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[Música de cordas]
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— Gosto de fazer o meu trabalho
cá para fora.
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É algo que acho infinitamente fascinante.
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Creio que nunca conseguiria inventar
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as coisas incríveis que acontecem.
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Adoro ir a sítios ou ter experiências
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que não estão completamente
sob o meu controlo.
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— Melissa?
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— Sim.
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— Estou mesmo aqui.
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— Tudo bem?
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— Sim, como estás?
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— Ótima.
— Que bom.
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— Excelente.
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— Podes mover o...
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Sim, move-o um pouco.
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— Sabias que isto é da Revlon?
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Isto é o que se usava mesmo nos anos 50.
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Chama-se...
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— Espera.
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Deixa-me ver.
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[Katy resmunga]
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Só um momento.
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Vou resolver este problema.
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Desculpa, estavas a dizer?
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— Isto é o que as estrelas de cinema
dos anos 50 usavam.
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Chama-se "Cerejas na Neve" da Revlon.
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E eu uso-o.
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Adoro-o.
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Ainda o fazem.
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— [Risos] Deixa-me ver.
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Conheci a Melissa
quando estava a trabalhar em Hollywood,
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a tirar fotografias.
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Ela era — e é —
uma imitadora de Marilyn Monroe.
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Onde estás?
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OK, eu vou pôr-me aqui.
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Conhecemo-nos há dez anos.
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Que era da Marilyn estamos a filmar?
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— A era do "Vamo-nos Amar".
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— Tem sido um trabalho de improvisação,
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filmamos que ela quiser filmar.
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E ficámos muito próximas.
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Tem a ver com criarmos algo juntas.
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— Segura o espelho aí.
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Fica bem assim.
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Estou a tentar apanhar
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os teus olhos aqui.
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[Música animada]
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Muitas vezes,
a fotografia pode ser um gesto
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de amor, de certo modo.
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— Vai um pouco para a tua esquerda.
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Mas também tem a ver com sermos vistos.
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Sou de Arlington, Massachusetts,
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a cerca de 15 minutos de Boston.
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Acho que foi aos oito anos
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que a minha avó me deu
uma máquina fotográfica.
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Apaixonei-me imediatamente
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por observar o mundo.
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[Música melancólica de guitarra elétrica]
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Por isso, quando me mudei para o Oeste,
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a primeira coisa que me chamou a atenção
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foi a qualidade da luz.
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Então, eu andava por aí.
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Só me apetecia andar por aí
com uma câmara e explorar.
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Nunca quis limitar-me a fotografar
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pessoas apanhadas despercebidas.
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Sempre quis fotografar
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pessoas
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interessadas em ser fotografadas.
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A luz era brilhante e iluminava tudo,
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incluindo o incrível sofrimento
que aqui se vive.
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Formalmente, interessava-me
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um certo grau de abstração
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que removesse tudo o que era supérfluo
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e deixasse apenas
o que era absolutamente essencial.
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Para mim, as fotos tornaram-se
uma espécie de álbum de família,
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recordando cada uma destas pessoas
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e aquilo de que falámos.
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Imagino-as sempre
como soldados dissidentes,
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num momento em que exigiam atenção
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e não se podia evitar olhar para elas.
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[Buzina de comboio a tocar]
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[Lâminas a balançar]
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Penso que, muitas vezes,
pode haver a perceção
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de que o artista é o autor,
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quando, na verdade,
é um processo colaborativo
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quando, na verdade,
as pessoas têm ideias muito fortes.
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[Música ambiente]
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E, em particular, quando conheci a Nicole
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e comecei a fotografá-la,
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ela foi o meu modelo mais divertido
e mais desafiante de todos.
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A certa altura,
já andávamos a fotografar há algum tempo,
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éramos muito próximas, e ela disse:
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"Não sei, acho que as tuas fotografias
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"são um pouco estranhas,
um pouco aborrecidas.
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"Podemos tirar umas fotografias a sério?"
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E eu disse: “Bem, sim.”
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E eu disse: "Vou só fixar o plano,
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"faz o que quiseres.”
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Ela despiu-se e, no fundo, imitou
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aquelas poses provocantes,
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mas depois aplicou-lhes
uma certa violência.
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Havia um desejo
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de ter algum glamour, sex appeal
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ou algo do género,
mas, ao mesmo tempo, ela rejeitava-o.
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E eu pensei:
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"Isto está mais próximo
do que eu sinto enquanto mulher."
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Quer dizer, estamos a falar de algo bonito.
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Isto é bonito.
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É cru.
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É generoso.
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E o facto
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de ela se permitir ser vulnerável
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é, na verdade, uma força.
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O material mais difícil atrai-me sempre.
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A minha melhor amiga de infância
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acabou por ter muitos problemas
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com a toxicodependência e viveu na rua.
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Da última vez que a vi viva,
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disse-me:
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"As pessoas não querem olhar para mim.
