O nosso código moral defeituoso
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0:01 - 0:03Hoje queria falar-vos um pouco
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0:03 - 0:06sobre irracionalidade previsível.
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0:07 - 0:10O meu interesse
em comportamento irracional -
0:10 - 0:13começou há muitos anos, no hospital.
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0:13 - 0:16Eu estava gravemente queimado.
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0:17 - 0:20E, quando se passa muito tempo
num hospital, -
0:20 - 0:23observam-se muitos tipos
de irracionalidades. -
0:24 - 0:28Aquela que realmente me incomodava
na Unidade de Queimados -
0:28 - 0:32era o processo que as enfermeiras usavam
para me retirarem os pensos. -
0:33 - 0:36Todos vocês já retiraram
um "penso rápido", a certa altura, -
0:36 - 0:38e devem ter imaginado qual o melhor
método para o fazer. -
0:38 - 0:42Arrancá-lo rapidamente
— curta duração mas alta intensidade — -
0:42 - 0:44ou retirá-lo lentamente
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0:44 - 0:48— demora-se mais tempo,
mas cada segundo é menos doloroso. -
0:48 - 0:51Qual deles é o melhor método?
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0:52 - 0:54As enfermeiras, na minha Unidade,
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0:54 - 0:56achavam que o melhor método
era arrancá-lo. -
0:56 - 0:59Então, elas agarravam e arrancavam,
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0:59 - 1:00agarravam e arrancavam.
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1:00 - 1:04Como 70 % do meu corpo estava queimado,
isso demorava cerca de uma hora. -
1:05 - 1:07Como podem imaginar,
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1:07 - 1:11eu odiava aquele momento de arrancar
com grande intensidade. -
1:11 - 1:13Tentava argumentar com elas dizendo:
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1:13 - 1:15"Podíamos tentar outra coisa.
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1:15 - 1:17"Porque é que não demoramos um pouco mais
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1:17 - 1:20"— talvez duas horas em vez de uma —
e a coisa ser mais suave?" -
1:21 - 1:24As enfermeiras disseram-me duas coisas:
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1:24 - 1:27Disseram-me que tinham
um modelo certo de paciente -
1:27 - 1:30— sabiam qual a melhor maneira
de minimizar a minha dor — -
1:30 - 1:32e disseram-me também
que a palavra "paciente" -
1:32 - 1:35não significava fazer sugestões
nem interferir. -
1:35 - 1:36(Risos)
-
1:36 - 1:39A propósito, isto não é apenas em hebreu,
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1:39 - 1:41é em todas as línguas com
que tive contacto até hoje. -
1:41 - 1:45Evidentemente, não havia
muito que eu pudesse fazer -
1:45 - 1:48e elas continuaram a fazer o que faziam.
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1:48 - 1:50Cerca de três anos depois,
quando saí do hospital, -
1:50 - 1:52comecei a estudar na universidade.
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1:53 - 1:56Uma das lições mais interessantes
que aprendi -
1:56 - 1:58foi que existe um método experimental
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1:58 - 2:03com o qual, tendo uma questão, podemos
criar uma réplica dessa questão -
2:03 - 2:06de uma forma abstrata, podemos
tentar examinar essa questão, -
2:06 - 2:09e talvez aprender algo sobre o mundo.
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2:09 - 2:10E foi isso que eu fiz.
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2:10 - 2:12Continuava interessado na questão
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2:12 - 2:14de como retirar pensos
a pacientes queimados. -
2:14 - 2:16No princípio, não tinha muito dinheiro,
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2:16 - 2:21por isso fui a uma loja de ferramentas
e comprei um torno de carpinteiro. -
2:21 - 2:25Levava pessoas para o meu laboratório,
colocava-lhes um dedo lá dentro -
2:25 - 2:26e apertava-o um bocado.
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2:26 - 2:28(Risos)
-
2:28 - 2:31Apertava-o por períodos longos
e períodos curtos, -
2:31 - 2:33com a dor a aumentar e a diminuir,
-
2:33 - 2:37com intervalos e sem intervalos
— todos os tipos de versões de dor. -
2:37 - 2:39Depois de magoar um pouco
as pessoas, perguntava-lhes: -
2:39 - 2:41"Doeu muito? Até que ponto doeu?
