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Pode o preconceito ser uma coisa boa?

  • 0:01 - 0:03
    Quando pensamos em
    preconceito e parcialidade,
  • 0:03 - 0:06
    tendemos a pensar em
    pessoas estúpidas e más
  • 0:06 - 0:08
    a fazerem coisas estúpidas e más.
  • 0:08 - 0:10
    E esta ideia está muito bem resumida
  • 0:10 - 0:13
    pelo crítico britânico William Hazlitt,
    que escreveu:
  • 0:13 - 0:16

    "O preconceito é filho da ignorância".
  • 0:16 - 0:18
    Quero tentar convencer-vos aqui
  • 0:18 - 0:20
    que isto não é verdade.
  • 0:20 - 0:21
    Quero tentar convencer-vos
  • 0:21 - 0:23
    que o preconceito e a parcialidade
  • 0:23 - 0:26
    são naturais, são muitas vezes racionais
  • 0:26 - 0:28
    e, muitas vezes, até são morais.
  • 0:28 - 0:30
    Eu acho que uma vez que percebamos isso,
  • 0:30 - 0:33
    estamos numa melhor
    posição para entendê-los
  • 0:33 - 0:35
    quando eles têm terríveis consequências,
  • 0:35 - 0:38
    e estamos numa melhor
    posição para saber o que fazer
  • 0:38 - 0:40
    quando isso acontece.
  • 0:40 - 0:42
    Então, comecemos com os estereótipos.
  • 0:42 - 0:44
    Vocês olham para mim, sabem o meu nome,
  • 0:44 - 0:45
    sabem algumas coisas sobre mim
  • 0:45 - 0:47
    e podem fazer certos julgamentos.
  • 0:47 - 0:50
    Podem fazer suposições
    sobre a minha etnia,
  • 0:50 - 0:53
    a minha filiação política,
    as minhas crenças religiosas.
  • 0:53 - 0:55
    Estes julgamentos tendem a estar corretos.
  • 0:55 - 0:57
    Somos muito bons neste tipo de coisas.
  • 0:57 - 0:59
    Somos muito bons neste tipo de coisas
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    porque a nossa capacidade
    para estereotipar as pessoas
  • 1:01 - 1:05
    não é uma espécie de
    capricho arbitrário da mente,
  • 1:05 - 1:07
    mas sim uma instância específica
  • 1:07 - 1:08
    de um processo mais geral,
  • 1:08 - 1:10
    que é nós termos experiência
  • 1:10 - 1:12
    com coisas e pessoas no mundo
  • 1:12 - 1:13
    que se enquadram em categorias,
  • 1:13 - 1:15
    e podemos usar a nossa experiência
  • 1:15 - 1:18
    para fazer generalizações sobre
    novas instâncias dessas categorias.
  • 1:18 - 1:20
    Todos nós aqui temos muita experiência
  • 1:20 - 1:22
    com cadeiras e maçãs e cães.
  • 1:22 - 1:24
    A partir disto podemos ver
  • 1:24 - 1:26
    exemplos que não fazem sentido
    e podemos deduzir:
  • 1:26 - 1:28
    podemos sentar-nos na cadeira,
  • 1:28 - 1:30
    podemos comer a maçã, o cão irá ladrar.
  • 1:30 - 1:32
    Mas podemos estar errados.
  • 1:32 - 1:34
    A cadeira pode partir-se
    se nos sentarmos nela,
  • 1:34 - 1:36
    a maçã pode estar envenenada,
    o cão pode não ladrar.
  • 1:36 - 1:39
    De facto, este é o meu cão Tessie
    que não ladra.
  • 1:39 - 1:40
    (Risos)
  • 1:40 - 1:42
    Mas, na maior parte dos casos,
    nós somos bons nisto,
  • 1:42 - 1:44
    fazemos boas suposições,
  • 1:44 - 1:46
    tanto no domínio social,
    como no não social.
  • 1:46 - 1:47
    Se não fôssemos capazes de fazê-lo,
  • 1:47 - 1:51
    se não conseguíssemos fazer suposições
    sobre novas instâncias que encontramos,
  • 1:51 - 1:52
    não sobreviveríamos.
  • 1:52 - 1:56
    Na verdade, Hazlitt mais à frente
    no seu maravilhoso ensaio admite isto.