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"Eu sei que já não existo.
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"As pessoas desviam os olhos.
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"Nem sequer sou uma pessoa.
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Sou uma drogada."
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E, com o passar do tempo,
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as pessoas que fotografei
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ou os sítios que visitei
foram completamente ignorados.
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Andava há muito tempo
a pensar em fazer um filme
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— ou sobre como fazer um filme —
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porque as circunstâncias
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da criação das minhas fotografias
são, de certa forma,
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quase mais importantes
do que as próprias fotografias
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ou têm a mesma importância.
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— O que tens no cabelo?
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— No cabelo?
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— Tenho pensado muito
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sobre como posso representar
ou transmitir a energia das pessoas,
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o seu sentido de humor,
as suas histórias e tudo o mais.
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As fotografias conseguem
fazer muita coisa.
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Mas não conseguem fazer isso.
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— ♪ Tomei algumas más decisões ♪
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♪ Na minha vida ♪
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♪ Oh, oh ♪
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♪ Mas pode melhorar ♪
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— Este lugar é...
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É algo realmente incrível, meu.
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— The Nine é o nome de uma rua.
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É o nome local da South Ninth Street
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em Central Valley, Modesto, Califórnia.
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[Música ambiente]
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Todos partilham...
[a gaguejar] uma luta.
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E há franqueza e abertura
quanto a essa luta.
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[Na TV]
— É simplesmente antiquado.
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— Ninguém diz que temos de gostar.
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— É assim que as coisas são.
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No The Nine, conheci uma mulher
chamada Vanessa
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e ela apresentou-me
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a outras pessoas ao longo do tempo.
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Perguntei-lhes se teriam interesse
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em fazermos um filme em conjunto
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e ficaram muito entusiasmados.
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Passei muito tempo a conviver com eles,
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a ver o que acontecia,
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a conhecer as pessoas muito bem,
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a ver o desenrolar dos acontecimentos.
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[Música de guitarra acústica]
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Não queria fazer um filme
que sensacionalizasse
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vidas que já são bastante vitimizadas,
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mas sim mostrar
como as suas vidas eram mundanas,
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comuns e, de facto,
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reconhecíveis.
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— A minha mãe costumava dizer que cada
cabelo da minha cabeça estava contado.
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— Quando conheci a Kiki,
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era vital que ela contasse
a sua própria história.
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— Ela disse: "Não tenhas medo.
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"Tu vales mais
do que centenas de pardais."
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Mas não sei.
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Para mim, até um pardal é sagrado.
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Vamos comer.
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Venham lá, bebés.
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[Conversa indistinta na TV]
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— Não sou jornalista.
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No meu entender,
estávamos a fazer um filme juntas.
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[Música ambiente]
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Trabalhei com ela durante cinco anos.
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Passei muito tempo com a Kiki.
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E, ao mesmo tempo, via-a
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a magoar-se a si própria.
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E depois tenho o privilégio
de regressar à minha casa,
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em Berkeley.
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O que quer isto dizer?
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Tenho o direito de lá estar?
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Sim, é difícil
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e levanta muitas questões.
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Eu debato-me
com a vontade de fazer mais.
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Se calhar, sinto-me um pouco culpada
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e, ao mesmo tempo,
dou muito valor às minhas amizades.
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Não sei... o facto
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é que é complicado, não tem solução
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e, no entanto, evitar isto
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é tornarmo-nos cúmplices
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de não ver.
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[Música agitada]
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— Foi por aqui que viemos da última vez?
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— Sim, é o mesmo caminho.
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Devíamos esperar pelo pôr do sol.
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A dança é bastante curta.
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Neste momento,
estou mais ou menos no início outra vez.
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E tenho imensas ideias.
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Torturo-me porque tenho a sensação
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de que nunca sei para onde estou a ir,
mas é isso que é necessário.
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— Isto é fixe.
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Gosto muito de tudo isto.
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— Tenho um tipo
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de relação que se repete,
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que tem a ver
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com uma colaboração inesperada.
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[A sussurrar] OK.
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— O que te parece?
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— É tudo muito bonito.
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Para mim,
a parte mais importante é provavelmente
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o salto de fé
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que ambas damos para confiarmos uma na outra.
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A vida é muito mais interessante
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do que ficar fechada no meu estúdio
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ou na minha pequena bolha.
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— Pois é, devíamos fazer
aquela coisa com os holofotes, sabes?
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Com as luzes do carro.
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Suponho que procuro o efeito de um abanão
que me faça sair da complacência.
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Acho que o desconforto
é um sentimento muito importante,
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e pode ajudar-nos a reconhecer
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algumas das nossas próprias limitações
a nível da forma como vemos o mundo.
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Ou apenas o facto
de existirem outras possibilidades.
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[Risos]
Desculpa.
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Espera um pouco.
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[Música ambiente etérea]
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