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2:41 - 2:45"Se tivesse de escolher entre
as últimas duas, qual escolheria?" -
2:45 - 2:47(Risos)
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2:48 - 2:51Continuei a fazer isto durante uns tempos.
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2:51 - 2:53(Risos)
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2:53 - 2:57Depois, como todos os bons projetos
académicos, consegui mais financiamento. -
2:57 - 3:00Passei para sons, choques elétricos —
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3:00 - 3:05até tinha um fato de dor com que conseguia
fazer as pessoas sentir muito mais dor. -
3:07 - 3:09Mas, no fim deste processo,
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3:09 - 3:11aquilo que aprendi foi
que as enfermeiras estavam erradas. -
3:12 - 3:15Eram pessoas maravilhosas,
com boas intenções -
3:15 - 3:17e muita experiência e, mesmo assim,
-
3:17 - 3:20estavam, previsivelmente,
sempre a agir de forma errada. -
3:20 - 3:23Acontece que,
como não interpretamos a duração -
3:23 - 3:26da mesma forma
que interpretamos a intensidade, -
3:26 - 3:27eu teria sentido menos dor
-
3:27 - 3:31se a duração fosse maior
e a intensidade menor. -
3:31 - 3:33Teria sido melhor começar pela minha cara,
-
3:33 - 3:37que era muito mais doloroso,
e continuar na direção das pernas, -
3:37 - 3:39dando-me uma sensação
de melhoria ao longo do tempo -
3:39 - 3:41o que também seria menos doloroso.
-
3:41 - 3:42Também teria sido bom
-
3:42 - 3:45fazerem intervalos a meio,
para recuperar da dor. -
3:45 - 3:47Tudo isto seriam ótimas coisas para fazer,
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3:47 - 3:49e as minhas enfermeiras não faziam ideia.
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3:49 - 3:51A partir desse momento comecei a pensar
-
3:51 - 3:54se eram só as enfermeiras
que erram neste tipo de decisão, -
3:54 - 3:56ou se seria um caso mais generalizado?
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3:56 - 3:58Verifica-se que é um caso
mais generalizado. -
3:58 - 4:01Cometemos muitos erros.
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4:02 - 4:06Quero dar-vos um exemplo
de uma destas irracionalidades. -
4:06 - 4:09Quero falar-vos da fraude.
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4:09 - 4:11Escolhi a fraude porque é interessante,
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4:11 - 4:13mas também porque penso
que nos revela qualquer coisa, -
4:13 - 4:17sobre a situação que vivemos
na Bolsa de Valores. -
4:17 - 4:19O meu interesse na fraude surgiu
-
4:19 - 4:22quando a Enron surgiu em cena
e explodiu de repente. -
4:22 - 4:24Eu comecei a pensar
no que estava a acontecer. -
4:24 - 4:28Seria um caso em que umas maçãs podres
são capazes de fazer estas coisas, -
4:28 - 4:31ou estamos a falar de uma situação
mais endémica, -
4:31 - 4:34em que muitas pessoas são capazes
de se comportar desta forma? -
4:34 - 4:38Como fazemos normalmente,
decidi fazer uma experiência simples. -
4:38 - 4:39Eis o que se passou.
-
4:39 - 4:43Se vocês fizessem parte da experiência,
recebiam uma folha de papel -
4:43 - 4:46com 20 problemas matemáticos simples,
que qualquer um consegue resolver, -
4:46 - 4:48mas não tinham tempo suficiente.
-
4:48 - 4:50Ao fim de cinco minutos, eu dizia:
-
4:50 - 4:53"Devolvam-me as folhas,
e eu pago-vos um dólar por resposta". -
4:53 - 4:57As pessoas faziam-no
e eu pagava quatro dólares pela tarefa -
4:57 - 4:59— em média as pessoas
resolviam quatro problemas. -
4:59 - 5:02A outros, tentei-os
para que fizessem batota. -
5:02 - 5:03Dava-lhes a folha de papel.