  • 1:56 - 1:57
    Ele escreve:
  • 1:57 - 1:59
    "Sem a ajuda do preconceito e do hábito,
  • 1:59 - 2:01
    "eu não encontraria o caminho
    para atravessar a sala;
  • 2:01 - 2:04
    "nem saberia como me comportar
    em qualquer circunstância,
  • 2:04 - 2:07
    "nem o que sentir
    em qualquer relação da vida".
  • 2:08 - 2:09
    Ou tomar partido.
  • 2:09 - 2:11
    Às vezes dividimos o mundo
  • 2:11 - 2:14
    em "nós contra eles", em "parte do grupo"
    contra "fora do grupo".
  • 2:14 - 2:17
    Outras vezes sabemos
    que estamos a fazer algo errado
  • 2:17 - 2:18
    e envergonhamo-nos com isso.
  • 2:18 - 2:20
    Às vezes sentimos orgulho nisso.
  • 2:20 - 2:22
    Reconhecemos isso abertamente.
  • 2:22 - 2:23
    O meu exemplo favorito
  • 2:23 - 2:25
    é uma pergunta que veio da plateia
  • 2:25 - 2:28
    num debate republicano
    antes das últimas eleições.
  • 2:28 - 2:31
    (Vídeo) Anderson Cooper:
    Vamos à sua pergunta,
  • 2:31 - 2:33
    a pergunta na audiência,
    sobre ajuda externa?
  • 2:33 - 2:35
    Sim, minha senhora?
  • 2:35 - 2:37
    Mulher: O povo americano está a sofrer
  • 2:37 - 2:40
    no nosso país neste momento.
  • 2:40 - 2:43
    Porque é que continuamos
    a enviar ajuda externa
  • 2:43 - 2:45
    para outros países
  • 2:45 - 2:48
    quando precisamos de toda a ajuda que
    pudermos conseguir para nós mesmos?
  • 2:48 - 2:50
    AC: Governador Perry, e esta?
  • 2:50 - 2:51
    (Aplausos)
  • 2:51 - 2:53
    Rick Perry: Sem dúvida, eu...
  • 2:53 - 2:56
    Paul Bloom: Todas as pessoas
    presentes no palco
  • 2:56 - 2:58
    concordaram com a premissa
    da pergunta da senhora:
  • 2:58 - 3:00
    "Os americanos devem importar-se mais
  • 3:00 - 3:02
    "com os americanos do que
    com as outras pessoas?"
  • 3:02 - 3:05
    De facto, em geral, as pessoas
    são muitas vezes seduzidas
  • 3:05 - 3:08
    por sentimentos de solidariedade,
    lealdade, orgulho, patriotismo,
  • 3:08 - 3:10
    para com o seu país ou
    para com o seu grupo étnico.
  • 3:10 - 3:12
    Independentemente da política,
  • 3:12 - 3:14
    muitas pessoas sentem orgulho
    em ser americanas
  • 3:14 - 3:16
    e favorecem-nos em relação
    a outros países.
  • 3:16 - 3:19
    Noutros países sente-se o mesmo
    em relação aos seus países
  • 3:19 - 3:21
    e sentimos o mesmo
    em relação às nossas etnias.
  • 3:21 - 3:23
    Alguns de vocês podem rejeitar isto.
  • 3:23 - 3:25
    Alguns de vocês podem ser tão cosmopolitas
  • 3:25 - 3:27
    que acham que etnia e nacionalidade
  • 3:27 - 3:30
    não deveriam ter nenhuma influência moral.
  • 3:29 - 3:32
    Mas até vocês, sofisticados,
  • 3:32 - 3:34
    aceitam que deve haver alguma preferência
  • 3:34 - 3:37
    relativamente aos que fazem parte
    do grupo dos amigos e família,
  • 3:37 - 3:38
    das pessoas que nos são próximas,
  • 3:38 - 3:40
    e por isso mesmo fazem uma distinção
  • 3:40 - 3:41
    entre "nós" e "eles".
  • 3:42 - 3:44
    Esta distinção é bastante natural
  • 3:44 - 3:47
    e muitas vezes bastante moral,
    mas pode ter más consequências.
  • 3:47 - 3:48
    Isso fez parte da investigação
  • 3:48 - 3:51
    do grande psicólogo social Henri Tajfel.
  • 3:51 - 3:54
    Tajfel nasceu na Polónia em 1919.
  • 3:54 - 3:56
    Emigrou para ir para
    a universidade em França,
  • 3:56 - 3:59
    porque sendo judeu não podia
    frequentar a universidade na Polónia
  • 3:59 - 4:01
    e depois alistou-se no exército francês
  • 4:01 - 4:02
    na II Guerra Mundial.
