Katy Grannan em «São Francisco» – 9.ª Temporada - «Arte no Século XXI» | Art21

A Art21 tem o prazer de apresentar um segmento de artista, com Katy Grannan, do episódio «Área da Baía de São Francisco» da 9.ª temporada da série «Arte no Século XXI».

O episódio «Área da Baía de São Francisco» estreou em setembro de 2018 na PBS. Pode vê-lo agora mesmo na PBS e na aplicação PBS Video: https://www.pbs.org/video/san-francisco-bay-area-myw92l/

Katy Grannan, uma fotógrafa e cineasta estabelecida em Berkeley, é fascinada pela vida de pessoas que descreve como «anónimas». Isto leva-a a desenvolver relações de longa duração com os habitantes de cidades e vilas do Oeste americano, o que dá a azo a belas e inquietantes fotografias. O presente segmento oferece uma visão geral da sua obra, desde o projeto de retratar os membros mais invisíveis da sociedade até à realização da sua primeira longa-metragem, «The Nine», e traça a dinâmica de colaboração, (por vezes, marcada por complicações) entre uma artista e as suas musas.

Katy Grannan nasceu em Arlington, Massachusetts, em 1969. Fotógrafa e cineasta, Grannan é fascinada pelas vidas das pessoas que descreve como «anónimas», que estão à margem da sociedade no Oeste americano. Grannan desenvolve relações de longa data com os habitantes transitórios, o que dá azo a retratos de uma beleza impressionante e inquietante.

Saiba mais sobre a artista em:
https://art21.org/artist/katy-grannan

Tradução: Andreia Frazão

[Katy Grannan
em "Arte no Século XXI"]

[Música de cordas]

— Gosto de fazer o meu trabalho cá fora.

É algo que nunca deixa de me fascinar.

Creio que nunca conseguiria inventar

as coisas incríveis que acontecem.

Adoro ir a sítios ou viver experiências

que não estão completamente
sob o meu controlo.

— Melissa?
— Sim.

— Estou mesmo aqui.

— Tudo bem?
— Sim, como estás?

— Ótima.
— Que bom.

— Podes mover o...

Sim, move-o um pouco.

— Isto é da Revlon, sabias?

É o que se usava nos anos 50.
Chama-se...

— Espera, deixa-me ver.
[Som de esforço]

[A sussurar] Só um momento.
Vou só resolver aqui isto.

Desculpa, estavas a dizer?

— Isto é o que as estrelas de cinema
usavam nos anos 50.

Chama-se "Cerejas na Neve" da Revlon.

E eu uso-o, adoro-o.

Ainda o fazem!

— [Risos] Deixa-me ver.

Conheci a Melissa
quando estava a trabalhar em Hollywood,

a tirar fotografias.

Ela era — e é —
uma imitadora de Marilyn Monroe.

Onde estás?

OK, vou pôr-me aqui.

Conhecemo-nos há dez anos.

Que era da Marilyn estamos a filmar?

— A era do "Vamo-nos Amar".

— Tem sido um trabalho de improvisação,
filmamos que ela quiser filmar.

E ficámos muito próximas.

Tem a ver com criarmos algo juntas.

— Segura o espelho aí.
Fica bem assim.

A ideia é apanhar os teus olhos aqui.

[Música estimulante]

Muitas vezes, a fotografia pode ser
um gesto de amor, de certo modo.

— Vai um pouco para a tua esquerda.

Mas também tem a ver com sermos vistos.

Sou de Arlington, em Massachusetts.

Fica a cerca de 15 minutos de Boston.

Acho que tinha oito anos

quando a minha avó me deu
uma máquina fotográfica.

Apaixonei-me imediatamente
pelo ato de observar o mundo.

[Música melancólica de guitarra elétrica]

Por isso, quando me mudei para o Oeste,

a primeira coisa que me chamou a atenção
foi a qualidade da luz.

Então, eu andava por aí.

Só me apetecia andar por aí
com uma câmara e explorar.

Nunca quis limitar-me a fotografar
pessoas apanhadas despercebidas.

Sempre quis fotografar

pessoas interessadas em ser fotografadas.

A luz era brilhante

e iluminava tudo,

incluindo o incrível sofrimento
que aqui se vive.

Formalmente, interessava-me
um certo grau de abstração

que removesse tudo o que era supérfluo

e deixasse apenas
o que era absolutamente essencial.

Para mim, as fotos tornaram-se
uma espécie de álbum de família,

uma recordação de cada uma destas pessoas
e daquilo de que falámos.

Imagino-as sempre
como soldados dissidentes,

num momento em que exigiam atenção

e não se podia evitar olhar para elas.

[Buzina de comboio a tocar]

[Lâminas a balançar]

[Lâminas a balançar]

Penso que, muitas vezes,
pode haver a ideia

de que o artista é o autor,

quando, na verdade,
é um processo colaborativo

e as pessoas têm ideias muito fortes.

[Música ambiente]

E, em particular, quando conheci a Nicole

e comecei a fotografá-la,

ela foi o meu modelo mais divertido
e mais desafiante de todos.

A certa altura,
já andávamos a fotografar há algum tempo,

éramos muito próximas, e ela disse:

"Não sei, acho que as tuas fotografias

"são um pouco estranhas,
um pouco aborrecidas.

"Podemos tirar umas fotografias a sério?"

E eu disse: "Bem, sim."

E eu disse: "Vou só fixar o plano,

"faz o que quiseres."