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5:03 - 5:05Quando os cinco minutos acabavam, dizia:
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5:05 - 5:07"Por favor, rasguem as folhas.
-
5:07 - 5:09"Coloquem os pedacinhos
no bolso ou na mochila -
5:09 - 5:13"e digam-me quantos problemas
conseguiram resolver corretamente." -
5:13 - 5:15As pessoas agora resolviam,
em média, sete problemas. -
5:15 - 5:17(Risos)
-
5:17 - 5:20Mas não eram apenas
algumas maçãs podres -
5:20 - 5:23— poucas pessoas a fazer muita batota.
-
5:23 - 5:24Em vez disso, o que observámos
-
5:24 - 5:27foram muitas pessoas
a mentir apenas um pouco. -
5:27 - 5:29Na teoria económica,
-
5:29 - 5:32a batota é uma análise
de custo-benefício muito simples. -
5:32 - 5:35Dizemos: "Qual a probabilidade
de ser apanhado? -
5:35 - 5:37"Quanto é que posso ganhar com a mentira?
-
5:37 - 5:40"Qual será o castigo se for apanhado?"
-
5:40 - 5:41Pesamos estas opções,
-
5:41 - 5:43fazemos uma simples
análise custo-benefício, -
5:43 - 5:46e decidimos se vale a pena
ou não praticar o crime. -
5:46 - 5:48Então tentámos testar isto.
-
5:48 - 5:52Com algumas pessoas, variámos a quantidade
de dinheiro que podiam ganhar -
5:52 - 5:54— quanto dinheiro é que podiam roubar.
-
5:54 - 5:56Pagávamos 10 cêntimos
por resposta correta, -
5:56 - 5:5950 cêntimos, um dólar, cinco dólares,
10 dólares por resposta correta. -
6:00 - 6:03Seria de esperar que,
aumentando o dinheiro disponível, -
6:03 - 6:06as pessoas fizessem mais batota,
mas não foi isso que aconteceu. -
6:06 - 6:10Houve muitas pessoas a fazer batota,
mas roubando apenas um pouco. -
6:10 - 6:12E quanto à probabilidade
de serem apanhados? -
6:12 - 6:14Algumas pessoas rasgaram a folha ao meio,
-
6:14 - 6:16portanto restaram algumas provas.
-
6:16 - 6:18Algumas pessoas rasgaram a folha toda.
-
6:18 - 6:20Algumas pessoas rasgavam tudo,
saíam da sala -
6:20 - 6:24e pagavam-se com o dinheiro que havia
numa taça que tinha mais de 100 dólares. -
6:24 - 6:27Seria de esperar que, diminuindo
a probabilidade de serem apanhadas, -
6:27 - 6:30as pessoas fizessem mais batota
mas isso não aconteceu. -
6:30 - 6:32Mais uma vez, houve muita gente
a mentir mas só um pouco, -
6:32 - 6:35e não foram sensíveis
àqueles incentivos económicos. -
6:35 - 6:36Então pensámos:
-
6:36 - 6:38"Se as pessoas não são sensíveis
-
6:38 - 6:41às explicações da teoria económica
racional, a estas forças, -
6:41 - 6:44"o que estaria a acontecer?"
-
6:44 - 6:47Pensámos que o que estava a acontecer
talvez fosse existirem duas forças. -
6:47 - 6:49Por um lado, todos queremos
olhar-nos ao espelho -
6:49 - 6:52e sentir-nos bem connosco,
por isso não queremos fazer batota. -
6:52 - 6:54Mas podemos fazer alguma batota,
-
6:54 - 6:56e continuar a sentirmo-nos bem.