  • 4:02 - 4:07
    Foi capturado e acabou
    num campo de prisioneiros de guerra.
  • 4:06 - 4:08
    Foi um tempo aterrorizador para ele
  • 4:08 - 4:10
    porque, se descobrissem que ele era judeu,
  • 4:10 - 4:12
    podia ir parar a um campo de concentração,
  • 4:12 - 4:14
    onde provavelmente não teria sobrevivido.
  • 4:14 - 4:17
    Na verdade, quando
    a guerra terminou e ele foi libertado,
  • 4:17 - 4:20
    a maior parte dos seus amigos
    e familiares estavam mortos.
  • 4:20 - 4:21
    Envolveu-se em diversas atividades.
  • 4:21 - 4:22
    Ajudou órfãos de guerra.
  • 4:22 - 4:24
    Mas tinha um interesse há muito tempo
  • 4:24 - 4:26
    na ciência do preconceito,
  • 4:26 - 4:29
    e assim, quando abriu uma prestigiada
    bolsa de estudos britânica
  • 4:29 - 4:30
    sobre estereótipos,
  • 4:30 - 4:31
    ele concorreu e ganhou-a.
  • 4:31 - 4:34
    Começou então uma carreira incrível.
  • 4:34 - 4:36
    O que lançou a sua carreira foi a perceção
  • 4:36 - 4:38
    de que o que a maioria das pessoas pensava
  • 4:38 - 4:40
    sobre o Holocausto estava errada.
  • 4:40 - 4:43
    Muitas pessoas, a maioria na época,
  • 4:43 - 4:45
    viam o Holocausto como
    uma espécie de representação
  • 4:45 - 4:47
    de uma falha trágica
    por parte dos alemães,
  • 4:47 - 4:51
    de uma mácula genética,
    de uma personalidade autoritária.
  • 4:52 - 4:53
    Tajfel rejeitou isso.
  • 4:53 - 4:56
    Tajfel disse que o que vemos no Holocausto
  • 4:56 - 4:58
    é apenas um exagero
  • 4:58 - 5:00
    de processos psicológicos normais
  • 5:00 - 5:02
    que existem em todos nós.
  • 5:02 - 5:05
    Para explorar esta ideia
    fez uma série de estudos clássicos
  • 5:05 - 5:06
    com adolescentes britânicos.
  • 5:06 - 5:08
    Num dos seus estudos
  • 5:08 - 5:10
    fez uma série de perguntas
    a adolescentes britânicos.
  • 5:10 - 5:12
    Depois, com base
    nas suas respostas, dizia:
  • 5:12 - 5:15
    "Eu vi as suas respostas
    e, com base nelas,
  • 5:15 - 5:16
    "determinei que você é ..."
  • 5:16 - 5:18
    — disse a metade deles —
  • 5:18 - 5:21
    "um amante de Kandinsky,
    você adora a obra de Kandinsky,
  • 5:21 - 5:24
    ou "um amante de Klee,
    você adora a obra de Klee."
  • 5:24 - 5:26
    Era inteiramente falso.
  • 5:26 - 5:28
    As respostas não tinham nada a ver
    com Kandinsky ou Klee.
  • 5:28 - 5:31
    Provavelmente nunca tinham
    ouvido falar desses artistas.
  • 5:31 - 5:33
    Ele apenas os dividiu arbitrariamente.
  • 5:33 - 5:36
    Mas o que descobriu foi
    que estas categorias eram importantes.
  • 5:36 - 5:39
    Assim, quando mais tarde
    deu dinheiro aos adolescentes,
  • 5:39 - 5:41
    estes preferiam dar o dinheiro
  • 5:41 - 5:42
    a membros do seu grupo
  • 5:42 - 5:44
    em vez de dar a membros do outro grupo.
  • 5:44 - 5:47
    Pior ainda, eles estavam tão interessados
  • 5:47 - 5:49
    em estabelecer uma diferença
  • 5:49 - 5:51
    entre o seu grupo e o outros grupos,
  • 5:51 - 5:53
    que abdicariam do dinheiro
    para o seu próprio grupo
  • 5:53 - 5:56
    se, fazendo isso, pudessem
    dar ainda menos ao outro grupo.
  • 5:56 - 5:58
    (Risos)
  • 5:58 - 6:01
    Esta parcialidade parece
    mostrar-se muito cedo.
