:35
    não seria muito mais interessante
    usar uma imagem de nada,
  • 8:35 - 8:41
    uma imagem que pudesse sugerir
    o poder, o sentimento de perda,
  • 8:41 - 8:44
    em vez de tentar explicá-lo.
  • 8:44 - 8:49
    Então, é um pouco difícil de ver,
  • 8:49 - 8:54
    mas é assim que a imagem aparece no livro
    quando falo sobre a morte de Pierre Curie.
  • 8:54 - 8:59
    Eu peguei a imagem acidental, me desfiz
    daquele terrível desenho de esqueleto,
  • 8:59 - 9:03
    coloquei a imagem acidental
  • 9:03 - 9:08
    contra uma página preta com o texto
    do diário de Marie Curie em cinza
  • 9:08 - 9:11
    e acho que, no fim,
  • 9:11 - 9:14
    essa solução se mostrou muito mais sutil,
  • 9:14 - 9:18
    e espero que muito mais poderosa,
    do que eu tinha planejado.
  • 9:18 - 9:21
    Foi uma solução que encontrei
    por puro acidente.
  • 9:23 - 9:28
    Mas é claro que não só o processo
    artístico é cheio de acidentes.
  • 9:28 - 9:33
    A história da ciência é cheia
    de descobertas feitas por acaso.
  • 9:34 - 9:39
    De fato, a própria descoberta
    do cianotipia foi um acidente.
  • 9:39 - 9:44
    No século 17, nasceu uma criança
    no Castelo de Frankenstein
  • 9:44 - 9:48
    chamada Johan Conrad Dippel,
    e Dippel acabou se tornando...
  • 9:48 - 9:50
    Não estou inventando isso.
  • 9:50 - 9:51
    (Risos)
  • 9:51 - 9:52
    Dippel acabou se tornou um alquimista
  • 9:52 - 9:56
    e ele queria criar um remédio universal,
    um tipo de elixir da vida.
  • 9:56 - 10:02
    Então ele começou a juntar todo tipo
    de peles, cascos e chifres de animais
  • 10:02 - 10:06
    e todo tipo de coisas desagradáveis,
    no que ele chamou de Óleo de Dippel.
  • 10:06 - 10:09
    Dippel dividia seu laboratório
    com um tintureiro.
  • 10:09 - 10:14
    E um dia esse tintureiro estava fazendo
    um tom de vermelho brilhante.
  • 10:14 - 10:16
    Mas ele acaba ficando
    sem seu ingrediente-chave,
  • 10:16 - 10:19
    então vai até o armário
    e pega o Óleo de Dippel.
  • 10:19 - 10:21
    Ele adiciona o Óleo de Dippel, mexe,
  • 10:21 - 10:24
    e, em vez do pigmento vermelho
    que ele procurava,
  • 10:24 - 10:26
    ele chega a um azul escuro.
  • 10:27 - 10:31
    Era vívido e intenso, e tornou-se popular
    de maneira quase instantânea.
  • 10:31 - 10:35
    O exército prussiano começou a usar
    para tingir seus uniformes.
  • 10:35 - 10:36
    Ainda hoje usamos essa fórmula,
  • 10:36 - 10:41
    e uma das formas em que usamos
    é nas imagens de cianotipia.
  • 10:42 - 10:46
    Mas esse é apenas um dos muitos exemplos
  • 10:46 - 10:48
    de uma descoberta científica
    feita por acidente.
  • 10:48 - 10:50
    Nós temos Arquimedes e sua banheira,
  • 10:50 - 10:53
    temos Isaac Newton e a maçã,
  • 10:53 - 10:58
    temos Cristóvão Colombo tentando chegar
    à Índia e descobrindo o Novo Mundo.
  • 10:58 - 11:01
    Alguém está procurando
    por alguma coisa e acha outra.
  • 11:02 - 11:07
    De fato, em 1896, o físico Henri Becquerel
  • 11:07 - 11:10
    estava preparando um experimento
    com sal de urânio.
  • 11:12 - 11:14
    Para esse experimento
    ele precisava de muita luz.
  • 11:14 - 11:18
    Então, como estava nublado naquele dia,
  • 11:18 - 11:21
    ele pegou suas pepitas de urânio
    e jogou na gaveta de uma mesa
  • 11:21 - 11:24
    onde elas acabaram caindo
    sobre uma placa fotográfica.
  • 11:24 - 11:26
    Ele fechou a gaveta e saiu do laboratório.
  • 11:26 - 11:29
    Quando voltou, alguns dias depois,
  • 11:29 - 11:32
    abriu a gaveta e achou a placa fotográfica
  • 11:32 - 11:36
    como se tivesse sido
    exposta a uma forte luz,
  • 11:36 - 11:38
    o que claramente não havia ocorrido.
  • 11:38 - 11:41
    Os próprios sais de urânio
    tinham exposto as placas.
  • 11:42 - 11:47
    Henri Becquerel tinha acabado de fazer
    uma grande descoberta por acidente.
  • 11:48 - 11:52
    Um casal de cientistas chamado Marie
    e Pierre Curie assumiram a iniciativa.
  • 11:52 - 11:56
    Ela cunhou a palavra "radioatividade"
    e o resto é história.
  • 11:58 - 12:04
    Só queria dizer que, enquanto trabalhamos
    em direção ao que achamos ser o objetivo,
  • 12:04 - 12:09
    acredito que devemos dar tanta atenção
    aos erros, quanto se dá ao sucesso.
  • 12:09 - 12:12
    E, se na primeira tentativa não der certo,
  • 12:12 - 12:15
    isso pode acabar sendo
    a melhor coisa que te aconteceu.
  • 12:15 - 12:17
    (Aplausos)
Title:
Erros foram cometidos | Lauren Redniss | TEDxEast
Description:

Lauren conta como é seu processo criativo como escritora e artista, assim como os benefícios inesperados de tentativa e erro durante sua jornada como artista.

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
12:24

Portuguese, Brazilian subtitles

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