-
6:56 - 6:57Então, talvez o que acontece
-
6:57 - 7:00é que há um nível de fraude
que não podemos ultrapassar, -
7:00 - 7:03mas ainda podemos beneficiar
da batota a um nível baixo, -
7:03 - 7:06desde que não altere a nossa opinião
sobre nós próprios. -
7:07 - 7:09Chamamos a isto
o coeficiente pessoal de batota. -
7:09 - 7:11(Risos)
-
7:11 - 7:14Como testar
um coeficiente pessoal de batota? -
7:14 - 7:18Inicialmente pensámos: "Como podemos
encolher o coeficiente de batota?" -
7:18 - 7:20Levámos pessoas
para o laboratório e dissemos: -
7:20 - 7:22"Hoje temos duas tarefas para vocês."
-
7:22 - 7:24Primeiro, pedimos a metade das pessoas
-
7:24 - 7:26para recordarem 10 livros
que leram na escola -
7:26 - 7:28ou para recordarem os Dez Mandamentos.
-
7:28 - 7:30Em seguida, tentámo-los com a batota.
-
7:30 - 7:33As pessoas que tentaram recordar
os Dez Mandamentos -
7:33 - 7:37— na nossa amostra, ninguém conseguiu
lembrar-se de todos os Dez Mandamentos — -
7:38 - 7:40as que tentaram lembrar-se
dos Dez Mandamentos, -
7:40 - 7:43perante a oportunidade de fazer batota,
não mentiram nada. -
7:43 - 7:45Não foi porque as que recordaram
mais Mandamentos -
7:45 - 7:47— mais religiosas —
fizessem menos batota, -
7:47 - 7:50e as que não conseguiram recordar
quase nenhum Mandamento -
7:50 - 7:52— menos religiosas —
fizessem mais batota. -
7:52 - 7:55Na altura em que as pessoas tentaram
recordar os Dez Mandamentos, -
7:55 - 7:56deixaram de fazer batota.
-
7:56 - 8:00Quando demos a ateus confessos
a tarefa, jurando sobre a Bíblia -
8:00 - 8:02e lhes demos hipótese para fazer batota,
-
8:02 - 8:04eles não mentiram nada.
-
8:06 - 8:07Os Dez Mandamentos são uma coisa
-
8:07 - 8:10difícil de meter no sistema de ensino,
por isso dissemos: -
8:10 - 8:13"Porque é que as pessoas
não assinam um código de honra?" -
8:13 - 8:14Pusemos as pessoas a assinar:
-
8:14 - 8:18"Entendo que este estudo está
ao abrigo do código de honra do MIT". -
8:18 - 8:21Depois rasgaram as folhas.
Não houve qualquer batota. -
8:21 - 8:23Isto é particularmente interessante,
-
8:23 - 8:25porque o MIT não tem
nenhum código de honra. -
8:25 - 8:28(Risos)
-
8:30 - 8:33Isto tudo foi para diminuir
o coeficiente de batota. -
8:33 - 8:36E então para aumentar
o coeficiente de batota? -
8:36 - 8:38Na primeira experiência, passeei pelo MIT
-
8:38 - 8:41e distribuí seis pacotes
de Coca-Cola pelos frigoríficos -
8:41 - 8:43que eram usados pelos universitários.
-
8:43 - 8:46E voltei lá para medir aquilo
a que tecnicamente -
8:46 - 8:48chamamos a meia-vida da Coca-Cola
-
8:48 - 8:50— quanto tempo é que duram
nos frigoríficos? -
8:50 - 8:53Como seria de esperar, não duram
muito tempo; as pessoas levam-nos. -
8:53 - 8:57Por outro lado, levei pratos
com seis notas de um dólar, -
8:57 - 9:00e deixei-os nos mesmos frigoríficos.
-
9:00 - 9:02Não desapareceu nenhuma nota.
-
9:02 - 9:05Isto não é uma boa experiência
de ciência social. -
9:05 - 9:07Portanto, para o fazer melhor,
fiz a mesma experiência -
9:07 - 9:09tal como descrevi antes.
-
9:09 - 9:12Um terço das pessoas a quem demos
a folha, devolveram-na outra vez. -
9:12 - 9:15Um terço das pessoas a quem
a demos, rasgaram-na, -
9:15 - 9:16vieram ter connosco e disseram:
-
9:16 - 9:20"Sr. Investigador, resolvi x problemas.