  • 6:01 - 6:03
    A minha colega e esposa,
    Karen Wynn, em Yale
  • 6:03 - 6:05
    fez uma série de estudos com bebés
  • 6:05 - 6:07
    em que mostra bonecos a bebés.
  • 6:07 - 6:10
    Os bonecos têm certas
    preferências alimentares.
  • 6:10 - 6:12
    Assim, um dos bonecos
    pode gostar de feijão verde.
  • 6:12 - 6:14
    Outro boneco pode gostar de bolachas.
  • 6:14 - 6:17
    Eles testam as preferências
    alimentares dos bebés,
  • 6:17 - 6:19
    e os bebés geralmente
    preferem as bolachas.
  • 6:19 - 6:20
    Mas a questão é:
  • 6:20 - 6:23
    Será que isso é importante para os bebés
  • 6:23 - 6:25
    quanto à forma como eles tratam
    os bonecos?
  • 6:25 - 6:26
    É muito importante.
  • 6:26 - 6:28
    Eles têm tendência para preferir o boneco
  • 6:28 - 6:30
    que tem os mesmos gostos
    de comida que eles têm.
  • 6:30 - 6:33
    Pior ainda, eles preferem os bonecos
  • 6:33 - 6:36
    que punem outro boneco
    com um gosto diferente.
  • 6:36 - 6:38
    (Risos)
  • 6:38 - 6:39
    Vemos este tipo de psicologia
  • 6:39 - 6:41
    "parte do grupo", "fora do grupo"
    a toda a hora.
  • 6:41 - 6:43
    Vemos isso em confrontos políticos,
  • 6:43 - 6:46
    dentro de grupos
    com diferentes ideologias.
  • 6:46 - 6:49
    Vemo-lo, no seu extremo,
    em situações de guerra,
  • 6:49 - 6:52
    em que não se trata apenas de dar menos
    aos "fora do grupo",
  • 6:52 - 6:54
    mas em que estes são desumanizados,
  • 6:54 - 6:56
    como na perspetiva nazi em que os judeus
  • 6:56 - 6:58
    são tratados como vermes ou piolhos,
  • 6:58 - 7:02
    ou a perspetiva norte-americana
    de japoneses como ratos.
  • 7:03 - 7:05
    Os estereótipos também
    podem ser distorcidos.
  • 7:05 - 7:07
    Muitas vezes são racionais e úteis
  • 7:07 - 7:09
    mas às vezes são irracionais,
  • 7:09 - 7:10
    dão as respostas erradas.
  • 7:10 - 7:13
    Outras vezes levam a
    consequências claramente imorais.
  • 7:13 - 7:16
    O caso que mais tem sido estudado
  • 7:16 - 7:18
    é a questão da raça.
  • 7:18 - 7:19
    Houve um estudo fascinante,
  • 7:19 - 7:21
    antes das eleições de 2008,
  • 7:21 - 7:25
    em que psicólogos sociais
    consideraram em que medida
  • 7:25 - 7:28
    é que os candidatos eram
    associados com os EUA,
  • 7:28 - 7:31
    como numa associação inconsciente
    com a bandeira norte-americana.
  • 7:31 - 7:33
    Num dos seus estudos compararam
  • 7:33 - 7:35
    Obama e McCain, e perceberam
  • 7:35 - 7:38
    que McCain é considerado
    mais americano do que Obama.
  • 7:38 - 7:41
    De certa forma, as pessoas
    não ficam surpreendidas ao ouvir isto.
  • 7:41 - 7:43
    McCain é um famoso herói de guerra,
  • 7:43 - 7:44
    e muita gente diria explicitamente
  • 7:44 - 7:47
    que ele tem uma história
    mais americana do que Obama.
  • 7:47 - 7:49
    Mas também compararam Obama
  • 7:49 - 7:51
    ao primeiro-ministro
    britânico, Tony Blair,
  • 7:51 - 7:53
    e descobriram que Blair
  • 7:53 - 7:55
    também foi considerado
    mais americano do que Obama,
  • 7:55 - 7:56
    (Risos)
  • 7:56 - 7:59
    ... ainda que explicitamente
    as pessoas achassem
  • 7:59 - 8:01
    que ele não era minimamente americano.
  • 8:01 - 8:01
    (Risos)
  • 8:01 - 8:03
    Mas estavam a responder, obviamente,
  • 8:03 - 8:05
    à cor da pele.