Ela despiu-se e, no fundo, imitou

aquelas poses provocantes,

mas depois aplicou-lhes
uma certa violência.

Havia um desejo

de ter algum glamour, sex appeal

ou algo do género,
mas, ao mesmo tempo, ela rejeitava-o.

E eu pensei:

"Isto está mais próximo
do que eu sinto enquanto mulher."

Quer dizer, estamos a falar de algo bonito.

Isto é bonito.

É cru.

É generoso.

E o facto

de ela se permitir ser vulnerável

é, na verdade, uma força.

O material mais difícil atrai-me sempre.

A minha melhor amiga de infância

acabou por ter muitos problemas

com a toxicodependência e viveu na rua.

Da última vez que a vi viva,

disse-me:

"As pessoas não querem olhar para mim.

"Eu sei que já não existo.

"As pessoas desviam os olhos.

"Nem sequer sou uma pessoa.

"Sou uma drogada."

E, com o passar do tempo,

as pessoas que fotografei

ou os sítios que visitei
foram completamente ignorados.

Andava há muito tempo
a pensar em fazer um filme

— ou sobre como fazer um filme —

porque as circunstâncias

da criação das minhas fotografias
são, de certo modo,

quase mais importantes
do que as próprias fotografias

ou têm a mesma importância.

— O que tens no cabelo?

— No cabelo?

— Tenho pensado muito

sobre como posso representar
ou transmitir a energia das pessoas,

o seu sentido de humor,
as suas histórias e tudo o mais.

As fotografias conseguem
fazer muita coisa.

Mas não conseguem fazer isso.

— ♪ Tomei más decisões ♪

♪ Na minha vida ♪

♪ Oh, oh ♪

♪ Mas pode melhorar ♪

— Este lugar é...

É algo realmente incrível, meu.

— "The Nine" é o nome de uma rua.

É o nome local da South Ninth Street

em Central Valley, Modesto, Califórnia.

[Música ambiente]

Todos partilham...
[a gaguejar] uma luta.

E há franqueza e abertura
quanto a essa luta.

[Na TV]
— É simplesmente antiquado.

— Ninguém diz que temos de gostar.

— É assim que as coisas são.

Na "The Nine", conheci uma mulher
chamada Vanessa

e ela apresentou-me

a outras pessoas ao longo do tempo.

Perguntei-lhes se teriam interesse

em fazermos um filme em conjunto

e ficaram muito entusiasmados.

Passei muito tempo a conviver com eles,

a ver o que acontecia,

a conhecer as pessoas a fundo,

a ver o desenrolar dos acontecimentos.

[Música de guitarra acústica]

Não queria fazer um filme
que sensacionalizasse

vidas que já são bastante vitimizadas,

mas sim mostrar
como as suas vidas eram mundanas,

comuns e, de facto,

reconhecíveis.

— A minha mãe costumava dizer que cada
cabelo da minha cabeça estava contado.

— Quando conheci a Kiki,

era vital que ela contasse
a sua própria história.

— Ela disse: "Não tenhas medo.

"Tu vales mais
do que centenas de pardais."

Mas não sei.

Para mim, até um pardal é sagrado.

Vamos comer.

Venham lá, bebés.

[Conversa indistinta na TV]

— Não sou jornalista.

No meu entender,
estávamos a fazer um filme juntas.

[Música ambiente]

Trabalhei com ela durante cinco anos.

Passei muito tempo com a Kiki.

Ao mesmo tempo, via-a

a magoar-se a si própria.

E depois tinha o privilégio
de regressar à minha casa,

em Berkeley.

O que quer isto dizer?

Tenho o direito de lá estar?

Sim, é difícil

e levanta muitas questões.

Eu debato-me
com a vontade de fazer mais.

Se calhar, sinto-me um pouco culpada

e, ao mesmo tempo,
dou muito valor às minhas amizades.

Não sei... o facto

é que é complicado, não tem solução

e, no entanto, evitar isto

é tornarmo-nos cúmplices

de não ver.

[Música agitada]

— Foi por aqui que viemos da última vez?

— Sim, é o mesmo caminho.

Devíamos esperar pelo pôr do sol.

A dança é bastante curta.

Neste momento,
estou mais ou menos no início outra vez.

E tenho imensas ideias.

Torturo-me porque tenho a sensação

de que nunca sei para onde estou a ir,
mas é isso que é necessário.

— Isto é fixe.

Gosto muito disto tudo.

— Tenho um padrão

de relação que se vai repetindo,

que tem a ver

com uma colaboração inesperada.

[A sussurrar] OK.

— O que te parece?

— É tudo muito bonito.

Para mim,
a parte mais importante é provavelmente

o salto de fé

que ambas damos para confiarmos uma na outra.

A vida é muito mais interessante

do que ficar fechada no meu estúdio

ou na minha pequena bolha.

— Pois é, devíamos fazer
aquela coisa com os holofotes, sabes?

Com as luzes do carro.

Suponho que procuro um abanão
que me faça sair da complacência.

Acho que o desconforto
é um sentimento muito importante,

e pode ajudar-nos a reconhecer

algumas das nossas próprias limitações
a nível da forma como vemos o mundo.

Ou apenas o facto
de existirem outras possibilidades.

[Risos]
Desculpa.

Espera um pouco.

[Música ambiente etérea]

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A nona temporada da série "Arte no Século XXI"
está disponível em DVD.

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