Dê-me x dólares." -
9:20 - 9:22Um terço das pessoas,
depois de rasgar as folhas, -
9:22 - 9:24vieram ter connosco e disseram:
-
9:24 - 9:29"Sr. Investigador, resolvi x problemas.
Dê-me x fichas." -
9:30 - 9:33Não lhes pagávamos com dólares,
pagávamos-lhes com outra coisa. -
9:33 - 9:36Eles levavam as fichas,
andavam quase 4 metros, -
9:36 - 9:38e trocavam-na por dólares.
-
9:38 - 9:40Pensem sobre a seguinte intuição:
-
9:40 - 9:44Sentir-se-iam tão mal em levar
para casa um lápis do trabalho -
9:44 - 9:45como se sentiriam mal
-
9:45 - 9:47se tirassem 10 cêntimos
da caixa do dinheiro? -
9:48 - 9:50Estas coisas sentem-se
de forma muito diferente. -
9:50 - 9:53Será que estar afastado do dinheiro,
por uns segundos, -
9:53 - 9:56por ser pago com fichas, faria diferença?
-
9:56 - 9:58Os nossos sujeitos duplicaram a batota.
-
9:59 - 10:02Daqui a pouco, vou dizer-vos
o que penso sobre isso -
10:02 - 10:04sobre isto e sobre a Bolsa de Valores.
-
10:04 - 10:07Mas isto não resolvia o grande
problema que eu tinha com a Enron, -
10:07 - 10:09porque na Enron, também há
um elemento social. -
10:09 - 10:12As pessoas veem o comportamento
umas das outras. -
10:12 - 10:13Todos os dias, quando abrimos o jornal,
-
10:13 - 10:16vemos exemplos de pessoas a mentir.
-
10:16 - 10:18O que é que isto nos provoca?
-
10:18 - 10:19Então fizemos outra experiência.
-
10:19 - 10:23Arranjámos um grande grupo de alunos
para participarem na experiência -
10:23 - 10:24e pagámos-lhes antecipadamente.
-
10:24 - 10:27Todos os alunos receberam
dinheiro para a experiência, -
10:27 - 10:29e dissemos-lhes que, no final,
-
10:29 - 10:31tinham que nos devolver
o dinheiro que não ganhassem. -
10:32 - 10:33Aconteceu a mesma coisa.
-
10:33 - 10:36Perante a oportunidade
de fazer batota, eles fizeram, -
10:36 - 10:38apenas um bocado, mas na mesma.
-
10:38 - 10:41Mas, nesta experiência, também
contratámos um aluno de teatro. -
10:41 - 10:45Este aluno levantou-se
após 30 segundos e disse: -
10:45 - 10:48"Resolvi tudo. O que é que faço agora?"
-
10:49 - 10:52O investigador disse:
"Se já terminou tudo, vá para casa. -
10:52 - 10:54"É isso. A tarefa está acabada."
-
10:54 - 10:57Agora tínhamos um aluno
— um estudante de teatro — -
10:57 - 10:59que fazia parte do grupo.
-
10:59 - 11:01Ninguém sabia que era um ator.
-
11:01 - 11:05E, claramente, tinha feito batota
duma forma muito, muito séria. -
11:05 - 11:08O que iria acontecer
com as outras pessoas do grupo? -
11:08 - 11:10Fariam mais batota, ou menos?
-
11:12 - 11:14Eis o que aconteceu.
-
11:14 - 11:17Acontece que depende do tipo de camisola
que eles estavam a usar. -
11:17 - 11:18(Risos)
-
11:18 - 11:19A coisa é esta.
-
11:19 - 11:22Fizemos isto em Carnegie Mellon
e em Pittsburgh. -
11:22 - 11:25Em Pittsburgh, há duas
grandes universidades, -
11:25 - 11:27Carnegie Mellon
e a Universidade de Pittsburgh. -
11:27 - 11:29Todos os sujeitos da experiência
-
11:29 - 11:31eram alunos do Carnegie Mellon.