  • 8:06 - 8:08
    Estes estereótipos e tendências
  • 8:08 - 8:09
    têm consequências no mundo real,
  • 8:09 - 8:12
    subtis mas muito importantes.
  • 8:12 - 8:14
    Num estudo recente, os investigadores
  • 8:15 - 8:18
    colocaram anúncios no "eBay"
    para a venda de cartões de basebol.
  • 8:18 - 8:22
    Alguns eram segurados por mãos brancas,
    outros por mãos pretas.
  • 8:22 - 8:24
    Os cartões de basebol eram os mesmos.
  • 8:24 - 8:27
    Mas os das mãos pretas
    tiveram menos propostas
  • 8:27 - 8:29
    do que os segurados por mãos brancas.
  • 8:29 - 8:32
    Numa investigação feita em Stanford,
  • 8:32 - 8:35
    psicólogos exploraram o caso
  • 8:35 - 8:40
    de pessoas condenadas pelo assassinato
    de uma pessoa branca.
  • 8:40 - 8:42
    Acontece que, mantendo
    tudo o resto constante,
  • 8:42 - 8:45
    será consideravelmente mais
    provável sermos executados
  • 8:45 - 8:47
    se nos parecermos com o homem da direita
  • 8:47 - 8:48
    do que com o homem da esquerda.
  • 8:49 - 8:50
    E isto acontece em grande parte
  • 8:50 - 8:54
    porque o homem da direita corresponde
    mais ao protótipo do negro,
  • 8:54 - 8:55
    mais ao protótipo afro-americano.
  • 8:55 - 8:58
    Aparentemente, isso influencia
    as decisões das pessoas
  • 8:58 - 8:59
    sobre o que fazer com ele.
  • 8:59 - 9:01
    Portanto, agora que sabemos disto,
  • 9:01 - 9:03
    como é que o podemos combater?
  • 9:03 - 9:04
    Há diferentes caminhos.
  • 9:04 - 9:06
    Um dos caminhos é apelar
  • 9:06 - 9:08
    às respostas emocionais das pessoas,
  • 9:08 - 9:10
    apelar à empatia.
  • 9:10 - 9:12
    E, muitas vezes, fazemos
    isso através de histórias.
  • 9:12 - 9:14
    Se formos um pai liberal
  • 9:14 - 9:16
    e quisermos encorajar os nossos filhos
  • 9:16 - 9:19
    a acreditar nos méritos
    de famílias não tradicionais,
  • 9:19 - 9:21
    podemos dar-lhes este livro.
    ["Heather Tem Duas Mamãs"]
  • 9:21 - 9:23
    Se formos conservadores,
  • 9:23 - 9:24
    podemos dar-lhes este livro.
  • 9:24 - 9:27
    ["Socorro! Mãe! Estão Liberais
    Debaixo Da Minha Cama"]
  • 9:27 - 9:27
    (Risos)
  • 9:27 - 9:30
    Mas, em geral, as histórias
    podem transformar
  • 9:30 - 9:32
    estranhos anónimos em pessoas
    com que nos importamos.
  • 9:32 - 9:34
    A ideia de que nos importamos
    com as pessoas,
  • 9:34 - 9:36
    quando olhamos para elas
    enquanto indivíduos,
  • 9:36 - 9:39
    é uma ideia que tem aparecido
    ao longo de toda a História.
  • 9:39 - 9:41
    Alegadamente Estaline disse:
  • 9:41 - 9:43
    "A morte de uma pessoa é uma tragédia,
  • 9:43 - 9:45
    "um milhão de mortes é uma estatística".
  • 9:45 - 9:46
    E a Madre Teresa disse:
  • 9:46 - 9:48
    "Se eu olhar para as massas, nunca agirei.
  • 9:48 - 9:50
    "Mas se olhar para um só, aí sim agirei".
  • 9:50 - 9:52
    Os psicólogos têm explorado isto.
  • 9:52 - 9:53
    Por exemplo, num estudo,
  • 9:53 - 9:57
    deram às pessoas uma
    lista de factos sobre uma crise,
  • 9:57 - 10:00
    e analisaram quanto eles iriam doar
  • 10:00 - 10:02
    para resolver essa crise.
  • 10:02 - 10:04
    A outro grupo não foram
    dados quaisquer factos
  • 10:04 - 10:06
    mas contaram-lhes
    a história de uma pessoa,
  • 10:06 - 10:09
    a quem foi dado um nome e um rosto.
