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Como inspirar todas as crianças a serem leitoras ao longo da vida

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    Enquanto professora da escola primária,
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    a minha mãe fez tudo
    para me garantir a aquisição
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    de boas competências
    de leitura.
  • 0:08 - 0:13
    Isso consistia em aulas de leitura
    ao fim de semana, na mesa da cozinha,
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    enquanto os meus amigos brincavam lá fora.
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    As minhas capacidades
    de leitura melhoraram,
  • 0:18 - 0:23
    mas essas aulas forçadas não inspiraram
    exatamente um amor pela leitura.
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    O secundário mudou tudo.
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    No 10.º ano, a professora de inglês
    lia contos e fazia testes de ortografia.
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    Por puro tédio,
    pedi para trocar de turma.
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    No período seguinte,
    tive Inglês avançado.
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    (Risos)
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    Nesse período lemos dois romances,
    e escrevemos dois relatórios de livros.
  • 0:46 - 0:50
    A diferença drástica e o rigor
    entre essas duas aulas de inglês
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    irritou-me e estimulou perguntas como:
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    "De onde vieram todos estes brancos?"
  • 0:56 - 0:57
    (Risos)
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    A minha escola secundária
    era mais de 70% negra e latina,
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    mas esta aula de Inglês Avançado
    tinha alunos brancos em todo o lado.
  • 1:07 - 1:10
    Este encontro pessoal
    com o racismo institucionalizado
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    mudou a minha relação com a leitura
    para sempre.
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    Eu aprendi que não podia depender da
    escola, dos professores ou de um currículo
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    para me ensinarem
    o que eu precisava de aprender.
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    E mais por rebeldia,
    do que para ser intelectual,
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    decidi que não voltaria a permitir
    que os outros ditassem
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    quando e o que eu lia.
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    E sem perceber, tropecei na chave
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    para ajudar crianças a ler.
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    Identidade.
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    Em vez de se fixarem nas capacidades,
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    e moverem os alunos
    de um nível de leitura para o outro,
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    ou forçarem leitores com dificuldades
    a memorizar listas de palavras incomuns,
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    devíamos perguntar-nos a nós próprios
    a seguinte questão:
  • 1:53 - 1:58
    Como é que podemos inspirar as crianças
    a identificarem-se como leitoras?
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    DeSean, um aluno brilhante da primária,
    que eu ensinei em Bronx,
  • 2:03 - 2:07
    ajudou-me a entender como é que
    a identidade modela a aprendizagem.
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    Um dia, durante a aula de Matemática,
    fui até ao DeSean, e disse:
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    "DeSean, tu és um ótimo matemático!"
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    Ele olhou para mim e respondeu:
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    "Eu não sou um matemático,
    sou um génio da matemática!"
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    (Risos)
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    "Ok, DeSean... certo?
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    "Mas ler?
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    "É uma história completamente diferente."
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    "Mr. Irby, eu não consigo ler,
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    "eu nunca vou aprender a ler", dizia ele.
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    Eu ensinei o DeSean a ler,
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    mas há inúmeros meninos negros
    que continuam presos na iliteracia.
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    De acordo com o Departamento
    da Educação dos EUA,
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    mais de 85% dos meninos negros do 4.º ano
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    não são competentes na leitura.
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    85% !
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    Quanto mais desafios existirem
    para a leitura da criança
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    mais os educadores necessitam
    de ser culturalmente competentes.
  • 2:59 - 3:03
    Enquanto comediante de "stand-up",
    nos últimos oito anos,
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    eu compreendi a importância
    da competência cultural,
  • 3:06 - 3:09
    que eu defino
    como a capacidade de traduzir
  • 3:09 - 3:13
    o que queremos que outra pessoa saiba
    ou consiga fazer
  • 3:13 - 3:19
    em comunicação ou experiências que
    consideramos relevantes e envolventes.
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    Antes de subir ao palco,
    eu avalio a audiência.
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    São brancos, são latinos?
  • 3:24 - 3:28
    São velhos, novos, profissionais,
    conservadores?
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    E depois, eu modifico e adapto as piadas
  • 3:31 - 3:34
    baseado no que eu penso que irá gerar
    as maiores gargalhadas.
  • 3:34 - 3:39