-
11:31 - 11:35Quando o ator era um aluno
da Universidade Carnegie Mellon -
11:35 - 11:38— era mesmo um aluno
da Universidade Carnegie Mellon — -
11:38 - 11:41que fazia parte do seu grupo,
a batota aumentou. -
11:42 - 11:45Mas, quando ele usou uma camisola
da Universidade de Pittsburgh, -
11:45 - 11:46a batota diminuiu.
-
11:47 - 11:49(Risos)
-
11:51 - 11:53Isto é importante porque,
-
11:53 - 11:55na altura em que o aluno se levantou,
-
11:55 - 11:58deixou claro para todos que não seriam
apanhados a fazer batota, -
11:58 - 12:00porque o investigador dissera:
-
12:00 - 12:03"Já terminou tudo, vá para casa",
e ele foi com o dinheiro. -
12:03 - 12:06Portanto, não era tanto
pela probabilidade de ser apanhado. -
12:06 - 12:08Era sobre as normas de fazer batota.
-
12:08 - 12:11Se alguém do nosso grupo
faz batota e nós vemos, -
12:11 - 12:15sentimos que é mais apropriado,
enquanto grupo, portarmo-nos dessa forma. -
12:15 - 12:18Mas, se é alguém de outro grupo,
dessas pessoas terríveis -
12:18 - 12:19— quer dizer, não terríveis nisso —
-
12:19 - 12:22mas alguém com quem
não nos queremos associar, -
12:22 - 12:24de outra Universidade, de outro grupo,
-
12:24 - 12:26de repente, a consciência de honestidade
das pessoas sobe -
12:26 - 12:29— um pouco como a experiência
dos Dez Mandamentos — -
12:29 - 12:32e as pessoas ainda fazem menos batota.
-
12:33 - 12:36O que aprendemos sobre a batota
a partir disto? -
12:36 - 12:39Aprendemos que há muita gente
que faz batota, -
12:39 - 12:42mas fazem-na apenas um pouco.
-
12:42 - 12:46Quando recordamos às pessoas a sua
moral, elas fazem menos batota. -
12:46 - 12:49Quando temos uma maior distância
-
12:49 - 12:52entre a batota e o objeto do dinheiro,
por exemplo, -
12:52 - 12:54as pessoas enganam mais.
-
12:54 - 12:56E quando vemos a batota à nossa volta,
-
12:56 - 12:59especialmente se for uma parte
do nosso grupo, a batota aumenta. -
12:59 - 13:02Se pensarmos nisto
em termos da Bolsa de Valores, -
13:02 - 13:04pensem no que acontece.
-
13:04 - 13:06O que acontecerá numa situação
em que vocês criam algo -
13:06 - 13:08em que pagam muito dinheiro às pessoas
-
13:08 - 13:11para verem a realidade de uma
forma um pouco distorcida? -
13:11 - 13:14Será que elas não seriam capazes
de a ver dessa forma? -
13:14 - 13:15Claro que seriam.
-
13:15 - 13:19O que acontece quando fazem outras coisas,
como afastar as coisas do dinheiro? -
13:19 - 13:21Chamamos-lhes ações,
ou opções de ações, derivativos, -
13:21 - 13:23hipotecas com títulos garantidos.
-
13:23 - 13:25Será que com essas coisas mais distantes
-
13:25 - 13:27— não é uma ficha por um segundo,
-
13:27 - 13:30é algo que está muito afastado
do dinheiro, por muito mais tempo — -
13:30 - 13:33será que as pessoas
vão enganar ainda mais? -
13:33 - 13:36E o que acontece ao ambiente social
-
13:36 - 13:38quando as pessoas veem
o comportamento dos outros à sua volta? -
13:38 - 13:42Acho que todas essas forças trabalharam
de uma forma muito prejudicial -
13:42 - 13:44na Bolsa de Valores.
-
13:44 - 13:47No geral, quero dizer-vos uma coisa
-
13:47 - 13:50sobre a economia comportamental.