  • 10:09 - 10:12
    Verificou-se que estes doaram muito mais.
  • 10:12 - 10:13
    Acho que nada disto é segredo
  • 10:13 - 10:16
    para quem está envolvido
    em trabalhos de caridade.
  • 10:16 - 10:18
    Não é costume "bombardear" as pessoas
  • 10:18 - 10:20
    com factos e estatísticas.
  • 10:20 - 10:22
    Pelo contrário, mostram-se as caras,
    mostram-se as pessoas.
  • 10:22 - 10:27
    É possível que ao estendermos
    a nossa solidariedade a uma pessoa,
  • 10:27 - 10:30
    ela se espalhe ao grupo
    a que essa pessoa pertence.
  • 10:31 - 10:33
    Está é Harriet Beecher Stowe.
  • 10:33 - 10:35
    A história, talvez mitificada,
  • 10:35 - 10:37
    é que o Presidente Lincoln a convidou
  • 10:37 - 10:40
    a ir à Casa Branca durante a Guerra Civil
  • 10:40 - 10:41
    e lhe disse:
  • 10:41 - 10:44
    "Então tu és a rapariga que
    começou esta grande guerra."
  • 10:44 - 10:46
    Estava a referir-se a
    "A Cabana do Pai Tomás",
  • 10:46 - 10:48
    que não é um grande livro de filosofia
  • 10:48 - 10:51
    nem de teologia e talvez
    nem seja grande literatura.
  • 10:51 - 10:54
    Mas faz um excelente trabalho
  • 10:54 - 10:56
    ao levar as pessoas a
    colocarem-se no lugar de pessoas
  • 10:56 - 10:59
    que, de outra forma, não se colocariam,
  • 10:59 - 11:01
    a colocarem-se no lugar dos escravos.
  • 11:01 - 11:03
    E isso pode muito bem
    ter sido um catalisador
  • 11:03 - 11:05
    de grandes mudanças sociais.
  • 11:05 - 11:08
    Mais recentemente, olhando para os EUA
  • 11:08 - 11:10
    das últimas décadas,
  • 11:10 - 11:13
    há alguma razão para acreditar
    que séries como o "The Cosby Show"
  • 11:13 - 11:16
    alteraram radicalmente a atitude
    americana em relação aos afro-americanos,
  • 11:16 - 11:19
    enquanto séries como "Will and Grace"
    e "Modern Family"
  • 11:19 - 11:21
    alteraram a atitude americana
  • 11:21 - 11:22
    em relação aos "gays".
  • 11:22 - 11:23
    Não acho que seja exagerado dizer
  • 11:23 - 11:26
    que o principal catalisador
    nos EUA para a mudança moral
  • 11:26 - 11:29
    tenham sido as séries de comédia.
  • 11:29 - 11:30
    Mas nem tudo são emoções.
  • 11:30 - 11:32
    Eu quero encerrar apelando
  • 11:32 - 11:33
    ao poder da razão.
  • 11:34 - 11:36
    Algures neste livro maravilhoso,
  • 11:36 - 11:38
    "Os Melhores Anjos da Nossa Natureza",
  • 11:38 - 11:40
    Steven Pinker diz:
  • 11:40 - 11:42
    "O Antigo Testamento diz
    para amarmos o próximo
  • 11:42 - 11:45
    "e o Novo Testamento diz
    para amarmos o inimigo.
  • 11:45 - 11:48
    "Mas, na verdade,
    eu não amo nenhum dos dois,
  • 11:48 - 11:49
    "mas não os quero matar.
  • 11:49 - 11:51
    "Sei que tenho obrigações para com eles,
  • 11:51 - 11:55
    "mas os meus sentimentos morais,
    as minhas convicções morais,
  • 11:55 - 11:57
    "como me devo comportar em relação a eles,
  • 11:57 - 11:58
    "não estão alicerçados no amor,
  • 11:58 - 12:00
    "mas na compreensão dos direitos humanos,
  • 12:00 - 12:03
    "na crença de que a vida
    é tão valiosa para eles
  • 12:03 - 12:05
    "como a minha vida é para mim".
  • 12:05 - 12:07
    E para mostrar isto,
    ele conta uma história
  • 12:07 - 12:09
    do grande filósofo Adam Smith.
  • 12:09 - 12:10
    Também quero contar essa história,
  • 12:10 - 12:12
    embora a vá modificar um pouco
  • 12:12 - 12:14
    para a adaptar aos tempos modernos.
