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Como é realmente ter autismo

  • 0:02 - 0:07
    O autismo é algo
    que muitas pessoas conhecem.
  • 0:08 - 0:10
    Por exemplo, algumas pessoas acham
  • 0:10 - 0:14
    que as pessoas autistas
    são homens de pele clara
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    que falam num tom monótono
  • 0:17 - 0:20
    e falam constantemente
    sobre o mesmo tema.
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    Algumas pessoas pensam que os autistas
    não sabem distinguir o certo do errado,
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    evitam a atenção
  • 0:28 - 0:32
    e costumam dizer a coisa errada
    na hora errada.
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    Algumas pessoas pensam que os autistas
    são socialmente desajeitados
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    e não têm humor nem empatia.
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    Se concordam com o que
    eu acabei de dizer,
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    lamento dizer,
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    mas não têm a impressão
    correta sobre o autismo.
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    Como é que eu sei?
  • 0:51 - 0:54
    Porque tenho autismo.
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    Tenho as minhas obsessões
    com coisas como a eletrónica
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    e os transportes públicos,
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    mas isso não me define.
  • 1:05 - 1:09
    Cada um de nós é diferente
    e único à nossa maneira.
  • 1:09 - 1:13
    No entanto, não há
    muita informação por aí
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    sobre como é realmente
    uma vida autista,
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    por isso as pessoas geralmente
    recorrem a estereótipos.
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    Vemos isso frequentemente nos "media".
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    Alguns dos estereótipos
    mais comuns nos "media"
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    incluem ser-se socialmente desajeitado,
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    ter falta de empatia
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    e até mesmo ser um surpergénio.
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    E a falta de conhecimento
    sobre o autismo também não fica por aí.
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    Sabiam que há pessoas que estão
    a tentar encontrar a cura para o autismo?
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    Isso porque eles veem-no
    como uma coisa negativa,
  • 1:47 - 1:49
    como uma doença.
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    Há muitas pessoas a questionar essa ideia
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    e para nós, pensamos que o autismo
    não é uma doença.
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    É apenas outra maneira
    de pensar e olhar o mundo.
  • 2:01 - 2:04
    Os nossos cérebros funcionam diferente
    do cérebro da maioria das pessoas.
  • 2:05 - 2:08
    É como comparar
    uma Xbox e uma PlayStation.
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    Ambas são consolas altamente capazes
    com programações diferentes.
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    Mas, se colocarmos um jogo Xbox
    numa PlayStation,
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    não vai funcionar, porque a PlayStation
    comunica de maneira diferente.
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    Quando eu me olho ao espelho,
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    eu vejo alguém que pensa
    de modo diferente.
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    Ah, e também vejo um cabelo bonito.
  • 2:31 - 2:33
    (Risos)
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    (Aplausos)
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    Mas a questão é,
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    sou realmente doente
    só porque penso de forma diferente?
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    O principal problema de viver com autismo
    na sociedade de hoje
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    é que o mundo
    não está construído para nós.
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    Há tantas maneiras
    de podemos ficar impressionados.
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    Por exemplo,
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    a coisa que me deixa incomodado
    o tempo todo são os barulhos fortes,
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    o que significa que eu nunca
    ouço música muito alto
  • 3:11 - 3:15
    e geralmente não sou fã
    de grandes festas.
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    Mas outras pessoas no espetro
    podem ficar incomodadas
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    com coisas como luzes brilhantes
    ou cheiros fortes
  • 3:22 - 3:25
    ou texturas pegajosas
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    que têm o potencial
    de criar ansiedade.
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    Pensem em todas as reuniões sociais
    em que estiveram no passado.
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    Havia música alta a tocar?
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    Havia luzes extremamente brilhantes?
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    Havia muitos cheiros diferentes
    de comida, ao mesmo tempo?
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    Havia muitas conversas
    a ocorrer todas ao mesmo tempo?
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    Essas coisas podem não vos incomodar
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    mas, para alguém com autismo,
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    podem ser bastante insuportáveis.
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    Então, nessas situações,
    fazemos algo chamado "stimming",
  • 4:03 - 4:06
    que é como um movimento
    ou um barulho repetitivo
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    ou algum outro movimento qualquer
    que pode parecer normal ou não.
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    Algumas pessoas batem nos seus braços
  • 4:15 - 4:19
    ou fazem um barulho ou giram.
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    É basicamente a nossa maneira
    de nos alhearmos.
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    Muitas vezes sentimos
    necessidade de fazer "stimming".
  • 4:28 - 4:31
    No entanto, muitas vezes
    isso é reprovado,
  • 4:31 - 4:34
    e somos forçados a escondê-lo.
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    Quando somos forçados a esconder
    os nossos traços autistas como este,
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    chama-se "repressão".
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    Algumas pessoas reprimem-se
    melhor que outras.
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    Eu reprimo-me tão bem, às vezes,