-
13:50 - 13:54Temos muitas intuições na nossa vida,
-
13:54 - 13:57e o problema é que muitas dessas
intuições estão erradas. -
13:57 - 14:00A questão é, será que vamos
testar essas intuições? -
14:00 - 14:02Podemos pensar
em como testar esta intuição -
14:02 - 14:05na nossa vida privada,
na nossa vida empresarial, -
14:05 - 14:07e, em particular,
quando se vai para a política, -
14:07 - 14:10quando pensamos em coisas como
Nenhuma Criança Deixada para Trás, -
14:10 - 14:14quando se criam novos mercados de valores,
quando se criam outras políticas -
14:14 - 14:16— tributação, saúde, etc.
-
14:16 - 14:18E a dificuldade de testar a nossa intuição
-
14:18 - 14:20foi a grande lição que aprendi
-
14:20 - 14:22quando voltei a falar com as enfermeiras.
-
14:22 - 14:24Voltei, para falar com elas
-
14:24 - 14:27e dizer-lhes o que tinha descoberto
sobre a remoção dos pensos. -
14:27 - 14:29E aprendi duas coisas interessantes.
-
14:29 - 14:31Uma foi que a minha enfermeira
preferida, Ettie, -
14:31 - 14:35disse-me que eu não tinha tido
em consideração a dor dela: -
14:35 - 14:37"Claro, sabes, foi muito doloroso para ti.
-
14:37 - 14:39"Mas pensa em mim enquanto enfermeira,
-
14:39 - 14:41"tirar os pensos a uma pessoa
de quem eu gostava, -
14:41 - 14:44"e ter de o fazer repetidamente,
durante tanto tempo. -
14:44 - 14:47"Causar tanta tortura também
não foi bom para mim" -
14:47 - 14:52Ela disse que, em parte, talvez fosse
porque era difícil para ela. -
14:52 - 14:55Mas ainda foi mais interessante,
porque ela disse: -
14:56 - 15:00"Eu não achei
que a tua intuição estivesse certa. -
15:00 - 15:02"Senti que a minha intuição
estava correta." -
15:02 - 15:04Se pensarem em todas as vossas intuições,
-
15:04 - 15:07é muito difícil acreditar
que estão erradas. -
15:07 - 15:11Ela disse: "Dado eu ter pensado
que a minha intuição estava certa..." -
15:11 - 15:13Ela achava que a sua intuição estava certa.
-
15:13 - 15:17Para ela era muito complicado
aceitar fazer uma experiência difícil -
15:17 - 15:19para verificar se estava errada.
-
15:19 - 15:23Mas a verdade é que esta é a situação
em que nos encontramos a todo o momento. -
15:23 - 15:26Temos intuições muito fortes sobre
todo o tipo de coisas -
15:26 - 15:29— a nossa própria capacidade,
como funciona a economia, -
15:29 - 15:31como devemos pagar
aos professores da escola. -
15:31 - 15:34Mas, se não começarmos
a testar essas intuições, -
15:34 - 15:35não vamos fazer melhor.
-
15:35 - 15:38Basta pensar como
a minha vida teria sido melhor -
15:38 - 15:41se estas enfermeiras estivessem
dispostas a verificar a sua intuição, -
15:41 - 15:43e como tudo teria sido melhor
-
15:43 - 15:46se começássemos a fazer experiências
mais sistemáticas das nossas intuições. -
15:46 - 15:48Muito obrigado.
-
15:48 - 15:52(Aplausos)
- Title:
- O nosso código moral defeituoso
- Speaker:
- Dan Ariely
- Description:
-
O economista comportamental Dan Ariely estuda os defeitos no nosso código moral: as razões ocultas que nos levam a pensar que, em determinadas circunstâncias, é correto fazer batota ou roubar. Estudos inteligentes ajudam-no a demonstrar que somos previsivelmente irracionais — e que podemos ser influenciados de formas de que não nos apercebemos.
- Video Language:
- English
- Team:
closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 16:03
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