  • 12:14 - 12:15
    Adam Smith começa por vos pedir
  • 12:15 - 12:17
    para imaginarem a morte
    de milhares de pessoas
  • 12:17 - 12:19
    e imaginarem que esses milhares de pessoas
  • 12:19 - 12:21
    são de um país que não vos é familiar.
  • 12:21 - 12:25
    Pode ser a China, ou a Índia
    ou um país em África.
  • 12:25 - 12:27
    E Smith pergunta: "Como reagiriam?"
  • 12:27 - 12:29
    E vocês diriam: "Bem, isso é terrível",
  • 12:29 - 12:31
    e continuariam com as vossas vidas.
  • 12:31 - 12:34
    Se abríssemos o
    The New York Times "online"
  • 12:34 - 12:37
    e víssemos isto — isso acontece
    connosco a toda a hora —
  • 12:37 - 12:38
    continuávamos com as nossas vidas.
  • 12:38 - 12:40
    Mas imaginem em vez disto, diz Smith,
  • 12:40 - 12:42
    que descobríamos que amanhã
  • 12:42 - 12:44
    o nosso dedo mindinho iria ser cortado.
  • 12:44 - 12:46
    Smith diz que isso seria muito diferente.
  • 12:46 - 12:49
    Não iríamos conseguir dormir
    à noite a pensar nisso.
  • 12:49 - 12:51
    Então isto levanta a questão:
  • 12:51 - 12:54
    Sacrificaríamos milhares de vidas
  • 12:54 - 12:55
    para salvar o nosso dedo mindinho?
  • 12:55 - 12:58
    Agora, respondam a isto
    para vocês próprios...
  • 12:58 - 12:59
    (Risos)
  • 12:59 - 13:01
    ... mas Smith diz: "Claro que não,
  • 13:01 - 13:03
    "que pensamento horrível!".
  • 13:03 - 13:05
    E assim, isto levanta a questão,
  • 13:05 - 13:06
    como a coloca Smith:
  • 13:06 - 13:09
    "Quando os nossos sentimentos
    passivos são quase sempre
  • 13:09 - 13:10
    "tão mesquinhos e tão egoístas,
  • 13:10 - 13:12
    "como é que os nossos princípios ativos
  • 13:12 - 13:14
    "são tantas vezes
    tão generosos e tão nobres?"
  • 13:14 - 13:16
    E Smith responde: "É a razão,
  • 13:16 - 13:17
    "os princípios, a consciência.
  • 13:17 - 13:19
    "Estes dizem-nos
  • 13:19 - 13:22
    "com uma voz capaz de surpreender
    a mais presunçosa das nossas paixões,
  • 13:22 - 13:24
    "que somos apenas um na multidão,
  • 13:24 - 13:27
    "em nada melhor do que qualquer outro
    na mesma multidão".
  • 13:27 - 13:29
    Esta última parte é muitas vezes descrito
  • 13:29 - 13:31
    como o princípio da imparcialidade.
  • 13:32 - 13:35
    Este princípio da imparcialidade
    manifesta-se
  • 13:35 - 13:36
    em todas as religiões do mundo,
  • 13:36 - 13:39
    em todas as diferentes
    versões da regra de ouro
  • 13:39 - 13:41
    e em todas as filosofias morais do mundo,
  • 13:41 - 13:43
    que diferem em muitas coisas
  • 13:43 - 13:45
    mas partilham o pressuposto
    de que devemos julgar a moralidade
  • 13:45 - 13:48
    a partir de uma espécie
    de ponto de vista imparcial.
  • 13:49 - 13:51
    Para mim, a melhor expressão desta visão
  • 13:51 - 13:53
    não é a de um teólogo
    nem a de um filósofo.
  • 13:53 - 13:56
    É a de Humphrey Bogart,
    no final de "Casablanca."
  • 13:56 - 14:00
    Então, atenção, vou revelar:
    ele está a dizer à sua amada
  • 14:00 - 14:03
    que eles têm que se separar
    para o bem de todos.
  • 14:03 - 14:04
    Ele diz-lhe
    — não vou imitar a pronúncia —
  • 14:04 - 14:06
    mas ele diz-lhe:
    "Não é preciso muito para ver
  • 14:06 - 14:08
    "que os problemas de três meras pessoas
  • 14:08 - 14:10
    "não contam muito neste mundo louco."