    Se estivesse numa igreja,
    podia contar piadas de bar.
  • 3:39 - 3:42
    Mas isso poderia não resultar
    em gargalhadas.
  • 3:42 - 3:43
    (Risos)
  • 3:43 - 3:48
    Enquanto sociedade, estamos a criar
    experiências de leitura para as crianças
  • 3:48 - 3:52
    que são equivalentes a contar
    piadas de bar numa igreja.
  • 3:52 - 3:55
    E depois perguntamo-nos porque é
    que tantas crianças não leem.
  • 3:56 - 3:59
    O educador e filósofo Paulo Freire
  • 3:59 - 4:02
    acreditava que ensinar e aprender
    devia ser mútuo.
  • 4:02 - 4:05
    Os alunos não devem ser vistos
    como baldes vazios
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    para serem enchidos de factos
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    mas antes como cocriadores
    de conhecimento.
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    Currículos padrão e políticas escolares
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    que requerem que os alunos
    estejam sentados
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    ou que trabalhem em silêncio completo,
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    estes ambientes frequentemente excluem
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    as necessidades individuais
    de aprendizagem,
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    os interesses e capacidades das crianças,
  • 4:27 - 4:30
    principalmente de meninos negros.
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    Muitos livros infantis,
    concebidos para meninos negros,
  • 4:33 - 4:38
    focam-se em temas sérios, como
    escravatura, direitos civis e biografias.
  • 4:38 - 4:42
    Menos de 2% dos professores nos EUA
    são homens negros.
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    E a maioria dos rapazes negros
    são criados por mães solteiras.
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    Há rapazes negros que, literalmente,
    nunca viram um homem negro a ler.
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    Ou nunca tiveram um homem negro
    a incentivá-los a ler.
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    Que fatores culturais,
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    que pistas sociais estão presentes
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    que levariam um rapaz negro a concluir
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    que ler é algo que ele também
    devia fazer?
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    Foi por isso que criei o Barbershop Books.
  • 5:12 - 5:15
    É uma organização sem fins lucrativos
    para a promoção da literacia
  • 5:15 - 5:19
    que cria espaços de leitura
    para crianças, em barbearias.
  • 5:20 - 5:21
    A missão é simples:
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    ajudar meninos negros a identificarem-se
    enquanto leitores.
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    Muitos rapazes negros vão à barbearia
    uma ou duas vezes por mês.
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    Alguns vêm os seus barbeiros mais vezes
    do que os seus próprios pais.
  • 5:35 - 5:39
    Barbershop Books relaciona a leitura
    com um espaço masculino
  • 5:39 - 5:43
    e mistura homens negros e as primeiras
    experiências de leitura dos rapazes.
  • 5:43 - 5:46
    Este programa de leitura
    baseado na identidade
  • 5:47 - 5:50
    usa uma lista de livros infantis
    recomendada por meninos negros.
  • 5:50 - 5:53
    Estes são os livros que eles
    realmente querem ler.
  • 5:55 - 5:59
    O Relatório para Crianças e Família
    de 2016, da Scholastic,
  • 5:59 - 6:02
    constatou que a primeira coisa
    que as crianças procuram
  • 6:02 - 6:04
    ao escolherem um livro,
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    é que aquele livro as faça rir.
  • 6:07 - 6:09
    Então, se estamos a falar a sério
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    sobre ajudar meninos negros
    e outras crianças a ler,
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    quando não é obrigatório,
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    precisamos de incorporar modelos
    de leitura masculinos relevantes
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    na alfabetização precoce
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    e trocar alguns dos livros infantis
    que os adultos tanto gostam,
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    por livros engraçados, tolos ou nojentos,
    como "Gross Greg".
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    (Risos)
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    "Tu chamas-lhe ranho.
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    "O Greg chama-lhe
    'deliciosos pequenos açúcares'".
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    (Risos)
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    É o riso, essa reação positiva,
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    ou a reação enojada
    que alguns de vocês acabaram de ter,
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    que os meninos negros merecem
    e precisam desesperadamente.
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    Desmantelar as desigualdades selvagens
    que atormentam a educação americana
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    requer que nós criemos
    experiências de leitura
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    que inspirem todas as crianças
    a dizer três palavras:
  • 7:05 - 7:07
    Eu sou leitor.
  • 7:07 - 7:09
    Obrigado.
  • 7:09 - 7:12
    (Aplausos)
Title:
Como inspirar todas as crianças a serem leitoras ao longo da vida
Speaker:
Alvin Irby
Description:

Segundo o Departamento de Educação dos EUA, mais de 85% dos meninos negros do quarto ano não são competentes na leitura. Que tipo de experiências de leitura devemos criar para garantir que todas as crianças leiam bem? Numa palestra que vos fará pensar em como ensinamos a ler, o educador e autor Alvin Irby explica os desafios de leitura que muitas crianças negras enfrentam — e diz-nos o que educadores culturalmente competentes fazem para ajudar todas as crianças a identificarem-se como leitoras.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
07:27

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