    que as pessoas nem sabem que sou autista
  • 4:51 - 4:53
    até eu lhes fazer a grande revelação.
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    (Risos)
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    Mas no final do dia,
    estamos cheios de "stress".
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    Mesmo fazer qualquer coisa
    como o meu trabalho de casa à noite
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    torna-se muito cansativo.
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    Algumas pessoas pensam,
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    por causa da nossa capacidade de reprimir,
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    que esta é a cura para o autismo.
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    No entanto, tudo o que faz
    é que nos sentimos envergonhados
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    de mostrar o nosso verdadeiro eu.
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    Outro estereótipo comum
    frequentemente associado ao autismo
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    é que as pessoas autistas não têm empatia.
  • 5:32 - 5:35
    E, novamente, isso não é verdade.
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    Na verdade, tenho muita empatia.
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    Eu só não sou muito bom a mostrá-la.
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    Sempre que um amigo meu
    está a tentar contar-me
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    algumas das lutas por que está a passar,
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    muitas vezes não sei
    como exprimir a minha resposta.
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    É por isso que eu não mostro tanta empatia
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    como fazem os meus amigos não-autistas.
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    Qualquer expressão emocional,
    por maior ou menor que seja,
  • 6:01 - 6:04
    é difícil para mim.
  • 6:04 - 6:07
    Isso é porque estou a explodir por dentro
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    com todas as emoções
    que sentimos a todo o momento.
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    Embora, é claro,
    eu não o possa exprimir dessa maneira.
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    Por outro lado, digamos,
    a felicidade, por exemplo,
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    sairia como uma enorme explosão
    de um chiar alegre,
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    um agitar das mãos
    e "u-u-u-s" vocalizados em voz alta.
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    (Risos)
  • 6:28 - 6:30
    Enquanto vocês apenas sorriem.
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    (Risos)
  • 6:34 - 6:38
    Seja quando recebo
    um presente de aniversário incrível
  • 6:38 - 6:43
    ou ouço uma história trágica
    nas notícias,
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    eu não consigo exprimir
    a minha reação sem explodir,
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    então mais uma vez, tenho de reprimir-me
    para parecer normal.
  • 6:54 - 6:57
    Os meus sentimentos interiores
    são ilimitados,
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    mas a minha mente só me permite
    exprimir extremos ou nada.
  • 7:04 - 7:06
    Então o meu ...
  • 7:06 - 7:10
    Eu não sou muito bom
    com as minhas emoções,
  • 7:10 - 7:13
    e comunico de forma diferente,
  • 7:13 - 7:18
    e por isso, fui diagnosticado
    com desordem do espetro autista.
  • 7:19 - 7:23
    Este diagnóstico ajuda-me
    e ajuda os meus amigos e família
  • 7:23 - 7:27
    a entender como a minha mente funciona.
  • 7:28 - 7:29
    E no mundo,
  • 7:29 - 7:32
    aproximadamente 1% da população
  • 7:32 - 7:35
    é diagnosticada
    com desordem do espetro autista.
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    Este número está a crescer.
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    No entanto, ainda somos
    uma pequena minoria.
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    E ainda há muitas pessoas que não nos veem
    como iguais às outras pessoas.
  • 7:48 - 7:50
    Esta é a minha família.
  • 7:51 - 7:54
    E na minha família,
  • 7:54 - 7:58
    existe outra pessoa
    que também é autista.
  • 7:58 - 8:00
    A minha mãe.
  • 8:00 - 8:04
    Sim, as mulheres adultas
    também podem ser autistas.
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    O meu pai e o meu irmão
    não são autistas.
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    Mas às vezes pode ser um pouco difícil
    comunicarmos uns com os outros,
  • 8:15 - 8:18
    Às vezes eu digo algo como:
  • 8:18 - 8:21
    "Oh, a Union Station de Toronto, certo?"
  • 8:21 - 8:25
    pensando que eu posso
  • 8:25 - 8:28
    ajudá-los a lembrar
    certos aspetos daquilo.
  • 8:28 - 8:33
    Quando eles ficam confusos, muitas vezes
    tenho de elaborar melhor aquilo.
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    E muitas vezes temos que dizer coisas
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    de várias maneiras diferentes
    para que todos entendam.
  • 8:42 - 8:44
    No entanto, apesar de tudo,
  • 8:44 - 8:48
    todos nos amamos
    e nos respeitamos como iguais.
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    No seu livro "NeuroTribos",
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    o autor Steve Silberman afirma
    que o autismo e outras situações mentais
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    devem ser vistos
    como naturalmente humanos,
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    partes naturais de um espetro humano
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    e não como defeitos.
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    E isso é algo com que eu
    concordo plenamente.
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    Se o autismo fosse visto como parte
    de um espetro natural humano,
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    o mundo poderia ser projetado
    para funcionar melhor para autistas.
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    Eu não tenho vergonha do meu autismo.
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    Posso não pensar como vocês,
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    ou agir como vocês,
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    mas sou humano na mesma
    e não estou doente.
  • 9:34 - 9:35
    Obrigado.
  • 9:35 - 9:39
    (Aplausos)
Title:
Como é realmente ter autismo
Speaker:
Ethan Lisi
Description:

"O autismo não é uma doença; é apenas outra maneira de pensar", diz Ethan Lisi. Oferecendo um vislumbre sobre a maneira como ele experimenta o mundo, Lisi quebra estereótipos enganadores sobre o autismo, partilha ideias sobre comportamentos comuns como o "stimming" e a repressão e promove uma compreensão mais inclusiva do espetro.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
09:52

Portuguese subtitles

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