  • 14:11 - 14:14
    A nossa razão pode levar-nos
    a anular as nossas paixões.
  • 14:14 - 14:16
    A nossa razão pode motivar-nos
  • 14:16 - 14:17
    a alargar a nossa empatia,
  • 14:17 - 14:20
    pode levar-nos a escrever
    "A Cabana do Pai Tomás",
  • 14:20 - 14:21
    ou a ler "A Cabana do Pai Tomás".
  • 14:21 - 14:24
    E a nossa razão pode motivar-nos a criar
  • 14:24 - 14:25
    costumes e "tabus" e leis
  • 14:25 - 14:27
    que nos impedem de agir
  • 14:27 - 14:29
    de acordo com os nossos impulsos
  • 14:29 - 14:31
    quando, enquanto seres racionais,
  • 14:31 - 14:32
    sentimos que devemos ser restringidos.
  • 14:32 - 14:35
    Uma Constituição é isto.
  • 14:35 - 14:37
    Uma Constituição é algo criado no passado
  • 14:37 - 14:38
    que se aplica ao presente
  • 14:38 - 14:40
    e que nos diz que, não importa
  • 14:40 - 14:42
    o quanto queiramos reeleger
    um presidente popular
  • 14:42 - 14:44
    para um terceiro mandato,
  • 14:44 - 14:46
    não importa quantos americanos brancos
  • 14:46 - 14:49
    queiram restabelecer a escravatura,
  • 14:49 - 14:50
    não podemos.
  • 14:50 - 14:52
    Nós restringimo-nos a nós próprios.
  • 14:52 - 14:54
    E restringimo-nos de outras formas também.
  • 14:54 - 14:57
    Sabemos que quando se
    trata de escolher alguém
  • 14:57 - 15:00
    para um trabalho, para um prémio,
  • 15:00 - 15:03
    somos fortemente
    influenciados pela sua raça,
  • 15:03 - 15:05
    somos influenciados pelo seu sexo,
  • 15:05 - 15:08
    somos influenciados
    pelo seu aspeto atraente.
  • 15:08 - 15:10
    Às vezes podemos dizer:
    "Bem, é assim que deve ser".
  • 15:10 - 15:12
    Mas outras vezes dizemos:
    "Isto não está certo".
  • 15:12 - 15:14
    E então para combatermos isto,
  • 15:14 - 15:17
    não apenas nos esforçamos mais,
  • 15:17 - 15:19
    mas criamos situações
  • 15:19 - 15:23
    em que estas outras fontes de informação
    não nos podem influenciar.
  • 15:23 - 15:24
    É por isso que muitas orquestras
  • 15:24 - 15:27
    fazem audições a músicos
    atrás de cortinas,
  • 15:27 - 15:29
    para que a única informação que tenham
  • 15:29 - 15:31
    seja a informação que eles
    acham que deve ser importante.
  • 15:31 - 15:33
    Eu acho que o preconceito e a parcialidade
  • 15:33 - 15:36
    ilustram uma dualidade
    fundamental da natureza humana.
  • 15:36 - 15:40
    Nós temos intuição, instinto, emoções
  • 15:40 - 15:42
    que afetam os nossos julgamentos
    e as nossas ações
  • 15:42 - 15:44
    para o bem e para o mal.
  • 15:44 - 15:48
    Mas também somos capazes
    de deliberações racionais
  • 15:48 - 15:50
    e planeamento inteligente,
  • 15:50 - 15:52
    e podemos usá-los para, nalguns casos,
  • 15:52 - 15:54
    acelerar e alimentar as nossas emoções,
  • 15:54 - 15:57
    e noutros casos para as restringir.
  • 15:57 - 15:58
    É desta forma
  • 15:58 - 16:01
    que a razão nos ajuda a
    criarmos um mundo melhor.
  • 16:01 - 16:03
    Obrigado.
  • 16:03 - 16:05
    (Aplausos)
Title:
Pode o preconceito ser uma coisa boa?
Speaker:
Paul Bloom
Description:

Muitas vezes pensamos em preconceito e parcialidade como algo enraizado na ignorância. Mas, como o psicólogo Paul Bloom procura demonstrar, o preconceito é muitas vezes natural, racional... até mesmo moral. O segredo, diz Bloom, é entender como os nossos próprios preconceitos funcionam — para que possamos assumir o controlo quando eles estão errados.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
16:23

Portuguese subtitles

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