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Nós estamos a ver uma das telas individuais de uma série de telas
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das latas de sopa Campbell de Andy Warhol, de 1962, no Museu de Arte Moderna
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E umas das questões mais importantes que existem, especialmente sobre arte moderna,
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é, "bem, porque é isto arte?"
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Quando me perguntam isso, várias coisas surgem na minha mente
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Evoca algo em mim, por isso estou inclinado a dizer que sim
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Mas também existem outras coisas a dizer, como,
se eu não visse isto num museu
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mas apenas no departamento de marketing da Sopa Campbell's
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será que veria isto de forma diferente?
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Porque é publicidade, então
(Sim)
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Mas no contexto de museu, ou no contexto do estúdio
do Andy Warhol
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já não é bem publicidade, não é?
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Mesmo quando é exactamente a mesma coisa.
(Sim)
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E a ideia de colocar a tela num museu é dizer,
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"olha para isto de forma diferente"
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Sim, é isso. Realmente reposiciona a coisa
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muda-lhe o significado, transforma-a
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e isso é uma das ideias centrais da arte moderna
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é que tu podes pegar em algo que não é necessáriamente baseado
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numa habilidade técnica
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porque eu não acho que tu vás dizer
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que isto está executado de forma bela
(Certo)
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Mas reposiciona-a e faz-nos pensar de forma diferente
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então eu acho que ele merece créditos por passar
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algo bastante mundano, algo que vemos
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em todo o lado, e torná-lo um ponto focal
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algo como, "tu deves prestar atenção a isto"
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Acho que é exactamente isso. E penso que ao fazê-lo
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sobre um assunto, que era o mais "baixo" que
um assunto poderia ter ido
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Quero dizer, a arte publicitária barata era o mais distante
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da grande arte, dos grandes mestres
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e depois focar-se em algo tão simples como uma lata de sopa
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e... de creme de galinha ainda por cima
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E, quer dizer, tu sabes
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Grande parte disto, se ele tivesse feito isto 50 anos antes
as pessoas teriam pensado "ele era um charlatão"
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E se o fizesse agora, pensavam "ele é repetitivo"
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Quer dizer, naquele tempo as pessoas achavam que tudo
o que acontecia era arte
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Penso que isso está certo
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Em 1962, o que o Warhol estava a dizer era "em que aspeto é a nossa cultura autentica e importante?"
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e era sobre a produção em massa, sobre fabricas
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num sentido ele dizia "não vamos olhar para a natureza
como se fossemos uma cultura agrária...
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"...nós somos uma cultura industrial agora..."
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"De que é composto o nosso mundo visual agora?"
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Penso que entendi 80%
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Lembro-me que quando estava na faculdade, houve
uma exposição dos alunos de arte
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e como partida, um aluno pôs um pequeno pódio lá
com o seu almoço
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e uma pequena placa que dizia "Tabuleiro do almoço de Sábado"
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Então, ele fez a partida e toda a gente achou engraçado
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mas até certo ponto, parece que o que ele fez foi arte.
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Bem, acho que por isso foi tão engraçado, por ser
tão próximo
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e, até certo ponto, quando alguém pegou no tabuleiro
e colocou a iluminação adequada
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colocou-a num pódio, com uma descrição completa sobre a mesma
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eu vi aquele tabuleiro de forma diferente
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É mais ou menos a mesma ideia. É uma coisa banal, que vemos todos os dias.
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o que dirias? " É uma partida ou é arte?"
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Bem, penso que é uma partida. Mas também está próximo de uma arte importante, lançada no inicio
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do século. E ele tinha permissão para o fazer, graças a alguém chamado Marcel Duchamp
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De facto, o Warhol teve, de certo modo, a mesma permissão
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para não se focar na realização, na pincelada, composição ou na cor
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mas para se focar na reorientação das ideias
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e a razão pela qual falamos de Warhol ou Duchamp, ou qualquer uma dessas pessoas
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é, como disseste, não porque ele fizeram algo tecnicamente profundo
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obviamente, o departamento de marketing das Sopas Campbell já tinha feito algo igualmente profundo
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É mais porque eles foram as pessoas que olharam para o mundo de forma distinta e realçaram isso?
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Acho que é isso. Warhol também está, de modo consciente, a trabalhar nesse sentido,
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a perguntar o mesmo que o brincalhão da tua escola estava a pertguntar
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ele está a dizer:
"isto pode ser arte?"
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E, de facto, ele está a forçar a barra
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Presta atenção a esta pintura, por um momento...
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esta é uma das últimas telas que ele realmente pintou
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ele definiu a caligrafia da Sopa Campbell...
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o reflexo do topo da lata...
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Mas aí ele parou e disse: "Eu não quero pintar a flor de Lis"
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Estás a ver estas pequenas flores de Lis no fundo?
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"Eu não quero pintá-las". Então ele mandou fazer um carimbo e marcou-as mecanicamente.
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O que significa isso para um artista? Dizer "Eu nem sequer me dou ao trabalho de pintar isto"?
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"Vou encontrar um processo mecânico para ficar mais fácil"
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Warhol está a fazer algo que considero importante, que é
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refletir o modo como nos manufacturamos, como construímos o nosso mundo
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Pensa sobre as coisas das quais nos cercamos...
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quase tudo é feito numa fabrica,
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e quase nada é único no mundo.
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Não é um mundo que nós acharíamos, normalmente, bonito
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Eu sei... ás vezes eu acho, e corrige-me se estiver errado, que foi tomada uma decisão
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de que o Warhol era interessante ou muito bom,
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e então as pessoas interpretam as suas coisas, para justificar a sua grandeza
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do género. "Olha, ele usou um carimbo em vez de desenhar,
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o que mostra que ele estava a reflectir no industrial... como queiram
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Mas se ele fizesse de outra forma, desenhasse com a mão, o cotovelo
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ou dos dedos, o que fosse
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as pessoas diriam "isto é demais. Normalmente vemos isto feito por uma máquina
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mas agora ele fez com as mãos"
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O quanto achas que é esse o caso?
Ou estou a ser apenas cinico?
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Não, acho que há um certo nivel de cinicismo
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e que, de certa forma, o que estamos realmente a falar aqui é:
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"o que significa ser um artista da vanguarda?"
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"o que significa mudar a linguagem da arte e como conseguimos ligar a arte
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ao momento histórico que vivemos, de forma directa e autentica?"
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Talvez seja facil para mim falar sobre isto, porque lembro-me de ver isto
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quando estava no quinto ano, nas aulas de arte, Andy Warhol e tudo isso...
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E agora não parece tão genuíno assim.
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Mas em 62... Pelo que percebo, Warhol era realmente notavel, porque forçava as pessoas a pensar
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Penso que o que Warhol procurava, em 1962, era um assunto que estivesse
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completamente fora do espectro daquilo que poderiam considerar grande arte
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E um dos seus contemporâneos, Roy Lichtenstein, ao ser perguntado o que era Pop Art, ele disse:
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"estavamos á procura de algo que fosse tão desprezivel, tão baixo
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que ninguém conseguisse acreditar que era realmente arte"
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E acho que estás certo. Acho que agora nós olhamos para isto, e é uma parte tão grande
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da nossa cultura visual. E nós aceitamos.
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Mas o mais interessante é rever o quão chocante e radical foi
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E isso é fascinante.
Parece que existe imenso potencial nisso.
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É uma pseudo-art, feita para outros propósitos, para propósits comerciais.
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Mas se a apresentas como ela é mostrada aqui...
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Na tua opinião, isso ultrapassaria a fronteira
e torna-se arte?
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Bem, pensando bem, como mencionaste antes, se alguém fizesse isto agora, seria muito repetitivo
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E penso que é mesmo. Que isto realça como na cultura atual é dificil encontrar
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novas formas de nos fazer ver o mundo de forma distinta.
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Sim, fascinante